Canal de Opinião por Adelino Timóteo
Perguntaram a um revolucionário o que ele queria ser de futuro, ele respondeu que pretendia ser presidente. Disseram-lhe que já tínhamos um presidente. Então ele respondeu que havia outra possibilidade.
Perguntaram-lhe qual, respondeu que ainda lhe sobrava a sorte de ser vice-presidente. Disseram-lhe que estava a ser muito ambicioso, que escolhesse outra possibilidade. O revolucionário disse que confiava na possibilidade de o nomearem delinquente por tendência. Perguntaram-lhe o que ele iria fazer sendo delinquente, porque a revolução não toleraria delinquentes. O revolucionário disse que estava a contemplar a possibilidade de ser delinquente porque contemplava a possibilidade de se tornar ladrão, para compatibilizar o sonho por que lutara durante dez anos.
O presidente, depois da proclamação da independência, criou diferentes ministérios. De entre eles havia duas instituições “sui generis”: o Ministério do Amor e o Secretariado do Estado para Assuntos e Pessoas Solitárias. O Ministério do Amor encarregou-se de ocupar as mulheres desamparadas e viúvas, da luta armada, em devidos lares. O “Secretariado da Solidão” tratou de amparar os chefes que ficaram sem funções. Como já se vê, o ministério da delinquência não constava da lista que tornaria concretizável o sonho do nosso gracioso e ganancioso revolucionário.
O nosso ganancioso revolucionário viu-se bastante amuado com a sua exclusão e a proposição de um ministério que utopicamente vinha sonhando encabeçar, desde a clandestinidade.
O presidente tomou conhecimento de que o nosso revolucionário iludira-se nas suas expectativas e perguntou-lhe se ainda assim contemplava a possibilidade de integrar o seu Governo, num dos ministérios fora das suas conjecturas e planos. A essa pergunta o revolucionário respondeu prontamente que tinha estado a fazer a crítica e autocrítica e, na verdade, chegara a uma feliz conclusão, de que não havia possibilidade de se tornar delinquente na nova sociedade, no Mundo Novo.
O presidente congratulou-se bastante com o facto de o brilhante revolucionário ter baixado as suas expectativas. Nomeou-o, então, ministro de interior.
Mas o presidente era quem estava iludido, porque em concreto, oferecera-lhe formalmente uma grande possibilidade de torná-lo chefe da delinquência.
O presidente “lunático” foi instruindo o delinquente ministro recém-nomeado e, este, as foi ano tando num bloco-notas. Onde o presidente se referia a legalidade, o ministro da delinquência acrescia a vogal “i”. E tudo o que veio a seguir foi desastroso, um rosário de crimes, praticados pelo ministro delinquente e seus sequazes delinquentes. Prisões indiscriminadas, repreensões, ajustes de contas, extorsões, esbulho de propriedades privadas e degredos provocados.
Ao fim de alguns tempos, o eufórico ministro da delinquência balanceava junto do presidente, que estava a fazer um trabalho revolucionário inovador. Mas o presidente, que deixara de ser “lunático”, mostrou-se agastado com as estatísticas que lhe ofereciam números elevados de delinquentes, que serviam o ministério da delinquência, pois então as celas da Polícia comportavam muitos cidadãos inocentes, delatados pelo ministro delinquente e seus colaboradores oportunistas e fomentadores de razias.
O presidente decidiu exonerar o revolucionário ministro do interior e sugeriu-lhe outra possibilidade.
Nas novas funções que o despromovido ministro da delinquência assumiu, esse começou a transportar a delinquência para o novo ministério. E quando o presidente viu-lhe essa tendência transportadora disse-lhe que a partir daquele momento lhe dava a possibilidade de nomeá-lo ao cargo e funções que usurpara, a todas luzes compatíveis com as habilidades que demonstrava. Mas o revolucionário disse que estava de saída, porque não se via confortável na possibilidade e no papel de levar todo esse ministério e o Governo no seu veículo, porque a delinquência reduzira a vitalidade e a potência da função que encabeçara, na sua ilegal autopromoção.
O presidente desiludiu-se com o revolucionário e foi então que lhe disse que daí em diante lhe dava a possibilidade de o nomear ministro num ministério sem pasta, que seria amparado pelo Ministério do Amor e o Secretariado da Solidão. O ministro delinquente sem pasta congratulou ao presidente, porque a partir daquele momento iria dedicar-se a uma possibilidade de exercício de funções nunca antes sugerida: o balanço e reflexão da sua longa carreira de actividade delativa.
Mais tarde, o ministro da delinquência, que perdeu o foco das câmaras de televisão e jornais, apareceu com ideias inovadoras.
Apresentou uma proposta antiga, que lhe conferisse a possibilidade de ser presidente, para conciliar com a sua nova agenda escondida, afinal antiga. O ministro da delinquência tornou-se presidente, mas nunca se adaptou à presidência, pois aqui lhe conferiram uma genuína possibilidade de desempenhar as actividades que desde a revolução ele sempre o fez, como um peixe na água.
O antigo ministro delinquente, metido a presidente delinquente, como já se vê, trouxe resultados aterradores em sua agenda escondida, tornando o país num remanso de dívida externa, uma caloteira nação, ao nível mundial. Nesta função produziu adictos em bajulá-lo, que se parecem a drogaditos, embora em plenas faculdades mentais.
E à sua retirada ainda perguntaram-lhe o que queria ser, ao que respondeu líder honorário. Ao que lhe acederam, mas nomearam-no Líder Eterno. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 19.02.2018
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