O Governo de Angola considerou que a paz é "uma conquista de todos os angolanos", mas a UNITA defendeu que o calar das armas ainda não se reflete na condição social e económica.
O Governo de Angola considerou hoje que a paz é “uma conquista de todos os angolanos”, mas a UNITA defendeu que o calar das armas, há 17 anos, ainda não se reflete na condição social e económica das famílias.
As declarações surgem no dia em que o país assinala o 17.º aniversário do fim da guerra civil (1975/2002), como Dia da Paz e Reconciliação Nacional, data que alude aos acordos de paz entre as forças governamentais e as da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), atualmente a principal força da oposição angolana.
Falando aos jornalistas após o içar da bandeira de Angola na Fortaleza de São Miguel, em Luanda, o ministro do Interior angolano, Ângelo da Veiga Tavares, lembrou o papel do antigo Presidente de Angola, José Eduardo dos Santos, na pacificação do país, desde o fim do conflito e cujo “espírito de perdão” foi “importante para a paz”.
“O alcançar da paz não foi apenas uma tarefa das forças de Defesa e Segurança, mas também do povo angolano”, sublinhou, seguindo depois para uma outra cerimónia oficial, junto ao monumento do Soldado Desconhecido, onde o ministro dos Antigos Combates e Veteranos da Pátria, João Ernesto dos Santos “Liberdade”, depositou uma coroa de flores em homenagem aos militares tombados pela paz.
João Ernesto dos Santos considerou que o “04 de abril” de 2002 constitui uma data “muito importante” e com um “significado muito diferente de outras” e aconselhou as novas gerações a seguirem o exemplo dos que estabeleceram a paz em Angola.
No mesmo tom, o Bureau Político do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) indicou que, 17 anos depois, “constata, aplaude e encoraja o facto de a sociedade angolana estar mais aberta”, em que os seus cidadãos “têm mais liberdade de expressão, de reunião e de associação e em que existe maior liberdade de imprensa”.
“O MPLA continuará a trabalhar para que as gerações presentes e vindouras valorizem todos aqueles que, sacrificadamente, deram o melhor de si para que esse tesouro nacional fosse hoje um benefício tangível, estimulando o orgulho dos que acreditam numa Angola cada vez melhor para todos, no respeito aos direitos, deveres e liberdades de cada um”, lê-se na declaração do partido no poder.
Já a UNITA, maior força da oposição angolana, e também numa declaração alusiva à efeméride, considerou que o calar das armas “ainda não se reflete na condição social e económica de muitas famílias”.
“Há muitas [famílias] que se conformam com elevados índices de pobreza, agravados pelo desemprego que afeta a juventude e os ex-militares, em particular”, sublinhou o secretariado executivo do Comité Permanente da Comissão Política da UNITA, que reclama o “cumprimento cabal” dos compromissos assumidos pelo Governo e o maior partido da oposição com vista à paz efetiva em Angola, tendo como base os acordos assinados em Bicesse, Lusaca e Luena.
“Longe de celebrarmos apenas mais uma data do calar das armas, a UNITA considera que se impõe uma profunda reflexão sobre as bases e pressupostos em que assentaram os precedentes que vieram a culminar com o Memorando de Entendimento do Luena [acordo de 2002], com vista à paz efetiva e duradoura, fatores imprescindíveis na construção e consolidação de um verdadeiro Estado Democrático de Direito”, lê-se na declaração.
“A celebração remete para a reflexão de que a paz social passa, inevitavelmente, pela boa governação, com a adoção de políticas públicas viradas para a resolução dos problemas candentes das famílias e das suas comunidades, mormente no que tem a ver com a distribuição justa e equitativa do rendimento nacional, educação e saúde de qualidade, bem como na igualdade de direitos e oportunidades para todos singrarem na vida, independentemente da sua condição política ou social”, refere.
A guerra civil em Angola (1975/2002) terminou após a morte, em combate, do líder histórico da UNITA, Jonas Savimbi, a 22 de fevereiro de 2002.
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