Catarina Furtado: "Eu disse 'não', com medo, e fingindo que não estava a perceber bem"
A apresentadora da RTP assumiu ter sofrido assédio sexual quando era mais nova por parte de pessoas hierarquicamente superiores
Primeiro, a confissão. Depois, o alerta. Catarina Furtado assumiu esta terça-feira que já foi vítima de assédio sexual e explicou brevemente a situação. Esta quinta-feira, após as notícias acerca do assunto, a apresentadora da RTP usou o FacebookPARA se referir ao caso, mas sobretudo para defender que os tempos atuais são propícios a discutir-se a questão e evoluir-se socialmente.
Foi durante a gravação de um programa da Rádio Comercial, que ainda não está disponível, que Catarina Furtado revelou, num daqueles jogos de perguntas e respostas rápidas, que já tinha sofrido assédio sexual. A apresentadora foi questionada sobre o momento mais embaraçoso que viveu. "Vou falar mesmo a sério, e não pensem que é moda, mas já que agora toda a gente fala, há uma libertação geral. Foi quando fui assediada sexualmente", respondeu, defendendo que atualmente as mulheres denunciam mais as situações porque há uma espécie de alívio, de proteção.
"Temos que nos ajudar uns aos outros a desmontar uns códigos sociais que não fazem sentido nenhum", rematou.
Catarina Furtado foi entretanto ao Facebook explicar melhor a sua posição sobre a questão do assédio sexual. "Porque é que até então nunca o tinha dito? Porque de facto nunca calhou e porque de facto existe agora uma espécie de libertação e protecção sobre esta questão", diz, esclarecendo: "O que eu vivi foram situações de assédio sexual por parte de pessoas que tinham funções hierárquicas acima da minha e eu ainda não era esta mulher forte e conhecedora do mundo real".
Jovem, sonhadora, a tentar mostrar o seu valor profissional, Catarina Furtado optou. segundo conta, por não contar a ninguém. "Eu disse 'Não', com medo, e fingindo que não estava a perceber bem, arranjando desculpas e sorrindoPARA não nascerem conflitos irreparáveis. Consegui. Fiquei orgulhosa", conta.
Agora, com uma filha e uma enteada, quer alertarPARA "a oportunidade única que temos nos dias de hoje de falarmos uns com os outros, raparigas e rapazes, homens e mulheres para que juntos desconstruamos comportamentos sociais que até agora foram sempre aceites debaixo de um grande véu e de um silêncio muito desconfortável".
Catarina Furtado quer que as mulheteres tenham de deixar de fazer jogos de cintura e que os homens reflitam sobre estes comportamentos e mudem. "Sei que chegaremos a bom porto, com respeito mútuo!", comenta. "O que não se falava há uns anos, felizmente já se pode falar. Conquistou-se um espaço", constanta, salientando contudo os comentários agressivos das redes sociais contra mulheres que fazem partilhas difíceis.
"Infelizmente a nossa sociedade ainda precisa de um debate sério, sem ataques mútuos, sobre os nossos comportamentos cívicos. Um debate sobre educaçãoPARA o respeito. Ainda precisa destas Modas para ver se agarramos a oportunidade!", defende.
O debate da questão do assédio sexual tornou-se "moda" na sequência do escândalo do produtor de Hollywood Harvey Weinstein. Várias mulheres fizerama cusações públicas, levando outras a denunciar outros casos, com outros poderosos do cinema.
Sim, fui entrevistada para o programa da Rádio Comercial "Cada um sabe de si” com a Joana Azevedo e o Diogo Beja e num jogo, de perguntas e respostas rápidas, o meu amigo Diogo pergunta-me “Qual foi o momento mais embaraçoso da tua vida?” A minha resposta automática e consciente foi: quando fui assediada.
Porque é que até então nunca o tinha dito? Porque de facto nunca calhou e porque de facto existe agora uma espécie de libertação e protecção sobre esta questão. Questão esta que tem variadíssimas variantes e que são essas variantes que me fazem escrever este post: O que eu vivi foram situações de assédio sexual por parte de pessoas que tinham funções hierárquicas acima da minha e eu ainda não era esta mulher forte e conhecedora do mundo real.
Era uma muito jovem rapariga, cheia de vontade de provar que gostava de trabalhar e que queria dar o meu melhor, agarrando os meus sonhos. Com mini-saia, de calças, de vestido decotado ou de fato de treino ou gola alta.
Ora, tenho uma filha e uma enteada, a minha enteada tem 21 anos, e eu quero que hoje elas percebam que quando um homem mais velho utiliza o seu "poder" para tentar algo mais, exercendo chantagem em relação às suas ambições, elas possam dizer "Não" mas sem medo das represálias profissionais. Eu disse "Não", com medo, e fingindo que não estava a perceber bem, arranjando desculpas e sorrindo para não nascerem conflitos irreparáveis. Consegui. Fiquei orgulhosa. Mas inconscientemente sabia que eram situações que não seria suposto contar a ninguém, nem aos meus pais.
É disto que quero falar. Da oportunidade única que temos nos dias de hoje de falarmos uns com os outros, raparigas e rapazes, homens e mulheres para que juntos desconstruamos comportamentos sociais que até agora foram sempre aceites debaixo de um grande véu e de um silêncio muito desconfortável.
