Um grito sobre o Património
Texto e fotografia de
Glória Santos
A
riqueza de um país mede-se pelos seus recursos, minerais, naturais e
histórico-culturais – o seu património. Património que, no nosso País,
está a saque, abandonado ou a desaparecer.
Os recursos minerais, por exemplo: jazidas de ouro e pedras preciosas são explorados por empresas desconhecidas pelo povo, ou, ilegalmente, por zimbabweanos.
Os
recursos naturais de relevo como as belas ilhas dos Arquipélago das
Quirimbas e de Bazaruto são explorados por cadeias internacionais de
hotéis – onde o turista paga tudo no local de origem. Os contactos para
se fazerem as reservas nesses lugares passam pela África do Sul.
Será que os turistas sabem que estas ilhas estão em território moçambicano?
A pergunta é: as receitas do turismo entram para os nossos cofres?
Montanhas
com formações rochosas grandiosas, como o Monte “Cabeça de Velho” no
Chimoio, correm o risco de desaparecer por causa da extracção de pedra
para a construção, a que estão sujeitas.
Florestas, no Niassa, estão a ser desmatadas para a exploração de madeira por concessionários chineses. Dá vontade de gritar !
E o
património cultural? Esse... não é lucrativo ! Por isso, vive ao
abandono! Como os painéis de pintura rupestre nas montanhas de
Chimanimani, Vumba e Riane; as Igrejas e palácios de arquitectura
colonial, do fim do Séc. XIX, que se encontram espalhados, pelo País,
são testemunho de um passado que vai desaparecendo – ruindo,
simplesmente, como na Ilha do Ibo, - ou transformando-se em caricaturas
do que tinham sido, com modernizações cegas, próprias de quem nada
entende de estilos arquitectónicos e seu valor.
Como o que tem acontecido com os edifícios do início do século que se encontram na baixa da cidade.
Em
qualquer país que tem uma história colonial, exemplo de Cabo Verde,
Brasil, Argentina, Chile etc., o património - os edifícios, os
monumentos, as estátuas – são conservados e enaltecidos como riqueza de
uma cidade, de um país - uma mais valia para o turismo do país.
Mas, em Moçambique, não! Tem-se vergonha dele, arruma-se a um canto as estátuas, deixa-se destruir casas, e locais históricos.
Como o
que vai acontecer com a Vila Algarve – um edifício de belíssima
arquitectura, com painéis de azulejos, pintados à mão, de beleza impar,
importantes em qualquer parte do mundo – um edifício que poderia ser
destinado a um museu, enriquecendo a oferta cultural da cidade de
Maputo. Mas não !
É mais
rentável que seja deitada abaixo a História e vença a ganância
desenfreada! ... Um prédio de escritórios e apartamentos de luxo ! Sim !
É o que está a dar !
Espaços
como o da Vila Itália, o Clube dos Empresários, e alguns casarões da
Av. Julius Nyerere irão dar lugar a uma nova cidade, mais moderna, fria e
impessoal. Mas o que interessa isto para os detentores do dinheiro?
Negócios são negócios! Além disso, o novo-riquismo, não tem história.
Tem estilo (americano) !
A mim,
o que me admira é um governo, que por um lado, aposta no turismo como
motor para o combate à pobreza absoluta, e por outro, permite que se
destruam os elementos essenciais para atrair o turismo.
A
preservação do património tem uma importância fundamental para o
desenvolvimento e enriquecimento cultural de um povo. Os bens culturais
guardam informações, significados, registos da história humana –
reflectem ideias, crenças, costumes, condições sociais, ou políticas de
um grupo numa determinada época. Pois, são esses registos culturais que
nos propiciam um momento de reflexão e de crítica que nos ajudam a
localizar o grupo cultural a que pertencemos, e a conhecer outras
expressões culturais, cujas semelhanças nos complementam e cujos
contrastes dão forma ao povo moçambicano.
Estamos
a caminho de ser um País, um povo, sem riquezas. Corremos o risco de
perder as referências histórico-culturais! Cruzamos os braços e
desistimos... ou lutamos pelo que é de todos nós?
Contudo, gostaria de lembrar que a história não se apaga.
Jamais!
SAVANA – 11.06.2010
NOTA:
Sim a HISTÓRIA não se apaga. Mas quem quer que a encontremos? A FRELIMO não, até prova em contrário.
Fernando Gil
MACUA DE MOÇAMBIQUE
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