terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Ex-director do Museu da Presidência foi transferido para a Direcção Regional de Cultura do Centro


Diogo Gaspar é suspeito de desvio de bens do museu instalado no Palácio de Belém. Vai trabalhar em Coimbra em três projectos ligados ao património, por um ano e a seu pedido.
Diogo Gaspar
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Diogo Gaspar ANTÓNIO JOSÉ/LUSA
Diogo Gaspar, arguido num processo em que é acusado de furto de bens do Museu da Presidência da República, e que por essa razão viu suspensas as suas funções enquanto director da instituição, vai trabalhar durante um ano na Direcção Regional de Cultura do Centro (DRCC), em Coimbra.
O destacamento, noticiado no sábado pelo semanário Expresso (após uma primeira versão em que se dizia que teria sido requisitado pela Direcção-Geral do Património Cultural), foi confirmado ao PÚBLICO esta segunda-feira pela directora-regional de Cultura, Celeste Amaro, que enfatizou que Diogo Gaspar “continua a pertencer aos quadros do Museu da Presidência”. “Ele não passou a ser nosso funcionário, não é pago por nós”, esclarece Amaro, mostrando-se satisfeita por poder contar com a nova aquisição.
“Recebemos o dr. Diogo Gaspar com muito agrado. Não se tratou de nenhuma imposição, e ele veio trabalhar em três projectos que já estavam em curso”, acrescenta. A directora regional refere-se às rotas do Sagrado e das Catedrais, além do processo de elevação da Sé de Castelo Branco a monumento nacional.
Ao PÚBLICO, o assessor de imprensa da Presidência da República, Paulo Magalhães, confirmou também a aceitação do pedido de transferência de Diogo Gaspar para a DRCC ao abrigo do regime de mobilidade da administração pública, mas não avançou qualquer informação sobre o que o motivou, nem sobre as funções que o técnico terá naquele organismo afecto ao Ministério da Cultura. Oficialmente, Diogo Gaspar já está a trabalhar para a DRCC desde 1 de Fevereiro.

No museu, mas longe

Investigado desde Abril de 2015, o ex-director do Museu da Presidência da República é arguido num processo revelado no Verão de 2016 – na sequência de buscas da chamada Operação Cavaleiro –, por suspeita de crimes de tráfico de influência, falsificação de documento, peculato, peculato de uso, participação económica em negócio e abuso de poder.
Foi suspenso por um ano, como medida de coacção, e afastado do seu lugar no museu no Palácio de Belém, que desde Outubro desse ano passou a ser gerido pela também directora do Museu Nacional do Azulejo, Maria Antónia Pinto de Matos.
Em Julho de 2017, quando já passava um ano da sua constituição como arguido e porque o Ministério Público não tinha ainda produzido um despacho de acusação (situação que se mantém), Diogo Gaspar regressou ao seu lugar de técnico superior no quadro da secretaria-geral da Presidência da República, mas logo de seguida tirou férias. Continuou, depois, a trabalhar para o museu, mas longe das suas instalações em Belém. Não foi possível confirmar se terá sido afastado de Belém por se considerar ainda que a sua presença no museu podia afectar a investigação.
O PÚBLICO tentou saber que funções lhe foram atribuídas pela actual directora nos últimos cinco meses, mas Maria Antónia Pinto de Matos manteve-se incontactável durante todo o dia, tal como Diogo Gaspar.
Fonte ligada ao processo explicou que ainda no ano passado o arguido pediu ao Ministério Público que acelerasse a investigação. Mas como mais recentemente requereu também novas averiguações, a Procuradoria Geral da República acedeu a dar aos procuradores encarregues do caso mais quatro mesesPARA concluírem a investigação. No final destes quatro meses, em Maio próximo, o caso pode resultar numa acusação contra o antigo director do museu ou no arquivamento das suspeitas que sobre ele recaem.

"Conhecimento técnico"

Diogo Gaspar pediu entretantoPARA ser colocado na DRCC. Evitando responder à pergunta sobre se não haverá já na sua equipa outros técnicos que possam assegurar as funções que agora caberão ao funcionário da Presidência, a directora regional de Cultura do Centro disse apenas: “Conheço bem o valor do seu trabalho, o que fez no Museu da Presidência da República, mas também o conhecimento técnico que tem na área do património e em particular das rotas do Sagrado e das Catedrais.” O antigo director do museu da Presidência, que é licenciado em História de Arte pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e concluiu posteriormente uma especialização em Ciências Documentais (vertente Arquivo), irá trabalhar em ligação com as dioceses de Castelo Branco e de Portalegre.
Amaro desvaloriza, de resto, o facto de Gaspar ser suspeito de desvio de bens patrimoniais. “[O facto de] ele ser arguido não me interessa nada – actualmente, metade dos portugueses são arguidos”, comentou, enfatizando que está "muito satisfeita por alguém querer ir trabalharPARA o interior".
Em 2001, Diogo Gaspar foi nomeado coordenador do Museu da Presidência da República, que viria a inaugurar três anos depois, e manteve-se como director, em comissões sucessivas, até Julho de 2016. A última dessas comissões deveria ter terminado apenas em Setembro desse ano, mas a investigação policial de que o ex-director foi alvo por indícios de abuso de poder, tráfico de influência, peculato e participação económica em negócio, entre outros crimes, acabou por antecipar a sua saída.
Em Fevereiro de 2016, antes da eclosão do processo, Diogo Gaspar foi agraciado pelo Presidente Cavaco Silva com a Ordem de Santiago, e tinha já sido também condecorado pelo Presidente Jorge Sampaio. com Ana Henriques

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