sábado, 18 de agosto de 2012

Frelimo e MPLA primeiros a desencadear a luta armada – afirma Joaquim Chissano num volóquio em Luanda

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Joaquim_chissanoO MOVIMENTO Popular de Libertação de Angola (MPLA) e a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) foram os primeiros grupos nacionalistas a desencadear a luta armada na África Austral.
Maputo, Sábado, 10 de Dezembro de 2011:: Notícias
Este extracto consta da comunicação do antigo Presidente da República, Joaquim Alberto Chissano, feita esta semana, em Luanda, Angola, no decurso do colóquio internacional sobre a história do MPLA, promovido no quadro dos 55 anos da criação daquele movimento.
O colóquio tinha em vista a recolha de dados para o enriquecimento da história daquele partido político, isto na base de contribuições de actores locais e estrangeiros, nomeadamente antigos combatentes, políticos, jovens, intelectuais e estudiosos.
Joaquim Chissano falou sobre o tema: “O contributo do MPLA e da FRELIMO na libertação da África Austral”, num painel constituído por delegados de vários partidos políticos e de pessoas singulares de países com os quais o MPLA possui relações histórias, com destaque para Cuba, Rússia, Moçambique, Zâmbia, Namíbia, S. Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Portugal, entre outros.
O antigo Presidente da República lembrou que o percurso que conduziu os dois movimentos (MPLA e FRELIMO) à fase da luta armada, popular e generalizada, contra o colonialismo português, fez emergir dois líderes geniais e audazes, que moldaram a História de Moçambique e Angola. A história, o tempo e as circunstâncias criaram as condições para que Eduardo Chivambo Mondlane e António Agostinho Neto se cruzassem e forjassem uma relação solidária que perdura hoje com os herdeiros desse valioso legado.
“Naquele momento particularmente crítico da história dos nossos países, Mondlane e Neto evoluíram à dimensão dos anseios dos nossos povos, assumindo em pleno um papel ímpar na prossecução dos objectivos almejados de liberdade e emancipação”, afirmou, classificando Mondlane e Neto de líderes de fortes convicções e qualidade excepcionais, figuras que perceberam que a primazia do chamamento à liberdade e independência transcendia os seus interesses de ordem pessoal.
É assim que de forma disciplinar e metódica estruturaram o movimento de libertação, a fim de adequá-lo à nova fase de grandes desafios. Identificaram a unidade no seio do povo e dos combatentes como facto indispensável para o sucesso da luta.
Lembrou que foi sob o signo da unidade que Eduardo Mondlane fundou a Frente de Libertação de Moçambique, a 25 de Junho de 1962, em Dar-Es-Salaam, na Tanzania. Até então, os nacionalistas moçambicanos estavam congregados em três organizações, formadas segundo agrupamentos étnicos e regionais correspondentes aos lugares geográficos onde foram criados: MANU, UDENAMO e UNAMI.
“Mondlane concebeu a luta de libertação nacional como sendo um processo político e um acto eminentemente cultural, centrada no diálogo, debate de ideias e de opções viáveis para a libertação do povo moçambicano do jugo colonial. Agostinho Neto também desde o seu regresso à Angola para se juntar à luta clandestina, a partir do interior, mostrou-se sempre preocupado em inculcar a todos os militantes o espírito de unidade nacional e defendia a necessidade da unificação das diversas organizações nacionalistas numa única”, explicou Joaquim Chissano, acrescentando que “quando finalmente foge de Portugal para onde fora deportado e vem juntar-se ao resto da direcção do MPLA no Congo, mantém a sua linha de trabalhar para a unidade nacional das organizações que querem lutar pela libertação na base da não discriminação racial étnica ou regional.
A defesa destes princípios pelos dois movimentos e pelos seus dois dirigentes constitui uma forte contribuição para a luta da África Austral e um exemplo dos esforços de unificação nacional de que careciam alguns movimentos de libertação na região, muitos dos quais existiam na base étnica e racial, o que os enfraquecia e até os tornava irrelevantes.
Segundo Chissano, uma nota de curiosidade é a semelhança destas duas figuras: ambas são negras; originárias de zonas rurais, de famílias religiosas, protestantes; tiraram cursos superiores, ao nível de doutoramento. Casaram-se com mulheres de raça branca; nunca esqueceram as suas origens e culturas a que continuam a dar o devido valor.
As suas esposas foram fiéis à causa de libertação prosseguida por eles e continuam como militantes dos respectivos movimentos, mesmo depois da morte dos maridos e sentem-se completamente parte das nações dos seus maridos. Durante os seus trabalhos como dirigentes as duas figuras sofreram ataques dos seus detractores incluindo alguns dirigentes dos países anfitriões dos seus movimentos de libertação, apenas por terem esposas não negras.

