terça-feira, 12 de junho de 2018

Empresa de segurança de Erik Prince no norte de Moçambique seria resultado de trama ou um acaso?

Os ataques armados no norte seriam um coincidente "jackpot" para Erik Prince ou a tensão não passa de uma trama bem desenhada para beneficiar indivíduos e corporações? Analistas respondem a esta e outras questões.
O norte de Moçambique tem sido palco de violentos ataques armados, que para além de matarem a população paralisam as atividades económicas e podem retrair os investimentos. E a província de Cabo Delgado possui uma das maiores reservas de gás do mundo, estando a operar na região as principais petrolíferas mundiais.
DW-Empresa de segurança de Eric Prince no norte de Moçambique seria resultado de trama ou um acaso
Teoria da instrumentalização da desordem
Acredita-se que uma "joint venture" entre a ProIndicus, uma das três empresas envolvidas das famigeradas dívidas ocultas, e a Lancaster 6 Group, de Erik Prince, em breve venha garantir a segurança da região. E a pergunta que não se cala é: será que este ciclo de violência terá sido propositadamente orquestrado por indivíduos ou corporações para tirarem partido dos recursos do país ou isso não passa de teoria de conspiração?
O académico do ISRI, Instituto de Relações Internacionais, Calton Cadeado dá uma resposta com fundamento teórico: "Não podemos descartar a tese da teoria da conspiração porque é real e existe noutras partes e já aconteceram casos desses. Existe um grande Professor, chamado Patrick Chabal, que falou da teoria da instrumentalização da desordem, como instrumento político para atingir fins económicos especiais, económicos, geopolíticos inclusive, não podemos ignorar isso.
Mas ele alerta que "neste momento usar a teoria da conspiração só, sem muitos dados, pode soar a intriga, criar alarmismos sem muita fundamentação. Mas quem está atento não pode ignorar a teoria da conspiração."
Oportunidade negócio ou oportunismo de Erik Prince?
O projeto de inteligência e segurança militar que teria o nome Pro6, SA estaria avaliado em cerca de 750 milhões de dólares e seria implementado em cinco anos. Mas como Moçambique não tem capital para financiar, Eric Prince teria proposto entrar com 80% do valor, através da L6G, que seriam pagos com os dividendos dos recursos naturais do país, como o gás, por exemplo.
Entretanto, o empresário na área de segurança que já tem interesses na Proindicus, ao estabelecer a joint venture através da sua empresa L6G estaria apenas a aproveitar uma oportunidade de negócios ou estaria mesmo a ser oportunista?
Calton Cadeado opina:"As duas coisas, mas prefiro olhar mais para a dimensão de oportunismo. O senhor Prince é conhecido pela dimensão de segurança que o projetou como um grande homem de negócios no mundo e é essa dimensão que ele quer aproveitar, só que por uma via indireta e que nós assumimos que é uma forma de não criar um susto no Estado moçambicano. Mas acima de tudo era uma via indireta, na minha opinião, para chegar à indústria dos hidrocarbonetos."
Ciclo vertiginoso de dívidas?
Financeiramente Moçambique está de rastos, principalmente por causa de dívidas ilegais avaliadas em cerca de 1800 milhões de euros. O escândalo queimou a imagem do país ao nível externo, praticamente fechando as portas para o investimento estrangeiro.
As autoridades continuam a depositar esperanças nos recursos naturais, em especial no gás que só começará a ser produzido, em princípio, a partir de 2023. Entretanto, Moçambique pouco investiu no negócio do gás, o que significa que não terá grandes retornos, pelo menos no princípio da produção.
Tomando em conta esse quadro Moçambique não estaria a arriscar demasiado neste projeto de segurança? Sérgio Gomes, especialista em relações internacionais e doutorando em política externa e diplomacia energética, responde com cautela: "Diria que seria um movimento pouco aconselhável por parte de Moçambique como Estado, mas sendo um movimento na perspetiva da Proindicus, uma entidade público-privada, e o Estado ao assumir essa responsabilidade financeira para um novo projeto comprometendo lucros futuros, seria um movimento pouco aconselhável."
FDS são incompetentes ou incapacitadas?
Os ataques em Cabo Delgado começaram em Outubro de 2017 e desde então as FDS, Foprças de Defesa e Segurança, ainda não conseguiram dominar os atacantes e nem evitar as suas ações. Caso uma empresa privada de segurança operasse na região não seria passar um atestado de incompetência as Forças de Defesa e Segurança?
"Não diria incompetência, diria incapacidade. E incapacidade não é algo apenas apanágio de Moçambique, muitos estados não tem capacidade. Aliás, há operadores no setor de extração de gás, petróleo não seria novidade para Moçambique", justifica Sérgio Gomes.
Mas o analista sublinha um aspeto: "O que está em causa é a forma como isso é feito, se o Estado quer entrar também, participar na prestação desse serviço privado, numa parceria público-privada, ou fica de fora e deixa que um privado preste esse serviço."
Quem é Eric Prince?
Empresário na área de segurança, Erik Prince teve a sua empresa Blackwater envolvida na morte de 18 pessoas a quando da guerra no Iraque. Esta mesma empresa prestou serviços ao Governo dos Estados Unidos avaliados em cerca de 2 mil milhões de dólares.
Depois do escândalo no Iraque, desfez-se da Blackwater em 2010 e criou a Reflex Responses, no mesmo ramo, e logo a seguir a Frontier Services, que opera em diferentes setores, entre eles o logístico, o aéreo e o da segurança. E é através da Frontier Services que Prince entra em Moçambique em finais de 2017 para investir nas famigeradas empresas envolvidas nas dívidas ocultas.
DW – 11.06.2018
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3 comentários
Comentários
Rei David Essa Teoria E Valido, Eu Tambem Disconfiei O Aparecimento Do Sr Erek Prince, Aproveitamento Sim Do Negocio E O Ponto De Partida Dele E Os Demais! Ate Eu Diria Ha Um Grupo De Pessoa De Ma Fe Que Provocaram Isto So Para Fazer Negocio!
Gerir
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