Jorge Fernando Jairoce
Têm sido comum no fim de cada ano a escolha de figura do ano ou de melhor dirigente por parte dos orgãos de comunicação ou mesmo de alguns pesquisadores. Porém, a escolha ou resultados obtidos são sempre selectivos, mobilizados, constituídos (fabricados), imparciais, discutíveis e por vezes pálidos pela metodologia usada na análise, uma vez que os critérios utilizados são poucos claros e muitas das vezes não profundos.
Não pretendo discutir sobre a eleição de figura de ano, que ao meu entender basea-se muitas das vezes em critérios selectivos, constituídos e imparciais. Pretendo analisar a questão do inquérito efectuado pelo meu amigo analista Egídio Vaz a propósito da eleição de melhor ministro ou governador, não querendo com isso denunciar a qualidade da sua opinião, mas propor uma melhoria na metodologia da recolha e análise dos dados sob o risco de estar a ser populista e tendencioso.
Ora, os dirigentes (ministros e governadores) política e administrativamente são avaliados no fim de ano pelo grau de materialização (resultados alcançados) do Plano Económico e Social (PES) do respectivo ano e no caso dos ministros, o PES é entregue ao Ministério da Economia e Finanças que globaliza e avalia e posteriormente é avaliado pelo Parlamento. Por sua vez, os deputados da Assembleia da República por lei devem fazer regularmente a monitoria das actividades de um determinado Ministério ou Governo. Se o fazem ou não, é um outro debate, mas a princípio deveriam monitorar porque são os legítimos representantes do povo, que mal conhecem os instrumentos de governação.
No inquérito proposto por Egídio Vaz usando dispositivo online SurveyMonkey pretendia colher opinião sobre o melhor ministro ou governador. Na sua análise de dados refere que que com o inquérito pretendia obter opinião sobre os os termos de desempenho dos dirigentes e ao impacto de liderança aos cidadãos.
Em relação a metodologia de recolha e análise de dados tenho algumas questões a colocar:
1. É inegável a vantagem deste instrumento na recolha de dados, visto que poupa custos em viagens, facilita transcrição de dados, permiti acesso aos vários usuários, supera as barreiras geográficas, promove maior liberdade das pessoas para responder as questões entre outras, daí que sou da opinião que é um excelente instrumento a ser utilizado na era das TICs.
2. A utilização deste instrumento possui suas limitações como por exemplo, a não identificação das características da população, tratando de crianças, adolescentes, jovens ou adultos e a sua respectiva localização geográfica.
Para mim, o ponto 2, deve ser devidamente analisada porque tem a ver a representavidade da amostra. Creio que o Egídio não está em condições de informar sobre a faixa etária dos respondentes e a sua localização e muito menos as características sócio profissionais dos respondentes, que para mim teria um valor na qualidade do seu inquérito. A resposta de um adolescente e um adulto podem variar em termos de análise do desempenho dos dirigentes, assim como o grau de formação e informação dos respondentes, porque na análise de desempenho dos dirigentes implica conhecimento de alguns instrumentos de governação que nem sempre estão ao alcance dos cidadãos, até porque mesmo no seu inquérito não foram colocados os tais critérios, o que induz o cidadão a inventar os seus critérios que podem ter diversas motivações (políticas, económicas ou sociais) que não estejam necessariamente focadas aos instrumentos de governação. É verdade que o cidadão não é obrigado simplesmente a considerar estes instrumentos, mas legalmente – é o instrumento aprovado pelo Parlamento.
A localização geográfica dos respondentes também revela-se importante, porque pode dar-se o caso dos mesmos estarem maioritariamente concentrados por exemplo na Cidade de Maputo e não conhecerem a realidade da Província de Cabo Delgado, o que é normal em Moçambique. Há muitos cidadãos que nem sequer conhecem outras províncias além da sua terra natal, logo não estarão em condições de opinar sobre o desempenho de X ou Y Governador da Província, a não ser que considerem as informações veiculadas pela imprensa que como se sabe no nosso País nem sempre são imparciais.