É uma oportunidade para as mulheres pararem de ter de fazer jogos de cintura e poder de encaixe (as que fogem e as que cedem, aceitando jogar com as mesmas regras) e para os homens se questionarem eticamente sobre esses comportamentos e mudarem. Sei que chegaremos a bom porto, com respeito mútuo! São décadas de trabalho na conquista da valorização e dignificação do papel da mulher. O mundo está em permanente evolução e precisamos de ir no sentido da promoção dos direitos humanos. O que não se falava há uns anos, felizmente já se pode falar. Conquistou-se um espaço. No entanto é verdade que ainda não existe esse respeito em Portugal, quando, através das redes sociais (ou de um meio de comunicação social) alguma mulher vem a público fazer uma partilha difícil. Os comentários agressivos soltam-se numa espécie de auto defesa e defesa desnorteada de quem nunca verdadeiramente sentiu na pele este abuso de poder. Não pretendo atacar. Pretendo defender.
Enquanto Embaixadora de Boa Vontade do UNFPA, há já 18 anos, e através da associação que fundei há 6 anos Corações com Coroa, trabalho todos os dias, em equipa, as questões da desigualdade com base no género e por isso não necessito de modas para falar em público. Infelizmente a nossa sociedade ainda precisa de um debate sério, sem ataques mútuos, sobre os nossos comportamentos cívicos. Um debate sobre educação para o respeito. Ainda precisa destas Modas para ver se agarramos a oportunidade!
Tudo o resto, a sedução, os piropos, as insinuações sensuais ou sexuais, em pé de igualdade por parte das mulheres e dos homens, pertencem a outros capítulos que não me interessa abordar aqui e onde não existem só os santos e só os pecadores, e que nada têm a ver com o assunto que me fez falar publicamente.
Porque é que até então nunca o tinha dito? Porque de facto nunca calhou e porque de facto existe agora uma espécie de libertação e protecção sobre esta questão. Questão esta que tem variadíssimas variantes e que são essas variantes que me fazem escrever este post: O que eu vivi foram situações de assédio sexual por parte de pessoas que tinham funções hierárquicas acima da minha e eu ainda não era esta mulher forte e conhecedora do mundo real.
Era uma muito jovem rapariga, cheia de vontade de provar que gostava de trabalhar e que queria dar o meu melhor, agarrando os meus sonhos. Com mini-saia, de calças, de vestido decotado ou de fato de treino ou gola alta.
Ora, tenho uma filha e uma enteada, a minha enteada tem 21 anos, e eu quero que hoje elas percebam que quando um homem mais velho utiliza o seu "poder" para tentar algo mais, exercendo chantagem em relação às suas ambições, elas possam dizer "Não" mas sem medo das represálias profissionais. Eu disse "Não", com medo, e fingindo que não estava a perceber bem, arranjando desculpas e sorrindo para não nascerem conflitos irreparáveis. Consegui. Fiquei orgulhosa. Mas inconscientemente sabia que eram situações que não seria suposto contar a ninguém, nem aos meus pais.
É disto que quero falar. Da oportunidade única que temos nos dias de hoje de falarmos uns com os outros, raparigas e rapazes, homens e mulheres para que juntos desconstruamos comportamentos sociais que até agora foram sempre aceites debaixo de um grande véu e de um silêncio muito desconfortável.
É uma oportunidade para as mulheres pararem de ter de fazer jogos de cintura e poder de encaixe (as que fogem e as que cedem, aceitando jogar com as mesmas regras) e para os homens se questionarem eticamente sobre esses comportamentos e mudarem. Sei que chegaremos a bom porto, com respeito mútuo! São décadas de trabalho na conquista da valorização e dignificação do papel da mulher. O mundo está em permanente evolução e precisamos de ir no sentido da promoção dos direitos humanos. O que não se falava há uns anos, felizmente já se pode falar. Conquistou-se um espaço. No entanto é verdade que ainda não existe esse respeito em Portugal, quando, através das redes sociais (ou de um meio de comunicação social) alguma mulher vem a público fazer uma partilha difícil. Os comentários agressivos soltam-se numa espécie de auto defesa e defesa desnorteada de quem nunca verdadeiramente sentiu na pele este abuso de poder. Não pretendo atacar. Pretendo defender.
Enquanto Embaixadora de Boa Vontade do UNFPA, há já 18 anos, e através da associação que fundei há 6 anos Corações com Coroa, trabalho todos os dias, em equipa, as questões da desigualdade com base no género e por isso não necessito de modas para falar em público. Infelizmente a nossa sociedade ainda precisa de um debate sério, sem ataques mútuos, sobre os nossos comportamentos cívicos. Um debate sobre educação para o respeito. Ainda precisa destas Modas para ver se agarramos a oportunidade!
Tudo o resto, a sedução, os piropos, as insinuações sensuais ou sexuais, em pé de igualdade por parte das mulheres e dos homens, pertencem a outros capítulos que não me interessa abordar aqui e onde não existem só os santos e só os pecadores, e que nada têm a ver com o assunto que me fez falar publicamente.
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