Canal de Opinião por Adelino Timóteo
Vou contar-vos como isto começou. Quando digo isto, refiro-me à escrita. Tinha para aí dezasseis anos. Havia a fome e a guerra a sitiar a cidade.
Foi quando saí da casa da minha mãe. Quer dizer, não foi bem deixar de viver com ela e os meus irmãos.
Explico-me: foi quando me deu um tique, e zás catrapus, passei a morar, a refugiar-me dentro de mim. Melhor, dentro das palavras evadia-me. Bom, eu disse assim:
– Um dia isto aqui acaba, e eu volto para a casa da minha mãe!
Pois é, isto passou-se exactamente assim. Aos dezasseis anos. Como quem vai para um passeio campestre.
De lá me fui e nunca mais voltei.
Ou melhor, ausentei-me quando perdi noção de tempo e de que havia o mais que fazer. Que havia ao meu redor gente muito agradável e que me ama tanto. Isto começou e saí de casa da minha mãe.
A minha mãe aparecia-me no casulo das palavras onde eu morava com uma chávena de chá, sandes de ovo, bolos. Era no quintal, à copa da mangueira. Dizia-me:
– Filho, aí tens o matabicho! Isto começou como um veneno, algo um ópio, que me levando a ausentar de casa quando adolescente, ninguém, ninguém deu pelo facto óbvio de que eu já não morava naquela casa da Rua 5. Quer dizer, morar, eu morava. Fisicamente.
Só. Espiritualmente, eu fora viver para não sei aonde, nem Deus sabe, como um daqueles meninos desamparados.
A minha mãe aparecia de novo, como tentando resgatar-me:
– Filho, o chá está a enfriar. Toma, se faz favor. Olha, as moscas estão a patrulhar a sandes.
Curvado, eu não lhe dava cavaco, embora sentisse algo confrangido, algo de vergonha, quando se tem a noção de que queremos ser certinhos. Queremos manter-nos como aquele retrato adormecido nos sonhos dos pais. Tenho o pressentimento de que a minha mãe deu muito cedo por aquela realidade abissal. Que eu deixei de morar com eles, e me vinha regatear como se regateia a uma ovelha perdida, com esperança e fé em Deus.
Eu devia andar lá pela órbita, que me não dava pela anormalidade.
O chá enfriava e a minha mãe retomava insistente. E aí dava uma mordida na sandes e esquecia-me de comê-la toda. Voltava a matraquear a máquina de escrever e a repetir pela enésima vez que isto estava prestes a acabar. Voltava a prometer-me cá para os meus botões:
–Logo isto acaba e lá volto para a casa.
Eu estava voluntariamente preso nas palavras dos calhamaços, do prontuário da língua, na gramática José Maria Relvas. Estava compulsivamente preso nos deveres da escola, porque, quando isto começou, foi como uma torrente, um tornado que abalou o meu aproveitamento escolar.
Aí, tive que me comprometer. Estudava e depois, como capricho, oferecia-me um belo romance para ler, e mais para frente, depois voltava a isto, porque, pousada na secretária do meu pai, tinha a máquina a assediar-me e, na cabeça, uns contos e uns versos sempre à minha espera.
Os dias eram sempre ensolarados.
Os amigos iam jogar à bola ou iam à praia. Os dias eram sempre muito lindos. Alternativamente, chegavam duas raparigas, para me visitar, na casa da minha mãe, onde, aos dezasseis anos, eu já não morava. Fiquemos pelas iniciais: a primeira era a J., a segunda a G.. Havia qualquer coisa que as atraía a mim, à casa da minha mãe, onde eu já não morava, mas faziam elas questão de me visitar, sem conseguirem tirar de mim um único monossilábico. Pois, aquele estar meu era um faz de conta que não estava, mas nem creio se lá continuei, quando este tique me saiu. Punha-me na velha promessa:
– Isto acaba e levo uma delas à praia. Nunca as levei. Como isto está demasiado demorado para acabar.
Depois cresci. Veio o jornalismo, onde fiz a minha tropa e aprofundei essa disciplina do dever obrigatório de contar, mesmo estando de férias.
Entremeados com a boémia, vieram os livros. As viagens. As diásporas.
As visitas irregulares à minha mãe e aos familiares, mesmo à minha avó, que me levou ao colo ao Hospital Central da Beira, aos meus seis anos, quando aí me internaram pela bronquite. Não que lhes não tenha amor, senão mesmo porque ainda não encontrei um jeito de acabar com isto, que já dura há vários anos, e me vai enraizando o não deve ser, pois da bronquite me safei e não vejo onde encontrar um remédio nem farmacêutico capaz de acertar um antídoto certo para isto.
À última vez que visitei a minha mãe, há vinte anos, encerrei-me no quarto e pus-me a revisitar a velha maleta do meu pai, com roupas, calçados e escritos. Somos os dois cúmplices. Senti a velha síndroma de que estava, mas de facto já não estava. E mesmo a rapariga que me acompanhava estranhou a minha evaporante ausência. Nas palavras da minha mãe, que a confortaram, havia um misto de penitência e condescendência para comigo:
– Está entre os papéis do pai e ainda volta!
Não sei como ela o adivinhara, pois não me vira entre os papéis. Instinto de mãe.
Sim, um dia isto acaba, mãe, encontro o caminho e volto logo para a casa, mãe. E falta muito pouco. (Adelino Timóteo)
CANALMOZ – 05.12.2016
Chegou-nos às mãos um importante documento sobre como é que as coisas ocorreram no liquidado “Nosso Banco”. É um relatório de inspecção ao Departamento de Crédito do “Nosso Banco”, levada a cabo pelo próprio Banco de Moçambique, através do seu Departamento de Supervisão Prudencial. O relatório leva o carimbo de “estritamente confidencial”. Pelo compromisso que temos com os leitores, publicámos as partes mais importantes do referido relatório na última edição do semanário Canal de Moçambique, como matéria de fundo.
Analisando o documento, a primeira conclusão a que se chega é, mais ou menos, aquilo que escrevemos na semana passada, aqui neste mesmo espaço, sobre a responsabilidade do Conselho da Administração do Banco de Moçambique – do mandato de Ernesto Gove – no escândalo.
O relatório lavrado pela Supervisão Prudencial do Banco de Moçambique é datado de Setembro de 2015 e levanta questões de gestão gravíssimas, principalmente as ligadas à carteira de crédito. O próprio Banco de Moçambique assume, na nota introdutória, que aquela actividade de inspecção aconteceu quatro anos depois do último acompanhamento feito às actividades do “Nosso Banco”, ou seja, a última vez que lá tinham estado, em actividade similar, foi em 2011. Uma actividade de acompanhamento, que deveria ser rotineira, foi realizada após terem decorrido quatro anos.
Os problemas foram-se acumulando e com as palmadinhas do próprio Banco de Moçambique.
A situação descrita pelo relatório da inspecção de 2015 já mostrava claramente que já não existia um Banco, mas, sim, uma associação para delinquir, e graças aos maus ofícios do Banco de Moçambique.
Toda a gente que foi assistindo à grande farra no “Nosso Banco”, desde os tempos do Banco Mercantil de Investimentos, continua a ocupar os seus cargos no Banco de Moçambique.
A questão é: por que razão o Banco de Moçambique não intervencionou na altura o “Nosso Banco”, a fim de salvaguardar os interesses dos depositantes e, acima de tudo, o interesse do Estado, que era maior accionista do negócio? O diploma ministerial que fixa em 20 mil meticais o desembolso a pagar pelo Fundo de Garantia de Depósito do Banco de Moçambique é de 21 de Setembro de 2016, ou seja: foi criado exactamente para lesar os clientes do Nosso Banco, pois já se sabia da situação daquela instituição.
Há questões graves levantadas pelo relatório da inspecção, como, por exemplo, a existência de créditos concedidos em montantes acima do solicitado e em modalidades não previstas na lista de produtos servidos pelo Banco.
Qualquer coisa como alguém ir ao Banco e contratar um empréstimo de um milhão de meticais, mas o Banco achar que o mutuário não precisa de um milhão, mas, sim, de quatro milhões, e oferece-lhe, assim mesmo, quatro milhões.
E o mutuário assina um documento a dizer que pediu três milhões e foi bafejado com quatro milhões.
Há registo de créditos concedidos e desembolsados sem contrato nem garantias formalizadas. Mais grave, o Banco, primeiro, dava dinheiro e só depois é que o mutuário ia lá formalizar o contrato de empréstimo.
Alguns dos beneficiários nunca tiveram conta nesse Banco. Ou seja: não eram clientes do banco.
Ora, digam-nos, senhores do Banco de Moçambique, se, em toda a vossa vida, já viram algum Banco que funcionasse assim? Isto, mesmo para efeitos de uso em ficção, é de difícil engenho e elaboração.
Como é que detectaram todas essas atrocidades financeiras e ainda continuaram a passar paninhos quentes na Administração do Banco?
Não acreditamos que o fizeram apenas por uma questão de desleixo.
É mais convincente dizer-se que só o fizeram porque obtinham vantagens com a forma como o Banco era gerido. Quem nos garante que, depois de terem detectado essas anomalias gritantes, também não foram lá buscar um empréstimo olímpico, sem contrato e com valores acima do solicitado, umas das grandes especialidades do Banco. Só isso é que pode explicar as razões que fizeram com que o Banco de Moçambique aceitasse essa forma de actuar.
Não encontramos outra razão.
É difícil explicar a qualquer cidadão que o Banco de Moçambique tenha detectado toda essa fraude e se tenha limitado a recomendações fúteis, sem colocar a possibilidade de responsabilização criminal dos seus gestores. A quem o Banco de Moçambique pretendia proteger, ao congelar um relatório tão grave como este?
Na nossa modesta opinião, há, aqui, uma acção deliberada, por parte do Banco de Moçambique, para continuar a perpetuar as acções que vinham sendo levadas a cabo pelos gestores do “Nosso Banco”. E o Banco de Moçambique sabia perfeitamente que toda esta farra estava a ser financiada por fundos públicos. Em que ficamos?
Há uma nota de intróito ao relatório que talvez abra caminho para a hipótese de uma farra conjunta entre o Banco de Moçambique e o próprio “Nosso Banco”. Os relatores do Banco de Moçambique, nomeadamente Pinto Fulane e Ciélia Massinga, proíbem, no relatório, que os administradores do “Nosso Banco” divulguem o relatório a demais pessoas, proibição que é extensível às instituições da Justiça.
“Em nenhuma circunstância deve, o Banco ou qualquer dos seus administradores ou colaboradores, revelar ou tornar público, seja de que forma for, o relatório ou qualquer parte dele.
Se por qualquer razão uma cópia do relatório for solicitada pelas autoridades judiciais, o Banco deve imediatamente comunicar ao director de Supervisão Prudencial [do Banco de Moçambique]”, lê-se no relatório.
Ora, alguém do Banco de Moçambique pode explicar-nos que tipo de macacada é essa? Ou seja, a informação contida no relatório cria mais incómodo aos funcionários do Banco de Moçambique do que propriamente aos visados do “Nosso Banco”.
Que tipo de inspecção é essa?
Na nossa modesta opinião, quem devia estar preocupado com o escândalo do “Nosso Banco” e fazer de tudo para que o relatório não saísse para consumo público deviam ser os administradores do “Nosso Banco”, porque os factos arrolados visam directamente a eles e à sua reputação e tem potencial de arruinar as suas carreiras. Mas não. Pela nota do Banco de Moçambique, fica claro que quem está aflito é o próprio Banco de Moçambique, ou seja, quem está com medo não é o ladrão que roubou. Estamos numa estranha situação em que a própria Polícia é que está com medo que se saiba que o fulano é ladrão. A Polícia está com receio de que se saiba que apanhou ou viu um ladrão. A única conclusão a que chegamos é que os inspectores têm interesses inconfessáveis nisto.
Quando até proíbem que esses documentos cheguem à Justiça, é porque os relatores sabem que eles próprios estão com problemas com a Justiça. O que é que os senhores do Banco de Moçambique temiam, se o documento chegasse, por exemplo, à Justiça? Afinal, o Banco de Moçambique não pertence ao Estado?
Por que razão temem que este documento chegue às outras instituições do Estado, após ter sido feita a inspecção?
Não será essa a prova cabal de que todo o Conselho de Administração do Banco de Moçambique beneficiou da grande farra do “Nosso Banco”? (Canal de Moçambique)
CANALMOZ – 05.12.2016
Prémio Leaders & Achievers-Flecha Diamante 2016 PMR Africa
Massacre de
búfalos em Tete
Zimba e Viegas na negociata de embraers para a LAM
Naíta Ussene
Pág. 2 e 3
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TEMA DA SEMANA 2 Savana 02-12-2016
Opolémico negócio da venda
pela companhia aeronáutica
brasileira, Embraer,
de duas aeronaves
E 190 às Linhas Aéreas de Moçambique
(LAM) ainda vai fazer correr
muita água por baixo da ponte, agora
com a divulgação da identidade
do “Agente C”, que recebeu subornos,
canalizando-os depois para outras
entidades e o envolvimento do
então PCA, José Viegas.
Trata-se de Mateus Lisboa Gentil
Zimba, actual director da General
Electric Oil & Gás em Moçambique
desde Agosto do presente ano,
tendo antes assumido o cargo de director-geral
da petroquímica Sasol
em Moçambique entre 2000 e 2016.
Zimba, diplomado em medicina
veterinária pela Universidade Eduardo
Mondlane (UEM) e com uma
passagem de cerca de 10 anos pela
logística das Forças Armadas mo-
çambicanas, é o “Agente C”, que
serviu de pivô para o encaixe fraudulento
de USD 800 mil dólares de
comissões no processo de aquisição
de duas aeronaves Embrear para a
LAM.
Para a concretização da manobra,
o Agente C criou uma empresa
fantasma com sede em São Tomé
e Príncipe, aí domiciliando a conta
usada para a drenagem dos subornos.
Dados contidos na correspondência
trocada entre executivos da Embrear
e depositados na Comissão de
Mercados, Valores e Mobiliários
do Brasil indicam que, no dia 22
de Maio de 2008, após três anos de
aturadas negociações, a companhia
aeronáutica brasileira conseguiu
formalizar a proposta de venda de
duas aeronaves de marca Embraer
E190 à LAM, a um preço unitário
de USD 32 milhões.
A Embraer, uma das empresas mais
conhecidas do Brasil, é a terceira
maior fabricante de aviões comerciais
do mundo e emprega mais de
18 mil funcionários nas suas fábricas
no Brasil, China, Portugal, França e
Estados Unidos. Suas acções são negociadas
na bolsa de Nova Iorque.
No dia 11 de Agosto de 2008, o
director de vendas da Embrear, Patrice
Candaten, enviou um correio
electrónico para Luiz Fuchs, vice-
-presidente da companhia brasileira
para Europa e Albert Philip Close,
ex-gerente para área de defesa da
empresa.
No correio em causa, Candaten
informa que, após a conclusão do
negócio com a LAM, apareceu o
moçambicano Mateus Zimba, “que
não trabalhou nos esforços da venda”,
a informar que actuaria como
consultor na empreitada. “Na mesma
oportunidade, Patrice Candaten
propôs que eles `criassem alguma
margem para comissões` para Mao
dinheiro foi depois canalizado
em 2009 para financiar campanhas
eleitorais do partido governamental
através do seu braço empresarial.
O SAVANA tentou várias vezes
chegar à fala com Zimba, mas sem
sucesso.
Uma comissão maior
Segundo o documento, em resposta
ao email de Fuchs, José Molina,
vice-presidente da cadeia de suprimentos,
aprovou a oferta de USD50
mil a Zimba por cada um dos aviões
vendidos, com margem para negociar
até USD80 mil. Aprovou igualmente
que se pagasse entre 2 a 2.5%
do preço de venda das duas opções
se a LAM exercesse a previsão opcional
de comprar outros aviões.
Segundo a documentação na posse
do SAVANA, a 18 de Agosto de
2008, Fuchs escreveu que ofereceu
os USD50 mil a Zimba, mas relatou,
em seguida, para Patrice Candaten,
que percebeu que o antigo director
da Sasol não achou nada simpático
o valor e estava “esperando uma comissão
muito maior”. “....ao ouvir o
valor, insinuou que o cliente (LAM)
poderia adjudicar o contrato para
outra empresa”, sublinhou Fuchs.
José Viegas entra em cena
No dia 25 de Agosto 2008, José
Viegas, então Presidente do Conselho
de Administração (PCA) da
LAM (cessou em Abril de 2011 e
foi substituído por Teodoro Waty),
também é citado no negócio das aeronaves,
que culminou com luvas de
USD800 mil. À Stv, na noite desta
quarta-feira, Viegas disse que não
tinha nada a comentar, sob alega-
ção de que “não se lembrava, porque
passava muito tempo”. No entanto,
ao que apurámos, Viegas é citado
entre os seus amigos que “está limpo”
e que tratou tudo dentro das
regras.
Mas segundo o documento brasileiro,
Viegas telefonou para Fuchs. Em
mensagem electrónica, enviada a 25
de Agosto de 2008, Fuchs narrou
para Candaten a conversa que manteve
com Viegas. Disse que Viegas
“frisou que tinha recebido comentá-
rios muito desagradáveis de algumas
pessoas sobre a proposta da comissão
da Embraer”.
“José Viegas indicou que algumas
pessoas receberam a proposta da
Embraer como um insulto e, de certo
modo, teria sido menos ofensivo
não propor nada, mesmo que isso
não fosse aceitável”, narrou Fuchs.
Perante a reacção de Viegas, o director
adjunto da Embraer para Europa
perguntou ao então PCA da LAM
o que ele esperava da Embraer, ao
que José Viegas respondeu que, naquelas
circunstâncias, um milhão de
dólares seria simpático.
Luiz Fuchs achou o valor alto, mas
depois de negociar, José Viegas “finalmente
sugeriu que poderíamos
nos safar com USD800 mil” em
duas tranches de USD 400 mil.
Fuchs alertou a Viegas que a
teus Zimba na formação do preço
das duas opções subsequentes à venda”,
relata o documento.
Após alguns contactos, no dia 13 de
Agosto de 2013, Fuchs enviou um
email para Candaten, com cópia
a outros funcionários da Embraer,
relatando a conversa que teve com
Zimba. Na referida conversa, Zimba
precisou que, embora a companhia
brasileira não tivesse previsto contar
com um consultor, “nós gostaríamos
de ter um gesto na entrega do primeiro
avião”.
Na mensagem enviada a Candaten,
Fuchs informou que “temos
(Embraer) de mostrar algum gesto
e talvez o valor mencionado por
Albert Close (50 a 80 mil dólares)
acomodasse a necessidade”. Fuchs
explicou ainda a Zimba como criar
uma empresa na qual a companhia
aeronáutica brasileira pudesse efectuar
“supostos pagamentos de consultoria”.
Explicou a Zimba sobre
os procedimentos que devia seguir
para ter o valor. Zimba foi aconselhado
a registar uma empresa com
nome, endereço e não ter a sua sede
num paraíso fiscal.
Porém, ao que o SAVANA apurou
de uma fonte próxima destas operações,
Mateus Zimba não actuou
por conta própria neste negócios,
mas a mando dos seus “patrões” e
Negócios dos Embraers dão muito pano para manga
José Viegas e Mateus Zimba apanhados na rota da corrupção
Xihivele, termo xichangana
(língua maioritariamente
falada na província de
Gaza), que em português
significa literalmente ”rouba-lhe a
valer”, é o nome da empresa criada
por Mateus Zimba em São Tomé e
Príncipe, para receber os USD800
mil de “pagamento de consultoria”.
A 22 de Abril de 2009, a Embraer
celebrou um contrato de representação
comercial com a Xihivele-
-Consultoria e Serviços Lda. O
contrato, assinado por Luís Carlos
Siqueira Aguiar e Flávio Rimoli,
em nome de Embraer, foi assinado
sete meses após a celebração do
acordo de compra, mas antes da
entrega da primeira aeronave E190.
O contrato assinado com a empresa
de Zimba autorizava a Xihivele
a promover vendas do avião E190
”apenas especificamente” para a
LAM, embora a compra desses avi-
ões tivesse sido contratada sete meses
antes da assinatura do contrato
de representação comercial”. Isto
significa que a Xihivele não existia
quando o contrato de compra
e venda das aeronaves foi assinado.
“O contrato com a empresa de
Mateus Zimba afirmava falsamente
que o trabalho de promoção de
vendas havia começado em Março
de 2008”, relata o documento.
”A Embraer prometeu, por esse
contrato de representação comercial,
pagar à empresa de Mateus
Zimba USD400 mil por aeronave,
exactamente o valor que José Viegas
tinha dito anteriormente que
aceitaria. Ocorre que nem Mateus
Zimba nem sua empresa prestaram
serviço a Embraer”, frisa o
documento com o título ”termo
de compromisso e ajustamento de
conduta”.
A Embraer revelou, em 2011, que
estava a ser investigada nos EUA
por possível violação da Lei de
Práticas de Corrupção no Exterior,
uma lei anticorrupção que é aplicada
com rigor. Como as acções da
Embraer são negociadas em Nova
Iorque e alguns dos pagamentos
passaram pelos EUA, os norte-
-americanos têm jurisdição para
investigar a Embraer.
Após a entrega das duas aeronaves,
uma a 30 de Julho de 2009 e outra
a 02 de Setembro do mesmo ano, a
Xihivele apresentou duas facturas à
Embraer, cada uma com o valor de
USD400 mil. A primeira factura tinha
a data de 15 de Agosto de 2009
e a segunda com 24 de Setembro
do mesmo ano. Eduardo Munhos
de Campos, um dos executivos da
empresa, foi quem autorizou os pagamentos.
A primeira tranche de USD 400
mil foi transferida a 31 de Agosto
de 2009, da conta da Embraer no
Citibank nos Estados Unidos para
uma conta no Banco Internacional
de São Tomé e Príncipe, para cré-
dito numa conta na Caixa Geral
de Depósitos em Portugal, de que
era titular a empresa de Mateus
Zimba. Mais tarde, 02 de Outubro
de 2009, foram transferidos os
restantes USD400 mil para a mesma
conta em Portugal, valores que
foram contabilizados pela Embraer
como ”comissão de venda” e foram
consolidados na contabilidade da
companhia brasileira como ”despesas
operacionais líquidas”.
Em nota oficial publicada no
seu site, em Setembro, a empresa
brasileira “reconhece sua responsabilidade
pela conduta de seus
funcionários e agentes” nos casos
investigados e acrescentou que “lamenta
profundamente” o ocorrido.
Antes da Embraer assumir a meia
culpa, as autoridades moçambicanas
já tinham mostrado a sua preocupação
em relação à citação da
LAM como parte de um negócio
com nuances corruptas.
Interpelado, há dias, pela imprensa
moçambicana, o ministro dos
Transportes e Comunicações,
Carlos Mesquita, assegurou que
as autoridades iriam trabalhar para
apurar a veracidade das denúncias
do pagamento de propinas a altos
funcionários moçambicanos.
“O Governo poderá, sem dúvida,
aferir esses valores [das comissões],
através dos relatórios, dos processos
de aquisição [das aeronaves] e ver
exactamente qual é a verdade que
existe nessa informação”, afirmou
Carlos Mesquita, em declarações
aos jornalistas.
Contactada pelo SAVANA, nesta
quarta-feira em Maputo, à margem
da segunda reunião nacional da
Procuradoria Geral da República
(PGR) e da Polícia de Investigação
Criminal (PIC), Amabelia Chuquela,
Procuradora-geral da Repú-
blica adjunta, foi lacónica e frisou
que a instituição ia se pronunciar
em momento próprio, porque investigações
continuam em curso.
O Governo brasileiro considera
que cabe à Procuradoria-Geral da
República de Moçambique averiguar
o alegado envolvimento de
moçambicanos em actos de corrupção
na compra de aviões pelas
Linhas Aéreas de Moçambique
(LAM) à fabricante brasileira Embraer.
“Essa questão dos aviões da Embraer,
neste caso em Moçambique,
tem de ser tratada pelos seus canais
oficiais, neste caso pela Procuradoria-Geral
da República”, disse,
em declarações aos jornalistas, o
embaixador do Brasil em Moçambique,
Rodrigo Soares, após se encontrar
com o primeiro-ministro,
Carlos Agostinho do Rosário.
Zimba e Viegas nas malhas da corrupção internacional
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Xihivele (rouba-lhe a valer)
TEMA DA SEMANA Savana 02-12-2016 3
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Apopulação da zona de Magoe, com a ajuda dos seus cães, empurrou 59 búfalos para uma zona lamacenta
da Albufeira de Cahora Bassa imobilizando os ali. Uma vez imobilizados a população com
lanças e paus “massacrou” os animais para retirar a sua carne. A chacina dos animais foi testemunhada
por responsáveis da empresa Mozambique Safaris que opera na zona e não conseguiu evitar este
crime ambiental.
Massacre de búfalos em Mágoè
junto à Albufeira de Cahora Bassa
Embraer não tinha orçamento
para “esse valor de consultoria”.
Viegas não se terá sentido incomodado
com a posição de Fuchs e
sugeriu que o valor podia ser tirado
da margem de lucro sobre as duas
opções de compra das aeronaves.
