quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Posses presidenciais já tiveram atentados e até terremotos na América Latina

 
09 de Janeiro de 2013 17h28
Atentados, rituais indígenas, bombardeios, rupturas do protocolo, protestos e até terremotos: tudo isto já ocorreu em posses presidenciais na América Latina antes do polêmico caso de Hugo Chávez na Venezuela.
A Constituição venezuelana estabelece que em 10 de janeiro os presidentes eleitos devem jurar o cargo diante da Assembleia Nacional, mas Chávez, que luta contra um câncer em Havana, foi autorizado pelo poder legislativo a realizar o rito mais adiante, quando sua saúde permitir, diante da Suprema Corte. Além disso, a Justiça argumentou que não é necessária uma nova posse porque Chávez é um governante "reeleito".
A oposição venezuelana considera que se amanhã o presidente da Assembleia Nacional, Diosdado Cabello, não assumir no lugar de Chávez ocorrerá uma "uma grave violação da ordem constitucional".
Apesar da ausência de Chávez, Caracas será palco em 10 de janeiro do que alguns meios de comunicação definiram como posse virtual, que contará com atos organizados pelo partido governante. Já confirmaram participação alguns líderes da região, como Evo Morales, presidente da Bolívia, e José Mujica, do Uruguai.
Outros países da região já viveram situações parecidas. No passado, Tancredo Neves, eleito nas urnas para ser o primeiro presidente constitucional do Brasil após uma longa ditadura militar, não assumiu na data marcada, 15 de março de 1985, pois na véspera teve que ser hospitalizado com fortes dores abdominais. Tancredo morreu em função de uma septicemia um mês depois e nunca chegou a assumir.
No dia da posse, marcada por uma grande comoção, José Sarney jurou o cargo de vice-presidente e assumiu automaticamente a chefia do Estado, que exerceu primeiro interinamente e depois oficialmente após a morte de Tancredo.
Algumas vezes, forças naturais impedem que as posses não ocorram como o previsto. Sebastián Piñera assumiu como presidente do Chile em 11 de março de 2010, duas semanas depois do terremoto de 8,8 graus que devastou seis regiões do país, com um balanço de 526 mortos, 800.000 desabrigados e danos avaliados em US$ 30 bilhões.
Durante a cerimônia de posse no Congresso chileno, no porto de Valparaíso, registraram-se duas réplicas de 6,9 graus Richter que fizeram com que as lâmpadas balançassem e pedaços de gesso do teto caíssem, causando medo entre os presentes.
Em outro exemplo conturbado na região, não foi a natureza que alterou a posse de Álvaro Uribe como presidente colombiano em 7 de agosto de 2002, mas as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).
Minutos antes de Uribe ingressar no Congresso para jurar seu cargo foguetes foram lançados contra a sede da Presidência e uma bomba explodiu a três ruas do complexo, deixando 17 mortos e 20 feridos.
O panamenho Guillermo Endara, morto em 2009, assumiu o cargo em 20 de dezembro de 1989 em uma base militar, enquanto as tropas dos Estados Unidos, em plena invasão do país, bombardeavam a capital.
Um capítulo à parte é o dos rituais indígenas. O pioneiro foi Alejandro Toledo, que em 29 de julho de 2001, um dia após assumir a presidência do Peru, viajou ao santuário inca de Machu Picchu, onde pediu aos "apus" (montanhas) que dessem força e coragem ao seu mandato. Além disso, ele realizou uma oferenda à terra, com sementes, flores e açúcar.
Os dois juramentos presidenciais do boliviano Evo Morales, em 2006 e 2010, foram precedidos por cerimônias indígenas realizadas no templo de Kalasasaya, nas ruínas de Tiahuanaco, um centro sagrado das culturas andinas.
O atual presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, reuniu-se antes de sua posse, realizada em 7 de agosto de 2010, com "mamos" (sacerdotes) das etnias arhuaca, kogui e wiwa, que entregaram ao governante um bastão de comando.
Pouco solene foi a posse da nicaraguense Violeta Chamorro, em 25 de abril de 1990, no Estádio Nacional de Beisebol. Apoiada em muletas e em meio a vaias e aplausos, a mandatária recebeu o cargo do presidente em fim de mandato, o sandinista Daniel Ortega, atualmente na presidência, que estava vestido com com calça de vaqueiro e mangas arregaçadas.
Já a posse de Ortega, em 2007, recebeu críticas do então embaixador americano em Manágua, Paul Trivelli, que a definiu como um "circo", "onde o populismo se impôs ao protocolo", segundo um documento divulgado pelo Wikileaks.
Em 2 de julho de 2006, Felipe Calderón assumiu a presidência do México em uma cerimônia agitada, na qual ele e seu antecessor, Vicente Fox, tiveram que entrar no Parlamento pelas portas laterais, em meio às tentativas dos congressistas da esquerda de tomar a tribuna da Câmara dos Deputados.
Quando assumiu seu segundo mandato, em 10 de dezembro de 2011, a argentina Cristina Kirchner rompeu todas as regras do protocolo ao evocar seu marido e antecessor no cargo, o falecido Néstor Kirchner, receber a faixa presidencial das mãos de sua filha Florença e pegar ela mesma o bastão de comando.
Já Rafael Correa cumpriu o protocolo ao jurar pela segunda vez como presidente do Equador, em 2010, mas depois cantou em uma festa popular com o grupo argentino Los Nocheros e depois com os presidentes de Cuba, Raúl Castro, e da Venezuela, Hugo Chávez, assim como com o ex-mandatário hondurenho Manuel Zelaya, o brado "O povo unido jamais será vencido".
Na ocasião, um Chávez brincalhão disse que os presentes iriam escutar a canção "Guantanamera" na voz de Raúl Castro, mas este se negou categoricamente a demonstrar seus talentos musicais.

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