terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Guiné Equatorial: as "alternâncias governativas" devem respeitar a Constituição


Portugal transmitiu à Guiné Equatorial que as "alternâncias governativas" devem respeitar a Constituição. As autoridades guineenses garantem que evitaram um golpe de Estado em dezembro passado.
Jos
Portugal transmitiu ao Partido Democrático da Guiné Equatorial (PDGE, no poder) que as “alternâncias governativas” devem respeitar “a Constituição, leis fundamentais e processos democráticos”, disse esta terça-feira à Lusa fonte do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE).
Na semana passada, o encarregado de negócios de Portugal em Malabo, Manuel Grainha do Vale, “foi chamado para um encontro com o secretário-geral do Partido Democrático da Guiné-Equatorial, Jerónimo Osa Osa Ecoro — procedimento que foi seguido pelas autoridades equato-guineenses para com a generalidade do corpo diplomático acreditado naquela capital”, afirmou à Lusa fonte oficial do MNE, em resposta a questões colocadas pela Lusa.
A página oficial do Governo da Guiné Equatorial dá conta desse encontro, durante o qual, afirmam, o representante de Portugal “condenou os factos terroristas que fracassaram na Guiné Equatorial”.
Questionado sobre se esta foi a posição transmitida por Portugal no encontro, o MNE disse que Grainha do Vale referiu, nas declarações à imprensa que se seguiram à audiência, que “as alternâncias governativas se devem processar no respeito pela Constituição, leis fundamentais e processos democráticos do país a que dizem respeito”.
“Portugal, como a União Europeia, tomou nota da indicação das autoridades equato-guineenses de que as investigações em curso para apurar a natureza dos acontecimentos de 24 de dezembro de 2017 estão a ser conduzidas no respeito pela lei”, acrescentou o MNE, na resposta enviada à Lusa. O Palácio das Necessidades refere ainda que a informação veiculada pelas autoridades equato-guineenses é da “exclusiva responsabilidade” das mesmas.
As autoridades da Guiné Equatorial afirmam ter frustrado, a 24 de dezembro do ano passado, uma tentativa de golpe de Estado, que pretendia derrubar o Presidente, Teodoro Obiang Nguema, no poder desde 1979. O chefe de Estado equato-guineense já garantiu ter informações que o ataque foi “financiado por algumas pessoas de França”.
Após a alegada tentativa de golpe de Estado, a sede do principal partido da oposição na Guiné Equatorial – Cidadãos para a Inovação – foi cercada, e 145 militantes desta formação permanecem detidos desde final de dezembro, incluindo o seu único deputado eleito para o parlamento — os restantes 99 são do PDGE.
Membros do partido têm denunciado situações de torturas e um militante, Santiago Ebe Ela, morreu em janeiro numa esquadra na capital equato-guineense “devido a tortura”, segundo o líder do partido, Gabriel Nsé Obiang Obono, algo que o Presidente negou, afirmando que o homem “estava doente”.
Segundo a página oficial na internet do executivo da Guiné Equatorial, durante a audiência de Osa Osa Ecoro com Manuel Grainha do Vale também foi abordado o tema das bolsas de estudos para equato-guineenses em Portugal.
O responsável do PDGE defendeu “a necessidade de encontrar vias e mecanismos de formação para quadros equato-guineenses em universidades portuguesas, tendo em conta o desenvolvimento” da Guiné Equatorial “nos setores produtivos”, afirma a mesma página.
O político equato-guineense também reconheceu “o apoio” de Portugal para a integração da Guiné Equatorial na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), adianta.
O Governo de Malabo é acusado por várias organizações da sociedade civil de constantes violações dos direitos humanos e perseguição a políticos da oposição.
Teodoro Obiang e a sua família — nomeadamente o seu filho ‘Teodorin’ Obiang — enfrentaram ou ainda enfrentam investigações por crimes de corrupção, desvio de dinheiro público e branqueamento de capitais em França e em outros países.
Este país africano faz parte da CPLP, desde 2014, altura em que adotou o português como língua oficial, a par do espanhol e do francês. Um dos compromissos da adesão foi a abolição da pena de morte, algo que ainda não aconteceu, apesar de as autoridades garantirem que está em vigor uma moratória sobre a pena capital.

Sem comentários: