quinta-feira, 14 de junho de 2018

O QUE ME CONTARAM EM GAZA E PEDIRAM PARA EU DIVULGAR HISTÓRIA VERIDICA


(Parte II)
Em todo pais o ar que se respirava cheirava guerra.
Passaram 15 dias depois do ataque de Mangundzo e ninguém mais se lembrou de mim e do velho da minha aldeia que fugiu comigo do cativeiro dos Matsangaissas (soldados da Renamo). Dias iam passando e eu me lastimava por dentro, mesmo assim, eu olhava para os nossos soldados via-os como anjos de guarda e quando olhava à nossa bandeira rasgada a flutuar na frente da nossa cabana via-a como um Deus coxo, mudo cego e surdo que nunca responde às rezas de seus filhos sofredores. Eu via aquela bandeira rota com uma paciência infinita desgraçada, mas quando ouvia os passarinhos a cantarem, ouvia também na subconsciência o barulho da vida no cimo dos galhos das árvovores e a minha esperança por sobreviver daquelas atrocidades infernais entesava como um másculo em frente de uma donzela imaculada. O meu desejo de ser sobrevivente naquela guerra era superior à vida, algo que vinha do éter divino para onde aqueles que já bateram as botas até hoje de lá ninguém regressou. No meu âmago eu temia uma arma mais que todos crocodilos do Limpopo juntos, porque os crocodilos só matam para comer e quando se saceam não matam, mas a arma nunca se sacea e mata infinitamente sem cessar. No quartel onde estavamos, comiamos a mesma comida que comiam os outros, tinhamos condições iguais aos soldados, mas eu diferentemente do meu colega, queria regressar para Mussengui minha aldeia para ajudar a minha mãe a educar meus irmãos e queria fazé-la tirar o luto porque pelos boatos que lá corriam as pessoas diziam que eu estava morto. Cada segundo que passava sem ver meus irmãozinhos e minha pobre mãe eu sentia como se fosse eternidade, e tive que começar a cantar aquelas canções do berço que minha avó materna cantava para mim na infância para evitar pensamentos que me levassem à loucura. Certo dia, decidi ir ter com o comandante para saber porque ele não nos deixava sair do quartel. O comandante olhou para mim, deu uma risadinha, tirou um papel e um lápis do bolso traseiro da calça, ajoelhou-se com uma perna só, pôs o papel na coxa da outra perna, passou a ponta do lápis na língua, começou a escrever, dava uma espiada para aquela bandeirinha rota que se mexia, e disse-me em segredo que os Matsangas (como se chamavam os rebeldes da Renamo), estavam a preparar um ataque de retaliação e, provovalmente, como eles sabiam que eu e o meu amigo (o velho) fomos quem informamos às FPLM sobre o plano deles de atacar o quartel de Mangundzo os Matsangas iriam procurar por nós para vingarem-se e ele informou-me igualmente que na nossa aldeia as FPLM tinham quatro informadores para vigiarem a aldeia e que as nossas familias serias protegidas em caso de necessidade. Aquelas palavras do comandante das FPLM de Mangundzo cairam-me nos ouvidos como gotas de chuva em terra seca, alimentaram a minha alma de esperança e pela primeira vez eu compreendi na prática o que quer dizer crença ou confiança. Em Manjacaze esperava-se uma briga de cachorros grandes, esperava-se que os Matsangas voltassem a cutucar a onça com vara curta na população daquele distrito, porque a população sempre era a primeira vítima preferida dos Matsangas, mas lá estava fixado o comandante Satane com as suas tropas a espera para dar-lhes mais outra tareia vital.
(Continua)
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Comentários
DA Silva Sisal Mas também... Tou a render com o teu comportamento... 

Invocar coisas passadas... Mas também... Niko nada juro
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6 dia(s)
Alvaro Simao Cossa DA Silva Sisal nunca devemos esconder os erros do passado, com o perigo de voltarmos a cometer os mesmos erros
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5 dia(s)Editado
António Do Rosário Grispos A aguardar o próximo capítulo
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Lyndo A. Mondlane O famoso comandane sathani, implacavel e controverso, mas aos que nos protegeu, lhe agradecemos...pena que nem.uma rua tem.
Quando o estado usa os cidadaos e depois os esquece..
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5 dia(s)
Lyndo A. Mondlane Alvaro Simao Cossa, ja propus as autoridades competentes uma rua em.manjacaze a nome.dele, oxala prospere.. em principio parece q sim
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5 dia(s)Editado
Alcidio Do Rosario Vezes sem conta, ouví falar desse Comandante, Sathana. Segundo dizem, era baixinho e franzino.
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4 dia(s)
Manjate Custodio Exactamente. Nasceu ali no Bairro 11 da Cidade de Xai Xai perto da antiga Junta. O pai era grande Mazione e na zona era conhecido por Djongotio.
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Alcidio Do Rosario Obrigado por mais subsídio.
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