(“André Matsangaissa e Afonso Dhlakama não estavam lá, e nem tinham uma vaga ideia do que se passava", JChissano)
Por José Sixpence
O
antigo Presidente da República, Joaquim Chissano, insurgiu-se
recentemente contra aqueles que consideram terem tendência para
“desprezar e deturpar a verdadeira História de Moçambique”, os quais, de
forma sistemática, tentam pôr em causa determinados factos e etapas do
processo histórico do país, sobretudo da fase da luta de libertação e
mesmo em torno das verdadeiras causas da guerra de desestabilização.
Chissano,
que falava no decurso de uma palestra organizada pela Universidade São
Tomas, por ocasião do Dia da Paz (04/10) e dos 18 anos depois da
assinatura do Acordo Geral de Paz, considerou muito perigoso que tal
suceda com a agravante de que tais pronunciamentos são feitos por “gente
que ignora completamente quem foram os inimigos de Moçambique e a forma
como eles actuavam contra o nosso país e o seu povo”.
“Sobre a
guerra de desestabilização, por exemplo, alguns vêem as causas deste
conflito de uma maneira errada. Pegam determinados factos de forma
superficial e juntam uma palavra que ouvem aqui e acolá e fazem deduces.
Outros nem sequer sabem exactamente quando é que começou a guerra, pois
já ouvia algumas dessas pessoas a dizerem que a guerra de
desestabilização começou em 77 e outros apontam o ano de 78 ou 82. Isto
quer dizer que estas pessoas não sabem muita coisa sobre esta fase e,
mesmo assim, atravem-se a fazer grandes debates em volta disto partindo
de bases erradas”, disse Chissano.
Para o antigo estadista moçambicano a ignorância das causas reais e
dos contornos das várias etapas da História do país e sobretudo do
ultimo conflito armado de que o país foi alvo, acaba criando situações
em que aparecem pessoas a tentarem “forjar heróis” por falta de bases
para a compreensão da evolução de determinados processos históricos.
“As
causas reais da guerra de desestabilização que eclodiu em 1976, são as
mesmas que faziam com que o colonialismo português resistisse contra a
Independência de Moçambique”, afirmou Chissano, fazendo questão de
acrescentar em seguida que a guerra de desestabilização em Moçambique
resultou do fracasso verificado das tentativas de diálogo entre os
Movimentos de Libertação dos países vizinhos com os então regimes
minoritários do Ian Smith, na Rodésia do Sul, e do Apartheid, na África
do Sul.
“Fracassaram igualmente as tentativas de diálogo entre os
líderes dos países da Linha da Frente composta pela Tânzania, Zâmbia e
Botswana (Moçambique e Angola juntaram-se a este movimento logo depois
de alcançarem as suas independências)”, recordou Chissano.
Segundo
revelou Chissano, já nos primórdios da década de 70, Julius Nyerere
(Tanzania), Keneth Kaunda (Zâmbia) e Seretse Khama (Botswana)
desdobravam-se em contactos com aqueles dois regimes minoritários e
segregacionistas num exercício de busca de uma solução pacífica e
baseada no diálogo para a Independência dos países que estavam sob o
jugo colonial nesta região austral de África.
“Esses esforços
fracassaram. E no caso do povo do Zimbabwe também não restava outra
alternativa senão enveredar pela luta armada com vista a sua própria
libertação do jugo opressor. E Moçambique, nessa altura, não poderia
deixar de oferecer o seu apoio, incluindo o seu território para trânsito
e preparação das forces que viriam a libertar o Zimbabwe. Moçambique
não poderia também deixar de se juntar às vozes que estavam a favor das
sanções decretadas pelas Nações Unidas contra o regime da Rodésia. Estas
duas razões fizeram com que o regime de Ian Smith procurasse formas de
defender o seu domínio”, esclareceu Joaquim Chissano.
MATSANGAISSA E DHLAKAMA LUTAVAM POR UMA CAUSA QUE MAL CONHECIAM
A
dado passo, o antigo estadista moçambicano referiu-se à “chusma” de
descontentes que entendia ter motivos bastantes para “ajustar contas”
com a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) e seu povo que “ousou
lutar e vencer”, a qual não se limitava apenas a determinados grupos de
pessoas ligadas aos regimes minoritários de Ian Smith e do Apartheid
pois, como referiu Chissano, existia também um outro grupo composto por
colonos portugueses que não queriam que Moçambique ficasse independente.
“Esse
grupo (de descontentes portugueses) juntamente com alguns moçambicanos
(dos quais Matsangaissa e Dhlakama não faziam parte na altura) foi pedir
aos sul-africanos para se oporem à proclamação da independência. O tal
grupo de portugueses defendia a continuação da dominação da colónia
portuguesa sobre Moçambique e seu povo. É assim que Foster mandou-os
conversar com Smith porque já nessa altura ele dizia que era preciso
aprender a viver com os maus vizinhos (referindo-se a Moçambique)”,
disse Chissano.
Aliás, Joaquim Chissano acrescentou que quando tal
grupo de portugueses fez estas aproximações, numa primeira fase à África
do Sul e posteriormente à Rodésia de Ian Smith (sob sugestão de
Foster), “André Matsangaissa e Afonso Dhlakama não estavam lá”, e nem
tinham uma vaga ideia do que se passava.
Nesses encontros, segundo
Chissano, estavam indivíduos ligados ao sistema colonial português e que
já faziam tentativas de sabotar a Luta de Libertação Nacional, isto é,
“estavam lá antigos generais portugueses, aqueles portugueses
salazaristas, esses sim, estavam lá. Mas há quem pense erradamente que
Matsangaissa e Dhlakama reuniram-se numa mata e, genialmente, traçaram
uma estratégia de luta pela democracia, contra o comunismo e contra a
ditadura, como se tem propalado”.