“Perguntou (Viegas) se o preço da
aeronave poderia ser elevado”, sublinhou
Fuchs, acrescentando igualmente
que Viegas disse que não se
sentia à vontade para discutir aquele
assunto por telefone.
O contrato de compra das duas aeronaves
E190 foi rubricado a 15 de
Setembro de 2008 pelo preço unitá-
rio de USD32.690, mais um sinal de
USD312 mil por um terceiro avião.
O documento que temos estado
a fazer referência lembra que José
Viegas foi um dos três executivos da
LAM que assinou o contrato pela
companhia de bandeira moçambicana.
Os outros dois não são citados
no documento.
TEMA DA SEMANA 4 Savana 02-12-2016
Oparlamento moçambicano
viveu, esta segunda-feira,
um dos mais
agitados momentos da
presente oitava legislatura. Não
era para menos, Armando Guebuza,
presidente da República à
data da contracção das chamadas
dívidas ocultas que empurraram o
país para a maior crise económica
de sempre desde 1992, voltou a
colocar os pés na chamada “escolinha
do barulho”, desta vez feito
um “arguido no banco dos réus”.
Guebuza foi solicitado pela Comissão
Parlamentar de Inquérito
(CPI) para dar esclarecimentos
sobre as dívidas que ascendem a
USD 2.2 mil milhões contraídas
nos últimos anos do seu reinado,
com garantias do Estado, mas a
favor de empresas, teoricamente,
privadas. O SAVANA que esteve
de plantão no parlamento desde as
primeiras horas daquela manhã,
reconstitui aqui os momentos únicos
e de alta tensão que marcaram
um 28 de Novembro que fica na
história. Tratou-se de uma audi-
ção “muito confidencial” que teve
como protagonistas agentes da segurança
do Estado, um sector que
foi decisivo no endividamento do
país.
8h:30min – Gabriel Muthisse,
antigo ministro dos Transportes e
Comunicações, já partilhava assento,
no interior do parlamento, com
outros próximos de Armando Guebuza,
incluindo Armindo Chavana,
antigo Presidente do Conselho
de Administração (PCA) da estatal
Televisão de Moçambique (TVM).
Nomeado por Guebuza, em Setembro
de 2013, para substituir
Paulo Zucula do cargo de ministro
dos Transportes e Comunicações,
Gabriel Muthisse é conhecido
como um dos mentores do G40,
um grupo de comentadores criado
para branquear a imagem de Armando
Guebuza perante a pesada
crítica à sua governação nos últimos
anos do seu segundo mandato.
O então ministro publicou, em
Dezembro de 2014, na sua conta
de facebook, um texto intitulado
“porquê tanta desinformação sobre
o Atum”, no qual questionava
“a origem da campanha de desinformação
em curso, de que alguns
dos nossos intelectuais se fazem
porta-vozes”, argumentando que a
Empresa Moçambicana de Atum
(EMATUM) terá um efeito tremendo
sobre a economia, o emprego,
os impostos e sobre o controlo
dos níveis de captura do atum e
que a EMATUM é um “catalisador
destas alterações”.
Um dos principais rostos do guebuzismo,
Muthisse, que chegou
a descrever Armando Guebuza
como “a principal vítima da linguagem
pouco digna ou imprópria,
por parte de alguns sectores” foi
a tempo de escrever, também nas
redes sociais, em 2015, que, sem
a Frelimo, Nyusi é equiparável a
Raul Domingos, num claro aviso
à navegação contra uma tendência
mais condescendente do actual
presidente da República em relação
à Renamo e Dhlakama, com que se
encontrou por duas vezes logo depois
da tomada de posse. Tratou-se
de um encontro Nyusi-Dhlakama
interpretado como um golpe a Armando
Guebuza, na altura presidente
da Frelimo que, arrastando
consigo a Comissão Política do
partido e as demais forças resistentes
da Frelimo, resistia a cedências
à Renamo de Afonso Dhlakama.
Por sua vez, Armindo Chavana, que
também chegou ao cargo de PCA
da TVM pela mão de Guebuza,
em Março de 2007, já apareceu,
publicamente, a defender a viabilidade
de um negócio que o tempo
se encarregou de mostrar que não
passou de uma negociata falhada
que tem o condão de evidenciar a
promiscuidade entre a política e os
negócios em Moçambique.
Em Julho deste ano, Chavana
publicou no matutino “Notícias”
um artigo de sua lavra, intitulado
“EMATUM: o outro sabor
do atum”, no qual defendia que “a
frota da EMATUM é uma combinação
inteligente de oportunidades
comerciais e vigilância marítima e
militar”.
Chavana, hoje afecto ao Gabinete
do antigo presidente da República,
defendeu, nessa empreitada,
que “o barulho da EMATUM no
nosso país é uma ressonância de
um ´lobby´ comercial europeu, via
organizações da sociedade civil
suas financiadas, preocupado com
o que perdeu no negócio do atum”,
com “aproveitamentos políticos locais
que, depois de apresentarem o
processo como um escândalo sem
precedentes, implicam, com outros
horizontes eleitorais e eleitoralistas,
o anterior (leia-se Armando
Guebuza) e o novo (Filipe Nyusi)
timoneiro do Estado moçambicano”.
Mas tanto as “doutas lições” de
Muthisse como as “sábias” de Chavana
desmoronaram ainda em pequeno,
com uma EMATUM que,
para além de não estar a produzir,
debate-se com “problemas de coAgitação
na audição a Guebuza
fre” que resultam em atrasos no
pagamento de salários que, inclusivamente,
já originaram greve dos
trabalhadores, com a insatisfação já
a tomar a direcção da empresa.
8h:34min – “O SAVANA já está
aqui”, diz ao telemóvel um agente
de segurança à paisana encarregue
de estudar o terreno, no caso
o Parlamento, para onde Armando
Guebuza devia dar entrada a qualquer
momento. Ao que mais tarde
ficou provado, o “envio de informações
para o outro lado da linha”
estava enquadrado numa estratégia
visando safar o antigo presidente
perante os jornalistas, sobretudo
os “incómodos”, como são tidos
os profissionais da comunicação
social privada que não são, em si,
a extensão ideológica do partido
Frelimo.
8h:36min – Entram no parlamento
os juristas Alexandre Chivale e
Isálcio Mahanjane, que assessoram
juridicamente o ex-presidente Armando
Guebuza, pelo menos no
escândalo das dívidas. São membros
activos do G40. Chivale, por
exemplo, que encarna o G40 até à
medula, tem se desdobrado na defesa
das dívidas em nome da “soberania
nacional” que, precisamente
devido às dívidas, sofreu um golpe
da comunidade internacional. Em
2015, Chivale chegou a membro
do Conselho Superior da Magistratura
Judicial, uma subida mete-
órica interpretada na praça como
um bónus pelos seus serviços, tal
como sucedeu com o jurista Filimão
Suazi, outro rosto do G40,
que subiu para membro do Conselho
Superior da Magistratura Administrativa.
8h:40min – O momento mais esperado
do dia. Armando Guebuza
entra no parlamento moçambicano.
Rosto antipático e ares
autoritários, Guebuza percorre o
edifício adentro até uma das salas
VIP (Very Important Person), ladeado
por um forte contingente
de segurança que tudo faz para
evitar que o antigo presidente seja
interpelado pela imprensa. A lição
estava estudada e era o tudo por
tudo. A “perseguição” que fizemos
ao ex-presidente acusado de ser o
precursor do endividamento oculto
foi debalde. “Fomos ditos que
o encontro é muito confidencial”,
diz-nos alguém da CPI.
Às nossas insistências, rebate: “não
podem estar jornalistas; não nos
criem problemas, por favor…estamos
a pedir. Podem estar lá na
recepção, vão encontrá-lo lá quando
ele sair porque lá será por conta
própria, mas não aqui”. O que
ainda não sabíamos é que Guebuza
sairia pelos fundos.
Enquanto isso, um agente da segurança
do Estado, que integrava a
escolta de Armando Guebuza, surge
a dar instruções aos seus colegas
para se evitar qualquer “embaraço”
de jornalistas ao antigo presidente
na hora da saída. Quando se apercebe
da nossa atenção, arrasta os
seus para um lugar fora do nosso
alcance. Seguidamente é “decretado”
acesso restrito até mesmo ao
corredor que dá acesso à sala VIP
onde dentro de instantes vai decorrer
a audição e aos jornalistas
é dado um “recolher obrigatório”
para o lado da recepção. “Não nos
obriguem a chamar segurança para
vos escorraçar”, diz um agente de
segurança.
8h:50min – Somos, definitivamente,
afastados do corredor, enquanto
Armando Guebuza ainda se encontrava
reunido com a sua equipa,
provavelmente, em concertações à
espera da audição.
9h:45min – “Está aí a sair” alerta
um colega jornalista, chamando
atenção ao facto de o antigo presidente
estar a sair da porta ao fundo.
Era a estratégia encontrada pelos
agentes da secreta para Guebuza
não falar à imprensa. O esforço
dos jornalistas, que percorreram o
edifício do parlamento adentro até
à parte traseira onde se encontrava
já estacionada a viatura e a escolta
presidencial, foi nulo. Em marcha
rápida, o antigo presidente saiu
acompanhado pelo presidente da
CPI, Eneas Comiche, até dar ao
Mercedes Benz AEE 323 MC que
o aguardava do lado de fora, sumindo
sem palavra à Imprensa que
o aguardava. Foi assim uma manhã
de tanta agitação num parlamento
onde a meta era afastar a imprensa
do alcance do antigo estadista, que
segundo fontes que participaram
da audição recusou entrar em pormenores
por envolver questões que
têm a ver com a segurança do país.
Segundo a mesma fonte, confirmou
que deu poderes ao seu ministro
das Finanças, Manuel Chang,
para tratar questões operacionais e
argumentou que o Parlamento foi
contornado por causa da Renamo,
que, na altura, ameaçava a soberania
do país.
Para além de Eneas Comiche, a
CPI é composta por Sérgio Patie,
um vice-presidente cuja indicação
para substituir Edson Macuácua
encontrou discórdia da oposição,
José Katupha, Lucas Chomera
Jeremias, Francisco Mucanheia,
Alberto Matukutuku, Jaime Neto,
Olinda Mith, Esmeralda Muthemba,
Luciano de Castro, todos
pela Frelimo e da oposição apenas
Venâncio Mondlane, da bancada
do Movimento Democrático de
Moçambique, visto que a Renamo
escusou-se a integrar a Comissão
que tinha como prazo para apresentar
os resultados do Inquérito, o
último dia 30, quarta-feira.
A “muito confidencial” audição a
Guebuza é a segunda a antigos altos
dirigentes do Estado à altura da
contracção das dívidas estimadas
em USD 2.2 mil milhões, depois
de Manuel Chang, o antigo ministro
das Finanças que, antes da
descoberta das dívidas da MAM e
da ProIndicus, já tinha reconhecido,
publicamente, que o negócio da
EMATUM foi o seu maior pecado.
A descoberta, este ano, de avultadas
dívidas ocultas contraídas no
fim do segundo mandato do consulado
de Armando Guebuza, que
ascendem a USD 1.4 mil milhões,
levaram ao cancelamento de apoios
a Moçambique pelo Fundo Monetário
Internacional (FMI) e o
grupo de Parceiros Programáticos
de Moçambique que, dentre vá-
rias medidas, exigem a realização
de uma auditoria independente.
Depois de fincar o pé, o governo
moçambicano, perante uma crise
económica cada vez mais alarmante,
acabou cedendo, em Novembro,
último à realização da auditoria
para a qual foi seleccionada a americana
Kroll, uma firma com histórico
na recuperação de fortunas
roubadas por ditadores que, em 90
dias, deverá apresentar os resultados
de uma auditoria financiada
pela Suécia. O FMI, que saúda o
início da auditoria, anunciou esta
semana, segundo um comunicado
do Ministério moçambicano das
Finanças, que não vai exigir mais
medidas correctivas a Moçambique
ao mesmo tempo que reiterou
o compromisso de prosseguir com
o apoio na retoma ao crescimento
do país. Maputo já reconheceu a
insustentabilidade da dívida e a capacidade
de pagamento nos prazos
inicialmente acordados.
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Armindo Chavana e Gabriel Mutisse entre agentes securitários, pouco depois de Armando Guebuza abandonar o Parlamento
TEMA DA SEMANA Savana 02-12-2016 5
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6 Savana 02-12-2016 SOCIEDADE
Odirector-geral Adjunto
das Alfândegas de
Moçambique, Paulino
Dallas, reconheceu a
existência de fragilidades do sistema
electrónico de desembaraço
aduaneiro, denominado Janela
Única Electrónica ( JUE).
O projecto, instalado em 2011 e que
custou cerca de USD12.7 milhões ao
Estado, tinha por objectivo aumentar
a colecta de receitas fiscais através
dum serviço de desembaraço aduaneiro
célere, eficiente e transparente
para além da melhoria do ambiente
de negócios.
Visava ainda combater os actos de
corrupção que dominam as Alfândegas
de Moçambique.
Num encontro presenciado por
Amélia Nankare, Presidente da Autoridade
Tributária de Moçambique
(AT), Paulino Dallas referiu que a
nossa sociedade, sobretudo, no seio
da administração pública, tem sempre
tendências de desvalorizar os
estudos do Centro de Integridade
Pública (CIP) alegando-se que não
trazem informações verídicas.
Contudo, acrescentou, essa não é a
visão da Autoridade Tributária que
sempre colaborou e valorizou as
pesquisas desta organização, porque
trazem matérias relevantes e que merecem
a devida introspecção.
Dallas disse que, de facto, o sistema
JUE não responde todas as expectativas
criadas em torno da sua introdução
e algumas coisas deverão ser
melhoradas.
Segundo o número dois das Alfândegas
de Moçambique, quando foi
desenhada, a JUE era um sistema
informático mais actual e eficiente
na esfera aduaneira, contudo, com o
tempo, foi perdendo algumas qualidades
que precisam de ser actualizadas.
“São essas fraquezas e erros que o
relatório do CIP exterioza, mas que
estamos a trabalhar no sentido de
corrigir”, reconheceu.
Sublinhou que é por causa dessas
debilidades que, até hoje, cinco anos
depois, a JUE é usada apenas na cobrança
de receitas fiscais de alguns
impostos, deixando de fora outras
componentes, o que obriga que se use
ainda o programa Trade Information
and Management System (TIMS),
instalado pela agência britânica Crown
Agents nos anos 90 e que, no
actual contexto, se mostra completamente
desactualizado.
Recorde-se que o CIP publicou um
estudo, na passada quinta-feira, 23,
onde conclui que o processo de concessão
do projecto da JUE foi feito
sem transparência, com o concurso
público a ser manipulado para favorecer
o consórcio de frelimistas e da
Confederação das Associações Económicas
(CTA).
Segundo o CIP, cinco anos depois da
sua instalação, ao invés de reduzir, a
JUE aumentou os custos de desembaraço
aduaneiro com a introdução
de taxas pagas à empresa privada
MCNet, concessionária da JUE.
O CIP fala ainda de conflito de interesses
e da violação da Lei de Probidade
Pública.
Intitulado: Janela Única Electrónica
- Uma Reforma Comprometida,
o estudo resumido em 48 páginas
analisa cinco pontos fundamentais de
todo o processo de concessão da JUE.
Trata-se da forma como foi conduzido
o procurement, que na óptica
do CIP ignorou os procedimentos
legais; o quadro institucional, os processos,
os riscos e as perspectivas.
O estudo em causa arrola um conjunto
de vícios em torno do processo
onde destaca o facto de as receitas
e o desempenho da JUE nunca terem
sido auditados e nem inscritos
na Conta Geral do Estado, violando,
desta forma, a Lei das Parcerias
Públicas Privadas (PPP) e vedando
a possibilidade de se detectar as anomalias
que decorrem da implementa-
ção parcial da JUE.
Antes de descrever anomalias, o documento
faz um resumo histórico da
JUE onde refere que o sistema electrónico
de desembaraço aduaneiro
foi concessionado à Mozambique
Network Community (MCNet), em
formato de PPP para a colecta de receitas
do Estado provenientes de impostos
sobre o comércio externo, com
um peso de cerca de 27% de todas as
receitas fiscais.
O projecto tinha por objectivo aumentar
a colecta de receitas fiscais
através dum serviço de desembaraço
aduaneiro célere, eficiente e transparente
para além da melhoria do ambiente
de negócios.
Porém, cinco anos depois da sua instalação,
o CIP constatou evidências
claras de que a JUE está a ser mal
conduzida e todos os seus propósitos
foram desvirtuados.
Falando concretamente do procurement,
a fonte refere que a concessão
da JUE foi feita sem transparência,
com o concurso público a ser manipulado
para favorecer o consórcio
SGS/Escopil (uma sociedade ligada
às elites frelimistas com o então ministro
de Administração Estatal, José
Chichava, na dianteira) e a CTA.
Violação da lei
O estudo reporta casos de conflito
de interesse na gestão do contrato de
concessão da JUE. Diz que a Autoridade
Tributária é, simultaneamente,
entidade concedente e concessionária
da JUE, pois participa na estrutura
accionista da empresa concessionária.
Há violação da Lei da Probidade Pú-
blica pelo facto de antigos dirigentes
da Direcção Geral das Alfândegas
assumirem, em menos de 12 meses,
pastas de liderança na MCNet em
representação de interesses privados.
CIP despoleta podridão no processo da concessão da JUE e...
Sublinha que não existem relatórios
de auditorias feitas pelas entidades
públicas competentes, do domínio
público, que escrutinam as contas da
JUE e demonstram os benefícios (ou
prejuízos) ao Estado.
Ademais, na busca do modelo da
JUE a implementar em Moçambique,
a CTA e as Alfândegas, ao invés
de lançarem concurso público e receberem
propostas, iniciaram contactos
dirigidos a potenciais parceiros internacionais
que trouxessem capital e
conhecimento técnico de JUE.
Contando com financiamento solicitado
à Commonwealth, as Alfândegas
iniciaram uma série de
concertações que culminaram com
o envolvimento da empresa suíça Société
General de Surveillance (SGS).
A firma não era necessariamente uma
empresa que se dedicava à construção
e implementação de JUE. Detinha
experiência apenas na área de inspec-
ção pré-embarque de mercadorias,
cuja principal tarefa é o controlo da
qualidade, preço de mercadorias a favor
de quem a contrate, sejam empresas
importadoras ou os Estados.
Diz o CIP que o modelo de JUE
implementado pela MCNet em
Moçambique é na verdade dos menos
populares que há no mundo e,
como consequência da ineficiência
do modelo, é que 30% da mercadoria
importada continua a ser desembara-
çada manualmente.
Esta lacuna abre espaço para contrabando
e importações à margem dos
registos, prejudicando o Estado na
colecta de receitas.
O CIP diz que o MCNet não cria
riqueza, pelo contrário, reduz as receitas
públicas e privadas, porque absorve
os ganhos das outras empresas
privadas e do público, em geral, diminuindo
os seus lucros e o rendimento
disponível das famílias e, por essa via,
a capacidade potencial de pagamento
de impostos, de incrementar a poupança
privada e de reinvestir.
Recorde-se que a JUE é gerida pela
MCnet, uma sociedade constituída
pelo consórcio SGS/Escopil com
60%, CTA com 20% e a Autoridade
Tributária com 20%.
O investimento para a instalação do
programa foi de USD12.7 milhões.
Por Raul Senda
O sistema electrónico de desembaraçado aduaneiro continua a deixar brechas para corrupção nas alfândegas
Autoridade Tributária reconhece fraquezas
Não muito afastado da margem esquerda do
Rio Neva, que atravessa a cidade de São
Petersburgo, está o Cemitério das Vítimas
do 9 de Janeiro construído em memória
dos manifestantes pacíficos mortos pelo regime do
Czar Nicolas II em 1905. A densa vegetação de bé-
tulas torna o lugar aprazível, mesmo em Outubro,
quando a estação do Outono vai a meio, as árvores
despidas e o chão coberto de folhas de tons vermelho,
laranja e amarelo. Chamam-lhe o Outono
dourado.
Há no cemitério um recinto com quatro campas de
granito, uma em cada canto. Ao centro, uma lápide
feita da mesma pedra. Cravada na parte superior,
uma placa em mármore com os dizeres, “À Tripula-
ção do Tu-134, tragicamente falecida no cumprimento
do dever internacionalista na República de Moçambique.
19 de Outubro de 1986”. As campas estão dispostas
de forma idêntica à dos lugares que os tripulantes
ocupavam na cabine do avião sinistrado em
Mbuzini. Para quem observe as campas de fora do
recinto, à direita está a do Comandante Yuri Victorovitch
Novodran. À esquerda a de Igor Petrovitch
Kartamychev, o Co-Piloto. Por detrás da campa do
Comandante, a de Anatoli Aleksandrovitch Choulipov,
que era o Radiotelegrafista. Ao lado, a do Navegador
Oleg Nikolaevitch Koudriachov.
As viúvas de três dos tripulantes, coincidentemente
todas elas com nome próprio igual – Valentina
– voltaram ao cemitério para homenagear os que
partiram há 30 anos. Ausente, a viúva de Igor Kartamychev,
entretanto falecida. O casal não deixou
filhos. Igor Novodran também lá esteve. Frequentava
o terceiro ano da Academia de Aviação quando
o pai faleceu. Foi piloto de aviões Boeing-767 da
Aeroflot, mas agora entretém-se a cuidar dos netos.
Vladimir Borisovitch Novoselov era o Mecânico
de Bordo do Tupolev presidencial. Hoje está reformado.
Vive com a esposa, Nadezhda, em São Petersburgo.
Os dois filhos do casal, já adultos, moram
perto. Como habitualmente, Vladimir Novoselov
foi em romaria ao cemitério, desta vez por ocasião
do 30º aniversário da tragédia. Seguindo a tradição
russa, Vova, como o tratam na intimidade, levou
oito cravos vermelhos que depositou aos pares em
cada campa onde jazem os colegas que com ele haviam
seguido para Moçambique.
São Petersburgo, 19-10-2016
As campas dos quatro tripulantes
do Tupolev presidencial despenhado em Mbuzini
Por João Cabrita
Vladimir Novoselov junto à lápide
erguida em memória dos colegas que pereceram em
Mbuzini há 30 anos.
Savana 02-12-2016 7
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Por questões logísticas, confirme a sua presença através dos
seguintes contactos:
Centro de Integridade Pública, Bairro da Coop, Rua B,
Número 79 Telefone: +258-21-416616
Telemóvel: +258-82-3016391 E-mail: cip@cipmoz.org
DATA: 9 de Dezembro
HORA: das 09H00 às 11H00
LOCAL: por indicar
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Dezembro
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indicar
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“ROOT CAUSES
OF CORRUPTION
IN AFRICA AND
PROSPECTS FOR
DEVELOPMENTAL
GOVERNANCE”
pelo Professor Patrick Lumumba
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8 Savana 02-12-2016 SOCIEDADE
Aintolerância política e
a exclusão económica
e social são algumas
das causas da actual
crise político-militar em Mo-
çambique, defende João Pereira,
docente de Ciência Política e investigador
associado do Instituto
de Estudos Sociais e Econó-
micos de Moçambique (IESE).
Na conclusão do texto que escreve
na obra “Desafios para Moçambique
– 2016”, livro recentemente
lançado em Maputo pelo IESE e
que conta com a colaboração de
16 investigadores, João Pereira
aponta ainda a luta pelo controlo
e manutenção do poder, o baixo
nível de confiança entre as elites
da Frelimo, partido no poder, e
da Renamo, principal partido da
oposição e a partidarização das
instituições políticas como outro
dos factores por detrás da violência
política e militar que assola
Moçambique.
“As dificuldades orçamentais das
instituições políticas, particularmente
do Ministério da Defesa”,
considera o académico, incluem-
-se igualmente entre a génese do
clima de confrontação política e
militar prevalecente.
Referindo-se mais concretamente
ao diálogo em curso entre o Governo
e a Renamo, João Pereira
entende que a problemática sobre
as Forças de Defesa e Segurança,
um dos pomos de discórdia entre
as partes, não deve ser monopólio
dos dois lados, devendo ser alargada
à sociedade civil.
“A discussão sobre a defesa e segurança
deve começar a ser tema
de reflexão comum e não matéria
exclusiva de alguns. Talvez se inicie
uma pesquisa e uma aprecia-
ção aberta dos assuntos de defesa
e segurança menos mitológicas”,
considera Pereira.
O académico entende que o
Protocolo IV do Acordo Geral
de Paz de 1992 não contemplou
uma referência relevante e directa
ao papel que os partidos políticos
e a sociedade civil deveriam ter na
organização das Forças Armadas
durante a governação.
É igualmente significativo, continua
João Pereira na sua análise,
notar que os programas e discursos
eleitorais dos partidos políticos
ausentes das negociações de
paz fazem pouca ou nenhuma
referência às Forças Armadas.
Citando uma carta enviada pelos
bispos católicos ao Presidente da
República, Filipe Nyusi, no final
do ano passado, João Pereira
observa que a relação entre o
Governo e a Renamo tem sido
marcada por confrontação e desentendimento.
