DAMASCO — O regime sírio e os rebeldes realizaram a maior troca de prisioneiros desde o início do conflito no país, há 21 meses, após complicadas negociações, que resultaram na libertação de 48 iranianos sequestrados em troca de 2.135 pessoas presas pelo regime.
Às 15h30 (11h30 de Brasília), a bordo de um micro-ônibus, os 48 reféns, detidos desde agosto, chegaram a um grande hotel de Damasco, constatou uma jornalista da AFP.
Cansados, vestindo apenas roupas de baixo ou blusões, eles receberam lírios brancos e foram abraçados por diplomatas iranianos. Alguns dos reféns choravam.
É a primeira vez que uma troca de prisioneiros é anunciada publicamente, um gesto sem precedentes de Damasco e em favor de seu aliado Irã, dois regimes isolados internacionalmente.
O embaixador do Irã, Mohammad Reza Chibani, indicou que seus concidadãos foram sequestrados no sudeste de Damasco, na estrada entre o aeroporto e Sayeda Zaineb, um local de peregrinação xiita onde está enterrada, segundo a tradição, a neta do profeta Maomé.
Esta região tem sido palco de intensos combates entre o Exército e os rebeldes nas últimas semanas.
Em Teerã, o Ministério iraniano das Relações Exteriores "felicitou os esforços da Síria, irmã e amiga, bem como a ajuda do Qatar e da Turquia para a libertação dos peregrinos".
"Dois engenheiros iranianos, que trabalhavam no setor de energético, ainda estão desaparecidos na Síria", indicou o embaixador do Irã, sem mais informações. Os desaparecidos podem ser os dois sequestrados em 2011 na província central de Homs.
No hotel, Ezzat Chahine, vice-presidente da organização humanitária islâmica turca IHH, mediadora da troca, indicou à AFP que a libertação dos reféns iranianos havia sido perigosa.
"Eles foram trazidos de Ghouta Oriental. Corremos sérios riscos porque havia combates e bombardeios", disse à AFP.
O Exército sírio realiza nesta região de pomares a leste de Damasco uma grande operação para tentar expulsar os rebeldes que estabeleceram sua retaguarda no local.
Em duas ocasiões, os insurgentes ameaçaram matar os reféns se o Exército não se retirasse de Ghouta.
"As negociações foram realizadas por nós, o Irã, o Estado sírio e a oposição armada. O Estado turco também participou e nós o agradecemos por seu papel. O resultado foi a libertação de 2.139 prisioneiros", acrescentou.
No entanto, nenhum detalhe foi obtido sobre a forma como os detidos nas prisões sírias foram liberados e em que local se encontram.
Por telefone, Ahmed al-Khatib, porta-voz do Conselho Revolucionário do Exército Livre Sírio (ESL, rebeldes) na região de Damasco, confirmou à AFP que as "negociações sob os auspícios de Turquia e Qatar resultaram na libertação de 2.135 prisioneiros por parte do regime, entre eles figuras importantes, em troca de iranianos".
De acordo com o embaixador do Irã, os cidadãos vão passar dois dias no hotel, onde serão examinados por médicos.
"Nós ainda não discutimos de que maneira eles vão deixar o país, mas parece ser difícil pela estrada. Enfim, eles estão ansiosos para voltar a Sayeda Zeinab", disse à AFP Chibani.
"As negociações foram longas e difíceis", declarou, agradecendo as autoridades sírias por sua "cooperação".
"Apoiamos a iniciativa do presidente Bashar al-Assad, porque é o caminho certo para resolver problemas", afirmou, referindo-se ao plano de crise proposto recentemente pelo chefe de Estado, contestado e rejeitado pela oposição e pela comunidade internacional.
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