Rui Lamarques
Devia ser mais humanos
A situação das cheias que assolam o país e a forma como hipocritamente tratamos as suas vítimas revela o carácter vil, mesquinho e rasteiro dos que arvoram, aqui e ali, a bandeira da moçambicanidade. Aliás, mais do que mesquinhos e rasteiros, os advogados das vítimas, são previsíveis. Atiram para todos os lados e para o alvo de sempre, a manifesta incompetência de quem lide...ra o país.
É fácil. Aliás, facílimo amplificar, na cadeira do conforto da intransigência, a (ir)responsabilidade de quem lidera o país. É, mais do que óbvio, que certas situações resultam da ausência de planificação e até de políticas desenquadradas para a nossa realidade. Contudo, há pessoas a morrerem nos lugares que a água reclamou para si. Há famílias que perderam tudo e que, do alto da sua própria indigência, sugerem outro tipo de atenção e cuidado.
Ninguém tem o direito de plantar os alicerces da ascensão política que deseja em cima da desgraça dos outros. Nesta hora, os moçambicanos que perderam tudo pela força das águas e que estão debaixo dela precisam de cuidados. Precisam de medicamentos, alimentos e água. Também precisam de um tecto. Ou seja, precisam que os moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico, sejam solidários.
É, portanto, de solidariedade que as vítimas destas enxurradas precisam. Não queremos, neste momento de dor, ouvir discursos musculados ou exibições gratuitas do que devia ter sido feito. Sabemos que houve erros. Sabemos que houve incompetência. Mas não isso o que importa agora.
Precisamos de enterrar os mortos e cuidar dos vivos. Os que ficaram não serão alimentados por discursos eivados de ódio. Precisamos de estar na linha da frente. Precisamos de colocar menos no estômago e dar mais aos que estão mais necessitados. Temos, neste momento, de olhar para os que estão em Chókwè como a extensão de nós mesmos. Devemos sentir a dor deles e arregaçar as mangas para reconstruir o que agora é só escombro, pranto e ranger de dentes.
Falar da incompetência quando é preciso zelar pela vida é, na verdade, uma forma de preencher os requisitos necessários para vestir a camisola da dita incompetência. Falar de incompetência quando é preciso estar na linha da frente é, na verdade, vestir a camisola da cobardia e fugir da responsabilidade normal em qualquer ser humano que se preze. Neste momento de dor não é incompetência que deve ser arvorada. Não é disso que precisamos.
Precisamos de ser humanos e de nos entregarmos aos irmãos que carecem do nosso apoio. Precisamos de criar iniciativas e de mostrar ao mundo que não somos insensíveis à dor dos nossos. Depois de reconstruírmos o que a água e, como queiram, a incompetência dos homens destruiu podemos levantar o punho para procurar culpados e exigir responsabilidades. Mas, agora, é necessário mostrar que somos humanos. Estamos dispostos? Ou é mais importante a nossa visibilidade do que a desgraça de milhares de compatriotas? — with Chande Puna and 44 others.See more
A situação das cheias que assolam o país e a forma como hipocritamente tratamos as suas vítimas revela o carácter vil, mesquinho e rasteiro dos que arvoram, aqui e ali, a bandeira da moçambicanidade. Aliás, mais do que mesquinhos e rasteiros, os advogados das vítimas, são previsíveis. Atiram para todos os lados e para o alvo de sempre, a manifesta incompetência de quem lide...ra o país.
É fácil. Aliás, facílimo amplificar, na cadeira do conforto da intransigência, a (ir)responsabilidade de quem lidera o país. É, mais do que óbvio, que certas situações resultam da ausência de planificação e até de políticas desenquadradas para a nossa realidade. Contudo, há pessoas a morrerem nos lugares que a água reclamou para si. Há famílias que perderam tudo e que, do alto da sua própria indigência, sugerem outro tipo de atenção e cuidado.
Ninguém tem o direito de plantar os alicerces da ascensão política que deseja em cima da desgraça dos outros. Nesta hora, os moçambicanos que perderam tudo pela força das águas e que estão debaixo dela precisam de cuidados. Precisam de medicamentos, alimentos e água. Também precisam de um tecto. Ou seja, precisam que os moçambicanos, do Rovuma ao Maputo e do Zumbo ao Índico, sejam solidários.
É, portanto, de solidariedade que as vítimas destas enxurradas precisam. Não queremos, neste momento de dor, ouvir discursos musculados ou exibições gratuitas do que devia ter sido feito. Sabemos que houve erros. Sabemos que houve incompetência. Mas não isso o que importa agora.
Precisamos de enterrar os mortos e cuidar dos vivos. Os que ficaram não serão alimentados por discursos eivados de ódio. Precisamos de estar na linha da frente. Precisamos de colocar menos no estômago e dar mais aos que estão mais necessitados. Temos, neste momento, de olhar para os que estão em Chókwè como a extensão de nós mesmos. Devemos sentir a dor deles e arregaçar as mangas para reconstruir o que agora é só escombro, pranto e ranger de dentes.
Falar da incompetência quando é preciso zelar pela vida é, na verdade, uma forma de preencher os requisitos necessários para vestir a camisola da dita incompetência. Falar de incompetência quando é preciso estar na linha da frente é, na verdade, vestir a camisola da cobardia e fugir da responsabilidade normal em qualquer ser humano que se preze. Neste momento de dor não é incompetência que deve ser arvorada. Não é disso que precisamos.
Precisamos de ser humanos e de nos entregarmos aos irmãos que carecem do nosso apoio. Precisamos de criar iniciativas e de mostrar ao mundo que não somos insensíveis à dor dos nossos. Depois de reconstruírmos o que a água e, como queiram, a incompetência dos homens destruiu podemos levantar o punho para procurar culpados e exigir responsabilidades. Mas, agora, é necessário mostrar que somos humanos. Estamos dispostos? Ou é mais importante a nossa visibilidade do que a desgraça de milhares de compatriotas? — with Chande Puna and 44 others.See more
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