Samuel Fortes seguiu a jovem, agora com 20 anos, antes de a violar e de lhe bater. A vítima estava a fazer uma videochamada com o namorado quando foi atacada — uma peça chave na investigação.
A jovem de 19 anos ligou para o namorado quando percebeu que estava a ser seguida. Tinha ido sair à noite com amigos e dirigia-se para casa, a pé. Eram cerca das 3h00 da madrugada quando parou na rua St Paul’s, no centro de Leeds, uma cidade no norte da Inglaterra, para fazer uma chamada de vídeo com o namorado, através da aplicação FaceTime. A dada altura, a cara de um homem surgiu no ecrã do seu telemóvel e a chamada caiu: a jovem estava a ser atacada.
O namorado assistiu a apenas alguns segundos desse ataque, mas os suficientes para conseguir fazer um screenshot [captação de imagem do ecrã] à cara do atacante. Foi uma ” uma peça chave”, segundo escreveu a polícia de West Yorkshire, no seu site, e que permitiu identificar o agressor: Samuel Fortes. O português de 27 anos (na altura, com 26), a residir em Inglaterra, era o homem que tinha atacado a jovem na madrugada de 23 de junho de 2018, debaixo de uma ponte pedonal. Esta quinta-feira, quase dez meses depois do crime, Samuel Fortes foi condenado a prisão perpétua por violação e agressão.
O namorado da vítima assistiu ao início de um ataque que durou cerca de 15 minutos — entre as 3h15 e as 3h30 da madrugada. O atacante destruiu de imediato o telemóvel, terminando assim com a chamada de vídeo. Depois, arrastou a jovem para debaixo da ponte pedonal, no centro da cidade, “agrediu-a fisicamente e violou-a”, deixando-a com “lesões faciais graves”, escreve a polícia de West Yorkshire, no seu site.
Durante o ataque de 15 minutos, Samuel Fortes arrastou e levou a vítima para debaixo da ponte pedonal. Lá, agrediu-a fisicamente e violou-a. Ela ficou com lesões faciais graves, incluindo num dente, e um inchaço profundo no rosto e corpo”, escreve a polícia no site.
O namorado já tinha ligado para as autoridades — fê-lo assim que percebeu que a jovem tinha sido atacada. Mas a polícia não chegou a tempo de impedir o ataque ou de prender o autor. Até porque, depois de cometer os crimes, Samuel Fortes escondeu-se durante mais de uma hora num arbusto, antes de fugir para a cidade onde vivia: Sheffield — a cerca de 56 quilómetros de Leeds, onde ocorreu o ataque.
A jovem acabaria por ser encontrada por três pessoas que seguiam na ponte pedonal quando de depararam com a sua mala, o telefone e chaves. Encontraram a vítima semi-nua e ensaguentada — e chegaram a ver Samuel Fortes a afastar-se do local.
O fio de cabelo, as imagens de videovigilância e o sangue nos sapatos. Como a polícia chegou a Samuel Fortes
Um análise forense ao local do crime fez com que a polícia rapidamente encontrasse o seu autor. Foi recolhido um fio de cabelo que permitiu chegar ao ADN do agressor — que correspondia ao de Samuel Fortes. É que o ADN do português já constava na base de dados da polícia uma vez que se encontrava a cumprir uma pena suspensa por violência doméstica contra uma ex-companheira em 2017.
As nossas equipas forenses realizaram uma análise meticulosa do cenário do crime que ajudaram a identificar o suspeito tão rapidamente. Um único fio de cabelo ajudou a garantir que Samuel Fortes não fosse uma ameaça para mais ninguém“, disse o inspetor-chefe Jaz Khan em tribunal, esta quinta-feira.
A polícia analisou também horas de filmagens de câmaras de videovigilância, captadas naquela noite que mostravam o suspeito a seguir a vítima, na madrugada de 23 de junho de 2018 — e que entretanto divulgou no site. “Ele também foi detetado após o ataque a ir do centro da cidade de Leeds até Sheffield de comboio”, escreve.
Foi a própria vítima que pediu às autoridades que as imagens de videovigilância fossem divulgadas para “ajudar a mostrar” que a polícia faz tudo o que está ao seu alcance para “apoiar as vítimas e conseguir que se faça justiça por elas”, explicou o inspetor-chefe em tribunal, esta quinta-feira, adiantando que as filmagens divulgadas “são apenas uma pequena parte” das imagens que foram visualizadas de Samuel Fortes a seguir a jovem.
[Veja as imagens de videovigilância divulgadas que mostram Samuel Flores a seguir a vítima]
Era quase certo que Samuel Fortes era o agressor que a polícia procurava. Tão certo que as autoridades desencadearam operações de buscas para o encontrar e divulgaram essa informação. “Preciso de falar com Samuel com urgência”, disse o inspetor-chefe Jaz Khan, na altura ao jornal Metro, alertando: “Devo avisar a todos que pensarem que estão a ver Samuel para não se aproximar dele, mas chamar a polícia imediatamente”.
As autoridades acabaram por localizar Samuel pouco depois. “Quando foi detido, o sangue da vítima ainda estava nos seus sapatos“, escreveu a polícia no seu site. Seis dias depois do ataque, Samuel Fortes foi presente a tribunal para ser formalmente acusado de violação e ofensa à integridade física na forma tentada. Em novembro, quando presente a um juiz novamente, acabou por confessar os crimes. Esta quinta-feira, foi condenado a prisão perpétua com a possibilidade de pedir liberdade condicional quando cumprir oito anos da pena — um pedido que poderá ser sempre recusado, cumprindo-se assim a prisão perpétua.
“Fiquei na mesma posição durante dias a questionar o que podia ter feito de diferente”
Num comunicado escrito pela vítima e lido em tribunal, a jovem falou sobre aquele que considera e espera ser “o ponto mais baixo, mentalmente”, na sua vida. A jovem, agora com 20 anos, revelou que, durante vários dias depois do ataque, não conseguia sair da cama porque “não via uma razão para o fazer”. A vítima disse que, quase um ano depois, ainda se sente “enojada com a ideia de que um humano poda fazer isto a outro”. “Pensei que ia morrer. É um sentimento que nenhuma palavra consegue descrever”, disse.
Fiquei na mesma posição durante dias a questionar o que poderia ter feito diferente. A questionar por que é que era a vítima e a questionar se a dor que causei à minha família valeria a pena”, desabafou.
A jovem recordou ainda, no comunicado lido em tribunal, uma frase que ouviu do pai, quando este explicou ao irmão o que tinha acontecido: “É como se estivesses a proteger uma flor há 19 anos e de repente alguém vem e pisa” — uma frase, contou a jovem, que “nunca” esquecerá.