A progressiva evaporação das águas das cheias que invadiram na última quarta-feira a cidade de Chókwè, província meridional de Gaza, reanima a esperança dos seus residentes que tanto esperam pelo seu abrandamento, para começarem a árdua tarefa de reconstruir tudo o que foi destruído.
As águas das cheias, que tinham tornado Chókwè e arredores num autêntico mar do interior, tendo a sua altura chegado a atingir pouco mais de dois metros, estavam, na maioria dos locais antes submersos, abaixo do joelho muito embora em bairros residências elas estejam a altura da cintura de um adulto.
A fúria das águas, susceptível de desafiar a habilidade de um marinheiro experiente, danificou os diques do regadio Chókwè e transformou a planície num imenso alto mar, roeu e carcomeu o asfalto da estrada que leva àquela cidade, arrastou as viaturas cujos donos não se estavam por perto na altura da invasão diluvial.
Os remoinhos e rodopios das águas, além de criar um espectáculo de terror aos que assistiam de cima das casas e árvores, primeiro local de refúgio, removeram completamente a argila usada pelos residentes de Chókwè no processo de edificação das casas, sobrando o esqueleto e as chapas de zinco suspensas sobre as estacas.
Porém, em áreas onde as águas estavam ainda altas, sobretudo na zona de Lionde a entrada à cidade de Chókwè, os miúdos se serviam delas para se adestrarem na arte de mergulho e não ver o tempo parado, na sequência das cheias.
Os cidadãos mais cautelosos, sempre que tentassem chegar as suas propriedades submersas, procuravam usar barcos a remo a fim de evitar correr riscos de arraste pela corrente da água e outras formas de acidentes impossíveis de antever, mas possíveis de ocorrer.
As cheias provocaram uma inércia total na vida dos residentes de Chókwè que, não obstante o alerta no sentido de abandonar as suas áreas de residência para áreas mais seguras, a maioria não foi a tempo de retirar todos os bens e mantimentos disponíveis.
A medida que elas abrandaram até uma altura em que os residentes pudessem se movimentar sem grandes riscos, Chókwè assistiu as mais bizarras cenas de vandalismo e pilhagem de lojas diversas e outros estabelecimentos comerciais, tudo na busca de algo para comer porque nada há para vender e comprar.
A Polícia da República de Moçambique (PRM), a nível daquela urbe, teve de solicitar reforços idos da capital provincial, Xai-Xai, para restaurar a ordem pública, porque os residentes ainda refugiados encima das casas protagonizaram um pandemónio sem igual na busca de qualquer coisa para meter na boca.
Nas zonas onde as águas já abrandaram a terra está agora completamente revestida de um lençol bastante denso de lama, que só será desfeito pelo sol fulminante que se faz sentir um pouco por todo o país e Chókwè não é uma excepção.
A situação força as pessoas abrigadas encima das casas a confeccionar os seus alimentos nas bermas da estrada, porque a terra dos seus quintais ainda não oferece as condições necessárias para o efeito.
Mesmo perante a ameaça, casos existem de famílias que lavam a loiça com as águas sujas ainda estagnadas por perto das suas casas.
A opção constitui um verdadeiro risco para essas famílias, porque as águas podem estar contaminadas por doenças como a cólera, porquanto a maioria dos residentes usa o sistema de latrinas que não escaparam o enchimento, na sequência das cheias.
Aos que buscaram refúgio em Chihaquelane e Mapapa, na Macia, totalizando, até sexta-feira, um universo de pouco mais de 70 mil pessoas, a atmosfera no local é de total desespero, porquanto o único tecto que essas pessoas possuem resume-se numa rede mosquiteira.
Aos que conseguiram retirar parte dos seus bens como camas e sofás, delas se socorrem para obter sombra porque as poucas árvores estão cheias de pessoas de famílias diferentes, que têm de partilhar o espaço para escapar ao sol abrasador.
Ao entardecer, a praga de mosquitos espalha-se por todo o lado e aos que nada tem para se abrigar ficam expostos ao perigo de doenças como a malária. Uma possível ocorrência de chuvas, por mais superficiais que fossem, são inimagináveis as consequências que teriam.
Aliás, no breu da noite, porque ali não iluminação eléctrica, as pessoas vão tresandando até a altura que tiverem sono para ir dormir, isto é, sentar enconstar a cabeça esperando o sol nascer, e enquanto esse momento não chegar a noite propicia todo o tipo de negócios.
Durante o dia, as crianças, jovens, adultos e velhos choram por falta de comida e o processo de distribuição além de ser lento, frustra a paciência das pessoas que são orientadas a se organizar em bairros para receber essa assistência.
O clima é bastante desolador, e a falta de condições para assegurar a higiene individual e colectiva dos deslocados propicia a eclosão de doenças de várias doenças.
Os que conseguem regressam a Chókwè, onde além de limpar os respectivos estabelecimentos estão a reiniciar a actividade comercial em busca de dinheiro para reconstruir a vida, como é o caso da Casa SK, loja situada na entrada daquela cidade.
(RM/AIM)
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