A longa marcha para a unidade que deu azo à fundação da Frelimo
Ecos do Simpósio alusivo aos 50 anos da FRELIMO.
A escola central do partido Frelimo na Matola acolheu, entre os dias 15 e 16 do mês em curso, um
simpósio alusivo aos 50 anos da fundação da Frelimo, que serão
celebrados em pompa no próximo dia 25 de Junho, com as cerimónias
centrais a terem lugar na cidade de Maputo. durante dois dias, a escola
da Frelimo na Matola transformou-se num verdadeiro “arquivo histórico”,
com a particularidade da nossa história colectiva como povo, como nação,
ser contada na primeira pessoa por várias figuras, em
diferentes momentos, que participaram na epopeia libertária que culminou
com a capitulação do colonialismo português, a 7 de Setembro de 1974, o
dia da vitória.
Na
escola central da Frelimo estiveram representados quase todos os
extractos da sociedade moçambicana, desde combatentes da libertação
nacional, geração 8 de Março, políticos - incluindo os da oposição -,
académicos, empresários a camponeses, entre outros, mas todos com o
mesmo desejo: beber de fontes primárias a história de Moçambique. Os
painelistas para o simpósio foram escolhidos com o objectivo de
reflectirem sobre os vários momentos que o processo libertário conheceu.
figuras como Joaquim Chissano, Lopes Tembe, Marcelino dos Santos e
Pascoal Mocumbi falaram do processo de unificação dos três movimentos de
libertação, nomeadamente, MANU, UDENAMO e UNAMI, até à fundação da
Frelimo a 25 de Junho de 1962, passando pelo tema que versou sobre o
papel da Frelimo na luta de libertação nacional, proferido
por figuras históricas como Alberto Chipande, Raimundo Pachinuapa, José
Moyane, Eduardo da Silva Nihia, entre outros comandantes militares.
Falou-se do papel da juventude na luta de libertação nacional, tema
discutido por figuras que lideraram a juventude na altura, com destaque
para John Kachamila.
Houve
também espaço para figuras como Deolinda guezimane ou Marina Machinuapa
falarem da emacipação da mulher e do seu contributo na luta de
libertação nacional. Houve, outrossim, espaço para dissertações,
proferidas por académicos notáveis como Eduardo Sitoé, entre outros.
A UNIDADE COMO FACTOR DECISIVO
Na verdade, foi o tema ligado à unidade nacional que mais revelações trouxe a lume, sobretudo por parte dos conferencistas Joaquim Chissano, Lopes Tembe e Marcelino dos Santos.
Chissano,
logo nas notas introdutórias, referiu que é a falsa a ideia que tem
vindo a ser propalada por alguns sectores contestatários à história
oficial, de que a ideia de unidade foi uma imposição do então presidente
da Tanzania, Julius Nyerere, para apoiar a Frelimo a instalar-se
naquele país.
“Não
foi uma ideia imposta. Nós sabíamos qual era a nossa fraqueza e o
Presidente Mondlane já tinha falado sobre isto quando visitou Moçambique
em 1961 e, mesmo em Filadelfia, quando se reuniu com o grupo de
estudantes das colónias portuguesas, foi mais afundo ao defender a
unidade dos movimentos de libertação das colónias portuguesas”,
esclareceu Chissano.
Por
outro lado, Chissano explicou ainda que sendo um dos líderes da União
dos Estudantes Moçambicanos, UNEMO, tentaram desde logo convencer a MANU
e a UDENAMO a unirem-se e “ameaçamos a não aderir a nenhum movimento de
libertação se eles não se unissem. Apresentávamos a UNEMO como sendo um
grande movimento estudantil. Já estava combinado e o Presidente
Mondlane havia tomado semelhante postura. Era preciso convencer a
UDENAMO e a MANU que a união fazia a força. Mondlane não estava
interessado na liderança sem que houvesse primeiro a unidade”, disse
Chissano.
Este
argumento de Chissano foi reiterado pelo militante Lopes Tembe, por
sinal, um dos fundadores de um dos movimentos de libertação: a UDENAMO
liderada pelo jovem Adelino Guambe.
COMO FOI POSSÍVEL A UNIDADE?
Tanto
Chissano, como Marcelino dos Santos e Lopes Tembe são unânimes em
afirmar que o convite para Eduardo Mondlane se juntar ao processo
libertário partiu da UDENAMO de Adelino Guambe.
Joaquim
Chissano e Lopes Tembe contaram que Mondlane foi a Dar-es-salaam e,
quando lá chegou, Adelino Guambe e Mateus Mole estavam em Acra, no Gana,
onde participavam numa reunião de partidos políticos e teve que esperar
pelo regresso dos mesmos.
“Sabendo
que se tratava de uma reunião para unificação dos movimentos de
libertação, Mole e Guambe tentaram puxar o tapete e assinaram às pressas
um documento de fundação da Frelimo em Acra. O presidente Mondlane
chegou a Dar-es-salaam, esperou por Guambe e Mole, mas o senhor Guambe,
quando regressa, procura-se esquivar do encontro com o Presidente
Mondlane e vai para o exterior (...) é falsa a ideia que procura dar
entender de que a Frelimo foi fundada em Acra. Ela (Frelimo) foi fundada
em Dar-es-salaam”, disse Chissano.