Opção pela luta armada

Maputo, Sábado, 10 de Dezembro de 2011:: Notícias
A opção pela luta armada de libertação foi tomada após um longo período de reflexão, onde imperou o diálogo tendente a seleccionar a melhor via para a conquista da independência.
De acordo com Joaquim Chissano, Mondlane conversava não só com os seus camaradas combatentes mas também com alguns representantes da potência colonial, com os quais explorava a possibilidade de concessão da independência por via pacífica.
“Quando percebeu que o regime salazarista tinha parado no tempo e obstinadamente defendia a manutenção das suas colónias por um período indeterminado, Mondlane encabeçou a tarefa de preparar o desencadeamento da luta armada como último recurso para atingir a emancipação política, embora conservasse a necessidade de prosseguir a luta diplomática, política e cultural”, explicou o antigo estadista moçambicano, salientando que numa das zonas semi-libertadas do país, durante a luta de libertação nacional, Mondlane viria a exclamar, depois de um longo diálogo com uma grande multidão, “mesmo que eu venha a morrer a luta continua”.
Referiu que o seu posicionamento também foi estimulado pelo gesto solidário do Presidente Julius Nyerere que se prontificou a apoiar diplomática e materialmente a FRELIMO e transformar o seu país na retaguarda segura do movimento de libertação para o sucesso da luta armada.
Segundo o antigo estadista, é no santuário da libertação de África, conforme a Tanzania foi baptizada, que afluíram todos os movimentos de libertação da África Austral: FRELIMO, MPLA, ANC, PAC, SWAPO, SWANO, ZAPU e ZANU.
A FRELIMO e o MPLA reuniam-se com frequência, para trocar experiências de combate no teatro da guerrilha, impressões sobre a evolução da luta de libertação nacional em Angola e Moçambique e coordenar as suas acções na frente da luta diplomática.
Chissano revelou que na Zâmbia, os dois movimentos uniram os seus esforços para conseguirem que o Governo da Zâmbia aceitasse que os combatentes do MPLA, com o seu material bélico atravessassem a fronteira da Zâmbia para Angola a fim de levarem a cabo operações na frente leste.
Lamentou, porém, pelo facto de Eduardo Mondlane não ter vivido o suficiente para testemunhar como é que as gloriosas Forças Populares de Libertação de Moçambique, que ele formou e organizou, infligiram, no limiar dos anos 70, a partir de Tete, derrotas pesadas ao poderoso Exército português, desbaratando completamente a dispendiosa “Operação Nó Górdio” que as chefias militares tinham concebido para acabar de vez com a guerrilha revolucionária. E este papel coube a Samora Machel. A ele coube também apoiar as forças zimbabweanas, nomeadamente a ZANU a desencadear a luta armada na Rodésia, utilizando as zonas semilibertadas e as zonas de combate em Tete para alcançarem e atravessarem a fronteira com a Rodésia, com o apoio logístico em transporte de armamento e outro equipamento.
“Trocamos experiências de estratégia e táctica com todos os outros movimentos de libertação da África Austral. Trocamos experiências e informações sobre as formas como resolvemos as nossas várias crises no percurso da nossa marcha longa para a independência. Como a história comprovou, o fiasco do “Nó Górdio” marcou o princípio do fim do império colonial português em África, exacerbado pela derrota militar das forças de ocupação na Guiné-Bissau, que permitiu ao PAIGC proclamar a independência da Guiné-Bissau em 1973. Frustrado e descontente com o descalabro militar em África, o movimento das forças armadas portuguesas derrubou o regime colonial fascista de Marcelo Caetano, na madrugada do dia 25 de Abril de 1974, acelerando assim a derrocada do império colonial.
De acordo com o Presidente Chissano, quando Eduardo Mondlane é assassinado a 3 de Fevereiro de 1969, em Dar-Es-Salaam, por forças e agentes do colonialismo, a semente da propagação da luta de libertação por toda a África já tinha sido lançada. A convivência em Dar-Es-Salaam e outros foras com os representantes dos movimentos de libertação da África do Sul, Zimbabwe e Namíbia reforçou o entendimento de que a libertação de Moçambique e Angola transcendia as fronteiras.
Aqui se nota como o MPLA e a FRELIMO não desempenharam o seu papel libertador só para a África Austral.
“Vamos encontrá-los a apoiarem a luta do povo vietnamita contra a agressão e ocupação americana; o povo português contra o fascismo; o povo palestino. Depois de acedermos a independência apoiamos o povo chileno do qual recebemos em Moçambique quadros militantes a quem tratamos como refugiados, mas tão-somente como combatentes pela liberdade a quem demos empregos, idem para o povo brasileiro, povo de Timor-Leste e outros”, elucidou.

