Josina Z. Machel: Os contornos de uma manipulação (1)
Depois do veredicto médico de que tinha perdido parte da vista na sequência de uma agressão do seu ex-namorado, R. Licuco, em Outubro de 2015, Josina Machel enxergou mais longe e, do túnel da violência, ela vislumbrou uma luz cintilando no fundo. A luz do activismo contra esse drama cada vez mais presente na nossa sociedade: a violência contra as mulheres.
E tomou uma decisão que está a mudar o rumo de sua vida: dar voz e olhos a centenas de vítimas anónimas. A marca do olho perdido está incólume na sua face, mas essa marca passou também a ser um símbolo de esperança, a cor vibrante de uma bandeira que pretende dizer “Não”. Por isso, ela se abraçou na activação de um Movimento. Kuhluka é o nome, de origem chope, que remete para “resiliência”. É assim: há na face da terra umas plantas, mesmo que daninhas, que resistem a qualquer tipo de intempérie. Você tenta eliminá-la, ela se finge morta, mas depois renasce aguerrida, e garrida de cores também.
É assim como Josina pretende ver as vítimas da violência doméstica, sobretudo as mulheres. Para que elas não se enterrem no silencio, para que cultivem sua auto-estima e assumam que há mais vida para lá do trauma. A Kuhluka já está legalizada em Moçambique e vai se juntar a outras ONGs que também trabalham área. Não pretende substituir ninguém. Vai ser complementar, usando outras metodologias. Por isso, sua natureza é a de um movimento para activação de alertas sobre abuso e ajuda judicial “pró bono” às vítimas, entre outras abordagens.
Depois de perder um olho, Josina concluiu que esse olho ela não o teria de volta e, sobretudo, que não há dinheiro no mundo que lhe possa devolve-lo. Mas há quem ande por aí, em clara manipulação, insinuando uma alegada ganância por ela ter fixado neste caso uma indemnização de 300 milhões de Meticais. Não! Ela não precisa desse dinheiro. Quem precisa são outras mulheres que, diferentemente dela, não tem meios para lutar contra seus agressores e carcereiros. Se ganhar o caso na vertente cível, Josina vai aplicar todo o valor na implantação da Kuhluka. As mulheres precisam!!!
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