O voto imbecil

Elisio Macamo
11 de outubro às 11:59 ·


Aqui vai a minha intenção de voto. Há sinais fortes de que estas eleições sejam decididas pelo voto imbecil. Quem vota desta maneira não é aquele que vota pelo partido ou candidato que eu não apoio. Voto imbecil é o voto de protesto. É legítimo não estar satisfeito com o desempenho da Frelimo e do seu candidato. É também legítimo decidir, na base disso, não votar neles. A democracia é isso mesmo. O problema, porém, é que a democracia não é uma brincadeira de crianças que se punem negando apoio umas às outras. Democracia é uma das melhores maneiras encontradas para comprometer cada um de nós com o País. Quem não quer votar nos que estão no poder agora, tem que o fazer em plena consciência do que vai acontecer depois.

Dito doutro modo, o eleitor tem que saber ou considerar que as coisas serão melhores. Para saber isso, precisa de se informar sobre os outros programas e candidatos e na base dessa reflexão certificar-se que o País estará em melhores mãos. Dizer apenas tudo, menos estes, é não só votar de forma imbecil como também ser imbecil. Não há na história país que tenha sido construído por imbecis e tenha sido bem sucedido. Atenção que não estou a dizer que quem não votar na Frelimo e em Nyusi é um imbecil. Estou a dizer que não votar neles sem também ter boas razões para achar que um outro governo possa ser bom para Moz é votar de forma imbecil. Há anos, perante a escolha entre um candidato da direita (Chirac) e um da extrema-direita (Le Pen), muitos eleitores socialistas votaram em Chirac e logo a seguir foram lavar as mãos com sabão. No Brasil e nos EUA o voto imbecil levou ao poder dois energúmenos que não só não trazem a solução que se esperava como também estão a destruir a democracia e o tecido social.

O voto imbecil decorre duma leitura problemática do País com três desdobramentos. O primeiro consiste numa abordagem moralista da política. Espera-se dos governantes uma conduta moral e ética que simplesmente é irrealista. Isto não quer dizer que roubar fundos públicos ou tirar proveito pessoal dos cargos sejam condutas aceitáveis. Não são e devem ser sancionadas. Mas é um equívoco grave pensar que eles sejam responsáveis pela ausência de desenvolvimento. Não importa quantos doadores dizem isso e quanto dinheiro eles dão a incautos e oportunistas para promoverem a ideia de que a ausência de desenvolvimento é culpa dos governantes moçambicanos. O argumento da corrupção é a mentira do século e é profundamente anti-político porque promove a ideia de que desenvolvimento é questão técnica, não política.

O segundo desdobramento consiste na ideia de que maus governantes necessariamente são maus para o País. Também não é verdade. Eu acho que o actual presidente não está à altura do cargo, mas não é por isso que o país está ou estará mal. A questão sempre é o contexto em que ele age. Tivemos presidentes com perfis completamente diferentes, mas os resultados não são necessariamente diferentes. O que é recordado como tendo sido o melhor, o barbudo, foi o que mais estragos fez ao País apesar (ou se calhar por causa) do seu carisma, da sua integridade e do seu suposto compromisso com o País. O que me mete medo em Nyusi é a evidente mediocridade do secretariado do partido - que inclui pessoas com evidentes dificuldades com a língua portuguesa, 40 anos depois da independência! - a trivialização da Comissão Política e a hostilidade crescente em relação ao pensamento crítico no interior do partido.

O terceiro desdobramento consiste na ausência de visão. É verdade que, como se costuma dizer, quem tem visões precisa de psiquiatra, mas a pobreza é gritante neste quesito. O País é dum modo geral pensado em termos emprestados da indústria do desenvolvimento: acabar com a fome, analfabetismo e, claro, com a corrupção. Muita gente que se considera crítica percorre Moz de cima para baixo convencida de que isso é que é visão e nivela o debate na esfera pública por baixo com slogans e palavras que pensam por nós. Visão é algo mais profundo. Tem a ver com o tipo de valores que a nossa comunidade política deve emular. O debate político, então, é sobre o tipo de instituições que devem ser criadas, ou reforçadas, para que os princípios que promovem esses valores funcionem. O republicanismo, por exemplo, é o compromisso com a cidadania. O debate é sempre sobre as instituições políticas necessárias para que princípios como a liberdade de expressão, por exemplo, funcione como garante da cidadania.

