Por Luis Nhachote
Na sua então qualidade de Ministro de Defesa, em 2011, Filipe Nyusi terá tido a oportunidade de presenciar à apresentação de Teófilo Nhangumele quando este se dirigiu aos titulares das “Forças de Defesa e Segurança e perante sua Excelência o Presidente da República para a aprovação do projecto”.
É de todo concebivel que a presença de Nyusi a essa apresentação, cujos os propósitos roçavam a legitimos e soberanos, não podia ser descartavél: ele era ministro de um sector nevrálgico. O da defesa.
Armando Emilio Guebuza que só faltou jurar que não conhecia Nhangumele na célebre reunião do comité central da Frelimo onde mencionou o nome de Nhangumele por quatro vezes, na sua qualidade de comandante em chefe dirigiu as reuniões que culminaram na criação do Sistema Integrado de Monitoria e de Protecção(SIMP) da Zona Económica e Exclusiva de Moçambique, onde eram integrantes o director geral do Serviços de Informação e Segurança do Estado (SISE), do Ministro do Interior, do Ministro da Defesa, do conselheiro para assuntos de defesa que culminaram nas dívidas ilegais que precipitaram a crise em que o país está mergulhado desde 2016. Nyusi era membro desse colégio!
A “nossa principal dificuldade”
O Moz24h voltou a observar uma missiva de 10 de maio de 2017 atribuida a Beatriz Buchili, a Procuradora Geral da República nomeada por Armando Guebuza e reconduzida por Nyusi, endereçada a embaixadora sueca onde está diz que lamenta nos termos que se seguem“...a nossa principal dificuldade, o envolvimento de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi, em todo este processo, sendo um dos conceptores e envolvidos em todo o processo”.
Nunca contestada, a missiva é bastante expressiva, para a compreensão de uma parte do processo. Conforme nos tinhamos referido noutra peça (VSFF Afinal, Guebuza conhece Teófilo Nhangumele) na missiva de Teo, como é tratado nos circulos mais próximos, dirigida a António Carlos do Rosário, o então todo poderoso director da inteligência económica do SISE e Presidente do Conselho de Admnistração das famigeradas empresas Ematum, MAM e Proindicus, exigia ser pago 500 mil doláres americanos pelo seu papel na facilitação
Filipe Nyusi, que no relatório da firma de auditoria Kroll é referido nos códigos como Individuo “Q”, manteve Buchili num momento crucial em que a credibilidade da PGR é grandemente questionada sobre a sua independência sobre o poder político.
Lembre-se que a PGR no inicio do ano, a 10 de Janeiro, numa corrida a contra-relógio, pediu as autoridades sul-africanas quem extraditassem para Maputo, Manuel Chang, o antigo ministro das finanças detido naquele pais desde 29 de Dezembro. Este acto “celére” foi visto como subserviência do Ministério Público (MP), em relação ao poder politico.
De acordo com outras publicações Nyusi, terá sido ouvido na condição de declarante, nas instalações da Presidência da República, para se explicar sobre o seu papel, na qualidade de ministro da Defesa à época em que os empréstimos foram concedidos.
Da “Grande entrevista”
Na primeira grande entrevista de Filipe Nyusi dentro de portas, feita pelo semanário Canal de Moçambique, questionado sobre “Qual foi o seu papel nas dívidas ocultas”, o chefe de Estado enumerou algumas realizações do seu mandato como Ministro da Defesa Nacional e rematou: “Agora temos o 1008, que é um tipo de helicóptero que está a voar. Foram reparados no meu tempo, alguma vez me fez pergunta?”.
“Foram comprados no tempo do antigo Presidente Samora, mas pararam. O seu país tinha meios para voar. Quem fala desses, fala de outros meios. Então o ministro da Defesa é feito para resolver os problemas da Defesa. Quantos quartéis? Se for ver o quartel dos comandos ou se for ver a base naval de Pemba. Foram reabilitados no meu tempo e nunca ninguém me perguntou. Vamos lá a coisa mais simples, o avião da Força Aérea que eu as vezes uso foi adquirido no meu tempo, porque é que nunca houve pergunta”.
Na referida entrevista concedida ao jornalista Matias Guente o Chefe de Estado prosseguiu a sua narrativa dizendo que “isso é embaraçoso para quem está a dirigir, porque eu não quero embaraçar o processo que está a correr ao nível da Justiça. Eu dei-lhe o exemplo de algumas coisas que aconteceram. Eu já adquiri um navio na Espanha e até compramos por mil dólares porque era um valor residual, reabilitamos e fiscaliza o mar. Então são coisas que não precisamos de procurar. As coisas serão explicadas. O tempo é responsável. Até porque eu ficaria mal embaraçar a justiça”, declarou Nyusi
Eugênio Henrique Zitha Matlaba, então assessor do ministo da Defesa Filipe Nyusi foi uma das pessoas quem rubricou, em Fevereiro de 2013, empréstimos à favor da Proindicus, empresa que Nhangumele exigia 500 mi doláres.
O ex-Presidente Guebuza declarou à Comissão Parlamentar de Inquerito (CPI) que os empréstimos foram contraídos porque o Governo da altura teve “que tomar medidas de natureza estratégico-militar”. E, em medidas, de natureza “estratégico-militar” a presença do ministro da Defesa é imperativa!
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