O Presidente filipino prometeu agora “limpar” a polícia, que acusa de ser corrupta.
A violenta guerra contra o tráfico de drogas das Filipinas foi suspensa esta segunda-feira por ordem presidencial. Em mais de seis meses morreram sete mil pessoas, muitas das quais em execuções extrajudiciais denunciadas por várias organizações de defesa dos direitos humanos, mas foi apenas uma morte que motivou a decisão surpreendente do Presidente Rodrigo Duterte.
Em Outubro, um empresário sul-coreano foi raptado por membros da divisão de combate à droga da polícia. Jee Ick-joo foi detido na sua casa nos subúrbios de Manila, sob pretexto de uma rusga, e espancado, acabando por morrer. Os autores do rapto ainda tentaram pedir um resgate à família, fingindo que o empresário ainda estava vivo.
As autoridades que investigaram o caso concluíram que pelo menos três dos oito suspeitos de envolvimento no rapto de Jee pertenciam à polícia.
A morte do empresário motivou uma viragem profunda na política de Duterte de apoio ao combate ao tráfico de droga – pedra basilar da sua governação. No domingo à noite, o Presidente que prometeu amnistiar os agentes que fossem acusados de mortes ilegais disse que 40% dos elementos da polícia são corruptos, “tão maus como barões da droga”. A polícia é "corrupta até à raiz", acusou Duterte.
Estava escolhido o novo alvo do Presidente apelidado de “Justiceiro” – alcunha que remonta aos seus tempos como autarca da cidade de Davao, onde travou um violento combate contra o tráfico de droga. O chefe da polícia nacional, Ronald dela Rosa, anunciou esta segunda-feira que a operação contra as drogas vai ser suspensa até que as fileiras da polícia sejam “limpas”.
“A todos os agentes insurrectos, tenham cuidado!”, afirmou dela Rosa. “Já não estamos a travar uma guerra contra as drogas, agora temos uma guerra contra os scalawags [termo em tagalog que designa patifes].” O dirigente da polícia estima que a operação anti-droga possa ser retomada dentro de um mês. Segundo a BBC, os agentes suspeitos de corrupção serão enviados para a linha da frente do conflito no sul das Filipinas contra grupos terroristas jihadistas.
A senadora Leila de Lima, que tem liderado a oposição à ofensiva de Duterte, disse ao canal ANC que o anúncio comprovava que as autoridades filipinas “estão conscientes de que os próprios homens envolvidos nas operações anti-droga estão envolvidos em actividades ilegais, sob o pretexto da chamada guerra contra as drogas”.
A polícia filipina tem sido acusada de usar uma força desproporcionada para combater o tráfico de droga, muitas vezes executando suspeitos apenas por estarem no local de uma rusga. Muitas das mortes são também atribuídas a grupos de vigilantes que não fazem parte da polícia, mas têm a sua cobertura.
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