Para mim, o ponto 2, deve ser devidamente analisada porque tem a ver a representavidade da amostra. Creio que o Egídio não está em condições de informar sobre a faixa etária dos respondentes e a sua localização e muito menos as características sócio profissionais dos respondentes, que para mim teria um valor na qualidade do seu inquérito. A resposta de um adolescente e um adulto podem variar em termos de análise do desempenho dos dirigentes, assim como o grau de formação e informação dos respondentes, porque na análise de desempenho dos dirigentes implica conhecimento de alguns instrumentos de governação que nem sempre estão ao alcance dos cidadãos, até porque mesmo no seu inquérito não foram colocados os tais critérios, o que induz o cidadão a inventar os seus critérios que podem ter diversas motivações (políticas, económicas ou sociais) que não estejam necessariamente focadas aos instrumentos de governação. É verdade que o cidadão não é obrigado simplesmente a considerar estes instrumentos, mas legalmente – é o instrumento aprovado pelo Parlamento.
A localização geográfica dos respondentes também revela-se importante, porque pode dar-se o caso dos mesmos estarem maioritariamente concentrados por exemplo na Cidade de Maputo e não conhecerem a realidade da Província de Cabo Delgado, o que é normal em Moçambique. Há muitos cidadãos que nem sequer conhecem outras províncias além da sua terra natal, logo não estarão em condições de opinar sobre o desempenho de X ou Y Governador da Província, a não ser que considerem as informações veiculadas pela imprensa que como se sabe no nosso País nem sempre são imparciais.
3. O inquérito deveria ser realizado em cada Província mesmo que fosse aleatório, com o objectivo de colher o nível de opinião dos cidadãos que vivem e conhecem a realidade local. É verdade que o Egídio manifestou vontade neste sentido, mas alegou dificuldades financeiras para o fazer. Não vejo outro caminho para a recolha de dados confiáveis e com qualidade a não ser deslocar-se a Província. Por exemplo, no Brasil, o Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística (IBOPE) realiza este tipo de pesquisa ao nível de cada Estado avaliando várias questões como aprovação do governo, a confiança na governação e o uso dos recursos públicos pelo Governo. As questões são colocadas aos respondentes, o que lhes permiti elaborar um ranking de desempenho governamental por cada Estado.
4. Quanto ao universo da amostra, o Egídio toma como referência o número total de habitantes com acesso a internet no País, quando deveria considerar o número total de amigos virtuais que possui na sua conta de facebook e considerando a amostra representativa dos que preencheram o inquérito induzido.
5. Tratando de avaliação aos ministros, tendo em conta que todos encontram-se na capital e com representação nas províncias via direcções provinciais, é imperioso a definição de critérios de análise sobre o risco de produzirmos resultados pálidos como exemplo, a ministra Letícia possui melhor resultado no desempenho em relação aos outros ministros apesar de estar a dois meses no Governo.
6. O SurveyMonkey pode ser útil para determinado tipo de pesquisas e pode ser devidamente exploradas usando questionário com algumas questões que permitam aferir informações qualitativas não se esquecendo porém, que o inquérito fechado possui a limitação de não permitir os respondentes emitirem outro juízo para além do proposto pelo inquiridor, ou seja, a resposta é induzida através da maneira de colocar a questão.
7. Da forma como o inquérito foi produzido induz a pensar que é instrumento de acção política, cuja função mais importante consiste talvez em impor a ilusão de que existe uma opinião pública, que é a soma puramente aditiva de opiniões individuais; em impor a idéia de que existe algo de que seria uma coisa assim como a média das opiniões ou a opinião média, tal como afirma Pierre Bourdieu em “A pesquisa da opinião não existe”.
8. Em relação aos objectivos do inquérito Egídio refere que pretendia obter opinião sobre os termos de desempenho dos dirigentes e ao impacto de liderança aos cidadãos, o que na minha opinião seria completamente impossível neste tipo de inquérito fechado e somente com uma questão que induz a análise quantitativa e não qualitativa dos dados obtidos e a interpretação também não me parece ser dos dados colhidos, pelas mesmas razões que referi anteriormente: uma só questão. Trata-se sim de uma reiterpretação em função dos seus interesses como proponente da pesquisa, porque toda a pesquisa de opinião possui algum interesse.
Por fim, encorajo a continuar com a pesquisa de opinião deste género, melhorando a sua metodologia para evitar este tipo de opinião constituída, mobilizada e tendenciosa. É simplesmente uma explicitação da minha opinião sobre a opinião.
Abraços.
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