Sobre
esta questão, Marcelino dos Santos, que na altura fazia parte da
UDENAMO, não entrou muito em pormenores, defendeu, no entanto, que a
“ida dos companheiros a Acra foi necessária” e que em Maio foi, de
facto, “assinado um documento na Tanzania, onde os movimentos de
libertação se comprometiam a ir a Acra, mas que depois voltariam a
Tanzania para realizar a unidade e só foi nesse sentido que foi
autorizada a emissão de documentos de viagem”. Quer isso dizer que
Nyerere só autorizou a saída de Guambe e Mole da Tanzania depois destes
terem assinado um documento onde se comprometiam a unificar os
movimentos, acto que teria lugar na Tanzania e nunca em Acra, Gana.
Marcelino dos Santos não explicou se Adelino Guambe se sentia ameaçado
do ponto de vista das suas aspirações com a presença de Eduardo Mondlane
na Tanzania.
MONDLANE: O ARQUITETO DA UNIDADE
De
uma forma unânime, todos os painelistas sobre o tema da unidade
concordaram que a entrada de Mondlane no processo mudou o rumo da
história. Marcelino dos Santos chegou mesmo a chamar Mondlane de
“astro”, um “homem construído pelo povo e com sentido das coisas”.
Entretanto, há uma questão que não foi cabalmente esclarecida. A maior
parte dos painelistas afirmou que o presidente da UDENAMO, Adelino
Guambe, era contra a união dos movimentos. como é que a UDENAMO convidou
Mondlane para por via deste movimento apresentar a sua candidatura à
presidência da Frelimo. É que, conforme foi revelado, Mondlane não fazia
parte de nenhum movimento de libertação e, de acordo com o militante
Lopes Tembe, a UDENAMO terá convidado Mondlane a obter cartão deste
movimento e, por via disso, apresentar-se como candidato e terão sido os
membros da UDENAMO a fazerem forte campanha para Mondlane durante o
Congresso, já que (Mondlane) “era pouco conhecido”.
Chissano
foi mais longe a atacar Guambe, na medida em que “mesmo no congresso o
seu nome não apareceu em nenhuma lista que disputou com Mondlane a
liderança da Frelimo”, cargo que, como se sabe, Mondlane acabou sendo
eleito, tendo como vice-presidente Urias Simango. Todavia, engane-se
quem pensou que a unificação dos movimentos e a realização de eleições
parecia ter devolvido a força que faltava para dar novo impulso ao
processo de libertação nacional, conforme testemunho do militante
Pascoal Mocumbi. Este histórico militante disse que logo após a
realização do Primeiro Congresso instalou-se uma crise, com alguns
sectores a contestarem a composição dos órgãos da Frelimo
democraticamente eleitos. Os referidos conflitos prolongaram-se,
fracturaram a primeira direcção eleita e degeneraram com tumultos que
tiveram lugar no Instituto Moçambicano, na altura, liderado por Janeth
Mondlane, em 1968. Aliás, o próprio Chissano recorreu
durante a sua apresentação a vários documentos e cartas, algumas das
quais correspondências de Eduardo Mondlane com o seu vice-presidente,
Urias Simango.
“Urias
Simango escreveu uma carta ao Presidente Mondlane a narrar os
conflitos. Urias Simango narra ainda que durante o Congresso Marcelino
dos Santos e Pascoal Mocumbi desempenharam um papel importante durante
os trabalhos”, disse, para depois revelar ainda que quem lhe forneceu
esta documentação histórica foi um antigo militante da Frelimo, de nome
Fanuel Mahluza, “que se uniu a Guambe para fundar a nova UDENAMO. Eu
recuperei o Mahluza depois de ter estado escondido no Quénia e veio
morrer aqui em Moçambique. Ele quis contribuir com aquilo que sabia e
deixou-me com estes documentos antes de morrer”.
Marcelino
dos Santos, para além de olhar para o passado, fez também um apelo no
sentido da Frelimo de hoje inspirar-se nos ensinamentos do passado para
vencer os desafios actuais e projectar o país melhor para todos.
“essa
memória, camaradas, faz com que aqueles objectivos que planeamos juntos
continuem até acabarmos com a pobreza e voltarmos a ser uma pátria de
todos e para todos. Por isso que dissemos que libertámos a terra e os
homens. Cabe agora aos homens livres construirem o futuro para todos. É
esse o nosso esforço. Vamos continuar a nossa luta. Vamos fazer uma
terra de todos e para todos camaradas. A nossa luta continua para um
futuro melhor de igualdade, para todos os moçambicanos”, disse, para
depois concluir no seu tom característico que “enquanto haver revolução
para se refazer não há tempo para morrer. Temos que continuar até ao
fim, não podemos parar”.
E
assim foi o simpósio que foi, na verdade, um momento para nos lembrar
de onde viemos, onde estamos e, mais importante ainda, que país queremos
construir e que povo queremos ser. Aliás, como se costuma dizer, “o
povo que não conhece a sua história está condenado a repeti-la”!
Leia mais na edição impressa o "Suplemento Especial- 50 anos- Frelimo "do «Jornal O País»
1 comentário:
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