quinta-feira, 14 de junho de 2018

Porquê o retorno da violência armada em Moçambique?

Opinião

Porquê o retorno da violência armada em Moçambique?

O prenúncio de uma nova guerra ocorre associado à emergência de novos ricos, com ligações internacionais.
Moçambique, marcado por uma longa guerra civil cujos principais protagonistas foram a Renamo e as forças governamentais, está a braços com um novo foco de violência armada. Desde outubro de 2017 que episódios de violência marcam a região nortenha de Cabo Delgado. Civis mortos, casas e carros queimados, sequestros e populações em fuga é o sombrio balanço que marca a vida no extremo norte de Moçambique.
Os ataques, que há meses vêm desafiando as autoridades do país, têm sido atribuídos a um grupo armados de muçulmanos radicais conhecidos como Al-Shabaab (i.e., a juventude). Em resposta às ações deste grupo, cujas bases se encontram escondidas na floresta, o Estado moçambicano respondeu com várias ações violentas, envolvendo a detenção de mais de 400 supostos simpatizantes do Al-Shabaab (incluídos vários estrangeiros).
Quais as razões desta nova onda de violência? Será a violência do Estado a melhor forma de resolver este conflito?
A sociedade moçambicana, a exemplo de muitas outras, é marcada por várias tensões: etno-raciais, religiosas, políticas, de género, geracionais, etc. Num contexto de crescente exclusão social – cerca de 40% dos jovens estão desempregados, com tendência a aumentar – o governo atual tem sido criticado por marginalizar o descontentamento e ignorar as preocupações do povo. Sendo Moçambique caracterizado por um mosaico social tão diverso, o descontentamento é expresso de várias formas. Vejamos alguns dos problemas que poderão estar na origem deste conflito.
Um dos primeiros ataques aconteceu em Palma, onde está localizado um dos principais projetos de exploração de gás natural em Moçambique. Vários estudos feitos têm salientado como estes projetos desenvolvimentistas, com o apoio do Estado moçambicano, expropriam e desumanizam os camponeses e pescadores que habitam a zona. Num contexto onde o desejo de enriquecer é a referência, os membros do Al-Shabaab procuram impor-se na região, criando oportunidades de negócios para as elites dominantes dos negócios informais, ou seja, apoiando interesses nacionais e internacionais através de negócios ilícitos de rubis, madeira, etc. Como conclui um estudo recente sobre as razões da radicalização islâmica em Moçambique (cerca de 20% da população é muçulmana), o desejo de gerar instabilidade na região para viabilizar o negócio ilícito está longe do desejo de criar uma sociedade assente na sharia. E esta opinião é partilhada por vários membros da comunidade islâmica moçambicana.
Os membros do Al-Shabaab podem fazer cerca de três milhões de dólares por semana com o tráfico de madeira e mais de 30 milhões de dólares por ano nas vendas de rubis extraídos ilegalmente, num país onde mais da metade da população vive no limiar da pobreza, ou seja, com menos de um dólar por dia. Este estudo identifica a pobreza, a falta de escolaridade e a exclusão social como os motivos que estão na origem da mobilização do Al-Shabaab que executam os ataques no norte do país. Com efeito, os grupos armados usam o dinheiro obtido para sustentar as famílias que vivem em zonas rurais de Cabo Delgado, permitindo-lhes, também, atrair novos recrutas e pagar pelas missões de mobilização de supostos líderes religiosos estrangeiros.
Num outro plano, esta onda de violência espelha um conflito étnico e económico que tem marcado a região; num ambiente onde os mwanis (maioritariamente muçulmanos) dominavam, a chegada da exploração dos hidrocarbonetos está a alterar a relação de forças. Há mwanis a trabalhar agora para macondes, grupo essencialmente católico oriundo do planalto interior de Cabo Delgado e que agora se estende à zona costeira. Com a costa ocupada por várias explorações económicas (turismo, hidrocarbonetos, construção de habitações para os trabalhadores estrangeiros, etc.), muitos mwanis, pescadores, sentem-se sem futuro.
Serão as armas uma solução? Muitos jovens queixam-se da violência gratuita da polícia, do exército moçambicano, assim como das forças privadas das empresas internacionais na zona, fator que pode explicar o crescente recrutamento em busca de vingança. Quais as alianças a serem forjadas entre os poderosos das empresas da região e estes grupos? E entre os novos capitalistas que usam da técnica do terror e da destruição para ocupar o território? As pressões económicas e sociais que sacodem esta região de Moçambique ajudam a explicar a abertura entre jovens da região à mensagem jihadista de busca de justiça através da sharia.
O prenúncio de uma nova guerra ocorre associado à emergência de novos ricos, com ligações internacionais. Convém não esquecer que o fundador da empresa militar privada norte-americana Blackwater tem negócios em Moçambique. Neste cenário, os descontentamentos locais podem ser vistos como atos terroristas que põem em causa os interesses económicos estrangeiros (gás e petróleo) na região. E assim se pode levar o mundo dos negócios a acreditar que a jovem democracia moçambicana corre riscos sérios e a legitimar a violência do Estado.
A resposta ao porquê desta nova onda de violência encontra-se na persistência da presença capitalista internacional que faz lembrar as estratégias do colonialismo: o controle de recursos estratégicos e a marginalização de uma grande franja da população, especialmente camponeses e pescadores. Um desafio radical à atual política do Estado deverá passar por intervenções mais viradas para os moçambicanos marginalizados e oprimidos, contribuindo para a promoção do sentido de pertença, como cidadãos, ao projeto nacional.
A autora escreve segundo o novo Acordo Ortográfico