Para o investigador, os níveis de
confiança entre o Governo e a
Renamo começaram a ficar beliscados
ao nível das Forças Armadas
a partir de 22 de Dezembro
de 2004, quando começou
a implementação do Decreto
48/2003, de 24 de Dezembro,
que introduziu as primeiras reformas
na Estrutura Orgânica
das FADM.
“As dinâmicas políticas marcadas
pelas disputas eleitorais e pelos
debates na Assembleia da Repú-
blica em nada contribuíram para
reduzir os níveis de desconfiança
e não deixaram de ser influenciadas
tanto por sentimentos de exclusão
sócio-política - pelos polí-
ticos - como de exclusão militar
- pelos oficiais das FADM provenientes
da Renamo”, frisa Pereira.
O académico refere que os níveis
de desconfiança entre as duas
partes não têm permitido discernir
de forma construtiva os interesses
de cada uma das partes.
Enquanto a Renamo fala de reorganização
das Forças de Defesa
e Segurança, o Governo fala de
desmilitarização e desarmamento
da Renamo.
A Renamo pretende que todos os
oficiais provenientes das FADM
provenientes do partido sejam
devidamente enquadrados, com
ordens de serviço efectivas, e pretende
também a partilha dos cargos
de chefia, direcção e comando
das FADM, assinala João Pereira.
Por seu turno, prossegue, o Governo
pretende as listas das forças
residuais da Renamo para proceder
à sua integração nas FADM
e na PRM e o remanescente para
a reinserção social e económica e
entende ainda que a questão de
enquadramento não carece de
compromisso político.
Apropriação do Estado
Na análise de João Pereira, os
problemas colocados no âmbito
das discussões das questões mi-
$FRQFOXVmRpGH-RmR3HUHLUDQDREUD´'HVDÀRVSDUD0RoDPELTXHµ
“Intolerância e exclusão são a causa da crise”
litares estão intimamente ligados
aos problemas relacionados
com o funcionamento do Estado
africano, em geral, e da administração
pública, em particular, já
destacados no relatório do Mecanismo
Africano de Revisão de
Pares (MARP).
“A questão da apropriação do
funcionamento do aparelho do
Estado por parte de quem detém
o poder era algo endémico e que
provinha da própria história da
gestão da coisa pública desde o
período da independência e não
um problema do partido, mas sim
geral”, diz João Pereira, citando o
documento em alusão.
A título de exemplo, prossegue
Pereira, o exercício do poder local
está muito mais ligado à força
política no poder e, em Moçambique,
há experiências, não só da
Frelimo, mas também de outros
partidos políticos que exercem
poder local, em que se verifica a
apropriação dos instrumentos do
Estado para beneficiar as suas
próprias forças políticas.
“Existe a percepção de que uma
coisa são as leis produzidas pelo
Governo/Assembleia da Repú-
blica e outra é a prática. Os mo-
çambicanos têm uma história,
cultura e mentalidade que foram
sendo cimentadas ao longo de 40
anos e que não se podem resolver
a partir de medidas administrativas/jurídicas
e esta podia ser a
razão para se voltar a partidarizar
a instituição militar para depois a
despartidarizar e, isso sim, é passível
de compromisso político”,
lê-se na análise de João Pereira.
João Pereira, investigador
Savana 02-12-2016 9
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No âmbito das condições gerais de ingresso no Ensino Superior, previsto na lei n° 27/2009, de Setembro (Lei do Ensino
Superior, artigo 23, n° 5 alínea a) onde a condição de acesso à formação conducente ao grau académico de Licenciatura é a
conclusão com aprovação da 12ª classe ou equivalente, o ISCTEM torna público que irão decorrer no dia 12 de Dezembro de
2016, Testes de Diagnóstico e Entrevistas Vocacionais para admissão aos cursos que a seguir se indica:
TESTES DE DIAGNÓSTICO E
ENTREVISTAS VOCACIONAIS
Para mais informações contacte:
Secretaria do ISCTEM, no Campus Universitário
Rua 1394 - Zona da FACIM, 322 - Maputo.
Tel: 82 309 41 30 ou 82 31 32 200
E-mail: secretaria@isctem.ac.mz
Poderão candidatar-se aos Testes de Diagnóstico indivíduos
que preencham os seguintes requisitos:
• Estudantes do Ensino Secundário Geral que tenham
concluído a 12ª classe do SNE ou a 11ª classe do antigo
sistema;
• Trabalhadores que tenham completado a 12ª classe do
SNE ou a 11ª classe do antigo sistema ou equivalente para
continuação de estudos, sem prejuízo da legislação em
vigor.
Período de Inscrição
A apresentação das candidaturas decorrem na Secretaria
do ISCTEM, até o dia 9 de Dezembro de 2016.
Os candidatos aos testes serão avaliados
apenas nas disciplinas nucleares dos cursos
da sua preferência.
Horário: 8:30H (Diurno) e 17:30H (Pós-laboral).
Escola/Curso Vagas
Diurno Nocturno Peso Peso
Disciplinas Requisitos
Disciplina 1 Disciplina 2
ESCOLA DE CIÊNCIAS BIOMÉDICAS
Medicina Geral
Medicina Dentária
Farmácia e Controle de Qualidade de Medicamentos
Psicologia Clínica
Nutrição
Radiologia
Optometria
100
40
35
ESCOLA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS
Gestão de Empresas
Contabilidade e Auditoria
Gestão Financeira e de Seguros
Gestão de Marketing
Gestão de Recursos Humanos e Negociação
60
60
60
25
35
50% 50%
50% 50%
50% 50%
50% 50%
50% 50%
Matemática Português
Matemática Português
Matemática Português
Matemática Português
Matemática Português
ESCOLA DE ENGENHARIA E TECNOLOGIA
Engenharia Informática
Engenharia Geológica e de Minas
60 Matemática 50%
50
50%
50% 50%
Física
Matemática Física
ESCOLA DE ARTES E CIÊNCIAS
Arquitectura e Urbanismo
Direito
40
50
50% 50%
50% 50%
Desenho Matemática
Português História
30
30
30
25
30
30
-
-
30
-
-
30
50% 50%
50% 50%
50% 50%
Biologia Química
Biologia Química
Biologia Química
30
30
30
30
-
-
-
-
50% 50%
50% 50%
Biologia Química
Biologia
Biologia
Biologia
Química
50% 50%
50% 50%
Química
Química
www.isctem.ac.mz
EDITAL
2017
20 anos formando
com qualidade
10 Savana 02-12-2016 SOCIEDADE SOCIEDADE SOCIEDADE
Oantigo presidente do Conselho
Constitucional (CC),
Rui Baltazar, entende que
é preciso colocar um ponto
final à impunidade dos autores de ilí-
citos eleitorais. Argumenta que, em
consequência da ausência de sanção,
a impunidade acaba se tornando banal,
o que pode contribuir para a gé-
nese de conflitos pós-eleitorais. Baltazar
criticou ainda a ambição pelo
poder para a obtenção de benefícios
próprios, mas também disse que não
se pode permitir que sejam criados
territórios que representem um partido
no país.
Rui Baltazar, que também foi reitor
da Universidade Eduardo Mondlane
(UEM) e ministro da Justiça no
Governo de Transição e no período
pós-independência (1974-1978), diz
que os ilícitos eleitorais devem ser
tratados como crimes e pediu o fim
da impunidade.
Diz estar preocupado com a relutância
que se verifica em não sancionar
as constantes violações da lei eleitoral,
facto que acaba criando um sentimento
de que a fraude não é um
crime abominável.
“Os ilícitos eleitorais não são tratados
com seriedade e isso é grave porque
quanto mais se transige, os vícios se
tornam normais ou banais. É preciso
colocar fim a esta impunidade”,
advertiu, tendo de seguida acrescentado
que os partidos políticos devem
envergonhar-se por ter membros que
cometem ilícitos eleitorais.
Baltazar afirmou que durante o seu
mandato à frente do Conselho Constitucional
(2003-2009) preocupou-se
mais com aspectos formais do processo
eleitoral por considerar que era
necessário disciplinar os partidos no
cumprimento dos prazos.
Numa breve introspecção ao seu consulado,
diz que teria sido mais flexível
em relação a outros aspectos eleitorais,
daí que recomenda ao elenco de
Hermenegildo Gamito, actual presidente
do CC, mais agilidade para
que não funcione longe da realidade
como se tem verificado.
Analisou os casos julgados pelo CC
e constatou que todos se baseiam em
documentos que lhes chegaram às
mãos, pelo que é chegado o momento
de ir além disso, acompanhando
os processos eleitorais de perto, de
modo a fazer justiça.
Baltazar, que desempenhou ainda as
funções de ministro das Finanças,
no decurso da governação de Samora
Machel, falava esta segunda-feira
num seminário de dois dias sobre o
processo de elaboração e implementação
da legislação eleitoral em Mo-
çambique.
O evento foi organizado pelo Instituto
para a Democracia Multipartidária,
em parceria com a Comissão
de Administração Pública e Poder
Local, como forma de colher contribuições
para a obtenção de uma
legislação que evite conflitos pós-
-eleitorais, e juntou ainda partidos
políticos com assento no parlamento,
extraparlamentares, membros dos
órgãos de administração eleitoral e
sociedade civil.
Para Rui Baltazar, é necessário que os
mecanismos de reclamação nos processos
eleitorais sejam reformados e
que funcionem da base para o topo,
defendendo ainda ser imperativo evitar
demoras na divulgação dos resultados,
pois isso é, por si só, nocivo à
transparência.
%HQHÀFLDU VHGRSRGHU
Olhando para as reformas feitas aos
diversos pacotes eleitorais, Baltazar
concluiu que o problema não está nas
leis, mas sim nas instituições e pessoas
que as implementam. Isto porque
o défice da cultura democrática acaba
abrindo espaço para a prática de ví-
cios, pois os partidos políticos recorrem
a todos os meios ao seu alcance
para conquistar o poder incluindo o
combate político.
Diz que a filosofia de que o poder é
para servir o povo foi deixada para
trás com a ganância pelos privilégios
ou benefício próprio.
“Luta política para governar sim, mas
não para obter benefícios pessoais”,
observou.
De seguida, recomendou aos partidos
políticos para que se inspirem em
princípios de sobriedade, aposta no
diálogo profícuo e não em relações
de hostilidade, tal como se verifica
actualmente.
Virando os canos para a luta pelo
poder, Rui Baltazar disse não estar
contra a descentralização, mas apela
para que não se criem territórios que
representem partidos políticos sob
pena de dividir o país.
([ SUHVLGHQWHVGD&1(
JD]HWDP
O encontro previa juntar no mesmo
painel os antigos presidentes da Comissão
Nacional de Eleições (CNE),
nomeadamente, Brazão Mazula,
Arão Litsure e Leopoldo da Costa
para, juntamente com o actual presidente
do órgão, Abdul Carimo, partilharem
as respectivas experiências na
implementação da legislação eleitoral
e os respectivos desafios, mas os três
não se fizeram presentes ao local.
A organização lamentou o facto, que
provocou um atraso de 30 minutos
no início do encontro.
Abdul Carimo considera que a actual
legislação eleitoral é aceitável e razo-
ável para que o país tenha eleições livres,
justas e transparentes, sem, com
isso, descurar a necessidade de aprimoramento
de alguns aspectos.
Disse que os problemas que surgem
na implementação do pacote legislativo
eleitoral derivam da forma como
são feitas as reformas das leis, que
dão primazia a aspectos políticos e
não técnicos.
“A legislação é feita sem consulta formal
aos seus implementadores e isto
é um grande desafio. As leis são aprovadas
por cima do joelho e isto mina
todo o processo que se espera tenha
sucesso”, lamentou.
Socorreu-se da última revisão feita
em 2014, que, de acordo com o mesmo,
teve como base o acordo alcançado
nas negociações entre o governo e
a Renamo, relegando para trás as outras
partes interessadas no processo.
Recordou que, antes da revisão da
lei, a Comissão Nacional de Eleições
(CNE) tinha 1.500 funcionários e
depois da revisão foram acrescidos
mais três mil, enquanto decorria o
recenseamento, sem infra-estruturas
para albergar a todos.
Deplorou a inexistência de uma
composição definitiva da CNE, que
de eleição em eleição muda da sua
estrutura e perde a sua memória profissional
e experiência.
Para Carimo, com este andar, sempre
se vai criticar o desempenho dos órgãos
eleitorais alegando que dirigem
os processos eleitorais há bastante
tempo, mas cometem os mesmos erros.
Avança que é preciso que se pense nos
processos eleitorais atempadamente,
pois, caso não, a relação de constantes
desconfianças com os partidos
políticos vai prevalecer. Responsabilizou
também os partidos políticos
por alguns aspectos que mancham as
eleições, tendo apontado os atrasos
na submissão das listas de delegados
entre outros.
Queixou-se da falta de independência
financeira que, segundo o dirigente,
mina o desempenho da sua
instituição e acusou alguns sectores
que disponibilizam os fundos de não
terem sensibilidade com os processos
eleitorais.
2SUREOHPDHVWiQDV
SHVVRDV
Apesar de reconhecerem a necessidade
de reformar a legislação eleitoral
para responder aos novos desafios da
política nacional, os partidos Frelimo,
Renamo, MDM e extraparlamentares
são unânimes em afirmar que o
problema não está nas leis, mas sim
nas pessoas que as implementam.
Bernabé Nkomo, do MDM, comunga
esta tese e exemplifica com o facto
de a lei estabelecer que o delegado
de candidatura deve reclamar na assembleia
de voto onde detectou o
problema, mas o presidente da dita
assembleia não aceita a reclamação e
isso acaba degenerando em troca de
acusações e conflito.
Citou ainda o caso da campanha
eleitoral, que deve ser feita em todo
o país, mas há partidos que não admitem
que seja feita em algumas
províncias onde detêm fortes bases
de apoio.
Viana Magalhães, da Renamo, é da
opinião que, enquanto tivermos de
aceitar a democracia e não as instituições
democráticas como a Assembleia
da República, nada pode
avançar.
Explica que o partido no poder sempre
se socorre da sua maioria para legitimar
as suas decisões e pretensões
de estar no poder a todo o custo, não
validando as opiniões dos outros partidos,
incluindo as deliberações da
CNE, que não são consensuais.
Numa sessão em que os representantes
do partido no poder optaram por
ouvir, António Muchanga manifestou
a sua preocupação com a existência
de votos nulos e em branco, tendo
apelado para uma análise séria desta
situação, pois, a cada pleito eleitoral,
ascendem a 10% que correspondem a
20 deputados.
&RQVXOWRUVXO DIULFDQR
FULWLFDFRPSRVLomRGD&1(
A reflexão sobre a legislação eleitoral
foi estendida a representantes da
África do Sul, Botswana e Namíbia.
Shale Vitor, um consultor sul-africano,
criticou o peso da estrutura
da CNE moçambicana, que tem 17
vogais, bem como o facto de estar altamente
partidarizada, o que, no seu
entender, contribui para os constantes
conflitos, porque os concorrentes
estão envolvidos directamente.
Diz que Moçambique é o único país
da SADC que possui um órgão eleitoral
altamente partidarizado, daí que
as reformas são vistas de forma polí-
tica e não técnica.
Partilhou a experiencia do seu país,
cujo órgão eleitoral tem somente cinco
membros, dos quais três estão a
tempo inteiro e os restantes dois não,
num universo de 55 milhões de habitantes,
onde nas últimas eleições municipais
votaram cerca de 22 milhões.
Explica que os membros são eleitos
com base num concurso público, seleccionados
dentre os membros da
sociedade civil e guiados por valores
de integridade e legitimidade.
De acordo com Shale, o órgão eleitoral
presta contas ao Parlamento e não
se debate com problemas de fraudes,
uma vez que a lei é aplicada à risca.
Namíbia, representada por Moses
Ndjarakana, partilhou a sua experi-
ência de votação electrónica, sendo,
por sinal, o primeiro país da SADC,
com esta inovação. Disse que não foi
fácil, mas conseguiram.
Contou que o sistema era para ser
usado nas eleições de 2009, o órgão
eleitoral, juntamente com os partidos
políticos intervenientes no processo,
foram à Índia, onde tiveram toda a
formação e informação necessária.
Compraram os dispositivos, mas não
usaram logo a priori, porque, mesmo
depois de informação que obtiveram,
a oposição fez propaganda alegando
que o partido do poder preparou um
sistema de viciação.
Assim, a Namíbia iniciou um processo
de educação cívica à escala nacional,
que permitiu a votação e não
houve queixas de fraudes, tendo o
processo ocorrido tal como desejava.
No entanto, os moçambicanos ainda
temem esta forma de votar, Fernando
Mazanga, contou que a CNE já se
deslocou à Índia, país fornecedor das
tecnologias de votação electrónica,
mas ainda não há garantias do correcto
uso desta plataforma em Moçambique.
Este sentimento foi partilhado
por Lucas Chomera, presidente da
Comissão de Administração Pública
e Poder Local, que defende que os
processos devem ser paulatinos, pois
já se introduziu o recenseamento digital,
amanhã se espera o apuramento
electrónico e, por fim, a votação. A
votação electrónica, prosseguiu, não
está para já.
)UDXGHHOHLWRUDO
É preciso acabar com a impunidade
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Savana 02-12-2016 11 PUBLICIDADE SOCIEDADE
A propriedade/produto está à venda
no estado e no local em que se encontra,
sem direito a troca nem devolução. Será
dada preferência `a proposta mais alta.
Local:Armazém da DALO Constru-
ções, Av de Angola nr.2770
Data e horário do leilão: Dia 3 de Dezembro
2016 (Sábado) e inicia às 11:00
da manhã.
Dias de exposição ao Publico: 1 e 2 de
Dezembro 2016 (entre as 8:30 – 17:00), e
3 de Dezembro 2016 (entre as 8:00-10:30)
Registro de participação:
Limite de 300 inscricões que deverão ser
feitas a 1 e 2 de Dezembro (entre as 9:00
e – 17:00), e 3 de Dezembro 2016 (entre
as 8:00-10:30)
Embaixada dos Estados Unidos
LEILÃO – Sistema de Hasta Publica
Artigos a serem leiloados: DiversosGeradores,
ar condicionados, electrodomésticos,
bombas de àgua, diversas
mobilias para casa,computadores,
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12 Savana 02-12-2016 INTERNACIONAL SOCIEDADE
Aprimeira cerimónia de
homenagem a Fidel Castro,
um dos mais importantes
líderes mundiais,
que morreu na noite de sexta-feira
passada aos 90 ano, começou nesta
quarta-feira em Havana, onde milhares
de pessoas fizeram fila para
verem retratos a preto e branco do
“pai” da Revolução Cubana. Fidel
Castro era um amigo de Moçambique
e de Samora Machel.
Após dois dias de homenagens na
capital, as cinzas de Fidel Castro
serão transferidas de Havana para
Santiago de Cuba (sudeste), numa
procissão que vai percorrer mais de
mil quilómetros entre 13 das 15
províncias cubanas, entre quarta-
-feira e sábado, provavelmente
com a mobilização de milhares de
pessoas.
O ponto culminante das celebra-
ções será o funeral do “Comandante”,
que acontecerá no domingo,
em Santiago, berço da revolução
cubana.
O seu irmão mais novo e actual
presidente, Raúl Castro, foi quem
anunciou a morte na TV estatal.
“Querido povo de Cuba. Com profunda
dor venho informar o nosso
povo e os amigos da nossa América
e do mundo que hoje, 25 de Novembro
de 2016, às 22.29, morreu
o comandante-chefe da Revolução
Cubana, Fidel Castro Ruz.”
O irmão mais novo de Fidel disse
ainda que “cumprindo a vontade
expressa pelo companheiro Fidel,
os seus restos mortais serão cremados.
Nas primeiras horas da manhã
de sábado, 26, a comissão organizadora
do funeral, dirá ao nosso
povo informações detalhadas sobre
a organização da homenagem póstuma
que se dará ao fundador da
Revolução Cubana”. E despediu-se
com um “Até à vitória, sempre!”
Figura controversa
Visto como um grande líder revolucionário
por uns, e como ditador
implacável por outros, Fidel foi
pouco a pouco saindo da vida pú-
blica progressivamente ao longo da
última década e foi viver num lugar
não divulgado, apenas fazendo
aparições esporádicas nos últimos
anos.
As últimas imagens de Fidel Castro
são do dia 15, quando recebeu
na sua residência o presidente do
Vietname, Tran Dai Quang. Antes,
foi visto num acto público. Foi no
dia 13 de Agosto, na comemoração
de seu 90º aniversário. A festa reuniu
mais de 100 mil pessoas.
Na época, Fidel apresentou um
semblante frágil e acompanhado
pelo seu irmão Raúl e o presidente
da Venezuela, Nicolás Maduro.
Despedida
Em Abril, durante o XVII Congresso
do Partido Comunista de
Cuba, Fidel reapareceu e fez um
discurso que soou como uma despedida,
onde reafirmou a força das
ideias dos comunistas.
“A hora de todo mundo vai chegar,
mas ficarão as ideias dos comunistas
cubanos, como prova de que
neste planeta se trabalha com fervor
e dignidade, é possível produzir
bens materiais e culturais que os
seres humanos necessitam, e devemos
lutar sem descanso para isso”,
afirmou Fidel Castro.
Desde que ficou doente, em Julho
de 2006, e cedeu o poder ao seu
irmão Raúl Castro, o líder cubano
se dedicou a escrever artigos, assim
como livros sobre sua luta na Sierra
Maestra e a receber personalidades
internacionais em sua residência,
no oeste de Havana.
Doença e saída do poder
Na noite de 31 de Julho de 2006,
Fidel Castro surpreendeu Cuba e
o mundo com o anúncio de que
cedia provisoriamente, depois de
sofrer hemorragias, o poder ao irmão
Raúl. Foi a primeira vez que
formalmente saiu do poder.
Sem revelar a doença que o afectava,
Fidel admitiu que esteve à beira
da morte. Perdeu quase 20 quilos
nos primeiros 34 dias de crise, passou
por várias cirurgias e dependeu
por muitos meses de cateteres.
Em Dezembro de 2007, El comandante
já havia expressado numa
mensagem escrita que não estava
agarrado ao poder, nem obstruiria a
passagem das novas gerações, mas
em Janeiro foi eleito deputado e
ficou tecnicamente habilitado para
uma reeleição – o que não ocorreu.
Desde Março de 2007, já afastado
do cenário público, sendo visto
apenas em vídeos e fotos, Fidel
Castro se dedicava a escrever artigos
para a imprensa sob o título de
“Reflexões do Comandante-em-
-Chefe”.
Fidel deixou o poder definitivamente
em Fevereiro de 2008. Num
texto publicado no jornal estatal
“Granma”, ele anunciou sua renúncia.
Trajetória
Fidel nasceu em 13 de Agosto de
1926, na província de Holguín, sul
de Cuba, e foi baptizado durante
a infância de Fidel Hipólito. Sua
mãe trabalhava para a mulher de
seu pai, o bem sucedido latifundiá-
rio espanhol Ángel Castro.
Quando Fidel era adolescente, seu
pai se separou da primeira mulher
e assumiu a família com a mãe de
Fidel, Lina Ruz Gonzalez, com
quem teve outros cinco filhos.
Nesta época, Fidel foi assumido
oficialmente pelo pai e recebeu o
nome de Fidel Alejandro Castro
Ruz.
Apesar de não ter sido registado
pelo pai na infância, Fidel cresceu
a estudar em escolas particulares e
no meio de um ambiente de riqueza
bastante diferente da pobreza do
povo cubano.
Bastante inteligente, o jovem interessava-se
por desporto do que
pelos estudos. Mesmo assim, o lí-
der cubano iniciou seus estudos na
Universidade de Havana em 1945,
onde conheceu o nacionalismo político
cubano, o anti-imperalismo e
o socialismo, e se formou em direito
em 1950.
Em 1948, Fidel viajou para a República
Dominicana numa expedi-
ção para tentar derrubar o ditador
Rafael Trujillo, que fracassou.
Ao voltar para a faculdade, ele juntou-se
ao Partido Ortodoxo, fundado
para acabar com a corrupção
no país.
Casamentos
No mesmo ano, Fidel se casou
com Mirta Diaz Balart, de uma
rica família cubana. Eles tiveram
apenas um filho, Fidelito. O casamento
com Mirta acabou em 1955.
Durante a união, ele teve um relacionamento
com Naty Revuelta,
com quem teve uma filha, Alina
Fernández-Revuelta. Em 1993, ela
fugiu da ilha fazendo-se passar por
uma turista espanhola. Alina pediu
asilo nos Estados Unidos e passou
a fazer fortes críticas a seu pai.
Com sua segunda mulher, Dalia
Soto del Valle, Fidel teve outros
cinco filhos homens cujos nomes
começam com a letra “A”: Alexis,
Alexander, Alejandro, Antonio e
Ángel.
Além da filha Alina, uma das irmãs
de Fidel, Juanita Castro, também
se mudou para os EUA, no início
da década de 1960.
Revolução
Durante o casamento com Mirta
Diaz, Fidel teve contacto com as
famílias ricas de Cuba, e candidatou-se
a um posto no Parlamento.
