Foi preciso uma criança morrer de raiva (principalmente, por negligência médica) para o Conselho Municipal de Maputo lançar uma campanha de vacinação contra raiva exactamente no bairro onde o miúdo foi mordido. Quer dizer, as crianças de outros bairros devem morrer para que esta campanha chegue lá nos seus bairros. Entenda-se que, se o miúdo tivesse sido mordido por um morcego, estariam agora a vacinar morcegos.
Foram precisos atropelamentos, manifestações populares, chambocos e insultos presidenciais (operação quem não sabe viver na "tawan", rua!) para o Presidente da República visitar a escola do bairro Chihango e ordenar a construção de uma ponte exactamente na zona da escola, onde a manifestação teve lugar. Quer dizer, as crianças de outras escolas, ao longo da nova estrada circular, devem ser atropeladas e as mães devem incendiar pneus na estrada para que uma ponte seja erguida na sua zona.
Foram precisas mortes de inocentes, destruição de infraestruturas públicas e privadas, perseguições, assassinatos de académicos e intelectuais, valas comuns, emboscadas a comitivas, e rondas de negociações fantoches, para o Presidente da República se lembrar que pode negociar a paz pessoalmente com o líder da Renamo via celular, como dois irmãos civilizados. Não sei qual será o remendo para Cabo Delgado, onde a situação já passou da AFA (Autêntica Falta de Absurdo).
E etecetera, etecetera, etecetera.
Irmãos, temos que definir muito bem o País que estamos a construir. Temos que conhecer muito bem o caminho e o destino. Não podemos viver num país "ad-hoc". Não devemos exagerar no improviso. Aspirina tem hora.
- Co'licença!
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