A sangrenta repressão de protesto de mineiros sul-africanos, que contou com tiros da força policial e causou 34 mortos nesta semana, pode também ferir o Congresso Nacional Africano (ANC) no governo e o seu principal aliado trabalhista, aumentando a insatisfação dos trabalhadores sobre as persistentes desigualdades na maior economia africana.
O tiroteio de quinta-feira, que traz de volta memórias da época da violência do apartheid, destacou que, após 18 anos no poder, o governo do ANC e os seus parceiros nos sindicatos não foi capaz de fechar as fissuras causadas pela desigualdade salarial, pobreza e desemprego que persistem no país.
O incidente mais mortífero de segurança desde o fim do apartheid expôs o profundo descontentamento dentre as bases da União Nacional dos Mineiros (UNM), maior sindicato do país, que tem sido um "campo de treino" da liderança do ANC e um firme apoiante do presidente Jacob Zuma.
"O UNM é totalmente voltado para a política. Eles esqueceram-se dos
homens dentro das minas", disse Lazarus Letsoele, um dos mineiros em
greve na mina de Lonmin Marikana, cerca de 100 km a noroeste de
Johanesburgo.
Ele escapou na quinta-feira quando a polícia abriu fogo contra os
grevistas no que foi chamado de "massacre de Marikana", que gerou uma
investigação do governo, e uma onda de questionamentos internos na
África do Sul pós-apartheid.
Apesar dos bilhões de dólares de investimento do ANC na redução de
pobreza e aprovação de leis simpáticas aos sindicatos para proteger
trabalhadores que no passado eram explorados pelo regime de minoria
branca, a distância entre ricos e não-ricos é ainda uma das maiores do
mundo.
O Produto Interno Bruto (PIB) per capita é de cerca de US$ 8 mil por
ano, mas quase 40% da população vive com menos de US$ 3 dólares.
"Queremos mais dinheiro e queremos alguém que possa conseguir isso para
nós", disse um mineiro que pediu para ser chamado apenas pelo seu
primeiro nome Paulo e que vive num bairro pobre diante do campo em que
os trabalhadores foram mortos a tiros.
A platina produzida pelos trabalhadores da mina de Lonmin é vendida
por cerca de US$ 1.440 a onça, mas um trabalhador que extrai toneladas
de rochas do subsolo recebe menos que US$ 500 por mês. "Esta greve é
contra o Estado e os ricos, não apenas uma questão sindical", disse
Justice Malala, analista político do jornal britânico Guardian.
(Com Reuters)
RM – 18.08.2012
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