Eu acho que a Frelimo e o seu candidato não representam o que de melhor existe na nossa sociedade. Infelizmente, os outros, pela leitura que faço das suas propostas, das suas intervenções e da sua postura, inspiram-me menos confiança ainda. Continuo a achar que estamos a escolher o menos mau, mas mesmo aí precisamos de ser cuidadosos. O que isso significa para mim é que já sei o que devo continuar a interpelar depois do dia 15. Vou insistir para que a Frelimo revitalize o partido. Vou insistir para que haja maior transparência governativa. Isso significa para mim que o governo tem que se abrir à assessoria pública. Não se explica que depois das dívidas ocultas o governo tenha tido o desplante de negociar e decidir sobre os destinos a dar aos proventos da exploração de recursos naturais em Cabo Delgado sem ampla discussão pública. Esse autismo governamental tem sido, desde os gloriosos tempos da “revolução “ um dos nossos maiores calcanhares de Aquiles. Finalmente, vou continuar a insistir numa maior reflexão sobre as instituições políticas. O acordo de paz definitiva foi a esse nível um grande retrocesso. Enraizou uma lógica neo-patrimonial que vai continuar a atrair para a política oportunistas, não patriotas. Foi o maior erro deste governo!

Mas, prontos, aí está a minha intenção de voto. Não é voto imbecil.




