Começo fazendo uma confissão. O titulo desta pequena opinião é uma paráfrase a um comunista ferrenho chamado Roland Boer um grande Professor Universitário da Renmin University da China, em Pequim e também Professor da Universidade de Newcastle, Austrália. Quando escreveu uma pequena resenha alusiva ao XIX Congresso do Partido comunista da China havido ano passado, Boer estava tão entusiasmado pelo facto de ter sido convidado ao tal congresso. Acima de tudo entusiasmou-se por ver o quão o povo chinês estava grudado aos ideais de Xi Jinping, actual presidente chinês.
Sentimento similar sinto hoje, desde ontem, quando finalmente se conseguiu fechar a quadratura do círculo e de um trago, derrubou-se a estátua da incoerência política.
Em Moçambique, reina a partidocracia. Partidocracia constitui um neologismo usado para definir a liberal vontade que seja um ou mais partidos a exercerem o domínio político sobre a governação dum país ou nação. E ponto final. E isso não é novo. Apenas começa a ficar claro agora? É bom? É constitucional? E o povo? São perguntas feitas aqui e acolá. A minha resposta é simples. Não viram isso há muito porque a muitos convinha viver nessa ilusão, nessa caverna, que apenas confortava as mentes dos politicamente correcto. Na prática, a nossa democracia é de base partidocrática. São partidos políticos que mandam.
Peguem no Calisto Cossa. Foi “descoberto” no partido Frelimo, foi proposto pelo partido Frelimo para concorrer como candidato à Presidente do Municípios da Matola. Concorreu e ganhou. Mas antes dele, esteve la um herói da incompetência, o Senhor Nhancale; igualmente indicado pela Frelimo, proposto pela Frelimo que igualmente concorreu e ganhou. A Frelimo não gostou dele e nas eleições seguintes foi preterido. Só que o azar tinha que vingar bem. Os matolenses suportaram-no todo mandato. O partido teve que suster a falta de desempenho ao mesmo tempo que via sua legitimidade corroendo-se como resultado do mau desempenho do ilustre Nhancale. O contrário aconteceu com Calisto Cossa ou Carlos Tembe. Esses três (Carlos Tembe, Arão Nhancale ou Calisto Cossa – poderiam muito bem serem indicados pela Frelimo depois dela vencer a Assembleia Municipal da Matola, bastando para tal figurarem na lista de propostas a membros da Assembleia Municipal. Qual seria a diferença? A diferença reside na capacidade de o partido no poder em um determinado local ser capaz de responder com a mesma eficácia ao desempenho do seu candidato. O contrário também pode acontecer, que seria eleger amigos e incompetentes. O risco é, por assim dizer, igual: 50%50.
Estava a escrever um artigo que analisava as causas da derrota ou vitória de um partido num determinado local, inspirado pelos recentes resultados de Nampula. Parei para dar lugar a esse intróito.
Manuel Araújo, Vahanle, Amurane ou Cololo, sozinhos dificilmente ganhariam eleições nesse país senão tivessem o partido e toda maquina atras deles. Daviz Simango ganhou como independente, mas tinha atrás de si uma máquina e um município nas mãos, depois de ter demonstrado algum serviço. Portanto, são partidos que mandam. Você perde umas duas horas na fila para votar, mas não vota seu namorado ou vizinho. Vota um dos candidatos propostos por um grupo de pessoas, partido ou coligação. Ora, como essa pessoa emerge lá, você conhece qual é o critério? Se for por mérito, porque é que não acredita que o novo modelo seja igualmente funcional?
Bem, antes de lhe cansar, era isso que queria dizer. Qualquer que for o modelo de eleição dos edis, administradores ou governadores, será mesmo pelo sistema de cabazes. E antes de me interpelar, lembre-se que há 25 anos escolhemos deputados da Assembleia da República e Assembleia Provincial pelo sistema de cabazes políticos. Os tais deputados da Assembleia da República que se intitulam mandatários do povo, o cidadão jamais o conhecia antes de o eleger, até vê-lo a tomar posse. Nem com isso deixaram de ser o que são. E a eleição nunca foi menos digna.
Os membros da assembleia provincial, os tais futuros guardiões do guarda-promessa, ninguém o votou individualmente. Mesmo assim, o seu estatuto lhes confere uma revência tal, que só visto.
O que aconteceu ontem foi a clarificação e fecho completo da quadratura do círculo, que elimina quaisquer resquícios de dissonância. COERENCIA É ISSO.
DISCUTAMOS OUTRA COISA.
QUE MOMENTO DE ESTAR EM MOCAMBIQUE, QUE MOMENTO! Para assistir à queda da última incoerência do nosso edifício partidocrático.
Sem comentários:
Enviar um comentário