Entretanto, o golpe do general Fulgêncio
Baptista derrubou o governo
da época e cancelou as eleições.
Com outros membros do Partido
Ortodoxo, Fidel organizou uma
insurreição. A 26 de Julho de 1953,
cerca de 150 pessoas atacaram o
quartel de Moncada, em Santiago
de Cuba, em uma tentativa de
derrubar Baptista. O ataque falhou
e Fidel foi capturado. Após julgamento,
ele foi condenado a 15 anos
de prisão. Entretanto, o incidente o
tornou famoso no país.
Em 1955, Fidel foi amnistiado,
e fundou o movimento 26 de Julho,
de oposição ao governo. Nessa
época, ele encontrou-se pela primeira
vez com o revolucionário
Ernesto ‘Che’ Guevara e se exilou
no México.
Em 1957, com Guevara e mais 79
expedicionários, chegou a Cuba a
bordo de um navio e tentou derrubar
o presidente, mas foi surpreendido
pelo Exército e derrotado.
Fidel, seu irmão Raúl e Che conseguiram
escapar e se refugiaram
na Sierra Maestra, onde travaram
combates com o governo.
A 30 e 31 de Dezembro de 1958,
as vitórias revolucionárias assustaram
Baptista, que fugiu de Cuba e
foi para a República Dominicana.
Aos 32 anos, Fidel conseguiu o
controle do país.
Reforma para o comunismo
Um novo governo foi criado, e
Fidel assumiu como primeiro-ministro
em 1959, após a renúncia de
Jose Miro Cardona. Nesta época,
foram iniciadas as relações com a
então União Soviética.
O líder passou então a sua reforma
para o comunismo. Em 1960, Fidel
nacionalizou a indústria açucareira
de Cuba, sem pagar indemniza-
ções. Três anos depois ele nacionalizou
as fazendas, ampliando a
reforma agrária.
Em 1961, o governo proclamou o
Estado socialista. Houve uma fuga
em massa dos ricos do país para
Miami, nos Estados Unidos, que
rompem as relações diplomáticas
com Cuba.
Crise com os EUA
Em Abril, Castro formalizou Cuba
como um Estado socialista. No dia
seguinte, cerca de 1,3 mil exilados
cubanos apoiados pela CIA atacaram
a ilha pela Baía dos Porcos,
numa tentativa de derrubar o governo.
O ataque foi um fracasso – centenas
de pessoas foram mortas e
quase mil capturadas. Os EUA negaram
seu envolvimento, mas revelaram
que os exilados foram treinados
pela CIA. Décadas depois, o
país confirmou que a acção vinha a
ser planeada desde 1959.
O incidente fez Castro consolidar
o seu poder. Em Maio do mesmo
ano, anunciou o fim das eleições
democráticas no país e denunciou
o imperialismo americano. Che
Guevara assumiu o Ministério da
Indústria.
Em 1962, os EUA ordenaram o
bloqueio económico total à ilha,
isolando o regime, uma política
que se seguiu até a actualidade.
Fidel passou a intensificar sua
relação com a União Soviética,
aceitando financiamento e ajudas
militares. Em Outubro de 1962, o
país concebeu a ideia de implantar
misseis nucleares em Cuba, gerando
uma crise com os EUA e quase
uma guerra nuclear.
Governo
Em 1965, Che deixa o país para
expandir a revolução. Dois anos
depois, foi assassinado na Bolívia,
deixando Fidel como único rosto
da revolução.
Ainda em 1965, Fidel se posicionou
como líder do Partido Comunista
cubano. Pouco a pouco, começou
uma campanha para apoiar
a luta armada contra o imperialismo
na América Latina e em África,
sobretudo, em Angola.
Apesar do comprometimento dos
EUA de não invadir a ilha, houve
ataques de outras formas, como o
bloqueio económico e centenas de
tentativas de assassinato contra Fidel
ao longo dos anos. Fidel chegou
a dizer que se escapar de tentativas
de assassinato fosse um desporto
olímpico, ele teria ganho medalhas
de ouro.
Durante seu governo, Fidel investiu
na educação – foram criadas
cerca de 10 mil novas escolas, e a
alfabetização atingiu 98% da população.
Os cubanos têm um sistema
de saúde universal, que reduziu
a mortalidade infantil para 11 a
cada mil nascidos vivos.
Fidel Castro: o líder revolucionário
Samora Machel e Fidel Castro
Fidel com Che Guevara, em foto de 1960
(Foto: AP Foto/Prensa Latina via AP Imagens
Savana 02-12-2016 13 PUBLICIDADE SOCIEDADE
Por ocasião do seu 10º aniversário, o IESE anuncia a realização da sua V
Conferência académica internacional, subordinada ao tema ´'HVDÀRVGD
LQYHVWLJDomRVRFLDOHHFRQyPLFDHPWHPSRVGHFULVH” a ter lugar em Maputo,
Moçambique, entre 19 e 21 de Setembro de 2017.
A conferência inaugural do IESE, realizada a 19 de Setembro de 2007,
GHEUXoRX VHVREUHRVGHVDÀRVGDLQYHVWLJDomRVRFLDOHHFRQyPLFDHP0RoDPELTXH GRSRQWRGHYLVWDWDQWRGRVGHVDÀRVWHyULFRV SDUDGLJPiWLFRVH
PHWRGROyJLFRVSDUDHVWXGDU FRPSUHHQGHUHUHVSRQGHUjVGLQkPLFDVHWHQGrQFLDVGH
WUDQVIRUPDomRSROtWLFD HFRQyPLFDHVRFLDO FRPRGRVGHVDÀRV
da inserção da investigação e do seu papel num contexto político que se
adivinhava crescentemente hostil e repressivo.
Volvidos dez anos, o mundo assiste a uma crise multidimensional e internacional.
Embora global, esta crise tem manifestações e particularidades
regionais e nacionais.
O que nos ensina a nossa investigação? Onde estamos, que questões nos
perturbam, o que não conseguimos entender e explicar nem mudar, o que
não sabemos? Que contributos temos realizado tanto para as ciências soFLDLVHRFRQKHFLPHQWR FRPRSDUDRVGHEDWHVSROtWLFRV HFRQyPLFRVHVRFLDLVHDVOXWDVVRFLDLV"4XHGHVDÀRVWHPRVSHODIUHQWH QRTXHGL]UHVSHLWR
tanto ao desenvolvimento das ciências sociais como da sua inserção polí-
WLFD",GHQWLÀFDU GHEDWHUHUHVSRQGHUDTXHVW}HVFRPRHVWDVVmRREMHFWLYRV
desta conferência.
Em especial, serão privilegiadas comunicações que abordem as seguintes
temáticas:
&ULVH GHVDÀRVHDYDQoRVQDLQYHVWLJDomRHHQVLQRHPFLrQFLDVVRFLDLV
HHFRQyPLFDV
D 3DUDGLJPDV PRGHORVHRVGHVDÀRVGDKHWHURGR[LDQRHQVLQRHQDLQYHVtigação
b. Redes de investigação e ensino em África e cooperação entre os centros
de pesquisa africanos
c. Financiamento da pesquisa
d. Inserção política e o papel social da investigação
3DUDGR[RV H WHQGrQFLDV GD HFRQRPLD PXQGLDO UHJLRQDO QDFLRQDO H D
FUtWLFDDRVPRGRVGHDFXPXODomR SDGU}HVGHFUHVFLPHQWRHGLUHFo}HVGH
WUDQVIRUPDomRHFRQyPLFDHVRFLDO
a. Modos e sistemas de acumulação e padrões de crescimento e transforPDomR
² R HVWXGR H D FRPSUHHQVmR GRV SURFHVVRV VRFLRHFRQyPLFRV H
políticos de crise e reestruturação do capitalismo e os caminhos para
WUDQVIRUPDomRHFRQyPLFDHVRFLDO
b. Relações público-privadas, investimento privado, estruturas produtivas.
F (PSUHJR GLQkPLFDVGHWUDQVIRUPDomRHDFXPXODomR LQÁDomR SREUH]D
esegurança social
d. Endividamento público e outras formas de “expropriação” do Estado e
DVGLQkPLFDVGHDFXPXODomR
H 6LVWHPDVÀQDQFHLURVHDVXDUHODomRFRPDVGLQkPLFDVSURGXWLYDVHGH
acumulação
I 2TXDGURÀQDQFHLURHGHÀQDQFHLUL]DomRJOREDO DVHFRQRPLDVDIULFDQDVH
os modelos de acumulação.
J 'LQkPLFDVHRSo}HVUHJLRQDLVGHLQGXVWULDOL]DomRHGHVDÀRVQRTXDGUR
de uma África Austral diferenciada e em transformação.
'LQkPLFDV WHQGrQFLDVHGHVDÀRVGDWUDQVLomRGHPRJUiÀFDJOREDOHGDV
WUDQVLo}HVGHPRJUiÀFDVLQFLSLHQWHVHPGLYHUVRVSDtVHVGDÉIULFD6XEsariana:
D )DVHVGDWUDQVLomRGHPRJUiÀFDJOREDOYHUVXVIDVHVGDJUDQGHGLYHUJrQcia
e grande convergência
E 7UDQVLomRGHPRJUiÀFDQDÉIULFDVXEVDULDQD 0LWRRXUHDOLGDGH"
c. Nexos de mitos e alianças paradoxais sobre: crescimento populacional e
FUHVFLPHQWRHFRQyPLFR DXPHQWRSRSXODFLRQDOHGHQVLGDGHSRSXODFLRQDO SRSXODomRHGHVHQYROYLPHQWRVXVWHQWiYHOHLQVXVWHQWiYHO HQYHOKHFLPHQWRHJHURQWRFUHVFLPHQWR SRSXODomRHDPELHQWH
G 1RYDVGLQkPLFDVHFRQyPLFDV PRYLPHQWRVPLJUDWyULRVHUHODo}HVUXUDO-
-urbano
H 3ROtWLFDGHSRSXODomRHWUDQVLomRGHPRJUiÀFD GHVHPSHQKR SHUVSHFWLvas
e opções
f. Viabilidade e sustentabilidade da pensão universal para idosos em África
e no Mundo
)RUPDomR 7UDQVIRUPDomRGR(VWDGRQDÉIULFDVXEVDULDQD $XVWUDOHR
GHVHQYROYLPHQWRGDFLGDGDQLD
D (VWDGR LQWHUHVVHS~EOLFR RSo}HVHFRQyPLFDVHVRFLDLV WULEXWDomRHOLJD-
ção entre Estado e cidadãos
E 'HVDÀRVGDÉIULFD$XVWUDO PRYLPHQWRVGHOLEHUWDomR ´FUpGLWRSROtWLFRµ
instabilidade política e crise de legitimidade, democracia, descentralização,
sistemas políticos e eleitorais, desenvolvimento, cooperação, integração e
perspectivas e tensões regionais de desenvolvimento.
c. Novos movimentos sociais, suas genesis, tendências, experiências e perspectivas
1RYDVIRUoDVHYHOKDVFULVHVQDDUHQDLQWHUQDFLRQDO FRPHVSHFLDOGHVWDTXHSDUDDVVXDVLPSOLFDo}HVVREUHR&RQWLQHQWH$IULFDQR FRPLQFLGrQFLDQDÉIULFD$XVWUDO
D &ULVHHFRQyPLFDQD&KLQDHQR%UDVLOHVXDVUHSHUFXVV}HVHPÉIULFD
E %5,&6HQRYRVSDUDGLJPDVHPRGHORVGHFRRSHUDomRHGHVHQYROYLPHQWR
F %5,&6HPÉIULFD RSRUWXQLGDGHV GLOHPDVHGHVDÀRV
d. Cooperação Sul-Sul versus Cooperação Norte-Sul
2VLQYHVWLJDGRUHVLQWHUHVVDGRVHPDSUHVHQWDUFRPXQLFDo}HVjFRQIHUrQFLD
são convidados a enviar um resumo dos seus temas, (em língua portuguesa
ou inglesa), em não mais de 500 palavras, para os seguintes endereços: iese.
FRQIHUHQFLD #LHVH DF P] LHVH FRQIHUHQFLD #JPDLO FRP
As propostas poderão ser individuais ou colectivas (com mais de um autor).
O resumo deverá indicar, para além do tema e problemática, o nome
completo do (s) candidato (s), a sua posição institucional e os seus contacWRV
HPDLOHXPRXWURFRQWDFWR WHOHIRQH 6N\SHRXRXWUR VmRREULJDWyULRV
Resumos com informação incompleta, acima solicitada, serão excluídos.
Os candidatos poderão submeter propostas de comunicações individualizadas
ou propostas de painéis contendo várias comunicações sob um tema
FRPXP 1RFDVRHPTXHSDLQpLVVHMDPSURSRVWRV pUHTXHULGDDLGHQWLÀ-
cação e contactos do (s) coordenador (es) do painel, além da informação,
acima mencionada, sobre cada uma das comunicações e seus autores. É
DFRQVHOKiYHOTXHVHMDHQYLDGR HPFRQMXQWRFRPRUHVXPRGHFDGDFRPXnicação
que forma o painel, um breve resumo (não superior a 750 palavras)
do racional do painel e da sua inserção nas temáticas e problemáticas da
conferência.
$LQGDTXHSRVVDPWHUHQIRTXHVWHyULFRVRXPHWRGROyJLFRVJHQpULFRVRXVHU
baseados em estudos de caso sobre outros países ou continentes, os temas
das comunicações e painéis deverão ser relevantes para os debates e desa-
ÀRVHQIUHQWDGRVQmRVySRU0RoDPELTXHFRPRWDPEpPSRURXWURVSDtVHV
africanos.
$SyVDFRQIHUrQFLD WRGDVDVFRPXQLFDo}HVDSUHVHQWDGDVVHUmRSXEOLFDGDV
na colecção de “Comunicações de Conferências” do IESE, no seu website
(www.iese.ac.mz), desde que os seus autores não tenham, explicitamente,
VROLFLWDGRTXHWDOSXEOLFDomRQmRVHMDIHLWD $OJXPDVGHVWDVFRPXQLFDo}HV
serão, posteriormente, seleccionadas para publicação como capítulos de liYURV
RX DUWLJRV HP UHYLVWDV FLHQWtÀFDV GHSRLV GH GHYLGDPHQWH DMXVWDGDV
pelos seus autores.
Para quaisquer informações adicionais, agradecemos que contactem o IESE
SHORVHQGHUHoRVHOHFWUyQLFRVDFLPDLQGLFDGRV
3UD]RVLPSRUWDQWHVDFRQVLGHUDU
$VXEPLVVmRDR,(6(GRVUHVXPRVGDVSURSRVWDVGHFRPXQLFDo}HVGHYHUi
VHUIHLWDDWp GH-DQHLURGH
$LQIRUPDomRGR ,(6( DRVFDQGLGDWRVVREUH D DSURYDomRGDVVXDVSURpostas
será dada até 15 de Março de 2017 (com a lista a ser publicada no
ZHEVLWHGR,(6(
$ HQWUHJD DR ,(6( GRV WH[WRV GHÀQLWLYRV GDV FRPXQLFDo}HV DSURYDGDV
SDUDDFRQIHUrQFLDGHYHVHUIHLWDDWp GH$JRVWRGH
$Wp GH2XWXEURGH R,(6(LQIRUPDUiRVDXWRUHVVREUHDVFRPXnicações
seleccionadas para publicação como capítulos de livro ou para
VXEPLVVmRDUHYLVWDVFLHQWtÀFDV EHPFRPRVREUHRVSUD]RVTXHRVDXWRUHVWHUmRSDUDDMXVWDUHPHGHVHQYROYHUHPDVFRPXQLFDo}HVGHDFRUGR
FRPRTXHVHMDFRQVLGHUDGRQHFHVViULR
9&21)(5È1&,$,17(51$&,21$/'2
,167,7872'((678'2662&,$,6((&21Ð0,&26 ,(6(
0DSXWR GH6HWHPEURGH
'HVDÀRVGDLQYHVWLJDomRVRFLDOHHFRQyPLFDHPWHPSRVGHFULVH
14 Savana 02-12-2016 Savana 02-12-2016 15
NO CENTRO DO FURACÃO
F
oi aprovada no Parlamento
Moçambicano a lei do Audiovisual
e Cinema.
Finalmente. Depois de uma
longa batalha (8 anos) em que se teve
de vencer alguns preconceitos e hesitações,
decorrentes muitas vezes da
falta de conhecimento sobre as particularidades
em que a produção de
cinema se faz.
Saúde-se, então, o aparecimento deste
instrumento legal. E, com ele, uma
nova fase para o cinema e audiovisual
moçambicano.
Assistimos ao debate, que se realizou
na magna casa, ouvimos as posições
de três comissões da mesma, o debate
da plenária e a aprovação por consenso
(boa!) e obviamente que é com
orgulho que vemos a nossa profissão
ser amplamente discutida num Parlamento.
Nem todos os Países do mundo
se podem orgulhar de darem ao
cinema a importância específica que o
nosso Parlamento lhe deu. Fica-nos,
contudo, algum amargo ao percebermos
que parte dos conceitos básicos
da profissão são mal-entendidos.
5HÁH[mR 2REMHFWLYR
Ouvimos essencialmente dois argumentos:
1) O preenchimento de um
vazio legal que virá agora disciplinar
a produção de cinema e audiovisuais e
2) A possibilidade de arrecadar mais
receitas para o Estado.
Apenas por duas vezes, e de passagem,
ouvimos falar do objectivo essencial
(felizmente ficou expressão
na lei embora não com o destaque
merecido) que é a defesa e aprofundamento
da identidade nacional. Num
País com tantas diversidades étnicas,
sociais e políticas, com o território tão
grande e, essencialmente, ainda tão
jovem, a prioridade continua a ser a
nossa identidade como Nação.
E é na cultura que se pode encontrar
o cimento para essa identidade.
É na construção de uma identidade
nacional, em que todos os moçambicanos
se reconheçam independente
da sua origem, religião, região, raça,
pensamento político etc. que tem de
estar o foco. Ter uma cultura que nos
identifique como Moçambique é tão
importante como ter um Estado, uma
polícia, um exército, como ter estradas,
água, hospitais, etc.
O cinema não pode ser apenas visto
exclusivamente como uma arte é um
mito moderno em que a globalização
pretende colocar os artistas (“façam
lá o que vocês querem desde que não
nos chateiem”) e que infelizmente
tem tido algum sucesso.
Reduzir o objectivo do apoio à produção
audiovisual a um negócio é extremamente
redutor. A cultura, no seu
sentido amplo, é sustentada por uma
ideia nacional que deve ser abrangente:
A luta contra a pobreza é, antes de
mais, uma luta cultural. A luta contra
o HIV é um problema de saúde pú-
blica? É! Mas é também e, essencialmente,
um problema cultural.
Considerando a necessidade de reforço
duma identidade nacional e a
força social do cinema enquanto arte,
percebe-se que nunca é demais um
investimento na área, mesmo que o
seu retorno não se possa fazer numa
simples folha de Excel onde se colocam
despesas contra o outro onde se
colocam as receitas.
5HÁH[mR +LVWyULDH
HFRQRPLDGRFLQHPD
PRoDPELFDQR
A produção de cinema moçambicano
teve altos e baixos, mas a verdade é que
nos anos 80 conseguiu sustentar uma
pequena indústria. Indústria? Digamos
que “uma produção significativa”,
não esperada num País que acabava
de conquistar a Independência.
E, por circunstâncias várias, adquiriu
uma pujança que granjeou a aten-
ção e amizade de cineastas de todo
o mundo ( J.L.Godard, Jean Rouch,
Med Hondo, Santiago Alvarez etc
etc). Procuravam-se novas formas de
comunicar, de alargar à Nação a prática
da guerrilha onde era obrigatório o
contacto da liderança com o povo... e
o cinema foi (logo a seguir à Rádio), o
veículo escolhido para a comunicação
da liderança com o povo, tão cara ao
modelo então implementado.
Naquele período específico, e dada a
imediata ruptura com o cinema comercial
de Hollywood, abriu-se portas
a cinematografias não conhecidas
(americana latina, África, etc.) mais
próximas do modelo do cinema de
autor e dos modos de produção dos
países periféricos. A nacionalização
da distribuição, e da exibição de filmes
(que teve a inteligência de combinar
obras de arte de qualidade com
filmes populares, especialmente os
que agradavam a audiências que nunca
tinha visto imagem em Movimento)
teve grande sucesso de plateia. Estava
ainda muito presente a tradição
das grandes salas que agora passavam
a ser frequentadas pelas camadas mais
desfavorecidas. E onde não havia sala,
havia o cinema móvel.
O cinema, no seu conjunto, chegou a
ser o segundo sector mais lucrativo do
Estado. Talvez isso tenha criado a ilusão
de que os filmes se podiam pagar
pela simples presença dos espectadores
moçambicanos. Os menos conhecedores
não notavam que os direitos
e as cópias eram subvencionados pelo
Estado, que a solidariedade internacional
da altura permitia a circulação
de inúmeras cópias gratuitamente e
que o cinema, sendo o único veículo
de Imagem em Movimento em Mo-
çambique, se encontrava num lugar
privilegiado de atenção por parte do
poder.
Foi essa situação que permitiu a formação
de inúmeros técnicos nacionais,
o desapontar duma geração de
cineastas nacionais, a produção de
inúmeros documentários e a realiza-
ção do célebre Kuxakanema. A propósito:
Como é possível sustentar a
existência de uma nova lei do cinema,
sem referir a produção de cerca
/HLGRFLQHPDHP0RoDPELTXH
de 800 noticiários em película que
constituem um dos maiores acervos
da nossa história?
Com a mudança de rumo político e
o aparecimento da TV, tudo mudou
e o que aconteceu a seguir teve muitas
variantes, mas digamos que o cinema
nunca mais conseguiu voltar a
ter a mesma relevância. Passou, sim,
a procurar-se afirmar como uma representação
do País e como um vector
de identidade nacional. Como era
e é o seu destino. E, nesse aspecto,
com algum sucesso. Fica também um
amargo na boca quando não se ouve,
em nenhum momento, qualquer referência
a obras como “O Tempo dos
Leopardos” e “O vento sopra do Norte”
que representaram amplamente
Moçambique no mundo...
Qual é então a grande novidade para
o cinema desde a mudança política
para a economia de mercado? 1) O
aparecimento da TV e a consequente
deslocação da massa de espectadores
para a caixa mágica ao que se juntou o
aparecimento massivo dos vídeo-clubes;
2) O aparecimento dos produtores
independentes moçambicanos e a
produção de obras que mostram Mo-
çambique ao Mundo, a maior parte
delas financiadas pelo exterior ou pela
comunidade doadora 3) O aparecimento
do fenómeno da pirataria para
a qual contribuíram largamente o sector
público (As TV mostravam filmes
sem qualquer pagamento de direitos)
e 4) Mais tarde, a realização (depois
do Acordo de Paz - curioso que a
relação do cinema com a Paz não tenha
sido abordada) de alguns filmes
de Hollywood em Moçambique, esse
sim, com um forte impacto na arrecadação
de receitas mas que nós, ao
nosso estilo destruidor, acabamos por
afugentar do País.
5HÁH[mR 2PLWRGDHQWUD- GDGHUHFHLWDVFRPDSURGX- omRQDFLRQDO
Se olharmos globalmente, percebemos
claramente uma economia de
escala no mundo do cinema. Todos os
países em que o cinema se paga pelo
espectador, são países acima dos 80
milhões de habitantes. O número é
aleatório, mas é aqui usado para mostrar
que, a não ser que haja uma massa
crítica de espectadores suficientemente
grande, estes não chegam, por
si só, para pagar os custos do filme e
dar lucro. Os preços da mão-de-obra
na China ou na Nigéria são muito
menores do que na Europa..., mas o
número potencial de espectadores é
muito maior.
Ora, mesmo admitindo que tenhamos
um rate de 0,2% de espectadores
(o que é muito baixo), isso daria, em
Moçambique, um número de 50,000
espectadores. O mesmo rate na China
ou na Índia daria 2 milhões e meio.
Ou seja, para um filme de USD$
500,000 por exemplo, teríamos de ter
10 vezes mais espectadores. Mesmo
que haja o compromisso de arrecadar
algumas receitas com os espectadores,
vendas as televisões e DVDs dificilmente
teremos uma situação em que
investir num filme por razões meramente
comerciais seja um negócio
rentável. E de facto, o que se assiste
é que os filmes já estão pagos quando
concluídos.
Não admira que os países onde a produção
nacional do cinema representa
uma realidade económica importante,
são países de grande população: Estados
Unidos, Rússia, China, Índia,
Nigéria, Indonésia, Japão, México,
Alemanha, Egipto, Brasil, Bangladesh
para citarmos alguns. Todos com
mais de 80 milhões...
Moçambique tem menos de um terço.
Não tenhamos, pois, ilusões. O nosso
cinema não gera receitas para atrair
investidores comerciais. Embora sejamos
a favor de uma política de financiamento
que obrigue a que os filmes
sejam mostrados às nossas plateias (ao
contrário do que acontece em muitos
países onde o cinema vive só de subvenções
e esse aspecto é descurado),
não acreditamos que, nos próximos
anos, a produção nacional tenha a ter
significado de peso na arrecadação
de receitas para o Estado. É preciso
compreender isso e não esperar resultados
onde eles não podem, à partida,
aparecer.
