sábado, 17 de dezembro de 2016

Populismos: de Tsipras a Trump

DEMOCRACIA

Populismos: de Tsipras a Trump

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Pelos sinais disponíveis, Tsipras e Trump são, mesmo assim, relativamente inofensivos. Mas se a espiral degenerativa não for travada no plano das ideias, um dia os populistas desafiarão a democracia.
É muito o que separa Alexis Tsipras de Donald Trump. Não se pretende por isso com este artigo fazer um exercício de equivalência forçada entre os dois mas, ao mesmo tempo, é impossível ignorar que há uma característica importante que os une: o populismo.
Tanto Tsipras como Trump conquistaram vitórias eleitorais apelando à revolta popular contra um sistema percepcionado como injusto e corrupto. Tanto Tsipras como Trump se apresentaram como heróis (improváveis) do cidadão comum no combate aos meios privilegiados de onde ambos emergiram. Tanto Tsipras como Trump apresentaram promessas pouco realistas e por vezes contraditórias para conseguirem capitalizar a seu favor um vasto leque de factores de descontentamento.
A constatação deste paralelismo pode parecer algo excêntrica em contextos político-mediáticos, como o português, nos quais a duplicidade de critérios é gritante. Pode ser difícil verificar esse paralelismo num país onde se encara (correctamente) a retórica proteccionista de Trump como uma ameaça à economia global ao mesmo tempo que quase todos minimizam a gravidade do programa económico extremista de algumas das forças que constituem a “geringonça”. Mas isso não faz com que o paralelismo seja menos verdadeiro.
A referida duplicidade ficou recentemente bem patente também na avaliação do legado do brutal ditador cubano Fidel Castro. Uma duplicidade que teve ainda esta semana novos desenvolvimentos com o Partido Comunista Português a votar contra um protesto pela detenção de jornalistas portugueses em Cuba apresentado pelo PSD na Assembleia da República e, num plano mais caricatural, com as esforçadas piruetas retóricas de Francisco Louçã – líder histórico do PSR e do Bloco de Esquerda – para branquear a ditadura cubana e os hediondos crimes de Fidel Castro.
Como os exemplos de Tsipras e Trump demonstram, o crescente sucesso das estratégicas retóricas populistas não é exclusivo nem da esquerda nem da direita do espectro partidário. Para compreender esse sucesso é preciso procurar raízes mais profundas. Como explica Rui Ramos:
O chamado “modelo social” já não é sustentado pela economia. O estilo “populista” é um meio fácil de as elites políticas escaparem às responsabilidades. Até agora, estiveram organizadas em turnos de alternância, uns à direita e outros à esquerda. Não é impossível que, perante as aflições, evoluam para um sistema de polarização à volta de homens fortes, capazes de apelar transversalmente ao eleitorado em nome da nação.”
O populismo pode assim ser visto como um sintoma da falência dos modelos sociais correspondentes e, muito em particular, da sua incapacidade para proporcionarem os resultados prometidos. Como eloquentemente explicou há mais de sete décadas Friedrich Hayek na sua obra The Road to Serfdom, os sucessivos fracassos das políticas intervencionistas conduzem a um gradual aumento das frustrações do eleitorado. Frustrações essas que abrem espaço para figuras carismáticas que se apresentem como líderes “fortes”, com um discurso agressivo centrado no enfrentamento do “sistema” e na suposta defesa dos interesses e aspirações do “cidadão comum”.
No contexto deste enquadramento mais geral, os sinais disponíveis apontam para que Tsipras e Trump sejam, apesar de tudo, relativamente inofensivos. Mas, caso a espiral degenerativa apontada por Hayek não seja travada a tempo no plano das ideias, chegará um dia em que os populistas eleitos já não se acomodarão ao sistema após a sua eleição.
Professor do Instituto de Estudos Políticos da Universidade Católica Portuguesa
Comentários
Populismos: de Tsipras a Trump
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Carlitos Sousa
3 h
Populismo !  Um rótulo. Mais um que a esquerda começou a usar para classificar alguma coisa que lhe desagrada.
O André Alves poderia começar por dissertar sobre o significado de "populismo". Ideias que vão ao encontro dos anseios do povo ? Demagogia ?
E os partidos que se dizem Populares, serão populistas ?
Se Trump diz que vai baixar os impostos às empresas para 15%, é populista ?
E António Costa será populista quando faz as vontades aos sindicatos, ao PCP e ao BE, e autoriza aumento de despesa sem ter receita ? 

Depois do "salazarento", "reacionário" e "neo-liberal", a esquerda arranjou agora o "populista" para rotular todas as vitórias da direita no ocidente. 
Esta Malta tem a mentira na massa do sangue . Em cada três linhas , quatro são mentira .De acordo com a enviada do semanário, um conjunto de jornalistas portugueses teriam sido detidos pelas autoridades cubanas quando se preparavam para cobrir o último dia de cerimónias fúnebres, no Leste do país caribenho. Teriam, porque a embaixadora de Cuba em Portugal, Johana Tablada, já veio esclarecer que o episódio não passou de um «controlo, na rua, de documentos».Isto porque os jornalistas do Expresso e da SIC se preparavam para «violar um perímetro de segurança», de forma a terem acesso à derradeira cerimónia fúnebre, amplamente divulgada como «privada e familiar, vedada totalmente ao público».
Pedro Simoes
16 m
Privada! Lol!!!
Joaquim Moreira
9 h
"Tanto Tsipras como Trump apresentaram promessas pouco realistas e por vezes contraditórias para conseguirem capitalizar a seu favor um vasto leque de factores de descontentamento". Este parágrafo e este outro, retirado do artigo de Rui Ramos, “O chamado “modelo social” já não é sustentado pela economia. O estilo “populista” é um meio fácil de as elites políticas escaparem às responsabilidades”, dão toda a razão à sugestão de título feita por Vasco Abreu: “De Tsipras a Trump, passando por Costa!".