“Olha, em Portugal há um partido
Comunista há mais de cinquenta anos. Nunca se levantou uma arma contra o
partido Comunista em Portugal. Na Itália também existe um partido
Comunista, embora já não se chame assim, é designado Força de Esquerda,
mas nunca se moveu uma guerra para combatê-lo. Na França, o Partido
Comunista até chegou a fazer parte do governo de coligação, mas nunca se
levantou uma arma contra ele. Portanto, a guerra de desestabilização
não foi movida contra o comunismo mas sim contra a liberdade do povo
moçambicano, contra a independência do povo moçambicano”, reafirmou
Joaquim Chissano.
Entretanto, por estas e outras, o antigo Chefe do
Estado moçambicano considera que está mais do que na hora para aqueles
que detêm um conhecimento real sobre os vários processos da história do
país nas diferentes vertentes, que comecem a libertá-lo para os mais
novos, de forma objectiva e sem enviesarem as mensagens a transmitir por
razões eminentemente de índole partidária.
Para além disso,
Segundo ele, é preciso que as pessoas de boa vontade promovam mais
debates sobre a paz em todos os pontos do país e que “não vão
partidarizar as discussões porque esta tendência (de partidarizar) os
debates existe”.
“Deviamos criar condições para falarmos da nossa
História, da paz e das formas de torná-la duradoira. Este exercício
pressupõe isenção. Eu estive aqui a falar e há quem pode pensar que eu
tomei partido, mas o que é certo é que nestes debates temos de ser
objectivos. Mas é preciso conhecermos os factos para podermos
debate-los”, rematou Chissano, para depois acrescentar que “talvez o
erro é nosso, que às vezes tomamos como um dado adquirido de que os
nossos interlocutores sabem aquilo que nós sabemos”.
In Domingo - 10/10/2010)
Dois estudantes la estavam permanentemente como guarda-costas de Gwenjere, armados comicamente de matracas, paus, um golpe dos quais podia matar um cao instantaneamente ou um bandido da Frelimo sem mas demora. Numa ponta da casa onde Gwenjere tinha um so quarto, vimos o Chissano parado e verificando em redor.
O que é que o Chissano vinha fazer la? Havia duas causas possiveis: espiar o Gwenjere ou para se entreter com algumas raparigas, uma das quais tinha feito uma criança com Guebuza. Estas raprigas moçambicanas-rodesianas(Zimbabwe agora) eram de virtudes faceis. Dependiam do dinheiro que estes frelimistas lhes davam para viver ou sobreviver.
Quando dissemos a Gwenjere que Chissano estava num cantinho da casa, Gwenjere saiu do seu quarto como um homem possuido por espirito e dirigiu-se ao lugar onde Chissano estava -- coragem increvivel deste homem Gwenjere, tomando em conta que Chissano estava provavelmente armado com uma pistola, que o criminoso nao podeia duvidar em utilisar se se vive ameaçado.
"Chissano, sucas-te daqui," disse Gwenjere.
"Porque," perguntou Chissano.
"Es un assassino. Es um criminoso."
"A quem matei"
Incrivel, Gwenjere deu uma ladainha de nomes como um homem que estivesse a cantar uma cançao cujas palavras conhecia muito bem e desde a muito tempo. Chissano ficou desfeito, humlhado, inclinando-se para o chao, cheio de vergonha.
"Mas o padre é tambem assassino," disse ele. A palavra tambem na frase do Chissano estava a reconhercer e a confirmar que ele tinha na verdade morto pessoas com a sua propria mao como Gwenjere tinha lhe dito.
"Podes me dizer o nome duma unica pessoa que eu tenha morte?"
"O padre vendeu os alunos de Caia a PIDE," disse Chissano. Do que se sabia, Caia nao tinha lieceu. O liceu estava na missao de Murraca que o Padre Charles Pollet tinha insitituido muito contra a vontade do governo portugues. "O padre tambem reza a missa," acrescentou Chissano. Rimo-nos do humilhado Chissano.
"Nao se diz rezar a missa, diz-se dizer a missao," corrigiu-lhe Gwenjere. Rimo-nos a gargalhadas. Chissano ficou mais humilhado antes de dizer: "Padre, pa. Voce nao traz esses seus amigos para se rirem de mim." Rimo nos mais dele. Deixamos o homem no cantinho e regressamos ao canto da casa onde Gwenjere tinha o seu quarto numa casa que alegadamente pertencia a da Frelimo.
Pessoas nao podem fazer ideia do Gwenjere e da sua coragem. Era um homem que uma vez em Caia disse ao um oficial da PIDE que lhe perguntou se ele era portugues. Em respota Gwenjere disse: "quando é que combinamos que sou portugues?"
Era um homem que fazia estremecer Eduardo Mondlane a quem dizia frontalmente para sair da presidencia da Frelimo porque estragava tudo na organisaçao. Obviamente Mondlane nao tinha o nivel de portugues para enfrentar Gwenjere e ninguem na liderança da Frelimo podia enfrentar o filosofo que era Gwenjere. Ninguem mesmo. Todos estes dirigentes da Frelimo tinham medo dele, primeiro visto que Gwenjere lhes corrigia o seu portugues que falavam antes de analisar filosoficsmanete o que diziam filosoficamente.
Em lamentaçao um dia Mondlane disse a mim e a outros que estiveram a comer comigo numa mesa:"eu respeito muito o padre Gwenjere. É um homem muito educado, mas nao gosto da maneira como age."