5HÁH[mR $SURGXomRHV- WUDQJHLUDHP0RoDPELTXH
Aqui é preciso desde logo, esclarecer
o seguinte: Hollywood pensa cinema
em termos de milhões de dólares.
Em Moçambique fizeram-se parcialmente
4 filmes de Hollywood (Ali,
Diamantes de Sangue, O intérprete e
Generation Kill).
O restante dos filmes produzidos em
Moçambique é produção europeia, alguma
publicidade externa, programas
de TV e, a grande distância, produção
africana. Estas produções raramenFinalmente
Lei, mas é preciso falar de alguns mitos
te ultrapassam os USD$ 2.000.000
(dois milhões) enquanto a produção
de Hollywood, especialmente os blockbusters
são altamente financiados
ficando, por norma, acima dos 50/70
milhões de dólares.
Foi o potencial resultado e a agita-
ção no mercado desses 4 filmes de
Hollywood que levam ao mito das
potenciais entradas massivas de receitas.
Precisamos de ter em conta dois aspectos:
O primeiro decorre da forma
como se produz num mundo globalizado.
As peças dos carros japoneses
são produzidas em Taiwan, as bolas de
futebol na Índia, o hardware do design
italiano na China. Ou seja, quando estamos
a falar de produções de peso, as
grandes companhias vão para onde a
produção fica mais barata. Hollywood
não é diferente.
ALI estava para ser feito no Congo
(onde realmente se passou o combate
do pugilista) e só a guerra trouxe o
filme para Moçambique. DIAMANTES
DE SANGUE era uma temá-
tica africana e os outros dois vieram
um pouco na boleia (Os produtores
africanos que fizeram a ponte eram
a Moonlightning, um empresa sul-
-africana). Generation Kill fez de
Maputo.... a cidade de Badgad e relata
a história das primeiras tropas a conquistar
aquela cidade do Iraque (pois,
no cinema tudo é possível).
O que aconteceu? Houve 400 trabalhadores
(apenas 4 profissionais no
activo na altura, é importante salientar)
a trabalhar no ALI e o filme, na
verdade, só tornou pior a vida dos cineastas
moçambicanos.
Foram os serviços, os hotéis, alfândegas,
despachantes, lojas, os espaços,
os bancos, os alugueres de carros, os
restaurantes etc., que mais beneficiou
do filme. Bem hajam e fizeram bem.
Alguém “comeu” a comissão que deveria
ter ido parar ao Estado para criar
as facilidades de produção (alguém da
Nomenklatura pois claro). ALI beneficiou
Moçambique mas não especificamente
o cinema. Por incúria nossa.
Porque aquilo que os americanos consideraram
“amendoim” nos salários,
era uma fonte de receita significativa
para os moçambicanos. E as pessoas
passaram a ver todos os filmes (viessem
donde viessem) pela mesma bitola.
Lembramo-nos que, na imediata
ressaca, os preços subiram em flecha
mesmo para os produtores nacionais.
Alguém do Conselho Municipal nos
pediu 10,000 dólares por fechar uma
rua bem secundária, num domingo.
A produção do nosso filme era de
20,000.
A galinha ainda nem tinha começado
a dar ovos que se vissem e nós já a tí-
nhamos sufocado.
Nos momentos finais da rodagem
dum desses filmes, estávamos presente
com a produtora sul-africana
quando ela recebeu um telefonema a
falar-lhe de um novo filme. Foi clara
ao telefone: “Em Moçambique já não
vale a pena, vamos para o Botswana!
Estou farta de trazer filmes para aqui
e ser maltratada”.
Pois, o resultado era esperado e a experiência
não é única. No mesmo formato,
galinhas de ovos do ouro foram
“mortas” no Bangladesh, na Argélia,
no Brasil ... Até Portugal, que tinha
os filmes franceses, não resistiu à tentação
e subiu os salários e assim que a
França descobriu que era mais barato
na Hungria e lá se foi o sustento de
inúmeros técnicos lusos.
Hollywood é isso mesmo: Onde é
que é barato, nos dão facilidades e é
“nice”? Vamos para lá! Se deixa de ser
barato e “nice”, se tem de se perder
tempo e dinheiro a subornar polícias
que param constantemente os técnicos
e lhes retiram a carta (o que os
assusta muito e os leva a pagar subornos
elevados), o resultado é previsível:
“vamos para outro lado.”!
A galinha dos ovos de ouro pode produzir
uma boa quantidade de ovos e
ser realmente benéfica quer em termos
nacionais quer empresariais desde
que os nossos compatriotas, embrenhados
na cultura do “come o que
puderes hoje porque não sabes o que
acontece amanhã”, parem de ir comendo
a comida da galinha e depois,
comam a própria galinha!
As autoridades precisam de controlar
esta enorme falta de visão se quiserem
manter atractivo o mercado. Como
em todos os sectores, aliás. Não é isso
que se passa no nosso turismo? O cinema
não é excepção e, pelo contrário,
dado que funciona por obra única, é
muito mais volúvel a permanecer ou
sair.
Já agora: Já fizemos contas: Se o meu
próximo filme receber o financiamento
internacional que, espero, vai-me
ficar mais barato e com muito melhor
resposta técnica, mesmo levando
comigo os actores todos de Moçambique
... se eu o fizer... na Croácia!
Como se passa todo dentro duma
fábrica não há problema nenhum
porque será como se fosse em Mo-
çambique e isso é muito frequente no
mundo de cinema (Maputo a fazer de
Bagdad ou de Brazzaville como indicámos).
No exemplo, existe um pormenor interessante:
A Croácia aceita subvencionar
filmes estrangeiros que sejam
rodados no País. Sim, leram bem: O
País paga para irem lá filmar! E, se
pensarem bem, a ideia é genial: subvenciona-se
o produtor em cerca de
80,000 dólares o que corresponde a
10% dum filme de médio/baixo orçamento
na Europa. E se os produtores
decidirem ir lá filmar, gastarão no
mínimo 200.000 no País em logística,
pessoal, equipamentos, hotéis, transportes
etc. etc. Negócio bom para o
País, pois claro!
Curioso, não é? Resultados? Grandes
séries internacionais foram filmadas
lá, o cinema croata está pujante e, de
facto, as receitas de cinema contam no
orçamento...
Com uma pequena diferença que é
essencial: tiveram a sagacidade de investir
na galinha, dar-lhe espaço, comida,
tratar dela, deixá-la crescer até
que ela começou a produzir os ovos
de ouro.
5HÁH[mR 2PLWRGRFRQWUR- ORGRFRQWH~GRGRVÀOPHV
Este é um outro grande mito que ouvimos
na magna casa: os produtores
nacionais são obrigados a “procurar
co-produções estrangeiras com o consequente
controlo dos conteúdos.”
Sejamos honestos: ninguém dá dinheiro
de borla e é evidente que existem
temáticas mais atractivas para
os júris do que outras e essas podem
não corresponder às prioridades mo-
çambicanas. Embora, na Europa por
exemplo, a temática africana esteja
cada vez mais presente...
Mas, controlo sobre os conteúdos?
Por favor, em geral, a liberdade de
3RU6ROGH&DUYDOKR
expressão na Europa é muito mais
avançada do que em África. Na Fran-
ça, por exemplo, o autor deve assinar
uma declaração dizendo que o filme
corresponde ao que ele pensou e quer,
ou seja, é ele que tem a última palavra
sobre o conteúdo. É o direito ao
Final-Cut imortalizado na célebre
música dos Pink Floyd.
Em Moçambique, resultado dum
período onde os conteúdos eram realmente
censurados, existe uma forte
tendência do poder e do público, em
geral, de discutir sempre como é que
um filme deveria ser politicamente
correcto, apresentando sistematicamente
outros temas e ideias que
acham que deveriam ser considerados.
Abre-se assim espaço à vontade
da proibição e à ideia de que é possí-
vel fazer filmes satisfazendo todos os
pontos de vista.
Esquecem-se duas coisas: a primeira
é científica e um princípio geral da
comunicação que diz que “qualquer
reprodução da realidade é sempre,
necessariamente, parcial.” A segunda
é que os bons filmes contam histórias
que obedecem a princípios de narrativa,
de interpretação da história, da
força da imagem e do som. Têm um
tempo limitado no seu próprio formato.
São filmes, não discursos polí-
ticos.
Se fôssemos a atender às necessidades
do “politicamente correcto” teríamos
de fazer filmes de 10 horas para poder
avaliar todos os ângulos do tema que
apresentamos. E ainda assim continuaríamos
a ser parciais...
5HÁH[mR 2PLWRGRVXVRV
HFRVWXPHV
Ouvimos ainda defender, com veemência,
algo que está no corpo da lei
e que poderá a vir a suscitar enormes
problemas de interpretação no futuro.
Trata-se da frase que indica que os
produtores “devem respeito pela moral
e pelos usos e costumes.”
Temos de perguntar: Quais usos e
costumes? Os descritos no livro do
Junod sobre os bantus? Os que são
indicados por um grupo religioso? Os
que são indicados pelo governo? Os
que são indicados pelas autoridades
locais que falam disso para receberem
um suborno e depois autorizarem?
Se fizermos uma interpretação directa,
podemos fazer a pergunta: fazer
um filme contra o lobolo é fazer
um filme contra os usos e costumes
dos moçambicanos... e por isso deve
ser punido por lei? Estamos a exagerar
mas, em tese, a lei poderia ser
interpretada assim. O facto de haver
uma luta contra certas tradições não
faz com que elas deixem de ser tradições...
Não somos inocentes e é claro que os
próprios legisladores têm vergonha de
assumir que a questão é a da nudez,
na ideia de que mostrar uma cena artística
com nudez vai tornar a nossa
sociedade mais imoral.
Já basta a chacota dos jovens do País
sobre as midi-saias das escolas como
se o problema da corrupção sexual
fosse provocado pelas alunas (que na
verdade são mais vítimas de que perpetradoras).
Estamos a negar a existência da necessidade
duma sociedade regular sobre
o assunto? De forma alguma: aliás, é
um tema já discutido e consensualizado
numa grande maioria dos países...
ainda bem que a lei já aborda esta
questão, obrigando ao regulamento
da classificação dos espectáculos e
criar formas de responsabilização dos
cidadãos perante as crianças.
Há que haver uma classificação etária
dos espectáculos e os pais não podem
fugir à sua responsabilidade sobre o
que podem ou não podem ver os seus
filhos. Então que o Estado assuma
isso, estabeleça as regras.
5HÁH[mR 8PTXDUWRGRV
FRQWH~GRVQDFLRQDLVGD79"
Mais um mito: Vamos considerar,
para facilitar a compreensão que longas
metragens terão uma média de 90
minutos e que telefilmes terão uma
média de 56 minutos ( o que é considerado
“uma hora televisiva”
A TVM transmite todo o dia, mas
imaginemos que são apenas 16,00
horas por dia.
Ora, os longas metragens de Moçambique
não são mais do que 20 mesmo
se incluirmos as coloniais o que dá
aproximadamente 30 horas de programação.
Ou seja, em longas-metragens
de ficção, a um quarto do tempo
como indica a lei, teríamos programa-
ção para cerca de … oito dias!
Documentários e outros feitos em película,
são mais. Não temos uma lista
definitiva (algo que com esta lei esperamos
que vá mudar) mas certamente
não ultrapassam os 48 o que dá cerca
de ...48 horas de programação... sendo
que um quarto daria... 12 dias!
Por outras palavras, a realidade concreta
é que, neste momento, a produção
nacional de filmes dará para
sustentar cerca de 20 dias de programação.
Isto no que respeita a “obras
cinematográficas”.
Se considerarmos o conceito de “obras
audiovisuais” como um conceito mais
abrangente e que envolva todas as reportagens
assinadas e todas as outras
obras de autor feitas primordialmente
para televisão, é claro que o número
aumenta.
Mas não podemos voltar a cair no logro:
A transmissão de jogos de futebol,
programas em directo, talks shows
e programas de entretenimento puro
(concursos, etc) não se enquadram na
categoria de obras audiovisuais e não
podem, por isso, ser contabilizadas.
Na presente lei, um dos aspectos mais
positivos foi precisamente a identificação
do conceito de obras cinematográficas
e audiovisuais (feitas para
exibição em sala ou na televisão, mas
ambas obras de arte) deixando para
uma lei própria, que se faz necessária,
a regulamentação sobre a produção
geral de conteúdos nas TVs.
Sustentar um quarto da programação
com obras de cinema e audiovisuais
nacionais? Para podermos aproximar-
-nos desta decisão terá de se mudar
o paradigma das TVs nacionais e
estas sejam colocadas também como
financiadoras da produção de cinema
e obras audiovisuais como, aliás,
acontece em quase todo o mundo. A
lógica da produção de imagem em
Movimento passa maioritariamente
pela programação televisiva e isso é
amplamente reconhecido.
Não vale a pena gritar por uma programação
nacional ou africana nas
TV se não preparamos estas para ter
condições de financiar a produção de
conteúdos nacionais.
É aqui que entram outros actores.
Entendemos que as concessões às
operadoras de Cabo e telefónicas,
uma vez que são produtoras de conteúdo,
deveria incluir uma taxa obrigatória
destinada à produção nacional
para cinema e televisão. O que faria
todo o sentido.
A lei ora aprovada deixou de fora esta
possibilidade e não sabemos até que
ponto se poderá vir a legislar sobre
o assunto num futuro breve. Mas é
necessário começar imediatamente
o debate sobre este assunto uma das
poucas formas de viabilizar o postulado
na lei.
Nova lei do Cinema? Saúde-se. Não
existam dúvidas que se espera um
impulso à produção nacional especialmente
se for concretizado o que
foi dito na comunicação social sobre
os fundos destinados à mesma. 35
milhões de meticais, atribuídos com
critérios que permitam apoios aos
consagrados, aos jovens iniciantes, à
ficção e ao documentário constitui,
num País com tantas dificuldades,
uma lufada de ar fresco.
Acreditamos que vão existir ainda
outras dificuldades que não couberam
no espaço desta reflexão, e que
nos preocupam seriamente como seja
o caminho da formação (pouco referido
na lei) de uma nova geração de
cineastas, a questão das facilidades de
rodagem entre outras.
Existe um enorme potencial de histórias
a serem contadas, nos seus mais
variados formatos e existem talentos
quer de realização, de interpretação e
técnicos que poderão vir a responder
às necessidades.
Mas não é algo que nos caia do céu.
Não basta ter aparecido em frente
duma câmara e ter “jeito”, para fazer
duma pessoa um actor. Para isso se faz
uma escola superior de alguns anos.
Não vale a pena esperar que o talento
apareça não se sabe de onde só pela
existência duma lei.
Imagino que nos próximos tempos, o
debate se aprofunde e sejamos realistas
nos objectivos, lógicos nas posturas
e que comecemos o enorme trabalho
que temos pela frente.
O que já é de mérito nos tempos que
correm.
*Realizador de cinema. Versão adaptada
pelo jornal SAVANA
16 Savana 02-12-2016 PUBLICIDADE SOCIEDADE
No âmbito do dia 1 de Dezembro, dia mundial de
combate ao HIV e Sida: As pessoas Idosas apelam
a sua participação, reconhecimento e inclusão nas
políticas públicas e nas acções concretas de combate
a epidemia.Todos anos, a nível mundial, celebra-se
o dia 1 de Dezembro, dia mundial da luta
contra o HIV e SIDA. Com objectivo de reforçar a
o A pessoa idosa representa cerca de 6% da população total do país;
o Há fragilidade do governo na produção de dados estatisticos actuais sobre
a prevalência do HIV/SIDA na pessoas com 60 anos e mais;
o É necessário romper com a percepção de que as pessoas idosas são assexuais
e por esta via, são imunes a infecção pelo HIV/SIDA;
o Nota-se ausência total da pessoa idosa no PEN IV na referencia dos
grupos vulneráveis, especialmente na sua capacidade de cuidadores de
órfão e de doentes;
o O PEN IV fragiliza-se por excluir do seu grupo alvo, os provedores de
cuidados de pessoas vivendo com HIV/SIDA, dos quais a pessoa idosa
surge no primeiro plano.
esperança de todos aqueles que estão envolvidos na
erradicação da epidemia,em Moçambique as pessoas
idosas, juntar-se-ão a milhares de pessoas idosas
a nível mundial para celebrar a data, sob o lema
“Por amor à vida, eu protejo-me do HIV/SIDA”.
Resultados do relatório do INSIDA(2009), mostram
a taxa de prevalência de 11.5% entre a população
adulta moçambicana, bem como 9% e 8% respectivamente
para mulheres e homens com 50 ou mais
anos de idade, o que comprova que as pessoas idosas,
correm o mesmo risco de se infectarem assim
como os outros grupos etários.
Muitos avanços foram feitos, com vista a erradicar
e ou reduzir as infecções do HIV/SIDA em Moçambique.
A nível de políticas publicas e/ou documentos
orientadores de combate a pandemia, o destaque
vai para o registo do quarto plano estratégico
de combate ao SIDA(PENIV) sob égide Conselho
Nacional de Combate ao SIDA(CNCS). Entretanto,
o Plano Estratégico de Combate ao HIV/SIDA (PENIV,
2015-2019) é bastante omisso quanto ao reconhecimento
e valorização do papel da pessoa idosa
na resposta ao HIV e SIDA em Moçambique, por
exemplo, este documento orientador não faz men-
ção explícita das pessoas idosas como parte da população
chave ou vulnerável em face dos factores
sociais, culturais, económicos e políticos que as tornem
mais susceptíveis á condição de infectadas
e afectadas pelo HIV e SIDA.
Outrossim, apesar considerar de forma implicita
que pretende melhorar a qualidade de vida
das PVHS e a minimização dos impactos negativos
associados ao SIDA nos sectores de actividade
e na família, o documento marginaliza
os provedores de cuidados de pessoas vivendo
com HIV/SIDA, dentre eles a pessoa idosa que
surge como cuidadora no primeiro plano.
Os Idosos também contrãem o HIV/SIDA
Os idosos podem também contrair HIV/SIDA,
mas as estatísticas existentes só se referem normalmente
às pessoas entre os 15 e os 49 anos
de idade. Contudo, os idosos são muitas vezes
ainda sexualmente activos e enfrentam outros
riscos, tais como transfusões de sangue não seguras
assim como pelo seu trabalho como provedores
de cuidados. Neste sentido, devido aos
estereótipos e tabus, os programas de informa-
ção e educação sobre HIV/SIDA não incluem
as pessoas idosas. Contudo, se estiverem bem
informadas sobre esses riscos e a forma de os
evitar, podem ajudar a proteger-se a elas pró-
prias e às crianças ao seu cuidado e outros na
comunidade.
Assim, as pessoas Idosas de todo Moçambique,
apelam a quem de direito:
$VXDLQFOXVmRFRPRDFWRUHVFKDYHQDUHVSRVta
ao HIV/SIDA;
$VXDPHQomRH[SOtFLWDSHORPHQRVFRPRID-
]HQGRSDUWHGHSRSXODomRYXOQHUiYHODR+,9
e SIDA.
2 VHX UHFRQKHFLPHQWR FRPR FXLGDGRUHVGH
FULDQoDVyUImVHYXOQHUiYHLVHSHVVRDVDGXOWDV
GRHQWHV YLYHQGR PDLRULWDULDPHQWH HP
FRQGLo}HVGHSREUH]DH[WUHPDH RXYXOQHUDbilidade
e como tal constituindo potenciais
EHQHÀFLiULRVGRVLVWHPDGD6HJXUDQoD6RFLDO
%iVLFD
'HVDJUHJDomRGHGDGRVSRUVH[RHLGDGHH[-
WHQVLYDDRJUXSRHWiULR GHIRUPDDWHU-
VHXPDGLPHQVmRH[DFWDVREUHFRPRDHSLGHPLDDIHFWDDVSHVVRDVLGRVDV
Para mais informações, por favor contacte Forum
da Terceira Idade, Sr. Julião Matsinhe +258
828497400 ou 21400031.
Taxa de prevalência do HIV/SIDA na pessoa
idosa é de 8.5%. INSIDA (2009)
Questões chave a considerar
Savana 02-12-2016 17 PUBLICIDADE SOCIEDADE
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3HORPHQRV DQRVGHH[SHULrQFLDGHWUDbalho
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3URIXQGRVFRQKHFLPHQWRVGHDERUGDJHQV
baseadas em direitos humanos com enfoque
para assuntos de género
'RPtQLR GH FRPSXWDGRUHV 06 :RUG
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(indispensávelmente)
([FHOHQWHVKDELOLGDGHVGHFRPXQLFDomRH
organização de eventos
([SHULrQFLD GH WUDEDOKR FRP RUJDQL]D-
ções não governamentais
Os/as inteteressados/as deverão enviar
os seus CV’s, acompanhados de
carta de apresentação, para o seguinte
endereçoelectrónico:simposiomea@gmail.
com
Os termos de referência detalhados podem ser
solicitados pelos mesmos endereços.
A data limite da entrega de candidaturas é 3
de Dezembro de 2016
Importante: só serão contactados/as , os/as
candidatos/as pré-seleccionados/as.
$1Ô1&,2'(9$*$
18 Savana 02-12-2016 OPINIÃO
Registado sob número 007/RRA/DNI/93
NUIT: 400109001
Propriedade da
Maputo-República de Moçambique
KOk NAM
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Abílio Maolela
)RWRJUDÀD
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Colaboradores Permanentes:
Fernando Manuel, Fernando Lima,
António Cabrita, Carlos Serra,
Ivone Soares, Luis Guevane, João
Mosca, Paulo Mubalo (Desporto).
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Aunício Silva (Nampula)
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António Munaíta (Zambézia)
Maquetização:
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Hermenegildo Timana.
Revisão
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admc@mediacoop.co.mz
Administração
www.savana.co.mz
EDITORIAL Cartoon
F
idel foi-se temeroso do retorno
em força dos norte-americanos,
Raúl aguarda temendo
entraves de Washington às
relações comerciais e o que fizer
Trump marcará a fase derradeira do
castrismo.
O “evento biológico” deixou um
símbolo gasto, ainda que passível
de alimentar alentos nacionalistas
e anti-norte-americanos, na altura
em que Trump agrava a incerteza
provocada pela perda dos subsídios
venezuelanos.
O colapso soviético devastou o socialismo
cubano no início da década
de 90, com uma quebra do PIB
superior a 30% nos primeiros anos
e a defenestração ideológica do comunismo.
A chegada de Hugo Chávez ao poder
em Caracas, em 1999, deu novo
fôlego ao castrismo.
Perdida a capacidade de projecção
de força, com pontos altos nas intervenções
militares em Angola e
na Etiópia, Havana reconverteu-
-se, entretanto, em exportadora de
mão-de-obra médica para alimentar
a imagem de solidariedade internacionalista
como contrapartida
a subsídios e contratos vantajosos
para o Estado.
Cuba passou a viver por conta do
petróleo venezuelano e as Forças
Armadas firmaram-se como corporação
dominante com interesses
nos sectores do turismo, agricultura,
exploração de níquel, transportes e
comunicações, controlando cerca
de 90% das receitas de exportação e
60% do turismo.
A abertura parcial a pequenos negócios
privados e a parcerias para
investimentos estrangeiros aproveitada
inicialmente, sobretudo, por
empresas espanholas, canadianas,
francesas e brasileiras ajudou a criar
emprego à margem do sector estatal
para cerca de 20% da mão-de-obra.
Desde 2014 o capital estrangeiro
pode deter 100% do investimento
(privilégio reservado anteriormente
a empresas estatais da Venezuela),
mas a contratação de pessoal tem de
processar-se através de uma agência
governamental.
Uma Zona Especial de Desenvolvimento
em Mariel, nas imediações
de Havana, procura atrair investimento
além do sector turístico, e
as autoridades cubanas afirmam ter
conseguido captar nos últimos dois
anos 1,3 mil milhões de dólares.
Obama ao normalizar relações
diplomáticas em 2015 e usando
prerrogativas presidenciais para ultrapassar
objecções do Congresso
abriu horizontes para o incremento
das relações bilaterais e o retorno
do predomínio económico norte-
-americano.
Esta semana começaram rotas áreas
regulares e directas de companhias
norte-americanos dos Estados Unidos
para Havana.
É, assim, alargada a oferta que se
limitava desde o início de 2016 no
caso da American Airlines a Camagüey,
Cienfuegos, Holguín, Santa
Clara e Varadero, e baixam os preços
para 200 e 100 usd comparados com
os cerca de 500 usd habitualmente
praticados pelos voos “charter” permitidos
desde 1979.
As empresas estado-unidenses do
sector agro-pecuário, por sua vez, ao
abrigo de uma cláusula humanitária
introduzida em 2001 tornaram-se
rapidamente no maior fornecedor
de géneros agrícolas e produtos alimentares
a Cuba e contestam o embargo
comercial velho de 55 anos.
Trump terá de optar entre pressão
política sobre Havana prejudicial
para interesses económicos norte-
-americanos ou alinhar com os
radicais anticastristas entre os 1,2
milhões de cubanos concentrados
em Miami do senador republicano
Ted Cruz.
