O também ex-secretário da Defesa dos Estados Unidos morreu no domingo, aos 87 anos.
O vice-director da CIA e ex-secretário de Estado da Defesa americano Frank Carlucci, que foi embaixador dos EUA em Portugal, morreu este domingo, dia 3 de Junho, em casa, aos 87 anos. A notícia foi avançada pelo Washington Post, que acrescenta como causa da morte complicações relacionadas com a doença de Parkinson.
Independentemente dos importantes, e distintos, papéis que Frank Charles Carlucci III desempenhou para os EUA, a sua actuação foi também muito relevante para Portugal, por ocasião do 25 de Abril. "Em 1974, quando oficiais militares portugueses derrubaram a ditadura de direita em Lisboa, o então secretário de Estado Kissinger demitiu o embaixador e enviou Carlucci para impedir que Portugal se tornasse o primeiro país da Europa Ocidental a se tornar comunista", descreve o Washington Post numa passagem que é fundamental para perceber a importância diplomática e política de Carlucci.
Histórias em PortugalNascido a 18 de Outubro de 1930 em Scranton (Pensilvânia), Carlucci era um atleta dedicado na sua juventude e chegou a integrar a equipa de luta livre em Princeton, onde se licenciou no ano de 1952 em relações internacionais. Fez ainda um MBA em Harvard e passou dois anos na Marinha. A sua primeira missão diplomática no exterior foi no Congo, em 1960, quando de discutia a independência face à Bélgica. Mais tarde esteve no Brasil, na altura do golpe militar que derrubou João Goulart, e aí aprendeu a falar português fluentemente.
A passagem de Frank Carlucci por Portugal foi curta (1975-1978), mas originou muitas histórias que o colocam no papel de coordenador de todas as actividades da CIA durante o Verão Quente de 1975. Algumas delas são descritas nas 500 páginas do livro "Carlucci vs. Kissinger – Os EUA e a Revolução Portuguesa", de Bernardino Gomes e Tiago Moreira de Sá, no qual são analisadas as movimentações dos EUA no período pós-Revolução dos Cravos. Os autores recorreram a documentos desclassificados dos arquivos norte-americanos.
"Tudo o que a CIA fez foi sob o meu comando. Qualquer acção que possa ter desenvolvido destinava-se a executar a política dos EUA, que era apoiar as forças democráticas em Portugal. A CIA era parte da equipa [da embaixada] e eles faziam o que lhes mandava", dizia o antigo embaixador, citado na obra.
Carlucci e Kissinger tinham opiniões diferentes sobre Portugal. Enquanto o primeiro defendia que Portugal podia ser salvo para a democracia e parecia empenhado em apoiar os "moderados" (o que lhe valeu o desprezo do PCP e da extrema-esquerda), o segundo defendia, de acordo com os autores, a teoria da vacina. Portugal estava perdido para os comunistas e, por isso, serviria de "vacina" para outros países em transição ou países onde o comunismo tinha crescente influência.
"Ele (Kissinger) não descreveu a minha missão em termos específicos. Tratava-se de vir para cá e de ver se era possível que Portugal avançasse no sentido de uma democracia ocidental e como havíamos de lidar com a possibilidade de vir a ser dominado pelos comunistas — que ramificações isso teria para a NATO e para o Ocidente", contou Frank Carlucci ao PÚBLICO em 2006. "Nos primeiros dois meses, passei a maior parte do tempo apenas a ouvir."
Num obituário em que a ligação de Calucci a Portugal é protagonista, há que trazer à memória a ligação do americano a um dos pais da democracia portuguesa: Mário Soares. Em 2006, os dois sentaram-se à mesa com o PÚBLICO e aceitaram recordar os tempos do Verão Quente.Meu amigo Soares
O encontro aconteceu num sábado à tarde, depois de um almoço oferecido pelo embaixador americano em Lisboa, Alfred Hoffman, na sua residência da Rua de Sacramento à Lapa - onde Frank Carlucci chegou em 1975, enviado por Henry Kissinger. "Quando cheguei, sabe o que era isto? Uma lavandaria. Pareceu-me um enorme desperdício. Com esta vista...", disse Carlucci à jornalista Teresa de Sousa.
Ali mesmo, na sala onde Carlucci e Soares almoçaram em 2006, aconteceram, 30 anos antes, muitas reuniões secretas. "Sobem-se os três lanços de escada da grande moradia. Falta ainda outro, de degraus mais estreitos e íngremes, vai ser preciso baixar a cabeça até desembocarmos numa pequena cúpula no telhado, alta e recuada. Quase imperceptível para quem olha da rua. Mário Soares precisa: 'A isto chama-se um zimbório'", descrevia Teresa de Sousa.
"O dr. Soares e eu passávamos aqui muitas horas a conversar sobre os problemas políticos portugueses, sobre as relações entre os nossos dois países e como seria possível fazer de Portugal uma democracia de tipo ocidental. Falávamos horas e horas", disse então Frank Carlucci. Mário Soares acrescentou: "Estar aqui ajudava a perceber o que era Portugal e que talvez não fosse assim tão fácil alterar a sua natureza. Como os comunistas pensavam."
Na mesma entrevista, o americano fez questão de contar, bem disposto, a sua primeira noite passada em Lisboa. "Na minha primeira noite na embaixada havia uma manifestação à porta. Eu tinha trazido uma velha carrinha para utilizar nas minhas deslocações pessoais, vesti uns jeans e uns ténis, pus um boné, entrei na carrinha e saí pelo portão. Disse-lhes adeus e eles retribuíram."
Ciúmes do PSD
A proximidade de Carlucci a Soares, instrumental para o desenvolvimento da estratégia norte-americana e fruto de uma boa relação entre ambos, foi desenvolvida à margem do PPD de Francisco Sá Carneiro. O que não agradou ao partido das setas e se manteve durante anos.
Assim, em 14 de Dezembro de 1977, uma informação de António Patrício Gouveia a Sousa Franco relata o conteúdo de um encontro que manteve com W Eagens, então número dois da Secção Política da embaixada dos EUA em Portugal. “Disse-lhe que estava à espera de uma posição mais comedida dada a evolução política nacional, mas que notávamos muita animosidade pessoal do embaixador [Carlucci], mesmo quando em conversas que não diziam respeito ao PSD”, relata Patrício Gouveia.
E continua: "Deu-me a entender que a embaixada em conjunto estava a trabalhar para melhorar as relações e 'esperava' que o embaixador também (…). Concordou implicitamente que havia alguma diferença entre o embaixador e outras pessoas da embaixada." Com Jimmy Carter na Casa Branca, Washington tentou pôr água na fervura. António Patrício Gouveia refere uma carta de Carter a Ramalho Eanes, então Presidente da República, que, segundo o seu interlocutor Eagens, não tinha "qualquer referência a um apoio completo e explícito de Jimmy Carter a Frank Carlucci.
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Incompetente
Barracão nº 33Paulo Fontes
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Minho/GalizaPedro Rafael Moura
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