Centenas de jovens angolanos marcharam contra o desemprego e o "marimbondo" João Lourenço, reivindicando o cumprimento das promessas eleitorais, num protesto marcado por alguns momentos de tensão com a polícia, mas também pela "conquista" da liberdade de expressão.
Na ruidosa manifestação, que percorreu a zona central de Luanda, começando pelas 10:00 no Largo da Sagrada Família, e terminando pouco depois das 15:00 na rua do Primeiro Congresso (junto do antigo Parlamento), ouviram-se apitos, buzinas e palavras de ordem contra o governo liderado por João Lourenço e o partido no poder, o MPLA, que governa Angola há mais de 40 anos.
Viveram-se também alguns momentos tensos quando manifestantes mais exaltados tomaram a polícia como alvo da revolta.
A criação de emprego foi a principal reivindicação dos manifestantes, com os jovens a mostrarem o seu desagrado gritando “Queremos o nosso emprego”, “Abaixo o MPLA” e “João Lourenço é marimbondo” [vespa, sinónimo de algo nefasto e expressão usada pelo próprio Presidente de Angola para se referir à corrupção].
Um porta-voz da organização, Geraldo Dala, de 33 anos, lamentou que o presidente de Angola, João Lourenço, que prometeu durante a campanha eleitoral de 2017 criar pelo menos 500 mil postos de trabalho, não tenha conseguido reduzir ainda os níveis de desemprego.
Críticas partilhadas por uma outra ativista, Marinela Pascoal, de 21 anos, que sublinhou que ter emprego é essencial para as famílias conseguirem sustentar-se.
Apesar de um polícia ter sido atingido com uma pedra e de se terem ouvido alguns disparos com balas de borracha, as autoridades, que acompanharam o protesto desde o início, conseguiram controlar os ânimos sem que tenha havido registo de incidentes de relevo.
No final do protesto, um dos elementos da organização, Miguel Nhoca, considerou que esta foi “uma das maiores marchas de sempre” e falou da “conquista da Maianga e da Mutamba” [centro de Luanda] como um triunfo da liberdade de expressão.
Os manifestantes encerraram o protesto com a leitura de um manifesto no qual deram conta do “aumento da taxa de desemprego em mais de 8% desde 2017 até janeiro de 2019″ e disseram que vão pedir uma audiência com o Presidente angolano para apresentar os motivos da sua insatisfação.
Além de Luanda, capital angolana, a marcha contra o desemprego estava também agendada para as províncias de Malanje, Bengo, Cuanza Norte, Lunda Norte, Uíje e Benguela, mas segundo a organização houve “dificuldades” e “perseguições” a alguns ativistas, designadamente no Uíge e em Cuanza Norte.
Esta foi a terceira marcha contra o elevado nível de desemprego em Angola, sendo que em 2018 os jovens saíram à rua por duas vezes com o mesmo propósito.
O Presidente angolano, em abril deste ano, aprovou em decreto o Plano de Ação para Promoção da Empregabilidade (PAPE), que disponibiliza 21 mil milhões de kuanzas (51,7 milhões de euros) para promover o emprego, que “deverão ser criados e absorvidos pelo setor produtivo da economia”, para dar cumprimento à promessa feita em 2017.
A verba do PAPE será proveniente do Orçamento Geral do Estado (OGE) e do Fundo de Petróleo.
LUSA – 25.08.2019
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