Sem alívio de nota na repressão
que, após uma vaga de prisões em
2003, levou à morte em greves de
fome de protesto de Orlando Zapata
Tamayo (2010) e Wilman Villar
(2012), abre-se uma porta para novo
confronto contestando as concessões
de Obama.
Havana continua, por seu turno, a
justificar o baixo nível de vida pelo
bloqueio norte-americano e justifica-se
por comparação com outras
misérias das Caraíbas e da América
Central, omitindo avanços de estados
latino-americanos que tenham
superado os índices de desenvolvimento
e bem-estar de Cuba desde
1959.
A indiferença ideológica da população
é notória tanto nas formas de
protesto musicais como no recrudescimento
dos cultos tradicionais
da “santería” e politicamente o regime
está enquistado na dominação
da clique militar onde pontificam
veteranos como os generais Álvaro
Miera e Leopoldo Frías ou Luís
López-Calleja, genro de Raúl e supervisor
dos interesses económicos
das forças armadas.
Sem Fidel, os comunistas de Havana
aguardam o embate de Trump e
têm muito a perder se secarem as
remessas de exilados e expatriados
e Washington apertar a tarraxa a
empresas norte-americanas e obstaculizar
investimentos estrangeiros
em Cuba.
*Jornalista
O
contraste entre as imagens de cidadãos cubanos com um semblante
carregado e prestando homenagem ao único líder que conheceram
durante quase cinquenta anos, e outra de indivíduos empunhando
bandeiras cubanas, em caravanas celebrativas nas artérias da cidade
norte americana de Miami, na Flórida, é o testemunho de um Fidel Castro,
por um lado, reverenciado pelos seus admiradores, mas, por outro, visceralmente
odiado pelos seus opositores.
São duas histórias reais, que permanecerão sobre um homem que marcou
profundamente o panorama político mundial da última metade do século
XX.
De um lado a história de um revolucionário que lutou para libertar o seu país
e reafirmar a independência do seu povo, confrontando, quando tal se tornou
necessário, o elefante vizinho que para Cuba sempre foram os Estados
Unidos da América.
No outro extremo, um ditador que durante 47 anos se impôs no poder com
um punho de ferro, combatendo e reprimindo todas as forças que lhe eram
opostas.
Durante todos os anos em que Fidel Castro esteve no poder, nunca se sujeitou
ao voto popular. E quando em 2006 se sentiu incapacitado de continuar
a dirigir o país, escolheu o seu irmão Raul, para o substituir. Nenhuma outra
força política, para além do Partido Comunista, está autorizada a contestar
o poder em Cuba. As liberdades individuais só são permitidas se forem para
exaltar os feitos da revolução e dos seus líderes.
Opositores da revolução de 1959 foram extinguidos por pelotões de fuzilamento
ou viram-se obrigados a partir para o exílio, onde alguns continuam
vivos até aos dias de hoje. Centenas de outros, incluindo jovens mais ambiciosos
e inconformados com a repressão interna, seguiram o mesmo destino.
Foram alguns destes, ou seus descendentes, a maioria deles agrupados em
Miami, que comemoraram a morte de Fidel Castro como um importante
marco na história do seu país, encarando-a mesmo como o início da possibilidade
do país vir a iniciar a sua longa caminhada pela democracia.
É difícil reunir consenso sobre o percurso político de Fidel Castro. Mas mesmo
nessa situação, é impossível negar o seu estatuto como uma figura que
influenciou muito o mundo político em que vivemos.
Em contraste marcante com o tamanho do seu país, uma pequena ilha imersa
no Mar das Caraíbas, Fidel Castro distinguiu-se pelo seu inconformismo
perante a versão ocidental de democracia e direitos humanos, colocando-se,
no seu entendimento, do lado dos povos oprimidos que lutavam pela sua
independência.
Apesar dos magros recursos de que o país dispõe, em grande parte resultado
do bloqueio económico imposto há décadas pelos Estados Unidos, os cubanos
gozam de uma qualidade de vida que deve constituir inveja para a maioria
dos cidadãos de muitos países africanos e do Terceiro Mundo agraciados
com imensos recursos naturais. A educação e a saúde são disponibilizadas
gratuitamente pelo Estado, e pelo menos 85 por cento dos cubanos tem
habitação própria.
Fora de Cuba, foi em África onde o espírito de solidariedade internacional
de Fidel Castro se fez sentir com maior intensidade; oferecendo oportunidades
de ensino e de formação a milhares de jovens africanos em escolas
cubanas, e enviando equipas médicas para ajudar a colmatar carências básicas
nos serviços nacionais de saúde do continente.
Em Angola, a intervenção cubana na guerra civil ajudou a impor o MPLA
como a força que viria a tomar o poder depois da independência, em 1975.
Para além do MPLA, a luta pela independência de Angola teve como protagonistas
a FNLA, dirigida por Holden Roberto, e a Unita, liderada por
Jonas Savimbi.
Depois de tentativas fracassadas para que os três movimentos partilhassem
o poder como parte de um processo de transição para a independência, Cuba
interveio com uma força militar de mais de três mil homens, apetrechados
com equipamento bélico soviético, contribuindo assim para obliterar os dois
outros movimentos nacionalistas. A FNLA desapareceu completamente,
mas a Unita viria depois a aliar-se ao regime do apartheid na África do Sul,
que ocupava ilegalmente a Namíbia, e como parte da matriz da guerra fria,
com o apoio americano continuaria com uma guerra que só terminou com a
morte de Savimbi em 2002.
Foi em parte resultado da intervenção cubana em Angola que o regime do
apartheid na África do Sul tornou-se conformado com a inevitabilidade da
independência da Namíbia, e começou a encarar com algum realismo a necessidade
de pôr fim ao sistema de segregação racial na própria África do
Sul.
Cuba pode não ser o modelo de democracia e de prosperidade económica
que muitos países africanos e do Terceiro Mundo pretendem seguir, mas a
imagem de um Fidel Castro preocupado e empenhado com a sua liberdade e
desenvolvimento é o factor que torna o líder da revolução cubana num herói
também para os povos destes países. E é por isso que choram a sua morte.
Como Fidel Castro se
tornou herói em África
Cuba à espera de Trump
Por João Carlos Barradas*
Savana 02-12-2016 19
Por: Carlos Pedro Mondlane - Juiz de Direito
OPINIÃO
505
Email: carlosserra_maputo@yahoo.com
Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com
Ela chama-se Juliana.
Aparenta oito anos de idade.
É estudante.
Alegre.
Encantadora.
Porém, o que mais se sabe dela é que
é seropositiva. Pois é. A Juliana é
HIV mais.
Famosa por aparecer com o seu ar
inocente a manifestar ante o mundo
a sua condição serológica, ei-la em
spots publicitários na tv e em outdoors
um pouco por toda a Cidade
de Maputo. Para tanto, junta-se às
celebridades do burgo como os mú-
sicos Roberto Chitsondzo, Flesh,
Neyma e até a Ministra da Saúde
com quem se envolve em beijos,
abraços e carinho.
Pronto!
A Juliana é seropositiva e parece
uma coisa boa...
*
Quando a Fundação Clarice Machanguana
avançou com o propó-
sito de encontrar pessoas reais e
mostrar que o HIV/SIDA é um mal
como qualquer outro, não poderia
ter sido mais atilada na escolha. Um
homem. Uma mulher. Uma criança.
Pessoas comuns com aspecto saudá-
vel a viverem com o vírus e mesmo
assim a desenvolverem quaisquer
actividades quotidianas como o estudo,
trabalho, criação física e intelectual.
A ideia basilar é de que nada justifica
quaisquer laivos de discriminação
contra as pessoas, nomeadamente
por razões de doença. E entre as
doenças, os portadores de HIV/
SIDA merecem tratamento igual
ao de quaisquer outras pessoas, contrariamente
a tese segundo a qual a
seroprevalência é um estado de vergonha.
As nossas leis, precisamente para
evitar o estigma e a consequente
discriminação, preceituam que ninguém
é obrigado a revelar o seu estado
de seroprevalência. É só ver, a
título meramente ilustrativo, a Lei
de Protecção da Pessoa, do Trabalhador
e do Candidato a Emprego
Vivendo com HIV/SIDA, aprovada
pela Lei n.º Lei n.º 19/2014, de 27
de Agosto, quando estabelece que
os profissionais vivendo com HIV/
SIDA gozam do direito à confidencialidade
sobre a sua condição de
seropositivos no local de trabalho
ou fora dele. Nenhum trabalhador
deve ser obrigado a informar ao patrão,
relativamente ao facto de estar
infectado com HIV/SIDA, salvo
em caso de consentimento livre e
expresso do trabalhador. A Lei sanciona
com pena de multa que varia
entre cinco a vinte salários mínimos
e indemnização em igual valor a favor
do ofendido, a quem, tendo tido
conhecimento do estado serológico
de alguém, o revelar a terceiros.
O Estado dedica assim uma protec-
ção integral para qualquer pessoa
vivendo com HIV/SIDA, sobretudo
os pertencentes a algum grupo
considerado vulnerável ou marginalizado,
de gozar do direito à protecção
contra discriminação sobre a
sua condição de seropositivo e vulnerabilidade
na escola, no bairro, no
local do trabalho ou fora dele.
A ratio essendi deste normativo é,
precisamente, proteger a imagem, a
honra e o bom nome das pessoas. É
um direito que assiste ao portador
de HIV/SIDA, o de querer ou não
querer que outras pessoas saibam do
seu estado serológico.
Um adulto, em pleno gozo das suas
capacidades intelectuais, poderá de
forma livre, deliberada e consciente
se expor para o mundo. Poderá fazê-
-lo como forma de quebrar o silêncio
e deste modo inspirar outros a
“saírem do armário”. Afinal o HIV/
SIDA é uma doença como outra
qualquer e é desejável que os portadores
se não escondam ante a comunidade
onde estão integrados. Pelo
menos é forçoso que se apresentem
junto dos familiares e amigos mais
chegados.
Se o adulto chega a consentir na
utilização pública da sua imagem
a ligá-lo a esta pandemia secular, o
mesmo já não se pode aceitar para
uma criança. A criança não tem capacidade
para consentir. Não sabe
discernir com profundidade o certo
do errado. Não é capaz de avaliar a
fundo as consequências dos seus actos.
O que no seu pensamento hoje
pode se afigurar de seu interesse,
amanhã poderá não sê-lo e muitas
vezes a repercussão e as consequências
dos seus actos podem deixar
marcas indeléveis pelo dano físico
ou moral provocado.
Justamente por levar em conta
esta condição particular da criança
como pessoa em desenvolvimento, a
Constituição da República estabelece
no seu artigo 46.º a necessidade
de que qualquer acto a ela respeitante
dever ser perscrutado em função
do seu “superior interesse”.
O superior interesse da criança
constitui, aliás, um dos princípios
mais importantes quer da Conven-
ção das Nações Unidas sobre os
Direitos da Criança, adoptada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas
a 20 de Novembro de 1989, e
ratificada por Moçambique através
da resolução n.º 19/90, de 23
de Outubro, quer da Carta Africana
dos Direitos e Bem-estar da
Criança, aprovada pela 26ª sessão
ordinária da Assembleia dos Chefes
de Estado e de Governo da OUA,
através da resolução n.º 20/98, de 2
de Junho de 1998, e desde então se
tem tomado as medidas necessárias
para garantir melhor protecção dos
direitos da criança.
A Lei n.º 7/2008, de 9 de Julho,
aprova a Lei de Promoção e Protec-
ção dos Direitos da Criança e define
o superior interesse da criança como
“tudo o que tem a ver com a defesa e
salvaguarda da sua integridade, identidade,
manutenção e desenvolvimento
são e harmonioso”.
A mesma Lei consagra o dever da
família, da comunidade e do Estado
na protecção integral da criança
com vista ao seu superior interesse.
Ou seja, da consagração da criança
como pessoa em desenvolvimento,
devem retirar-se dois aspectos
essenciais: por um lado, o dever
inquestionável da sua garantia por
parte do Estado e da comunidade
e, por outro lado, o dever dos pais
na orientação dos filhos no exercício
dos seus direitos de uma forma que
corresponda ao desenvolvimento
das suas capacidades.
Sobre a exploração publicitária da
imagem da criança, o Decreto n.º
38/2016, de 31 de Agosto, que aprova
o Código de Publicidade, rege,
genericamente, que a publicidade de
ou voltada para a criança deve atender
a relação directa entre ela e o
produto ou serviço veiculado. Deve,
ainda, garantir segurança e transmitir
princípios de comportamento
social não reprovável.
O que o Código de Publicidade
não diz é que a publicidade que use
um menor como actor deve atender
ao seu superior interesse. Não
precisa, porém, de dizê-lo. Tanto a
Constituição da República, como
os instrumentos jurídicos do direito
internacional ratificados por
Moçambique, bem assim a Lei de
Promoção e Protecção dos Direitos
da Criança postulam que quaisquer
actos envolvendo a criança devem
atender sempre o seu superior interesse.
A exploração publicitária da imagem
de uma criança deve, por isso,
como não podia deixar de ser, atender
ao seu superior interesse. A imagem
de uma pessoa é a sua representação
externa tanto no aspecto físico
como moral. É um bem de personalidade
que merece tutela do Direito.
Pergunta-se, então, a quem serve
explorar a imagem de uma criança
identificando-a como seropositiva?
Ao Estado interessa mostrar o seu
comprometimento na luta contra
este mal, evidenciando políticas,
tratamento e tudo quanto visa debelar
o HIV/SIDA no nosso meio.
De certo modo, é esta a finalidade
prosseguida pelas instituições da sociedade
civil que procuram desmistificar
a “doença do século”.
Os pais, os amigos e as figuras pú-
blicas envolvidas são remuneradas
para permitirem a exploração das
suas imagens a disseminar junto da
população que qualquer um pode
ter a doença e nem por isso desmerece
tratamento igual.
Dúvidas temos em relação à criança.
É pouco provável que uma criança
de oito anos saiba o que significa ser
seropositiva. Para ela a valia da publicidade
é unicamente a de puder
conhecer a cantora Neyma e outras
figuras públicas e desfrutar de fama
junto dos amiguinhos. Não é qualquer
um que priva com pessoas que
só vê através da televisão.
Sobre a publicidade tratar de identificar
um portador de HIV/SIDA é
pouco crível que a criança tivesse ci-
ência profunda das suas implicações.
A fragilidade da criança facilita a
indevida exploração da sua imagem.
É a fragilidade da criança que
facilita a introdução em causas que
não se revelam necessariamente do
seu interesse. Daqui a alguns anos
não se arrependerá a criança de ter
sido usada em publicidade de estado
que provoca estigma social. Não se
constrangerá quando quiser casar e
o noivo sentir-se embaraçado pelo
conhecimento público que se tem
do estado da sua consorte?
É de se concluir, então, que a publicidade
serve a qualquer um, menos a
própria criança.
O que a lei diz é que não é o interesse
dos pais da criança, da agência de
publicidade, da entidade contratante
promotora da luta contra o HIV/
SIDA ou do Estado que relevam.
Estas entidades todas têm os seus
interesses, mas não são necessariamente
o interesse da criança.
Os pais não devem permitir, sob
pena de grave omissão do dever
de protecção dos filhos menores, a
colocação destes em actos que se
revelem, no imediato ou no futuro,
nefastos para a sua imagem, bom
nome e consideração. Não devem
permitir a exposição da imagem da
criança sempre que a medida possa
constituir um embaraço futuro e
previsível, sobretudo na amostra de
uma doença que é vista socialmente
como vexatória e que, a longo prazo,
poderá estigmatizá-la como portadora
de um vírus de que a maior
parte dos portadores tem vergonha
e receio de admitir.
A peculiar condição da criança exige
por isso dos pais, dos profissionais
da comunicação social, dos agentes
publicitários, das pessoas jurídicas
que se dedicam a luta contra o HIV/
SIDA e das entidades governamentais
de tutela que zelem sempre pela
preservação do seu bem estar. Qualquer
possibilidade de dano ao seu
nome, imagem ou reserva sobre a
intimidade, presente ou futuro, deve
descartar a acção. Neste sentido, vid.
Gustavo Tepedino, A Disciplina Jurídica
da Filiação na Perspectiva Civil-Constitucional,
Temas de Direito
Civil, Renovar, Rio de Janeiro, 1999,
pp. 417 e segs.
É legítima a intervenção quando os
pais, o representante legal ou quem
tenha a guarda de facto ponham em
perigo a segurança, saúde, forma-
ção, educação ou desenvolvimento
da criança ou quando esse perigo
resulte de acção ou omissão de terceiros
ou da própria criança a que
aqueles não se oponham de modo
adequado a removê-lo. Neste caso, a
sociedade tem o dever de prevenir,
como indivíduo ou como colectividade,
a ocorrência de ameaça e, mais
que isso, assegurar o afastamento do
perigo que afecte ou possa afectar
a estabilidade física e psíquica da
criança.
Em última análise, é o Ministério
Público, na qualidade de curador
de menores, que intervém podendo
exigir aos pais, ao representante legal
ou a quem tenha a sua guarda a
adopção de um comportamento que
salvaguarde os interesses do menor.
A quem interessa divulgar que a criança é seropositiva?
O
Prof. Jorge Ferrão foi
exonerado do cargo de
Ministro da Educação e
Desenvolvimento Humano
e nomeado Reitor da Universidade
Pedagógica [UP]. Por
quê? Duas hipóteses:
Primeira hipótese. Enquanto
Ministro, o Prof. Jorge Ferrão conheceu
os problemas que afectam
o ensino em Moçambique e por
isso foi seleccionado para melhorar
na UP a “formação superior
de professores para todos os ní-
veis de ensino” [missão constante
do portal da universidade].
Segunda hipótese: o Ministro
de Ciência, Tecnologia, Ensino
Superior e Técnico-Profissional,
Prof. Jorge Nhambiu, afirmou
que a UP dará origem a quatro
universidades autónomas, cada
qual podendo seleccionar o foco
de actuação. O Prof. Jorge Ferrão
foi seleccionado para dirigir
esse processo, cabendo-lhe a
responsabilidade de responder à
seguinte pergunta: continuará a
formação de professores a ser o
foco da UP?
Por que razão Jorge Ferrão
foi nomeado Reitor da UP?
20 Savana 02-12-2016 OPINIÃO
SACO AZUL Por Luís Guevane
Muitos moçambicanos, particularmente
os que estão (ou
estavam) em posição relevante
na governação deste País,
quando em “terreno minado” ficam de
bico calado mas, ao se afastarem do mesmo,
conseguem, no mínimo, expressar-se
livremente, ainda que o façam em bicos
de pés. Deste modo, conseguem ter duas
caras: uma representando o “politicamente
correcto”, a sombra, o seu ser superficial,
aquilo que ele não é, e a outra,
representando a totalidade da percentagem
inquebrantável, o seu ser profundo,
o “fogo que arde (em si) sem se ver”.
Na realidade: uma cara! Por isso, sem
descanso, a disciplina partidária move-
-se, procurando colocar neles um colar
abstracto para os controlar/manietar,
amarrando-os à árvore do poder. Neste
Contar com o futuro
grupo, de “prisioneiros livres”, onde cabem as
verdadeiras excepções, temos aqueles que, de
facto, falam do fogo que arde dentro de si,
sem rodeios, sem preocupação com a mentira
reinventada e colocada em menu para ser
defendida. É que um ser humano já adulto
deve ter a capacidade natural de perceber
o verdadeiro “sentido de futuro”, evitando
compactuar com inverdades, meias verdades
e bastante mentira. Perante esta realidade, a
pseudo-disciplina partidária olha para estes
Homens e percebe que o seu valente rugido
partidário já não cria “aquele efeito”, ou seja,
começa a ser tomado pela afonia que sempre
a caracterizou.
Neste sentido, e como em Moçambique “o fim
da história” só o é para quem ainda vive acomodado
nessa equação, é reconfortante ouvir,
por parte de quem não tem medo de (como
o peixe) morrer pela boca, que devemos “ter a
coragem de libertar a Constituição de sequelas
históricas que sejam possíveis entraves à
consolidação da boa harmonia social ou que
contenham potenciais elementos geradores de
conflitos ou divisões que se devam prevenir.”
Aqui, o antigo presidente do Conselho Constitucional,
o Dr. R. Baltazar, ao proferir estas e
outras palavras no Congresso dos Advogados,
a 24 de Novembro de 2016, pode não ter aflorado
uma ou outra novidade, entretanto, em
nosso entender, relembrou a todos que já antes
se haviam apercebido disso que é preciso ser-se
mais proactivo em nome do futuro deste País. É
importante reanalisarmos a questão da excessiva
concentração de poderes na figura do chefe
de Estado. É isso que está mesmo a acontecer
ou o problema está ainda nas fortes sequelas da
imensurabilidade da confusão entre partido e
Estado? E se amanhã tivermos um novo governo
fundamentado num novo partido? Gastar-
-se-á menos reorientando os colaboradores
na compreensão da importância de se ter um
novo comportamento diante daquilo que,
de facto, é o Estado? Ou optar-se-á por
custos elevadíssimos substituindo todos
os indivíduos ligados ao anterior partido e
mantendo o mesmo problema da confusão
entre o (novo) partido e o Estado? Por isso,
é importante, enquanto ainda é tempo, desacorrentar
o Estado, despartidarizando-o
completamente da “doença infantil”. Isto
significa, por exemplo, liberdade, imparcialidade,
isenção, ou seja, trabalho limpo e irrepreensível
nos órgãos eleitorais, incluindo
no Conselho Constitucional. Cá entre
nós: atolado como o País está, uma revisão
constitucional pode abrir espaço para um
Estado de Direito mais comprometido
com o exercício da democracia e menos
poroso à corrupção. Os que têm poder e
não falam devem libertar o fogo que arde
(sem se ver) dentro de si, devem deixar de
ser “terreno minado”.
E
la fez anos no dia 25 de Novembro, sexta-feira passada,
portanto. Dois anitos. Por decisão da minha
mulher, a avó paterna dela, o lanche foi marcado
para sábado às 4 da tarde. Tivemos, assim, a casa
cheia de crianças: ela, de 2 anos, e uns 7 primos mais velhos,
o mais velho dos quais tem 14 anos. Destes, só dois
são rapazes, mas isso não tem muita importância: em termos
de género, nós, os Pindula, estamos bem representados.
Desligámos o televisor, porque sempre considerámos que
é um grande inimigo da comunicação, um grande produtor
de ideias nocivas a pessoas com menos de 18 anos, ou
seja, a pessoas que não têm discernimento para perceber o
que estão a ver. Não posso acreditar que uma criança com
menos de 6 anos possa passar a tarde a ver um programa
de TV como o “Domingo Espetacular” ou “Balanço Geral”.
Portanto, desligámos o televisor, e não só o desligámos,
como lhe pusemos uma capa de napa por cima. Uma capa
azul com cores douradas, para obedecer ao meu princípio
de que ouro é ouro sobre azul. Onde há ouro tem de haver
azul.
Ficámos a ouvi-las cantar, cantámos todos, comemos mathapa
da avó, feijoada da tia, salada de fruta da tia-avó,
bebemos, e – mais importante do que isso – a casa estava
cheia de alegria. Foi um sábado diferente: não ouvi Pink
Floyd, nem Otis Redding, nem Led Zeppelin, nem Zaida
Lhongo, nem Eugénio Mucavel, nem Zena Bacar, nem
Gimo Remane; não ouvi as vozes que me costumam ligar,
tipo o Naíta Ussene, o Jaime Alberto Tsambe, o Ídasse…
Nada. Estava numa situação etérea, sentado a ouvir as vozes
das crianças em correria, a saltarem para cima de mim,
“Vovô Fernando” para aqui, “Vovô Fernando” para ali.
Lembrei-me de uma canção de um jogral português que
diz: “Estava o velho vendedor de sucatas e a canalha atrás dele,
e ele dizia – «Ai, isto já começa a chatear!»” Não chateia nada,
no fundo. Isto é manifestação de uma vontade de querer
viver, de alegria, porque é como digo: a minha netinha, a
Nandiwy, completou 2 anos de idade. Eu tenho 63… Veja
quantos anos de diferença existem. Não existe nada. O que
existe é que quando me convidaram para cortar o bolo de
chocolate com uma cereja no topo, eu, em vez de pegar na
faca, peguei nas mãos delas, as minhas netas: a Nandiwy,
a Gabriela, a Luna, a Cassandra e a Aurora. Cortei o bolo
com a minha mão esquerda.
Estou a gravar esta crónica com o telefone na minha mão
esquerda, porque a direita está muito suja: está cheia de
chocolate e natas.
A
20 de Março de 1977, a notícia cai como uma bomba
na redacção da AIM (Agência de Informação de Mo-
çambique): Fidel, vindo de uma visita triunfal à Etió-
pia e a seu pedido, faria uma escala técnica na cidade
da Beira.
A informação era confidencial. Fidel não seria recebido em
Maputo. As relações com Cuba não eram as melhores, ainda
resquícios do famoso incidente com “Che” Guevara em Dar
Es Salaam, quando queria “acelerar” a “revolução moçambicana”
com o seu épico voluntarismo.