É muito preocupante que já não haja coragem de chamar os “bois pelos nomes”, sobretudo quando o “boi” se chama Costa.
Vasco AbreuJoaquim Moreira
8 h
Censuraram hoje vários comentários postos no DN, inclusive um meu... 

O "Público" não permite o acesso a nenhum artigo seu... Porém hoje abriu uma única exceção! Adivinhem qual é o tema do artigo! Vão lá confirmar e vejam como David Dinis afinal também se move pelo dinheiro!

PS.: A propaganda voltou com força e com ela o lápis azul também! Tenham medo, muito medo!
... Ler mais
Cipião NumantinoVasco Abreu
7 h
Caro Vasco Abreu, já somos dois! No DN, por norma colocam-me invisível para a maioria dos leitores mas, ontem, bloquearam-me pura e simplesmente. Ora, como o meu caro sabe, eu não estou ligado a partidos e só pode acontecer isto porque a esquerda quer calar vozes que a afrontam e a ridicularizam como eu modestamente o vou fazendo. A coisa está linda, está!...
Já me apercebi disso e sei que diz a verdade... Alguns dos seus comentários têm desaparecido tal como alguns dos meus!
Victor BatistaCipião Numantino
4 h
Isto STALINdo esta! 
Carlitos SousaCipião Numantino
4 h
Muitas vezes os comentários desaparecem pelas regras automáticas de verificação. Em alguns jornais, o mesmo carater repetido mais de 3 vezes faz excluir o comentário.
Aqui no Observador, nomear o António Costa como se nomeava alguns vendedores no bazar de Maputo, faz desaparecer o comentário. Ou colocar um link para uma página. Se for para uma imagem já pode... !   
Vasco AbreuCarlitos Sousa
3 h
Meu amigo, tudo isso nós sabemos... Mas aquilo de que falamos é bem diferente! Trata-se de censura pura e dura! Trata-se de propaganda pura e dura... Vá ao "Público" confirmar o que digo acima!
José C. AguiarCipião Numantino
47 m
Pois, amigo Cipião, por aqui é muito bem vindo e os seus comentários apreciados como merecem.
A esquerda sempre se disse feroz adversária da censura, da censura de direita, claro, porque quando lhe toca a ela, faz o mesmo ou pior que os outros.
martins bento
9 h
Um artigo absurdo no conteúdo.O que o autor talvez quisesse dizer, à moda de Fukuyama,é que "acabou a ideologia".O capitalismo global ,ou socializante da Europa ,é inquestionável.As massas ignorantes agarram meia dúzia de ideias,na maioria mentiras e a televisão passa a mensagem.Pela mesma razão que se convocam já os milhares para o NOS Alive ou Festival Superbock  e a Cornucópia fecha as portas.Os "nichos de mercado" de Tsipras e Trump podem ser os mesmos.mas os produtos completamente antagónicos
Vasco Abreu
12 h
Apeteceu-me nem ler o artigo: está mal desde o título, que deveria ser: "De Tsipras a Trump, passando por Costa!"

Ó André, qual é a dificuldade em reconhecer que  geringonça é a expressão do populismo em Portugal! Acaso o que se está a passar há cerca de um ano nesta terra não está a "desafiar a nossa democracia"?

Não sentimos que o estado de direito está a ser suspenso progressivamente, como aconselhou a manela? O que é este apoio incondicional de todos os media a esta solução governativa? Até o "Observador" fá-lo diariamente!

Acaso, alguém pensa que, se esta solução governativa aguentar 4 anos, sairemos disto com facilidade?!

Acha que é justo um mundo onde Tzipras é um herói, por ser de esquerda, e Trump é um anti-herói por ser de direita? Acha que faz sentido discursar contra Eduardo dos Santos, que é de direita, e fazer de Fidel um santo? Acha que faz sentido, dar um prémio Nobel a Obama, ainda não acabara de ser eleito, e promover esta campanha contra Trump, só porque ganhou eleições?

André, tem medo de quê? Tem vergonha de quê? O populismo já chegou à nossa terra, a nossa democracia está em causa e é preciso dizê-lo!


António Hermínio Quadros SilvaVasco Abreu
12 h
Estou plenamente de acordo consigo. Estava para escrever um comentário semelhante mas li o seu e achei que já nem valia a pena.
João Gata
14 h
Ó André Alves, esqueceu-se do Ditador Populista V. Putin, o tal responsável pelo massacre de milhares de civis sírios nas últimas semanas. 
martins bentoJoão Gata
8 h
Queria dizer Obama ,que deixa a herança de 400 mil mortos ,7 milhões de refugiados e a margem sul do Mediterrâneo em pantanas
Jose Lourenso
14 h
Franklin D. Roosevelt é para mim uma referência no combate ao populismo. Conseguiu mobilizar uma Sociedade Anémica e Isolacionista contra os Adversários: da Democracia, Direitos Humanos e da Paz.

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