79Jemusse Abel, Lyndo A. Mondlane e 77 outras pessoas

37 comentários

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Comentários


Leonel Sarmento Magnífico professor...!!!
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Tomas Mario Só que, como uma vez o disse, o Prof. Elisio Macamo nunca votou!
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Elisio Macamo Tomas Mario, sempre tive intenção de voto!
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Benildo Muquingue Nhamir [ riso riso riso] apenas intenção.
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Lyndo A. Mondlane Prof.. Os problemas de mz sao estructurais... Ja disseste varias vezes, nem a renamo ou a oposiçao toda tem capacidade para resolver..
Dizia a um amigo noutro sitio, que a renamo nao vai fazer casas baratas para os jovens em nenhum caso.. Porque o pais nao pode,....
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Elisio Macamo bem estruturais, mas há gente que nos quer fazer crer o contrário. auto-engano.
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Lyndo A. Mondlane Isso prof... Auto-engano
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Bartolomeu Tome Entendido!
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Ricardo Santos Há dois tipos de voto imbecil: o dos intoxicações pela propaganda populista e o dos "intelectuais" populistas e oportunistas que se bebam ante a visão de comer do grande caldeirão.
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Elisio Macamo é. são parte do problema, não da solução.
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Donaldo Tovela
😂
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Fernanda Nene Zaqueu Em que ficámos??? Da propaganda populista ou a dos " intelectuais populistas"...e já agora, Mano Elísio, podes tecer nessa tua liguem académica...intelectual, especialmente na vertente da sociologia, qual será o grupo que não se enquadra nos acima mencionados...e que eventualmente possam simplesmente optar na abstenção! Hêêê, quero apenas uma opinião, pleaseeee! Forte abraço com muitas saudades tuas, Darling!
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Elisio Macamo nené, abstenção também vale, mas pode beneficiar a pior opção. pelo sim, pelo não, vota certo. com ele dá menos errado.
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Isabel Maria Casimiro Ricardo Santos pseudo intelectual populista tipo Ricardo Santos .... claro
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Jose Luis Barbosa Pereira Excelente reflexão...concordo plenamente no rejuvenescimento do Partido, confiar em jovens capazes e competentes...claro o meu voto é consciente e é vermelhão...
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Júlio Mutisse Fatima Mimbire vem cá discutir.
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Benildo Muquingue Nhamir 😅😅😅😃😃😉😉
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Júlio Mutisse O voto será imbecil sim. Porque não há ainda um enraizamento forte da cidadania. Punir votando sem me importar com o amanhã é a forma mais prática de sacudir o capote e entregar a responsabilidade pela minha falta de compromisso com a comunidade Estado. Vamos punir...
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Elisio Macamo são esses que nos lixam.
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Júlio Mutisse Elisio Macamo pois.
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Júlio Mutisse Hilenio Truzao...
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Lyndo A. Mondlane Prof Elisio Macamo..ja é um avanço reconhecer o carisma, a honestidade e a integridade moral do barbudo..
Estamos aproximar posiçoes,
A este andar acabaremos juntos como correligionarios do PCM..(partido comunista de moçambique)
uma viajinha a terra da felicidade, é o q falta..kkkkk
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Elisio Macamo hitler também foi carismático, honesto e íntegro...
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Lyndo A. Mondlane Kkkkkkkk..
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Isabel Maria Casimiro Comparação muito perigosa Elísio
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Lenine Daniel Infelizmente batemos fundo no que concerne as opções políticas. A Frelimo tão desorganizada que está, sem norte e visão continua sendo melhor que toda a oposição junta. Para o bem ou para o mal o voto de protesto ou de penalização ( voto imbecil????) poderá servir para revitalizar a Frelimo, se ainda houver dentro da mesma espaço e abertura suficientes para que os membros pensantes e a sociedade sejam ouvidos. O meu maior desejo é o de que os cidadãos votem, as consequências serão para todos nós, quem sabe possamos crescer e aprender.
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Elisio Macamo tudo é possível. o voto não deixaria de ser imbecil.
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Jemusse Abel Difícil escolha. Mas estamos aqui ...
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Reginaldo Mutemba Escolhas difíceis. Prof. Não há possibilidade de outras tipologias de voto que escape de imbecil? Partidos de oposição e a Frelimo são parecidos com individuos que vivem num contexto e são pecadores. Mas o pior pecado é de qum reza do que o pecado de quem não reza. Frelimo reza e comete pecados. Outros são pecadores pagãos. Apesar da lucidez e riqueza em termos de pensamento ainda faz uma política de força orientada para barriga. Continua um partido que se acha herdeira de um Estado colonial... a outra coisa qie vejo, não me parece provavel que cada um dos partidos use os seus manifestos. Mesmo ao longo de campanha são vários os casos de recriação. O que esta escrito não é taxativamente usado como manifesto. Os improvisos vão continuar. Então, não sei que tipo de país está sendo concorrido para governar.
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Reginaldo Mutemba Então, a única experiência que temos no país de mudança na governação foi ao nível municipal. Sei que em Nampula havia ratos que forçaram o governador a sair de casa. Não tenho tanta informação sobre o qie se passa. O respeito pela dignidade humana deveri ser a nossa bandeira. Removermos Arma na nossa bandeira.
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Matias Mesquita Gostei da reflexão
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Maria De Lourdes Teodoro Explanacao entendida
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Bruno Pinto Aquele abraço...
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Paulo Guambe Eu penso que o cacro que impossibilita o desenvolvimento de MOcambique é a frelimo no poder. Esse cancro manifesta-se pela potlitizacao e partidarização das instituicao do estado. O meu voto nestas eleicoes tem este objectivo, despartidarzar o estado para que as.instituicoes do estado permitam acesso igualitario e justo a todos cidadaos, para que as escolas e universidades sejam de facto centros de produção de conhecimento e nao centros de control ideologico. Por exemplo enquanto tivermos um estado partidarizado nunca teremos eleicoes livres, transparentes e justas, e aqui fica ferido todo processo democratico. Mais, as intimidacoes e assassinatos a figures politicas tem como causa o estado partidarizado. Pessoas que se beneficiam das ligacoes que têm com o estado para se manterem e reproduzirem-se economica e socialmente podem muito bem serem mandantes de assassinatos por exemplo a Anatácio Matavel ou a pancadaria a Helder Mendonça.
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Rui Baessa Pinto Sorry, Professor, mas "Prontos", como interjeição não existe, nem dito e muito menos escrito. É "pronto", sempre "pronto". Desculpai-me, majestade, fugiu-me a boca para a verdade.
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Carmelo Pontes "Eu acho" não, basta de "achismos" Prof. Macamo O voto é secreto, cada eleitor toma a decisao consoante a sua disposição psicologica,racionalidade socialização, questão economica,etc o "voto imbecil" pode ser uma encruzilhada com resultados impensaveis,
um cidadão moçambicano que acompanha a vida nacional sabe o que vai fazer dia 15. Vai votar.
Deviamos teorizar sobre a "contagem de votos lenta e frouxa" e a "divulgação tardia de resultados" associado ao "mutismo habitual e corriqueiro da comunicação social" que gera conflitos pos eleições.
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Gitandra Valoyi "Voto imbecil é o voto de protesto". Eu não o definiria assim, porque este pode, até, ser por alguma actividade intelectual. Definiria, sim, o voto imbecil como o resultado de emoções (amor, ódio e, pior, indiferença). Infelizmente, temos muitos destes casos, que fazem com que leiamos manifestos com prejuízos ideológicos, que, no fim, confirmam, apenas, o nosso ponto de partida. Há, por exemplo, que o protesto ter como alvo as vitórias esmagadoras e asfixiantes, porque estas, de facto, esmagam e asfixiam o povo, dado alimentarem a arrogância de alguns grupos.
Eu quero uma Assembleia da República que se abra ao diálogo e a entendimentos, e não uma Assembleia da República em que um grupo único pode, até, alterar a Constituição sempre que quiser. Com um impulso para entendimentos, por os dialogantes estarem em igualdade de circunstâncias, nem seria, para mim, problema que a Frelimo estivesse, eternamente, no poder.
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