Samora assume liderança da Frelimo

Maputo, Sábado, 10 de Dezembro de 2011:: Notícias
De acordo com Joaquim Chissano, quando Samora Machel assume a liderança da Frelimo, após o assassinato de Mondlane, duas correntes de pensamento dominavam o panorama político da África Austral. A primeira, eloquentemente expressa pela Tanzania e Zâmbia, através do manifesto de Lusaka, acreditava na emancipação política dos povos da região e promovia duas vias para alcançar esse desiderato: uma evolução pacífica progressiva rumo ao poder da maioria se os regimes minoritários aceitassem a mudança e o recurso à luta armada de libertação se a primeira opção falhasse.
A segunda corrente defendia a manutenção dos regimes de minoria branca como uma necessidade e condição para a defesa dos interesses do Ocidente. Os proponentes desta perspectiva acreditavam que a introdução de mudanças cosméticas seria suficiente para satisfazer as exigências da maioria. No contexto da “guerra-fria”, consideram a luta armada como um instrumento de penetração soviética na região austral do continente.
“A posição da Frelimo estava em conformidade com o manifesto de Lusaka, documento estratégico emitido no final da cimeira dos Chefes de Estado da África Oriental e Central, realizada em Abril de 1969 em Lusaka, na Zâmbia”, salientou o antigo Chefe do Estado moçambicano, sublinhando que os presidentes Nyerere e Kaunda passaram a reunir-se regularmente em busca de formas de vencer os obstáculos que se colocavam aos países encravados como a Zâmbia, na prossecução dos seus objectivos de apoio à luta de libertação. Os dois estadistas entenderam-se que não podiam continuar a pensar assuntos estratégicos que eram de interesse de Moçambique e Angola sem envolverem os seus respectivos dirigentes. É assim que os presidentes Agostinho Neto e Samora Machel passaram a ser convidados sempre que houvesse encontros entre aqueles dois estadistas para discutir assuntos estratégicos relativos à região. São cimeiras que continuaram a realizar-se mesmo depois da independência de Moçambique e de Angola para a coordenação de estratégias e tácticas de luta e apoios às lutas de libertação dos povos da África do Sul, Namíbia e Zimbabwe. Foi durante essas reuniões que nasceu o nome de Países da Linha da Frente.
São estes países que incluíam Moçambique e Angola, dirigidos pela FRELIMO e pelo MPLA que tiveram que estudar a estratégia do apoio à luta do Zimbabwe e da Namíbia que os levou ao encetamento de conversações entre eles e o regime de Ian Smith da Rodésia, por um lado e Jonh Vorster da África do Sul, por outro.
O dever mandou, porém, que a FRELIMO e o MPLA e seus governos de Moçambique e Angola continuassem a dar o apoio possível aos movimentos de libertação potenciando assim as forças nacionalistas de libertação do último reduto de dominação branca na região. 

Trinta e seis anos depois

Maputo, Sábado, 10 de Dezembro de 2011:: Notícias
De acordo com Joaquim Chissano, mais de três décadas depois da proclamação das independências de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e S. Tomé e Príncipe, o Zimbabwe, Namíbia e África do Sul juntaram-se ao concerto de países independentes, soberanos e democráticos.
“O sucesso das lutas de libertação destes povos irmãos prova que as nossas reflexões e as decisões que tomamos enquanto movimento de libertação foram as mais correctas. Prestemos, por isso a devida homenagem aos percursores do movimento de libertação e aos fundadores das nossas nações livres e independentes”, sublinhou.
Segundo Chissano, os desafios do presente são outros. Com Angola a presidir a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral a região e o continente se confortam com os desafios de dimensão igual ou superior à emancipação política dos povos, sob um ambiente internacional ameaçador, incerto e perigoso.
“Mais do que nunca precisamos de cerrar fileiras para preservarmos a independência e soberania dos nossos países, face às ameaças preocupantes”, sublinhou, acrescentando que “na tradição solidária que no passado fecundou a nossa luta, através da SADC criamos condições para a erradicação da pobreza, o reforço da estabilidade regional e o aprofundamento da democracia e o desenvolvimento económico e social sustentável. Tal como no passado, caminhamos juntos, unidos, rumo à prosperidade dos nossos países e à felicidade dos nossos povos”.
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1 comentário:

Anónimo disse...

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