Sabemos hoje, através do diário, “O ano em que estivemos em
parte alguma” que a aventura africana de “Che” terminou no
Congo entre as hostes de Kabila (pai), mais propenso ao copo
e às mulheres que propriamente à revolução com que sonhava
“Che”.
Na redacção da AIM a excitação era total. Todos queriam ir à
Beira fazer a cobertura do encontro Samora-Fidel. Mesmo os
repórteres que, como eu, tinham protagonizado uma revolta no
“Notícias” uns meses antes e estavam no purgatório. O repórter
tinha que ser “um camarada” porque, as indicações que chegavam
do partido, eram de que o encontro era um verdadeiro
“cheque em branco”. O encontro podia resultar, mas poderia ser
um fiasco total.
O frente a frente aconteceu no dia seguinte, 21 de Março. Não
fui, mas as fotos de Samora e Fidel de mãos dadas no Cais
Manarte foram registadas pelo Kok Nam. “Aquilo foi amor
à primeira vista”, disse-me no mesmo dia o Kok. O encontro
correu bem e marcou claramente o reatamento de um intenso
relacionamento entre os dois países.
Milhares de moçambicanos partiriam nos anos seguintes para
escolas especiais em Cuba, onde também leccionavam professores
moçambicanos. Os cínicos disseram na altura que a “solidariedade
cubana” destinava-se a inculcar o “comunismo” na
cabeça dos jovens e a aumentar a mão-deobra nas plantações
de açúcar na ilha das Caraíbas. Ao longo dos anos tenho travado
relações intensas com muitos desses estudantes que nunca
foram comunistas e são fracas espingardas em matérias sobre
marxismo. Ao contrário, são ávidos leitores de boa literatura e
poesia, cultores de música de qualidade e actividades desportivas.
Muitos deles foram e são esteios nos partidos da Oposição.
Como nos currículos moçambicanos, trabalhavam no desenvolvimento
de fruteiras na Ilha de Pinos, onde estavam as escolas,
mas desconheço relatos de moçambicanos nas safras do
açúcar. Apesar de controverso, atrevo-me a afirmar que o envio
de jovens a Cuba foi um dos primeiros exercícios democráticos
no ensino de Moçambique pós-independente, permitindo
o acesso ao ensino secundário a milhares de estudantes pobres
que, provavelmente, apesar da propaganda revolucionária, se ficariam
pela escola primária.
Milhares de cubanos vieram trabalhar para Moçambique. Os
seus ordenados eram pagos em Cuba e em Moçambique ganhavam
uma subvenção mensal de USD100,00. Disseram que
era assim, que eram “baratos” porque o objectivo maior era exportar
a revolução. Não sendo um distraído, nunca me apercebi
de tal propósito. Mas como não sou ingénuo, conheci também
muito cubano ligado ao aparelho securitário/militar em Mo-
çambique e Angola. E as memórias não são cor de rosa.
Samora, no tempo que viveu, era um homem feliz sempre que
foi a Cuba. Não morrendo de amores pelas experiências do
Leste Europeu, muitas das conversas com Fidel não deixaram
de tocar a desilusão partilhada pelos modelos de cooperação
que vinham dessas paragens.
Em Angola, na costa Atlântica de África, perante um MPLA
profundamente fraccionado, um contingente expedicionário
cubano, contribuiu para que a Unita e a FNLA não proclamassem
a independência a 11 de Novembro de 1975. Mais tarde,
em Maio de 1977, seguraram a presidência de Agostinho Neto
e assistiram “neutrais” à matança da “esquerda” angolana nas
masmorras do MPLA.
O envolvimento militar cubano em Angola marcou profundamente
o xadrez político da África Austral e os desenvolvimentos
políticos que culminaram com a independência da Namíbia
e a democratização da África do Sul. Cuba deslocou para Angola
uma parte substancial das suas forças armadas, transformando
as batalhas do Cuito Cuanavale na maior confrontação
militar em África, depois das batalhas da II Guerra Mundial
em El Alamein, no Norte de África, entre o Afrika Korps do
general Rommel e as tropas aliadas comandadas pelo general
Bernard Montgomery.
A Força Aérea cubana, apoiada por unidades de forças especiais
e um valoroso destacamento de sapadores puseram em causa
a superioridade da aviação sul-africana (com limitações de
efectivos e sobressalentes) , a artilharia pesada composta por
canhões G-5 e G-6 e os modernos tanques “Olifant”.
Apesar dos milhares de mortes cubanos em Angola, não posso
deixar de notar o desconforto com que as elites do MPLA lidaram
e lidam ainda hoje com a presença cubana no seu país,
procurando, a todo o custo, minimizar a sua importância no
contexto nacional e em toda a geo-estratégia da África Austral.
Estas notas deixam claramente de fora aspectos ideológicos
fundamentais sobre a Cuba de Fidel, as liberdades individuais
dos cubanos e os tempos do partido único em Moçambique de
que há muitos saudosistas entre nós.
Sou, porém, um daqueles moçambicanos que se emocionou
com o anúncio da partida de Fidel e, tal como muitos milhares
dos meus compatriotas, reconheço nele e no seu cometimento,
alguém que tentou tornar melhor a vida dos moçambicanos.
Hasta siempre!
O aniversário da
Nandiwy
Fidel
Por Fernando Lima
Savana 02-12-2016 21 PUBLICIDADE
22 Savana 02-12-2016 DESPORTO
T
rinta e oito dias depois ter
deixado o país futebolístico
de “boca aberta”, ao acusar
os irmãos Sidat (Rafik e
Shafee) de ditarem os campeões
nacionais, Artur Semedo disse,
esta semana, que aquilo foi um
elogio, pelo nível de influência
que estas figuras têm no nosso
futebol.
Em entrevista concedida ao SAVANA,
na manhã desta quarta-
-feira, Semedo revelou ainda que
não continua na União Desportiva
do Songo (UDS), primeiro,
por não ter aceitado a exigência
da actual direcção de pedir, publicamente,
desculpas aos visados e,
segundo, por não partilharem os
mesmos valores: transparência e
honestidade.
Acompanhe, nos próximos pará-
grafos, os excertos desta entrevista,
onde Artur Semedo avalia os
dois anos no Songo e explica as
razões da constante instabilidade
daquele clube.
Que balanço faz da época 2016,
que culminou com a conquista
inédita da Taça de Moçambique
e do segundo lugar, no Moçambola...
-Foi uma época positiva e inédita,
tendo em conta que, primeiro,
foi a primeira vez que a UDS
conseguiu feitos tão importantes
como estes e, segundo, por ter
sido o primeiro dos últimos classificados.
Fomos os primeiros dos
últimos porque só a mal sevícia
é campeã. Porém, foi uma época
frustrante para mim porque depositei
expectativas enormes na
minha equipa por ser humilde e
recheada de jogadores à procura
de um lugar ao solo. Não era
dos melhores planteis, mas sabia
da sua valia humana e desportiva,
assim como confiava na qualidade
do meu trabalho, que veio a
se confirmar ao longo dos jogos.
Mas, infelizmente, os campeões
não se fazem apenas com profissionalismo,
competência e dedicação.
Outros valores e interesses
ocultos se levantam e acabamos
perdendo o campeonato.
Pode nos dizer que interesses
ocultos são esses?
-Trata-se de uma matéria extremamente
dissecada ao longo
dos tempos e isto acaba por ser
nefasto até para a minha pessoa.
Ter convicções, defender a causa
da transparência, da honestidade,
do trabalho e do profissionalismo
contrasta com aquilo que está
sublimado no nosso campeonato.
Assim, acabo sendo a pessoa que
é preciso excluir, abater e até pôr
em causa a continuidade neste
futebol. Mas, prefiro ser afastado,
excluído, banido por revelar competência
e honestidade no que
faço.
$UWXU6HPHGRQmRUHFXDHUHDÀUPDTXHRV´6LGDWµpTXHGHWHUPLQDPTXHPGHYHVHUFDPSHmRHP0RoDPELTXH
“Prefiro ser banido, que ser subserviente”
3RU$EtOLR0DROHOD
´1mR DGLDQWD VHU PiUWLU SRU
DOJR TXH QmR GL] UHVSHLWR D
QLQJXpPµ
Congratulou, no final do jogo
com o Ferroviário da Beira, os
irmãos Sidat (Rafik e Shafee) por
“ditarem os campeões”. Reitera
este posicionamento?
-Tenho sido perseguido ao longo
dos anos, por isso, considero perca
de tempo falar das mesmas coisas
sem que haja vontade de alterar o
panorama instalado. Não aconteceu
apenas em 2016. Já perdi
vários campeonatos pela frontalidade
que demonstro e pelo posicionamento
que tenho neste futebol.
Há vontade de muita gente
que eu abandone o futebol e estas
pessoas vão propalando, todos os
dias, mentiras e inverdades. Portanto,
combater estas coisas anos
a fio, sem que se resolvam as questões,
não vale apena estar a falar
destas coisas.
Sempre disse que há pessoas que
sabotam o teu trabalho, mas foi a
primeira vez que tocou em nomes
concretos e de pessoas conhecidas.
Que razões concorreram
para essa revelação?
-Nunca tive uma relação próxima
com o presidente da Liga (Liga
Desportiva de Maputo). Estabelecemos
uma relação profissional
muito boa, que até extravasou
alguns limites profissionais. Mas,
não posso concordar que pessoas
não aceitem o facto de ter de trilhar
os meus caminhos, seguindo
a minha consciência. Eu é que
devo escolher os clubes, onde
quero trabalhar. Ninguém deve
conduzir a minha vida e nem me
votar ao ostracismo só porque
convém que esteja com ela.
Assim, quer nos dizer que estes
não o querem ver noutros clubes...
-É evidente. Até fiz elogio às pessoas
em causa. O que quis dizer,
na verdade, é que têm grande influência
neste futebol.
Como se manifesta a sua influ-
ência, tendo em conta que o Mo-
çambola é gerido pela Liga Mo-
çambicana de Futebol (LMF) e
os visados não fazem parte deste
órgão?
-Já disse que não me interessa
nada estar aqui a falar de assuntos
que acabam não tendo resolução.
Se eu tiver de tecer comentários
sobre esta matéria, farei nos fóruns
próprios. Estas pessoas têm muita
influência neste futebol; há um
poder instalado; este futebol não
é transparente e passa por várias
vicissitudes que colocam em causa
o seu normal desenvolvimento. Se
alguém quer dotar este futebol de
mais verdade e transparência, que
actue sobre estas questões. Não
sou polícia e nem investigador e
não cabe a mim fazer este tipo de
diligências.
Alguma vez já denunciou estes
factos a entidades competentes,
como foi o caso de Arnaldo Salvado?
-Nunca fiz e nem vou fazer porque
o desporto não tem importância
que outras actividades. Este
é o parente pobre de todas as actividades
que norteiam a sociedade.
Aparentemente tem um lugar de
destaque, mas não tem a importância
que merece. Por isso, não
adianta nada querer ser mártir por
uma causa que não diz respeito a
ninguém.
´1HJXHL GH SHGLU GHVFXOSDV
S~EOLFDVµ
Os visados prometeram recorrer
às entidades competentes (tribunais)
para o esclarecimento deste
caso. Será que já foi notificado
para tal?
-Ainda. Se alguém se sente ofendido,
que abra um processo contra
o prevaricador. Apenas fui
contactado pela Comissão de Inquérito.
Aliás, o actual Presidente
da UDS ( José Costa) exigiu-me
pedido de desculpas públicas aos
amigos (pessoas em causa) e à população
do Songo, pelo eventual
desrespeito, como condição para
a minha continuidade. É evidente
que não peço desculpas a ninguém.
Quando falo das coisas ou
tomo as minhas decisões faço em
consciência.
Assim, podemos considerar este
o único motivo para não continuar
na UDS?
-Não, mas foi um factor dissimulador.
O actual presidente da
UDS tem, no seu elenco, indiví-
duos com os quais há diferenças
insanáveis, que foram despoletadas
desde a altura que assumi a
equipa, na direcção do senhor Sa-
íde Tuhair. As querelas que foram
criadas naquele clube tinham um
destinatário: o presidente Tuhair.
E como consequência, propalou-
-se outra mentira: a de que eu
destitui a direcção. Acho que devia
ter muito poder para destituir
uma direcção empossada e legitimada
pela empresa (HCB). A direcção
da UDS (na altura HCB)
foi posta em causa pelos senhores
que estão lá, novamente.
Se este foi um factor dissimulador,
então, qual foi a razão principal?
-Talvez os valores que defendo
não sejam partilhados pelas pessoas
que estão lá neste momento.
Durante os dois anos percebi
quem estava contra a equipa e
as direcções que passaram por lá
nunca trabalharam em condições
de estabilidade. Por isso que, em
dois anos, o clube teve três direc-
ções.
No que testemunhou, o que justifica
esta instabilidade?
-São questões de natureza cultural.
As pessoas procuram institui-
ções para atingir algum protagonismo
nacional. O clube parece
um veículo de promoção para fora
das fronteiras da localidade, pelo
que acaba sendo apetecível. Sempre
que há uma direcção em gestão,
a mesma é desestabilizada e
usa-se a equipa para atingir esse
objectivo. Mas, estranhamente,
não aconteceu o mesmo com a direcção
do senhor Luís Canhemba.
Teve uma prestação inédita
que contrasta com tudo o que foi
feito anteriormente. Aliás, aferindo
os resultados, Luís Canhemba
é o melhor presidente porque ele
é quem ganhou, mas, mesmo assim,
foi substituído. Portanto, há
interesses que colocam em causa
o desenvolvimento do clube e da
própria equipa de futebol.
Como se sente pelo facto de não
poder continuar com o seu projecto?
-Não estou preocupado e nem
magoado por não poder continuar
na UDS. Ninguém fez favor em
levar-me para Songo. Fui porque
quis e porque fui contratado por
uma pessoa extremamente honesta
(Saíde Tuhair). As duas épocas
que fizemos têm muito mérito
dele porque contratou-me, já que
sabia da importância que teria no
seu projecto.
´3UHÀURVHUEDQLGRTXHVHUYLU
RVLVWHPDµ
Mas, é suficiente deter-se as
questões externas para justificar a
perca do título? Será que algumas
opções técnicas do mister não terão
contribuído, como no caso do
jogo com o Costa do Sol, em que
deixou de fora Luís Miquissone e
Mano?
-Foi apenas um jogo que eles não
jogaram. Jogaram em outras partidas,
mas o que aconteceu? Luís
e Mano jogaram contra o Estrela
Vermelha e perdemos a partida.
Em mil partidas, o Estrela só nos
podia ganhar aquela. Se alguém
pensa que perdemos por acaso,
deve estar num mundo irreal e
imaginário. Quem anda no futebol
sabe como nós perdemos o
campeonato.
Por outro lado, quem define as
estratégias do jogo é o treinador.
Luís e Mano estavam no limite
dos cartões amarelos e o jogo com
o Costa do Sol não era decisivo,
mas determinante. O decisivo era
o jogo com o Ferroviário da Beira
e é suposto que os melhores estejam
nos grandes jogos e ninguém
vai me impor regras como fazem
a outros treinadores nos outros
clubes.
E no caso da Taça de Moçambique,
onde estavam os teus “inimigos”?
-Também nos preparamo bem
porque tínhamos percebido o
que tinha acontecido no campeonato.
Descortinamos as nossas
debilidades e vimos onde os
inimigos nos podiam contrariar.
Por isso, nós também fizemos o
nosso trabalho. Não deixamos
tudo ao acaso e acabamos sendo
mais fortes. Mas, por outro lado,
as pessoas podem ter tido receio
da manifestação da amplitude do
seu trabalho. Era demasiado e até
podia ser um escândalo nacional.
A qualidade da equipa se sobrepôs
até ao último jogo da época
e não estava mal preparada como,
em algum momento.
Mas, onde mudou a “boa relação”
que mantinha com o presidente
da Liga?
-Ser um bom presidente não significa
ser uma boa pessoa. As pessoas
podem ser caracterizadas em
várias dimensões (humana, social,
profissional, etc.). Estabeleci uma
boa relação profissional porque é
assim como me apresento aos clubes
e as pessoas que se relacionam
comigo, profissionalmente. Mas,
todos os factores que gravitam à
volta disto é outra história.
Pode nos dizer onde o mister estará,
em 2017?
-Não estou preocupado com isso.
Estaria preocupado se fosse incompetente
ou se não tivesse qualidade.
´2VFDPSH}HVQmRVHID]HPDSHQDVFRPSURÀVVLRQDOLVPR FRPSHWrQFLDHGHGLFDomR
Savana 02-12-2016 23 DESPORTO
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E-mail: secretaria@isctem.ac.mz.
20 anos formando
com qualidade
Três galos para um poleiro!
É
já neste sábado que será
conhecido o novo presidente
da Federação
Moçambicana de Patinagem,
FMX, num pleito a ser
corporizado por três figuras, a
saber, Pedro Chambule, Selma
Simango e Domingos Langa.
Curiosamente, os três candidatos
já ocuparam a presidência
daquele organismo e, ao que
o SAVANA apurou, serão as
eleições mais renhidas dos últimos
tempos.
Em termos de apreciação global,
há pontos similares entre
os candidatos, como a experi-
ência no dirigismo desportivo e
no capital simbólico, para além
de que conhecem os cantos da
casa. E mais: todos dizem reunir
apoios das associações provinciais.
Vamos por partes.
O candidato Domingos Langa possui
uma academia de xadrez, tem
apoiado as províncias, através da
distribuição de material desportivo
de xadrez; assinou parcerias com os
Ministérios da Educação e Desenvolvimento
Humano e da Juventude
e Desportos para a massificação
do xadrez nas escolas.
Igualmente, patrocinou vários jogadores
a participarem em campeonatos
nacionais e eventos internacionais;
tem influência junto do
empresariado nacional e é membro
da Federação Internacional de Xadrez.
Quanto a Selma Simango, também
é uma candidata a ter em conta,
até porque é das poucas mulheres à
frente de uma federação e, ainda
que pouco discreta, certamente
vai jogar também os seus trunfos.
Relativamente ao candidato Pedro
Chambule, há que referir que
cumpriu, na totalidade, os dois
mandatos, para além de ter sido
um atleta com certo gabarito.
Ele vai fazendo o seu trabalho de
base ainda que de forma discreta,
mas mesmo assim não deixa de
ser uma figura a ter em conta.
Entretanto, Milton Botão, director
da campanha do candidato
Domingos Langa, explicou, ao
SAVANA, que pretende resgatar
o xadrez, criando uma nova
imagem nas instalações da federação
e ajudar as associações a
serem auto suficientes em termos
financeiros.
Uma nova tragédia aérea
voltou a abalar o mundo
do futebol na segunda-
-feira, pois o avião em
que viajava a equipa brasileira da
Chapecoense caiu quando estava
prestes a chegar ao seu destino,
o aeroporto de Medellín, local
onde na quarta-feira estava previsto
para realizar a partida da final
da Copa Sul-Americana com o
Atlético Nacional. No avião viajavam
77 pessoas e 71 morreram
e seis sobreviveram ao acidente:
dois membros da tripulação, três
jogadores e um jornalista. As autoridades
ainda não confirmaram
as razões que fizeram com que o
avião, um charter da empresa boliviana
Lamia, caísse quando estava
tão perto de seu destino.
O avião que transportava a Chapecoense,
um Avro Regional Jet
85 (RJ85), deveria ter chegado
a Medellín por volta das dez da
noite da Colômbia. Pouco antes
de iniciar sua descida, perdeu contacto
com a torre de controle. Os
pilotos tinham alertado, de acordo
com várias fontes, sobre “falhas
Tragédia abala
mundo desportivo
eléctricas”, embora as autoridades
não tenham confirmado a causa
exacta do acidente. Uma das hipóteses
considerada é que o avião
ficou sem combustível.
Entretanto, reagindo ao facto,
Lionel Messi lamentou o acidente
através da sua conta na rede social
Twitter. tendo dito que o mesmo
foi desolador. Já Jorge Jesus, treinador
do Sporting, disse ter sido
triste muito triste, enquanto que
Diego Maradona, endereçou pê-
sames para os familiares do Chapecoense,
do Brasil, e de todas as
pessoas que morreram no trágico
acidente de avião, na Colômbia
7DoDGRV&OXEHV
&DPSH}HV$IULFDQRV
Entrada
em falso
A
s equipas moçambicanas,
que participam na Taça
dos Clubes Campeões de
África em basquetebol,
sénior feminino, vêm revezando o
bom e o mau, deixando cada vez
mais patente a supremacia das
equipas angolanas do 1º de Agosto
e do Inter de Luanda.
As equipas moçambicanas come-
çaram a prova, sucumbindo perante
as suas adversárias, com o
Ferroviário de Maputo a perder
frente às angolanas do Inter Clube
por 43-57.
Por sua vez, a Politécnica perdeu,
no início desta semana, perante as
outras angolanas do 1º de Agosto
por 33-78.
A falta de ritmo competitivo nas
equipas moçambicanas é apontada
como principal factor para estes
resultados e, neste momento, apesar
de o Ferroviário de Maputo
avançar para a segunda fase, tudo
indica que a final será disputada
por equipas angolas.
Fora da quadra, verifica-se uma
desorganização, principalmente,
no que tange ao tratamento da
comunicação social, onde a maior
parte dos jornalistas ainda não foram
acreditados para a cobertura
do evento.
24 Savana 02-12-2016 CULTURA
F
oi lançada na quinta-feira,
24 de Novembro corrente,
a exposição “Pedalando” do
artista plástico Gemuce, em
Maputo. Trata-se de lançamento
de quatro peças decorativas de
porcelana com características de
uma bandeja que inclui um suporte
para pendurar na parede que tem a
arte de Gemuce e a marca da Vista
Alegre.
Esta é uma simbiose entre uma
marca já reconhecida internacionalmente
desde 1824 que é aliada
à modernidade que se tem como
uma linha única que produz peças
de Cristal e Porcelana, em colaboração
com os mais destacados criadores
internacionais, entre os quais
Carsten Gollnick, Sam Baron,
Karim Rashid, Joana Vasconcelos,
Brunno Jahara, Roberto Chichorro
e Christian Ghion e, desta vez, Gemuce
juntou-se a este vasto elenco
com mestria e talento.
Segundo o representante da marca,
Alberto António Jorge Costa,
a Vista Alegre tem uma linha denominada
“linha da alma” que tem
por objectivo homenagear lugares
por onde a marca tem passado, levando
características do quotidiano
e carregando a simbologia para que
qualquer pessoa sinta nos artigos
decorativos a identidade de onde
está e se identifique com a Vista
Alegre.
Neste lançamento das peças de
Gemuce pinta para Vista Alegre
porcelana, a Cidade de Quelimane
teve relevo por Gemuce ser natural
da província Zambézia, concretamente
em Quelimane.
Sob o tema “Pedalando”, Gemuce
procura sincronizar vários sentidos
representativos, figurativos e narrativos
que a palavra aglutina em
variadas situações de interacção na
vida dos seres humanos. Um conceito
criativo metafórico que compara
o sentido de equilíbrio entre o
motivo “bicicleta” e as variadas situações
de desafio e criatividade que
o munícipe de Quelimane enfrenta
no seu dia-a-dia para a superação
da vida. Ambos conseguem um
“equilíbrio” quando em ação.
Trazer esta inspiração em artigos
de porcelana é o diferencial desta
colecção para a Vista Alegre.
No seu discurso, António Pinto de
Abreu, também conhecedor das
artes e com olhar atento a criações
modernas, elogia Gemuce por este
mostrar a sua vocação e inclinação
nas artes, sobretudo numa época
bastante moderna e competitiva,
numa marca bastante prestigiada.
O Presidente do Conselho de Administração
do BCI, José Furtado,
recorda a primeira vez que conheceu
a obra de Gemuce imbuído de
curiosidade pelos relatos de várias
pessoas e revela que foi de encanto
à primeira vista, “agradou-me a
simbologia das imagens que remetem
ao imaginário do nosso quotidiano
e a mestria no domínio técnico
da aguarela é impressionante”,
disse Furtado.
Já a embaixadora de Portugal, Maria
Amélia, considera este um evento
que deixa claro que o espírito de
partilha de ideias entre os moçambicanos
e a comunidade portuguesa,
que inclui empresários, é sólido,
à medida que gera frutos. “É nesse
espírito de partilha e entendimento
mútuo que Portugal e Moçambique
cooperam em várias áreas sendo
esta área da cultura uma delas
com bastante relevo”, concluiu a
embaixadora portuguesa.
Pompílio Hilário Gemuce nasceu
em Quelimane em 1963. Frequentou
o curso médio de cerâmica na
Escola de Artes Visuais, em Maputo,
e licenciou-se em Belas-Artes
pelo Instituto Superior de Belas
Artes em Kiev, Ucrânia.
Em 1993 obteve o grau de Mestre
em Pintura de Murais na Academia
de Belas Artes da Ucrânia.
Em 2001, concluiu o Mestrado
em Concepção e Gestão de Projectos
Culturais pela Universidade
de Sorbonne Nouvelle, em Paris,
França.
Foi professor na Escola Nacional
de Artes Visuais entre 1993 e 2008.
