segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

União Africana persiste numa encruzilhada grave e deprimente…

Canal de Opinião
Por: Noé Nhantumbo
Multiplicam-se os problemas e escasseiam as soluções
 
Os defuntos lutadores pelas independências devem estar chorando… Décadas após a proclamação das independências são raros os países africanos que conseguiram edificar pátrias em que as fricções étnicas e regionais tenham sido substituídas por convivência pacífica, envolvente e de tolerância. As independências que eram consideradas como via de realização de satisfação das necessidades dos cidadãos, tornaram-se ilusão deprimente.
Maputo (Canalmoz) - África inicia 2013 a braços com crises de segurança reveladoras de um mau estado geral das relações políticas em muitos dos países que fazem parte da União Africana.
Um acumular de problemas não sanados, uma cultura de relações entre os países fundada nas aparências, uma história distorcida por conveniências circunstanciais não tem conseguido no seu conjunto abordar e dar o tratamento adequado aos mais variados problemas continentais.
Se na República Centro Africana mais uma vez a rebelião mostra os seus apetites, no Mali a guerra aberta começou com uma intervenção de tropas estrangeiras, em peso.
No Sudão e no novo Sudão do Sul os governos dos dois países tentam evitar a guerra numa situação em que milícias instrumentalizadas e sob instrução de diversos interesses não desarmam.
Afinal África está destinada a ser aquele continente em que as crises de segurança são permanentes?
Em finais do Janeiro corrente teremos mais uma cimeira da União Africana. É provável e de esperar que muitas resoluções sejam mais uma vez apresentadas e aprovadas. O passado recente mostra reticências e hesitações quando se exigem recursos e planos adequados para intervenção dos órgãos da UA. Ora faltam recursos financeiros ora não existe vontade política para agir-se no sentido mais apropriado.
Décadas após a proclamação da independência são raros os países africanos que conseguiram edificar pátrias em que as fricções étnicas, regionais tenham sido substituídas por uma convivência pacífica, envolvente e de tolerância.
Uma estrutura económica e financeira montada a partir de modelos de apropriação de todo desenquadrados com os objectivos políticos anunciados e propagandeados produz distorções, progressão geométrica do número de pobres e aumento do fosso entre ricos e pobres. As independências que eram considerada como via de realização de satisfação das necessidades dos cidadãos tornou-se numa ilusão deprimente.
Os retalhos administrativos antes chamados colónias, possuíam mecanismos de sobrevivência económica mais ou menos estruturados, tornaram-se campos desolados de ineficiência logo após a proclamação das independências. Se as potências colonizadoras haviam conseguido, através de políticas divisivas, manter as populações longe de conflitos étnicos, os novos governos não conseguiram afugentar os micróbios do separatismo, dos conflitos intestinais. Minorias governando maiorias numa herança directa do poder colonial criaram ilusões nacionalistas jamais assumidas por seus súbitos. Nem a importação de ideologias socializantes de cariz marxista resolveu os problemas.
Sem uma saída económica que oferecesse garantias visíveis de que valia realmente a pena comungar os projectos de nacionalidade sugeridos os que sentiam oprimidos e excomungados na partilha das riquezas nacionais logo entenderam que a solução de seus problemas só ganharia viabilidade pela via da confrontação violenta.
Problemas sem solução atempada avolumam-se e crescem para situações fora do controlo dos políticos e governantes.
É assim que na África dos dias de hoje os “fantasmas do passado” revisitam o presente de uma forma cada vez mais activa.
A história é um processo que conhece avanços e recuos conforme os homens, governantes e governados se entregam aos seus afazeres. Quem se recusa os assuntos espinhosos e difíceis só adia as coisas. O caixote de lixo da história tem muito que se lhe diga em termos de quem está lá enterrado.
Porque os governantes africanos de hoje continuam a fazer de contas que não temos problemas e que sua governação é sábia e bem-sucedida os problemas que rebentam um pouco por todo o continente são a forma mais prática para mostrar o que realmente tem acontecido com a governação em África.
O recurso recorrente à intervenção estrangeira para “pacificar” e democratizar os países africanos é um insulto à gesta independentista de que foram protagonistas muitos políticos africanos como Nkrumah e outros. Como entender que passadas décadas da proclamação das independências se tenha que ir pedir ajuda a Paris ou Lisboa para resolver diferendos internos? Aquela soberania de que tanto falam em seus discursos o que afinal significa?
Não há dúvidas para quem queira ver que a governação em África atravessa uma fase vergonhosa. O congelamento de fundos na Suíça e em outros países, pertencentes a déspotas e outros políticos do continente deixa ver o que são nossos governantes. Mesmo quando se escondem e encobrem através de encomendas mediáticas na comunicação social de seus países, já nada impede de ver que utilizam suas posições no governo para açambarcar riquezas e roubar directamente do erário público.
Os dossiers Mobutu, Mubarak, Ben Ali, Abacha, Bongo, Ngwenha, Kadafi, Eduardo dos Santos e outros, de fortunas congeladas mostra o que temos em África em termos de governantes.
A coisa pública, o servir, a verticalidade e a responsabilização rareiam e com isso os cidadãos são colocados entre a espada e a parede dos oportunistas políticos que os utilizam em defesa de teses centradas em seus umbigos.
O poder político precisa de ser reformulado e repensado, em África.
A dignidade de povos não pode ser moeda de troca para a satisfação de ambições individuais de gente que assalta o poder e o coloca a seu serviço privado.
Não há agenda que possa vingar com governantes medíocres, autênticos meliantes e mercenários…
Governar não é uma “negociata” e constituição de joint-ventures que rapinem recursos nacionais em benefício das corporações e seus sócios nacionais.
África, é tempo de acordar e sacudir de tuas costas, os vampiros que te sugam e entorpecem…(Noé Nhantumbo)

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