Guaidó apelou a uma mobilização civil e militar contra Maduro. O opositor Leopoldo López foi libertado e a base La Carlota foi tomada. Há confrontos entre manifestantes e a Guarda Bolivariana.
O dia amanheceu na Venezuela com um anúncio do Presidente interino Juan Guaidó no Twitter a pedir uma mobilização militar e popular contra Nicolás Maduro e anunciando a fase final da “Operação Liberdade”. Desde então, manifestantes pró-Guaidó e pró-Maduro reuniram-se nas ruas de Caracas, com relatos de confrontos, tiros e gás lacrimogéneo em alguns locais. Há problemas com as comunicações no país. Vários países já se pronunciaram a favor e contra a mobilização de Guaidó, mas ainda não é certo quantos militares estão com o autoproclamado líder venezuelano, qual o paradeiro de Maduro ou se este dia poderá terminar de forma violenta.
Confira o que sabe e o que falta saber sobre a situação na Venezuela.
O que se sabe
- O dia começou com uma mensagem no Twitter de Guaidó, às 5h46 (hora local, 10h46 em Lisboa), onde o autoproclamado Presidente se dirigia aos venezuelanos e pedia aos militares e aos civis que se mobilizassem pela democracia e se dirigissem à base aérea La Carlota.
- O opositor político do regime chavista, Leopoldo López, que se encontrava em prisão domiciliária, foi libertado ainda de manhã por militares próximos de Guaidó. Entretanto, pediu asilo na missão diplomática chilena, juntamente com a mulher e os filhos.
- Maduro reagiu horas depois, através do Twitter, pedindo “nervos de aço” e garantindo que todos os comandantes de todas as Regiões de Defesa Integral e de Zonas de Defesa Integral do país se mantêm leais ao regime.
- Vários países anunciaram publicamente o seu apoio a Guaidó e pediram uma transição pacífica, entre eles Espanha, Colômbia, EUA, Brasil, Reino Unido, Perú, Panamá, Costa Rica, Chile, França, Alemanha e também Portugal. Outros países, como a Bolívia e a Rússia, mantiveram o seu apoio a Maduro.
- Registaram-se confrontos entre a Guarda Nacional Bolivariana (GNB) e manifestantes pacíficos em vários pontos de Caracas. Os mais intensos terão sido perto da base militar de La Carlota, tomada por civis que responderam ao apelo de Guaidó. Aqui vários manifestantes terão sido inclusivamente atropelados por veículos da GNB e há relatos de tiros. Registaram-se ainda manifestações nas seguintes zonas da capital: Candelaria, El Paraíso, La California, Los Cortijos, Caricuao, Los Dos Caminos e Altamira. Pelo menos 52 pessoas terão ficado feridas nos confrontos em Altamira e em La Carlota. Ao todo, pelo menos 11 pessoas terão sido detidas.
- As comunicações locais, a internet e a emissão de órgãos de comunicação no país estão afetados.
- O metro de Caracas está encerrado e as companhias aéreas Air France e Iberia suspenderam os voos para a capital venezuelana.
- Guaidó discursou perante os seus apoiantes na praça de Altamira, no centro de Caracas. Afirmou que ficaria ali até os restantes militares se juntarem a si. Entretanto, durante a tarde, encabeçou a marcha que se dirigiu para “oeste de Caracas”, não sendo ainda certo se o Palácio de Miraflores, onde se concentram os apoiantes pró-Maduro, era o destino final. Contudo, a marcha foi travada por ação da Guarda Nacional Bolivariana, que utilizou gás lacrimogéneo.
O que falta saber
- Que militares (e quantos) estão com Guaidó? Relatos iniciais dariam conta de que um dos militares que liderava o movimento seria o lusodescendente José Ornella Ferreira, mas este terá desmentido tal informação no seu Twitter. Em Altamira foi possível ver alguns militares junto de Guaidó, mas seriam apenas algumas dezenas — 40, segundo o ABC. Não é certo se há outros homens com o autoproclamado Presidente interino. Ferreira, por exemplo, não fez qualquer vídeo a declarar lealdade a Guaidó ou a Maduro.
- Onde está Maduro? Ninguém sabe se o Presidente venezuelano se encontra em Miraflores ou noutro local. No tweet que partilhou, Maduro não acompanhou a frase de nenhuma imagem que pudesse indicar a sua localização.
- Haverá um banho de sangue? É a pergunta que muitos fazem perante uma situação de tensão crescente. Se Guaidó e os seus apoiantes se dirigirem a Miraflores, ninguém sabe qual poderá ser a resposta do regime chavista. O ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos Silva, destacou que há relatos de que as forças do regime estão a “convocar e exortar” os colectivos, grupos armados de civis pró-regime, a agirem.
[Veja no vídeo como a Venezuela entrou em ebulição com tiros e avanço sobre civis]
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