Ataques de Cabo Delgado é um fenómeno a estudar-se seriamente
Terrorismo é o uso sistemático de pavor para coagir sociedades ou governos, usado por uma ampla gama de organizações, grupos ou indivíduos na promoção de seus objetivos, quer por partidos políticos nacionalistas e não-nacionalistas, tanto da direita quanto da esquerda. bem como por corporações, grupos religiosos, racistas, colonialistas, independentistas, revolucionários, conservadores e governos no poder, por isso, não se pode excluir que o que se vive em Cabo Delgado tenha uma mão maligna interna.
O terrorismo, como tática, é uma forma de violência que se distingue do terrorismo de Estado pelo facto de que neste último caso seus autores pertencem a entidades governamentais. Por exemplo, a invasão do Iraque e Libia só porque foi feita por algus Estados não é terrorismo? Os responsáveis já foram julgados?Já sabemos que a invasão daqueles paises foi um embuste, já sabemos que os motivos que levaram à guerra afinal não existiam, mas é como se nada tivesse acontecido. Ninguém sabe quantas centenas de milhares de pessoas morreram desde que o Iraque e a Libia foram invadidos. Passa-se por cima disto como se fosse uma coisa perfeitamente natural, mas não é. Da mesma forma que não é normal aquilo que aconteceu nas ruas de São Petersburgo, em Barcelona, em Londres, em Cambrils e ultimamente no nosso solo pátrio em Cabo Delgado.
A palavra terrorismo tem fortes conotações políticas e tem alta carga emocional, o que dificulta sua definição exacta porque muitas vezes a sua compreensão é ideológica, por isso alguns meios de comunicação, como a BBC britânica desejam enfatizar sua imparcialidade e sugerem em seus guias de estilo evitar o termo terrorismo. Também é comum que organizações e indivíduos que praticam terrorismo rejeitem o termo como injusto ou impreciso. No nível acadêmico, decide-se atender exclusivamente à natureza dos incidentes sem especular sobre os motivos ou julgar os autores. Uma política bem-sucedida requer coletar a melhor informação possível, honestamente acessando-a e evitando uma reação exagerada.
O terrorismo é uma praga malígna mundial, os atentados mais recentes na Europa, na sua maioria, foram cometidos por pessoas que já nasceram na Europa, ficando desde logo afastado o mito que se criou de que os refugiados iam fazer aumentar o terrorismo na Europa. Em causa estão pessoas muito jovens e que não estão integradas, muitos desses jovens chegam a um momento em que são confrontados com uma espécie de colapso em forma de curto-circuito mental, quando percebem que não conseguem realizar-se na vida e entragam-se para espalhar veneno antissocial, que pode matar tudo à passagem e que demora muito tempo a desaparecer, portanto, é preciso que existam políticas onde as pessoas sintam que têm uma vida digna e onde haja emprego condigno e justiça, neste caso eu iria defender, em parte, ao nosso Ministro da Indústria e Comércio que disse que para acabar com terrorrismo em Cabo Delgado é preciso desenvolver a economia, apesar desta afirmação do Ministro Rajendra não ter senso político apropriado. Para a nossa questão africana é preciso não apoiar ditadores e pessoas que são fantoches políticos que só se limitam a estar no poder para fazer o jogo de interesses das grandes potências internacionais, é preciso que existam governos que tenham vontade de apoiar este tipo de soluções políticas nacionalistas. Podemos arranjar paliativos, podemos colocar blocos de betão e barreiras de segurança à entrada de Cabo Delgado, mas isso nunca vai resolver o problema, mesmo com incremento das FDS. No que se refere a quem defende o reforço da legislação penal, essa é uma medida “totalmente ineficaz”, nos sítios onde houve reforço da legislação fiscal como resposta ao terrorismo, o mesmo não impediu atentados, mas pôs em risco liberdades civis, que é o que os terroristas procuram. A venda de armamento para Qatar e para a Arábia Saudita, bem como para Turquia, que directa ou indirectamente financiam e armam grupos terroristas continua em prática, a compra de petróleo nos poços ocupados por grupos terroristas por alguns paises ocidentais cria rubustez de finaciamento do terrorismo, não se podem fazer declarações de intenção nem dizer que se apoia este processo político ao mesmo tempo que não se faz nada do ponto de vista das relações comerciais e dos fluxos financeiros, bem como uma desmontagem profunda daquelas que são as ideias preconcebidas relativamente àquilo que são os movimentos terroristas, como é que estes foram construídos, o que é que esteve na sua origem. Alguns países ocidentais andam a formar, armar, apoiar e criar grupos terroristas há muitos anos, como aconteceu no Afeganistão, na Chechênia, no Iraque, na Libia e na Síria. O que acontece em Moçambique são "cinco reis de gente" desses focos internacionais de terrorismo. Em Moçambique necetita-se de um estudo interdisciplinar sério e complexo para compreender-se este fenómeno, quanto cedo melhor será.
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5 comentários
Comentários
João Pedro Muianga O fenómeno moçambicano, tem um precedente histórico, que é a motivação da violência, este grupo tem entendimento de que poderá chegar ao poder recorrendo ao banditismo como foi no passado. 
Há certas coisas que um Estado estável, não deve abrir mão sob
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Pedro Cossa bem dito. só tenho acrescentar que este fenómeno deve acabar de uma única vez.
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Simao Timoteo Cossa Estamos perante uma incógnita. este é um caso a não relegar para planos terceiros.
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