sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Crónica de uma morte encomendada – Jorge Eurico



Luanda – Jéssica Coelho tem menos de trinta anos, mas, por incrível que pareça, já é dona de uma coragem inaudita e de uma mente perversa que deixa qualquer um a tremer como varas verdes na orvalhada da madrugada.

Fonte: Club-k.netProveniente de uma família com posses ― materiais e financeiras―, tudo lhe foi dado. Tudo, excepto o essencial: uma educação moral e cívica, pela qual deve pautar-se qualquer ser humano que se preze e queira (sobre) viver numa sociedade harmoniosa. O que me leva a crer tratar-se, no final de contas, de uma família moral e intelectualmente paupérrima.

Se fosse moral, espiritual e civicamente “abastada”, a conduta de Jéssica Coelho seria segura e garantidamente outra. E não me venham com o argumento segundo o qual o seu comportamento foi influenciado por uma qualquer novela brasileira ou filmes violentos a que assistimos todos os dias.

Adiante. A família de Jéssica Coelho desembolsou o dinheiro sem saber para quê e por que razão ela o queria, ou seja, desconhece negligentemente quão bem faz um “não” a uma criança ou adolescente.

O dinheiro foi dado e com ele mandou executar o namorado, Jorge Valério Coelho da Cruz (Tucho) por mero arrufo entre os dois. Jéssica Coelho não precisou de puxar de uma pistola e premir o gatilho para tirar a vida a um jovem que tinha um futuro promissor, a julgar pelas referências académicas a que os colegam e amigos com quem privou aludem. Não. Limitou-se a pedir uma arma que os pais tinham à mão de semear e a que ela tinha, também, acesso: dólares norte-americanos.

E precisou de apenas oito mil, que serviram para contratar alguns “capangas” que se encarregariam de fazer o trabalho sujo obedecendo a ordens directas de Jéssica Coelho: matem, esfolem… e não importam as consequências.

Os “cangaceiros” de Jéssica Coelho fizeram por merecer os oito mil dólares. Por isso mesmo, a execução de Jorge da Cruz (Tucho) teve requintes de malvadez dignos do lado mais obscuro da mente humana. Um homem que durante a sua meninice (e não só) teve o grato privilégio de frequentar a catequese e de assistir à missa ao domingo, jamais seria compelido a cumprir tão macabra missão.

A execução de Jorge da Cruz (Tucho) foi, quanto a mim, um dos mais perversos crimes de que tomei conhecimento. Mais um a ser acrescentado às estatísticas que, ultimamente, nos têm proporcionado uma visão arrepiante de alguns dos assassinatos mais frios e cruéis que tiveram lugar no nosso país, particularmente em Luanda que, nos tempos que correm, parece estar à mercê criminosos violentos ligados ao crime organizado que, ao que parece, aqui encontrou terreno fértil.

Por isso, a Direcção Nacional de Investigação Criminal (DNIC) não quis deixar os seus créditos por mãos alheias. Arregaçou mangas e, como resultado, apresentou recentemente em Luanda três presumíveis autores materiais do homicídio voluntário do cidadão Jorge Valério Coelho da Cruz (Tucho), em Setembro do ano transacto.

Trata-se de João Manuel Mateus, "Teodoro Bate Ngo", Victor Nsumbo Valdemiro "Baía" e Manuel Daniel Lopes Lima "Bravo", que se encontram detidos na DNIC juntamente com Jéssica Coelho, ex-namorada da vítima.

Ainda bem que a DNIC fez jus ao seu papel. Doutro modo, seríamos obrigados a pensar que, em Luanda, estamos à mercê de criminosos violentos. Mais: poderíamos igualmente ser levados a pensar que a Justiça, em Angola, olha para o estatuto económico e social das pessoas como factor decisivo na determinação da culpa ou na absolvição. Aliás, o tempo da impunidade já lá vai!

*Texto extraído na página do Facebook do autor

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