É professor de arte no Instituto Superior
de Artes e Cultura (ISARC).
Foi membro fundador da Associa-
ção Arte Feliz e co-fundador do
Muvart (Movimento de Arte Contemporânea)
entre 2002 e 2008.
Expõe desde o início da década de
1990, tanto individual como colectivamente,
tendo apresentado o seu
trabalho em países como Moçambique,
África do Sul, Senegal, Portugal,
Espanha, Alemanha, Reino
Unido, Noruega, Finlândia e Brasil.
É fundador da Agência e galeria de
arte Arte de Gema.
As suas obras integram diversas colecções
públicas e privadas em Mo-
çambique e no estrangeiro.
A fábrica de porcelanas Vista Alegre
foi fundada há 189 anos em
Ílhavo, no distrito de Aveiro, Portugal.
Ao longo do seu percurso, a
marca esteve sempre intimamente
associada à história e à vida cultural
portuguesas, adquirindo uma notoriedade
internacional ímpar.
A empresa, líder no mercado ibérico,
é um dos principais produtores
internacionais de porcelana decorativa,
doméstica e de hotelaria,
fabricando cerca de quinze milhões
de peças por ano e exportando para
mais de sessenta países.
Além de serem escolhidas por personalidades
como a Rainha Isabel
II de Inglaterra, a Rainha Beatriz
da Holanda e o Rei Juan Carlos de
Espanha, e de marcarem presença
em inúmeros contextos de prestí-
gio, peças Vista Alegre são exibidas
em alguns dos mais notáveis
museus mundiais, entre os quais
o Metropolitan Museum of Art
(MoMA), em Nova Iorque.
Entre as caraterísticas distintivas
da VA, e uma clara vantagem competitiva,
conta-se a possibilidade
de customizar tableware e giftware
para empresas ou particulares,
permitindo assinalar uma ocasião
especial com peças personalizadas
de alta qualidade, através de encomenda
direta à marca.
A.S
O
Centro Cultural Franco-Moçambicano
acolhe neste sábado, dia 3 de
Dezembro, às 19:00h, o espectáculo
de Circo e Dança “La Pli I Donn”,
da Companhia Cirquons Flex (Ilha da Reunião).
Em crioulo da Ilha da Reunião, «La Pli I
Donn» é uma expressão que significa “Chove
torrencialmente”.
O espectáculo reúne quatro acrobatas vindos
da Ilha da Reunião, de Madagáscar e da
África do Sul. Numa escrita impregnada de
malabarismo, este projecto se inscreve numa
vontade de emitir um discurso endémico da
Ilha da Reunião, desenvolvendo um diálogo
intercultural sobre as diversidades do Oceano
Índico.
Pluridisciplinar, «La Pli I Donn» mistura
malabarismo, música, captação de sons e imagens,
textos poliglotas, danças tradicionais e
híbridas, abordando o encontro, a transmissão
e a questão ecológica.
Cirquons Flex - companhia convencionada
pela DAC- OI (Direcção dos Assuntos Culturais
do Oceano Índico), o Ministério francês
da Cultura e da Comunicação e a cidade
de Saint-Denis -, nasceu na Ilha da Reunião
em Outubro 2007, do encontro entre dois artistas:
Virginie Le Flaouter (Escola Nacional
de Circo de Montreal) e Vincent Maillot (artista
autodidata). Juntos, encontraram uma direcção
de circo e, pouco a pouco, lançaram as
bases de um universo artístico onde a música
e o encontro entre várias disciplinas desempenham
um papel importante.
“Chove torrencialmente” no CCFM
Desde 2011, e após a criação do seu terceiro espectáculo
Dobout An Bout, a companhia iniciou
um ciclo dedicado à investigação e à estruturação
de uma linguagem artística de circo que fosse endémica
à Ilha da Reunião.
No âmbito do espectáculo La Pli I Donn, nos dias
5 e 6 de Dezembro decorrerão nos espaços do
Centro Cultural Franco-Moçambicano 4 ateliers,
dirigidos pela companhia Cirquons Flex em várias
disciplinas: Acrobacia no solo e dança tradicional
malgaxe, na segunda-feira, 5 de Dezembro das 10h
às 12h no Auditório, Acrobacia Moring da Ilha da
Reunião Capoeira segunda-feira, 5 de Dezembro
das 14h às 16h no Auditório, Gumboots e dan-
ças tradicionais sul-africanas na terça-feira, 6 de
Dezembro das 10h às 12h na Sala grande, Acrobacia
aérea com tecido e trapézio na terça-feira, 6
de Dezembro das 14h às 16h, na Sala grande. A
participação nos ateliers é gratuita, limitando-se as
inscrições às vagas existentes. A.S
D
epois de uma ausência de
mais de três anos dos palcos
nacionais, o saxofonista
moçambicano Ivan Mazuze,
há vários anos a residir na
Noruega, actua no sábado, dia 03
de Dezembro, no Teatro Avenida,
em Maputo. Mazuze será acompanhado
em palco pelo agrupamento
sul-africano The Notes Jazz Band,
sob direcção musical do também
sul-africano Dan Selsick.
Este concerto tem o apoio do Department
of Arts and Culture do
governo sul-africano e é organizado
por Marysa Leukes.
Ivan Mazuze é licenciado em Jazz
Studies, com um mestrado em etnomusicologia
pela Universidade
de Cape Town, África do Sul, tendo
começado a sua formação muito
novo, na Escola de Música de Maputo
(nos anos 90).
Actualmente Mazuze é não apenas
uma referência em palco, como
também autor regular de artigos
relacionados a etno-musicologia
em publicações de especialidade. O
músico moçambicano possui três
álbuns editados: Naganda (2009),
Ndzuti (2012) e Ubuntu (2015).
Ivan Mazuze é um saxofonista e
compositor musical moçambicano,
que vive na Escandinávia, e cuja
Ivan Mazuze no Avenida
carreira musical resulta de uma mistura
de influências várias. Estudou música
em Maputo, depois na Universidade
do Cabo, de onde saiu para o norte da
Europa, como outros músicos de jazz
moçambicanos.
O seu trabalho é descrito de afro-jazz,
e os seus trabalhos “Maganda”, Ndzuti”,
e o mais recente “Mbutu” e “ exibem
várias vivências musicais (a africana e a
contemporânea).
Actualmente Mazuze é professor de
música de bandas escolares de Oslo,
Noruega, onde reside. Na bagagem
tem inúmeras participações em festivais
de jazz, participações na feitura de
trabalhos musicais de outros nomes da
música, e também prémios como para
o melhor álbum jazz e melhor álbum
de jazz/fusão instrumental em 2010.
A.S
Uma das cenas de dança
Artista plástico Gemuce no centro
Dobra por aqui
SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1195 DE DEZEMBRO'(
2 Savana 02-12-2016 SUPLEMENTO Savana 02-12-2016 3
Savana 02-12-2016 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Naita Ussene (Fotos) F
oi comemorada, recentemente, a passagem do décimo sexto
ano após o assassinato do jornalista Carlos Cardoso. Para os
que o conheceram, o trabalho desta figura emblemática do
meio de comunicação social nacional em prol da veracidade
dos factos nunca se esquecerá.
Os que o conheceram e reconheceram o trabalho deste homem juntaram-se
no local onde foi barbaramente morto para prestar mais
uma homenagem. Estiveram no local amigos, colegas, admiradores e
outras figuras da nossa sociedade para mostrar, mais uma vez, o seu
repúdio ao sucedido.
Não é por acaso que nesta primeira imagem vemos o Juiz jubilado
do Tribunal Supremo, João Carlos Trindade, e a advogada Lucinda
Gomes, que defendeu os interesses da família do malogrado Carlos
Cardoso. São figuras que estiveram sempre do lado da justiça.
A figura do jornalista Carlos Cardoso e outras que pautaram por
defenderem a veracidade dos factos e pela justiça devem sempre ser
enaltecidas por todos nós. Para os que não o conheceram, saibam da
sua luta por uma sociedade justa para todos. Quem não quis perder
essa oportunidade de enaltecer essas figuras foi o régulo Matola que
deixou o Assessor de Imprensa da Presidência da República, Estefane
Muholove, empolgado com o que ouvia.
Sabemos que a construção e melhoramento das infra-estruturas ferroviárias
do país estão ainda longe do desejado. É preciso que essas
infra-estruturas estejam em condições de enfrentar os desafios actuais
do sector. Que tenham condições de competir no mesmo patamar
com similares serviços da região e do mundo.
E um passo rumo a esse melhoramento é uma vitória para os que
estão, e não só, directamente ligados com este sector de actividade.
Ainda é preciso fazer muito mais neste sector. Deduzimos que é o
que estará a dizer o Administrador dos CFM, Agostinho Francisco
Langa, perante o sorriso de alguma satisfação do outro Administrador
Executivo, Joaquim Uelemo Zucula.
Diante deste ambiente de alegria à mistura com os futuros desafios
por parte destes quadros ligados à área dos Caminhos de Ferro do
país reparem que, nestas duas últimas imagens, as personagens que
aparecem partilham este ambiente a que nos referimos no início deste
último parágrafo. Vejam como os semblantes da Doutora Marta
Mapilele, Engenheiro Miguel Guebuza, Doutor Salatiel Massango,
Engenheiro João Mabota, Doutor Óscar Dinis, Engenheiro Carlos
Bambe, Engenheiro Issufo Amarci e Franco Catutula são testemunhas
dessa miscelânea. É preciso enaltecer as alegrias e os desafios
das nossas vidas.
É de enaltecer mesmo
IMAGEM DA SEMANA
À HORA DO FECHO
www.savana.co.mz EF %F[FNCSP EF t "/0 99*** t /o
1195 Diz-se... Diz-se
Foto: José Cabral
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Goradas as expectativas dos
mediadores e da delega-
ção da Renamo de enviar
à Assembleia da República
até esta quarta-feira (30 de Novembro)
a proposta de princípios
sobre a descentralização, a mediação
deverá anunciar dentro em
breve aquela que será a sua última
cartada para colocar o documento
na casa do povo este Dezembro.
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fonte ligada ao processo, o novo
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Descentralização só
no próximo ano na AR
Por Argunaldo Nhampossa
forma sistemática aos encontros da
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previstos na semana passada bem
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EVENTOS
O
Moza inaugurou, nesta
terça-feira, mais quatro
agências bancárias
em Moçambique, das
quais uma na cidade da Matola,
agência da Machava-sede e
outras três na cidade de Maputo
nomeadamente, agência do Jardim,
da COOP e da Praça dos
Trabalhadores. A cerimónia de
inauguração foi presidida pelo
Presidente do Conselho da Administração
do Moza, João Figueiredo,
indicado pelo Banco
de Moçambique (BM), após ter
MOZA inaugura mais quatro agências
intervencionado aquela institui-
ção bancária.
Recorde-se que o Moza se encontra
numa situação financeira
não desejável por falta de recapitalização,
razão pela qual o
Banco de Moçambique (BM)
interveio com vista a salvaguardar
os interesses dos depositantes.
Falando na ocasião, Figueiredo
destacou que a abertura das
quatro agências tem um significado
especial, na medida em
que representa um passo firme e
seguro no sentido de se alcançar
a missão que o banco tem pela
frente.
“Apesar do momento desafiante
que atravessamos, o Moza mantém-se
como um banco relevante
no sector financeiro nacional,
com uma estrutura orgânica
bem definida, com processos
internos consolidados, sistemas
tecnológicos sofisticados, uma
vasta rede de infra-estruturas e,
sobretudo, um quadro de colaboradores
competentes e profissionais,
composto na sua maioria
por jovens moçambicanos,
dinâmicos e com vontade de
marcar a diferença”, frisou.
O PCA esclareceu ainda que
o principal objectivo do Moza,
neste momento, é resgatar a
confiança dos seus clientes, daí
que o banco tem estado a trabalhar
para rentabilizar os frutos
dos seus rendimentos no imediato
e, a curto prazo, conseguir
recapitalizar a instituição.
“Este processo, porém, embora
se pretenda o mais célere possí-
vel, não poderá, dada a sua complexidade,
deixar de evoluir em
toda a sua plenitude, em linha e
harmonia com o cronograma de
acções que foram programadas
para endereçar com profundidade
e transparência a situação
da Instituição”, explicou Figueiredo.
De referir que o Moza tem a
3ª maior rede bancária do País,
composta por mais de 50 unidades
de negócio, presentes em todas
as províncias. E actualmente
é o único Banco com balções no
interior de Mercados Informais.
Savana 02-12-2016 EVENTOS
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Ao nível local (distrito e município) foi estabelecido o mecanismo para a promo-
ção da participação económica comunitária através de financiamento de iniciativas
de geração de rendimento das pessoas de baixa renda. Referimo-nos ao Fundo
Distrital de Desenvolvimento (FDD) e Programa Estratégico para a Redução
da Pobreza Urbana (PERPU).
As alíneas m) e l) do nº 2 do artigo 35 do Guião Sobre a Organização e Funcionamento
dos Conselhos Locais (GSOFCL) atribuem aos Membros dos Conselhos
Locais (MCL) a responsabilidade de aprovar os projectos que solicitam financiamento
ao FDD e a respectiva monitoria/avaliação na fase da sua implementação.
Visando contribuir para a melhoria da participação dos MCL nos seus órgãos e
de análise, aprovação, monitoria e avaliação dos projectos no âmbito do FDD, a
AGECAP (uma Organização da Sociedade Civil moçambicana) irá levar a cabo
acções de treinamento dos MCL do distrito de Boane, província de Maputo:
GOVERNO DE BOANE
DESCENTRALIZAÇÃO E DESENVOLVIMENTO LOCAL
Iniciativa de: Colaboração Parceiro
Savana 02-12-2016
EVENTOS
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O
escritor Nelson Fernando
Manhisse é o vencedor
do Prémio Literário 10
de Novembro 2016, instituído
pelo Conselho Municipal
da Cidade de Maputo (CMCM) e
a Associação dos Escritores Mo-
çambicanos (AEMO), com uma
parceria da mcel-Moçambique
Celular. O prémio tem por objectivo
estimular o gosto pela leitura
e escrita nos seus citadinos.
Nelson Fernando Manhisse concorreu
com a obra intitulada “Hú-
mus”, numa competição para a
qual se candidataram 28 trabalhos,
dos quais apenas dois não reuniram
os requisitos previstos no regulamento.
Igualmente, o júri do Prémio Literário
10 de Novembro, que este
ano foi consagrado à Poesia, decidiu
atribuir uma Menção Honrosa
às obras “A Migração das Árvores”,
de Álvaro Fausto Taruma, “Coisas
de Mar”, de Zeca Mafambane,
“Nódoas de Suspiros”, de Sérgio
Simeão Raimundo, e “Estátuas,
Eterno Campo da Minha Solidão,
a Prova da Rotação dos Ventos”,
de Simeão João Cachamba.
No seu discurso de ocasião, o presidente
do Conselho Municipal da
Cidade de Maputo, David Simango,
afirmou que este concurso tem
contribuído, desde a sua instituiNelson
Manhisse vence
Prémio Literário
10 de Novembro
ção, em 2005, para a galvanização
de novos escritores.
Para o edil, através deste concurso,
“temos assegurado o contínuo
desenvolvimento da literatura no
nosso município e a projecção da
nova geração de escritores mo-
çambicanos, em particular os mais
jovens”.
Para além de um cheque no valor
de 100 mil Meticais, o prémio inclui
a publicação da obra vencedora,
ao abrigo de uma parceria com
a operadora de telefonia móvel
mcel.
Esta parceria insere-se no âmbito
das acções de responsabilidade social
corporativa da mcel, que têm
sido levadas a cabo em todo o País
e em várias vertentes, incluindo a
da cultura.
Relativamente ao Concurso Literário
10 de Novembro, o presidente
da Comissão Executiva da mcel,
António Saíze, referiu esperar que
o mesmo “contribua para o crescimento
da nossa literatura e incentive
e estimule o gosto pela leitura
na nossa sociedade”.
Já o vencedor, convidado a tecer
algumas considerações, realçou
a importância deste concurso na
valorização da arte e da cultura,
assim como dos seus fazedores,
pois, conforme explicou, “o artista
sente-se valorizado quando as suas
obras são reconhecidas e apreciadas
pelo público”.
Gapi e IYF juntos e na promoção de empresas e empregos
A
Gapi obteve apoio da
Fundação Internacional
da Juventude (IYF) para
implementar um programa
piloto de promoção do empreendedorismo
juvenil. Esta iniciativa
prevê que cerca de 1,250 jovens
moçambicanos beneficiem de um
conjunto de actividades de forma-
ção e serviços de apoio que lhes
facilitem o acesso a oportunidades
de trabalho mais digno e seguro
por via de emprego assalariado e/
ou por conta própria. AIYF e a
Gapi assinaram este compromisso
numa cerimónia realizada no dia
15 de Novembro, em Maputo.
No âmbito deste programa, estão
ainda previstas actividades que
contribuam para o aumento do
número e melhoria do desempenho
de negócios e de empresas
pertencentes a jovens. Para isso
será promovida a prestação de
formação integrada sobre empreendedorismo
e competências
técnicas e de vida aos jovens e de
melhorias no acesso a produtos
e serviços financeiros relevantes
para iniciarem e desenvolverem os
seus negócios.
grama, a Gapi irá cooperar também
com o INEFP – Instituto de
Formação Profissional – que tem
centros de treino vocacional em
várias regiões do País e que poderão
dar suporte técnico à formação
vocacional de jovens para promoverem
a sua empregabilidade.
A Gapi está a implementar outros
programas de fomento à iniciativa
empresarial de jovens, com destaque
para o Agro-Jovem. Ainda
no dia 17 de Novembro do corrente
ano, o Comité de Avalia-
ção do Agro-Jovem aprovou 11
projectos para serem submetidos
a financiamento. O Agro-Jovem
tem o apoio da DANIDA e envolve
parcerias com sete entidades
de ensino técnico superior. Para o
primeiro pacote de assistência técnica
e financeira dos projectos do
Agro-Jovem, a Gapi está a aplicar
um total de cerca de 10 milhões
de Meticais.
António Souto e Ilídio Caifaz durante a assinatura do memorando de entendimento
O Memorando de Entendimento
rubricado entre a Gapi-SI e a
IYF cria condições para que estas
instituições trabalhem no sentido
de promover mudanças sistémicas
e estabelecimento de parcerias,
com vista a proporcionar resultados
de auto-emprego, empreendedorismo
de elevado impacto
para jovens com ênfase na inclusão
financeira. Esta parceria visa
também contribuir para a criação
de modelos efectivos e replicáveis
que ampliem a oferta de assistência
técnica a jovens empreendedores
nas zonas mais vulneráveis de
Moçambique.
A cooperação agora estabelecida
entre a IYF e a Gapi estende-se
até ao final de 2020 e enquadra-se
numa iniciativa denominada “Via:
Rotas para o Trabalho”, que visa
“Aumentar o número e melhorar
o desempenho de negócios e empresas
pertencentes a jovens”.
As actividades previstas nesta iniciativa
piloto, que também decorre
na Tanzânia, abrangerão a Cidade
de Maputo, Províncias de Maputo,
Inhambane e Tete. Neste pro-
Savana 02-12-2016 EVENTOS
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O
ministro dos Transportes
e Comunicações, Carlos
Mesquita, garantiu, na
última sexta-feira, que
não haverá problemas de transporte
interprovincial e regional
na quadra festiva que se avizinha.
Carlos Mesquita deu esta garantia
após a visita que efectuou ao Terminal
Rodoviário Interprovincial
da Junta, na cidade de Maputo,
onde, para além de se inteirar do
seu funcionamento, manteve um
encontro com a equipa de gestão
e os transportadores.
Neste momento, conforme explicou
o ministro, os transportadores
estão a operar abaixo da
sua capacidade porque a procura
reduziu, particularmente para as
regiões Centro e Norte do País,
devido à tensão político-militar.
“Há condições para responder à
procura que caracteriza a quadra
Mesquita garante tranquilidade
festiva. Os operadores têm meios
de diferentes capacidades para o
transporte interprovincial e regional”,
disse o governante, que
foi informado da suspensão das
actividades, por parte de alguns
operadores, por questões de segurança.
Em resposta, Carlos Mesquita
tranquilizou-os e apelou-os a
retomarem à actividade, pois “a
situação está controlada. As For-
ças de Defesa e Segurança estão a
desempenhar o seu papel, sendo
prova disso o facto de haver autocarros
a circular sem problemas”.
Durante a visita ao Terminal Interprovincial
da Junta, Mesquita
constatou haver muitos aspectos
por serem melhorados, para garantir
o embarque e desembarque
de passageiros com o necessário
conforto e segurança. “Constatamos
haver aspectos sobre os
quais precisamos de trabalhar
em conjunto para melhorarmos.
Os passageiros precisam de ser
tratados com a dignidade que
merecem. O terminal anda cheio
de gente estranha à actividade de
transporte, alguns transportadores
usam o terminal como parque
de estacionamento, entre outras
anomalias que merecerão uma
reflexão conjunta para o bem dos
utentes do terminal”, disse aquele
governante.
Ainda sobre a quadra festiva, diferentes
intervenientes (Alfândegas,
Migração, Polícia, Transportes
e Comunicações, entre outros)
estarão reunidos na próxima semana
para delinear estratégias de
modo a facilitar a mobilidade de
pessoas e bens, bem como o combate
à sinistralidade rodoviária.
“Será levada a cabo uma campanha
educativa e apelativa visando
este fim. Para além do sector
rodoviário, estarão envolvidas
entidades ligadas ao transporte
marítimo”, disse Carlos Mesquita,
que também visitou a Direc-
ção dos Transportes e Trânsito da
Cidade de Maputo, no âmbito do
programa de acções de controlo
de infra-estruturas e organização
do transporte de passageiros.
Na entrevista concedida aos jornalistas,
o ministro dos Transportes
e Comunicações falou
também do encontro que manteve
na quinta-feira, dia 24, com o
Secretário-geral da União Internacional
das Telecomunicações,
Houlin Zhao, que visitou o nosso
País a seu convite.
“Abordámos diversos assuntos,
com particular realce para as calamidades
naturais associadas às
mudanças climáticas, segurança
cibernética, expansão da banda
larga para as zonas recônditas
do País e a migração digital, cujo
projecto e contrato já foram assinados”,
referiu Carlos Mesquita.
Relativamente às calamidades
naturais associadas às mudanças
climáticas, uma questão que preocupa
diversos países do mundo e
que merece uma atenção especial,
foi estabelecido um rol de acções
de cooperação entre Moçambique
e a União Internacional das
Telecomunicações, visando a troca
de informações, transferência
de tecnologia, formação profissional
e especialização de quadros
nacionais.
A
Action Aid, uma organização
não-governamental
que trabalha na
promoção dos direitos
humanos, está a levar a cabo uma
campanha que visa advogar pelo
direito à educação das raparigas,
bem como criação de condições
para conferir qualidade à educa-
ção pública no país.
Num estudo produzido por esta
organização, em 14 escolas do
distrito de Marracuene, província
de Maputo, as razões da desistência
da escola pelas raparigas são
percepções culturais e as normas
que restringem a educação e empoderamento
da rapariga. Isto
porque os pais, muitas vezes, não
valorizam a educação das raparigas,
sendo que estas são forçadas
a casarem-se precocemente.
Amad Sucá, director da Action
Aid Moçambique, aponta a falta
de infra-estruturas básicas para a
promoção de um ambiente saudável
de educação surge como
outra causa de desistência dos
alunos, com destaque para a rapariga.
Citando um estudo produzido
pela instituição, destaca que
45% das salas de aulas visitadas
são de condição precária e cerca
de 69% de crianças em idade escolar
diz estar insatisfeita com as
condições oferecidas.
O projecto que visa promover
uma educação de qualidade, através
da mobilização progressiva
de recursos internos, é financiado
Action Aid preocupada
com qualidade
de educação
pela Agência Norueguesa de Cooperação
para o Desenvolvimento
(Norad) e é implementado em
mais cinco países, Etiópia, Malawi,
Myanmar, Nepal e Tanzânia)
Neste moldes, Sucá, que falava
semana finda numa mesa redonda
envolvendo parceiros, representantes
do governo, das escolas
abrangidas e alunos, manifestou
a sua preocupação com fraco investimento
feito pelo governo na
melhoria das condições das salas
de aulas e aponta que a única
via para mobilização de recursos
internos passa pela revisão dos
contratos com os mega projectos,
de modo que paguem impostos
justos.
Esclarece que, enveredando por
esta prática, o estado ganha a sua
independência económica e reduz
a dependência de apoio dos doadores,
que regra geral apostam em
projectos localizados.
Em representação do ministério
da Educação e Desenvolvimento
Humano, André Uthiu disse que
as questões levantadas são do conhecimento
governamental e lamentou
a falta dinheiro para a sua
materialização. Segundo Uthui,
esta situação agrava-se pela situação
económica que o país atravessa
e que faz com que cerca de
90% da dotação orçamental para
o ministério seja para o pagamento
de salários e outras despesas de
funcionamento, sendo que os restantes
10% são para investimento,
o que se mostra exíguo para a realidade
do país.
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