terça-feira, 30 de abril de 2019

Golpe falhou mas braço de ferro continua. Vai ser um quente 1.º de Maio na Venezuela

Muitos apoiantes de Juan Guaidó permaneciam nas ruas de Caracas durante a noite, prometendo não desmobilizar.

O dia na Venezuela começou às 5:46 locais (10:46 em Lisboa) com Juan Guaidó, a anunciar o início da fase final da Operação Liberdade para afastar Nicolás Maduro do poder. Junto à base aérea La Carlota, na zona de Altamira, o presidente interino venezuelano dizia ter o apoio das Forças Armadas e surgia num vídeo, partilhado no Twitter, à frente de vários militares. Nas imagens via-se também o líder opositor Leopoldo López, que estava em prisão domiciliária mas revelou ter sido libertado por militares às ordens de Guaidó.
Cerca de 12 horas volvidas, e após confrontos nas ruas de Caracas entre manifestantes e forças militares (que segundo as autoridades de saúde fizeram pelo menos 69 feridos), era claro que ainda não seria neste dia que o regime de Nicolás Maduro cairia.
Apesar de o golpe ter falhado, muitos apoiantes de Juan Guaidó recusavam sair das ruas, e prometiam mais manifestações para um 1.º de Maio que se adivinha bem quente naquele país latino-americano.

Razões para um golpe falhado

A meio da tarde, uma das mais prestigiadas (e premiadas) jornalistas venezuelanas, Luz Mely Reyes, revelava no Twitter que o plano original de Guaidó era lançar a Operação Liberdade noutro dia, após contactos com "altos comandos militares" e o Supremo Tribunal de Justiça.
No entanto, o facto de estar na iminência de ser detido levou a que Guiadó antecipasse a operação, o que fez que militares já contactados tivessem recuado no apoio que já lhe teriam declarado, escreveu ainda Luz Reyes.
Dos Estados Unidos, o conselheiro de Segurança Nacional dos EUA, John Bolton, reforçava esta tese, ao nomear três pessoas de topo do regime de Nicolás Maduro, que teriam assumido o compromisso de ajudar Guaidó a conseguir a "transferência pacífica de poder" no país.
Segundo Bolton, o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, o presidente do Supremo Tribunal, Maikel Moreno, e o comandante da guarda presidencial, Iván Rafael Hernández Dala, teriam dado garantias ao presidente interino, mas depois recuado.
A Casa Branca prosseguiu na atribuição de responsabilidades externas aos acontecimentos na Venezuela. O Presidente Donald Trump, pelo Twitter, apontou o dedo a Cuba, por o país comunista estar a apoiar Maduro "com tropas e milícia""Se não terminaram imediatamente as operações militares e outras com o objetivo de provocar a morte e a destruição da Constituição da Venezuela, um total e completo embargo, juntamente com sanções ao mais alto nível, será imposto à ilha de Cuba", escreveu Trump.
E o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, numa entrevista televisiva, afirmou mesmo ter informações que Nicolás Maduro teria estado pronto para abandonar o país -- e pedir asilo a Cuba -- mas que só não o fez porque o presidente russo, Vladimir Putin, o convenceu a ficar na Venezuela.

Maduro demorou cinco horas a reagir

Independentemente da veracidade destas informações, facto é que o presidente venezuelano -- cujo mandato não é reconhecido por mais de 50 países -- reagiu mais de cinco horas após o apelo de Guaidó, dizendo ter o controlo e o apoio dos militares.
"Nervos de aço! Conversei com os comandantes de todas as Redi [Regiões de Defesa Integral] e Zodi [Zonas de Defesa Integral] do país, que me manifestaram a sua total lealdade ao povo, à Constituição e à pátria. Apelo à máxima mobilização popular para assegurar a vitória da paz. Venceremos!, escreveu então no Twitter - a última publicação que fez até ao início da madrugada (hora de Lisboa).

Momentos de violência

A tarde ficou marcada por vários episódios de violência. Correram mundo as imagens do momento em que um veículo militar atropelou vários manifestantes numa zona de Altamira, próximo da base aérea de La Carlota.
Houve ainda, segundo o El Mundo, que cita a Policlínica Metropolitana de Caracas, vários feridos de balas.

Apoiantes de Maduro nas ruas...

Do outro lado da barricada, houve também manifestações. Apoiantes de Maduro reuniram-se junto ao Palácio de Miraflores para apoiar o presidente e o ministro da Defesa, Vladimir Padrino, chegou a avisar: "Se for preciso usar as armas... vamos usá-las".

...Guaidó em parte incerta

Após ter liderado uma marcha que, aparentemente, visava chegar ao Palácio de Miraflores -- movimento que não foi bem sucedido -- o presidente interino ausentou-se dos olhares públicos.
Segundo um canal de televisão, Juan Guaidó chegou a prometer uma intervenção para as 18:00 (23:00 em Lisboa), mas tal não se realizou até ao cair da noite, era já madrugada em Portugal.

Sem comentários: