Vladimir Padriño diz que há “um golpe de Estado” em curso, promovido pelos EUA. Garante apoio das Forças Armadas a Maduro e diz que "os problemas" da Venezuela se resolvem "com diálogo".
O ministro da Defesa da Venezuela, Vladimir Padriño, classificou como “um golpe de Estado contra a Constituição e o Presidente, Nicolás Maduro”, a autoproclamação do líder oposicionista Juan Guaidó como Presidente interino, com o apoio dos Estados Unidos e de vários países latino-americanos. E advertiu sobre os riscos de o país cair na guerra civil.
"Estamos aqui para evitar, a todo o custo, um conflito entre venezuelanos. Não é uma guerra civil, uma guerra entre irmãos, que vai resolver os problemas da Venezuela. É o diálogo", disse Padriño.
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“Nós os membros das Forças Armadas, sabemos bem quais são as consequências [de uma guerra], basta-nos olhar para a História da humanidade, ou para o século passado, quando milhões e milhões de pessoas perderam as suas vidas"., disse, ao mesmo tempo que garantia a Maduro o apoio do aparelho militar.
“Estão a tentar repetir o ocorrido em 2002, mas não vamos permitir que aconteça de novo”, disse o general numa comunicação ao país, referindo-se à tentativa de golpe de Estado, com apoio dos EUA, que chegou a afastar do poder Hugo Chávez. Os apoiantes de Chávez mobilizaram-se então para conseguir que regressasse ao poder, e a tentativa de afastamento do Presidente legitimamente eleito, que foi incentivada pela diplomacia de George W. Bush, não teve grande aceitação no palco internacional.
Rodeado de outras chefias militares, Padriño, general de quatro estrelas, afirmou estar em curso “um golpe de Estado de sectores da ultradireita que ontem [quarta-feira] chegou a limites perigosíssimos”.
“Há uma tentativa de impor um governo paralelo, sem apoio popular”, disse Padriño, no que classificou como um episódio de “guerra híbrida sem precedentes, para gerar ingovernabilidade na Venezuela”.
A posição dos militares no conflito entre o Governo de Maduro e a oposição é fundamental – não admira que Juan Guaidó tenha tentado, desde o início, puxá-los para o seu campo. As chefias, no entanto, parecem manter-se leais ao chavismo. “As Forças Armadas Nacionais Bolivarianas da Venezuela reconhecem como legítimo presidente Nicolás Maduro”, frisou Padriño.
“Não serão toleradas acções ilegais do governo paralelo que nos afastem do caminho da democracia, [nem serão tolerados] actos de vandalismo que perturbem a paz cidadã”, disse o ministro da Defesa.
Dezasseis mortos identificados
Nas manifestações de quarta-feira contra o regime de Maduro, a violência nas ruas nas principais cidades da Venezuela fez pelo menos 16 mortos, de acordo com o balanço feito pelo Observatório Venezuelano de Conflituosidade Social.
O director da organização, Marco Antonio Ponce, disse que as 16 vítimas já foram identificadas, mas não foi revelado em que circunstâncias ocorreram as mortes.
A Amnistia Internacional acusou as autoridades venezuelanas de recorrerem a uma “política de repressão” para conter os protestos. “Em vez de procurar soluções e abrir espaços para atender as exigências, as autoridades de Nicolás Maduro enviam para as ruas funcionários militares e policiais para aplicar a sua política de repressão”, afirmou a organização através de um comunicado.
Durante a manifestação de quarta-feira em Caracas, o presidente da Assembleia Nacional, Juan Guaidó, declarou-se Presidente interino do país, invocando a Constituição para considerar Maduro como Presidente ilegítimo. Os EUA foram os primeiros a anunciar publicamente que reconhecem Guaidó como chefe de Estado, abrindo caminho a que outros governos o fizessem.
Dos 14 países que compõem o Grupo de Lima (organização de países do continente americano criada em 2017 para debater a crise na Venezuela), 11 reconheceram a legitimidade de Guaidó. Entre as principais excepções está o México, que disse que não irá rever “para já” o seu posicionamento em relação à Venezuela.
A China, Rússia, Cuba, Bolívia e Nicarágua manifestaram apoio a Maduro e de Moscovo vieram as palavras mais duras contra a interferência norte-americana no país. “Consideramos que a tentativa de usurpar a autoridade soberana da Venezuela contradiz e viola as bases e os princípios do direito internacional”, afirmou o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
Na União Europeia, a resposta ao mais recente desenvolvimento da crise venezuelana foi mais cuidadosa. As declarações de vários governos e instituições comunitárias frisaram sobretudo a necessidade de se apoiar a legitimidade da Assembleia Nacional e de assegurar a segurança dos vários actores envolvidos, incluindo Guaidó. Mas não foi declarado um reconhecimento explícito à semelhança do que fez a maioria dos países da América Latina.
“O problema é que não podemos reconhecer alguém que não foi eleito democraticamente”, disse à Reuters um diplomata europeu, sob anonimato. “Isso iria criar um precedente perigoso para qualquer outra pessoa que queira proclamar-se presidente de alguma coisa”, acrescentou.
Ordens contraditórias
A primeira frente de batalha institucional entre os dois poderes que lutam por legitimidade na Venezuela já está em curso. No discurso que fez na quarta-feira, Maduro anunciou o corte de relações diplomáticas com os EUA e exigiu a saída de todos os diplomatas do país, dando um prazo de três dias.
Guaidó emitiu de imediato um comunicado em que pedia que todos os diplomatas estrangeiros permanecessem na Venezuela e apelou a que seja ignorada “qualquer ordem ou disposição que contradiga o firme propósito do poder legítimo da Venezuela”.
O Departamento de Estado dos EUA reforçou o seu apoio a Guaidó e sublinhou que não reconhece outra autoridade na Venezuela, pelo que não irá fazer regressar nenhum elemento do seu corpo diplomático no país.
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