O
s militares posicionados
em diversas localidades
de Macomia são
amigáveis. Conversam
com todos e sobretudo com as
mulheres, mas a população de
Macomia reporta muitos casos
de detenções arbitrárias e de
pessoas que desapareceram nas
mãos da polícia ou dos militares.
A população conta que familiares
de jovens que, supostamente,
abandonaram suas casas para se
juntar aos jihadistas foram quase
todos detidos e muitos não
se sabe onde estão. São levados
pela Polícia para “cortar lenha e
nunca mais voltam”, conta um
morador de Macomia sobre os
desaparecidos.
“Acreditámos que muitos inocentes
foram mortos. Os militares
andam irritados com os ataques
e todas as pessoas suspeitas
de colaborar com os atacantes,
dando-lhes comida e informação,
são detidas e muitas vezes
desaparecem”, conta um jovem
vendedor de uma barraca na vila
de Macomia. A Polícia referiu que, depois do
primeiro ataque a 5 de Outubro de
2017, no distrito de Mocímboa da
Praia, mais de 300 pessoas foram
detidas. A Procuradora Geral da
República disse aos deputados, em
Abril passado, que havia apenas 153
arguidos em conexão com o ataque
em Mocímboa da Praia.
Localmente há explicações sobre o
paradeiro das restantes pessoas que
tinham sido detidas, mas não foram
constituídas arguidas.
“Muitos atacantes e acusados de
cúmplices foram mortos e seus corpos
enterrados em vala-comuns”,
conta um agente da Polícia de trânsito
que trabalha num check point
ao longo da estrada de Pemba para
Macomia.
“Muitos que são encontrados nas
matas são limpados lá mesmo, até
porque a Ministério Público manda
libertar estes que depois voltam
para as matas”, conta um morador
da vila de Macomia.
A população de Macomia relata
que há mulheres entre os atacantes.
O papel das mulheres é supostamente
de fazer reconhecimento nas
comunidades e garantir a logística
de alimentos para os militantes
que estão nas matas.
“Há mulheres que foram detidas
e levadas para Pemba, porque
ajudavam a fornecer comida aos
atacantes. Mas foram restituídas
à liberdade pelo Ministério Pú-
blico. Voltaram para aqui, mas
depois desapareceram. Onde
estão?”, questiona um ancião
de Macomia e dá o seu palpite:
“voltaram para as matas para
ajudar os seus maridos”, explica.
Antes de Outubro do ano passado,
Moçambique não aparecia
no mapa de ameaças jihadistas.
Porém, um ataque numa mesquita,
em Mocímboa da Praia,
gerou uma onda de pânico e
medo. Agora, os ataques progridem
para o sul da província
e, na tarde desta quarta-feira, o
pânico tomou conta do centro
da capital provincial, Pemba, por
causa de um suposto assalto a
um supermercado recheio.
“As pessoas vivem em pânico e
qualquer falso alarme é capaz de
paralisar uma cidade. Foi o que
aconteceu em Pemba”, comentou
ao SAVANA um polícia no
local.
0DSXWR GH-XQKRGH $12;;91o 3UHoR 0W0RoDPELTXH Pág. 4 e 5 Pág. 4 &DWDQDV DUFRVHÁHFKDV para vigilância popular 'HSRLVGDVÁRUHVWDVFKHJRXDYH]GDSHVFD Pág. 2 e 3 3º - 25160 - 25.000,00MT 2º - 11534 - 50.000,00MT VALOR DO 1º PRÉMIO DO JOKER - 250.000,00MT LOTARIA 23ª EXTRACÇÃO 1º - 31412 - 1.000.000,00MT PREVISÕES DE JACKPOT 1º PRÉMIO -1.000.000,00MT PRÓXIMA, 24ª EXTRACÇÃO DA LOTARIA 16/06/2018 1 PR MIO DE TOTOBOLA - 583.121,85MT 1 PR MIO DE TOTOLOTO - 1.444.080,20MT - 01-// - (%# "- & "# $% ) 32 "!$& % '''.$" " ". " Macomia a ferro e fogo TEMA DA SEMANA 2 Savana 15-06-2018 TEMA DA SEMANA Os recursos pesqueiros do país podem estar a saque pelos “irmãos” chineses. Fontes ligadas ao sector traçam um quadro sombrio sobre o futuro da indústria, com relatos de entrada massiva de operadores chineses no sector, que, alegadamente, operam ao arrepio das normas que regulam a actividade. Entretanto, a directora-geral da Administração Nacional das Pescas, Cláudia de Sousa, desdramatiza o caso e diz que a presença chinesa resulta de joint-ventures com armadores nacionais. Fontes conhecedoras do sector alertam mesmo que, se medidas urgentes não forem tomadas para travar os chineses, o que pode acontecer no sector das pescas é o que está a acontecer no sector madeireiro, que está a ser devastado por chineses, nalguns casos em conluio com as autoridades moçambicanas. Uma das formas de entrada dos chineses no sector tem sido a criação de parcerias com moçambicanos, para contornar a força da lei que estabelece que a participação moçambicana tem de ser de 50% para que a empresa opere nas águas moçambicanas como empresa de bandeira nacional. O rol das violações vai desde o uso de práticas nocivas à exploração sustentável dos recursos pesqueiros até ao exercício da pesca em zonas não autorizadas, incluindo na região designada como Banco de Sofala, que é um ecossistema privilegiado, por possuir o melhor camarão do país. Na presente campanha 2018, por exemplo, cinco embarcações de pesca fizeram arrasto de peixe no Banco de Sofala para além das seis milhas, uma grosseira violação da alínea c), do número 1, do Artigo 41, do Regulamento Geral da Pesca Marítima, que fixa que o arrasto de peixe para frota industrial, naquele ecossistema que se estende desde a província de Sofala, até Nampula, passando por Zambézia, só pode ser exercido para além de 12 milhas da costa. Por outro lado, avançam as nossas fontes, as embarcações usadas pelos chineses são de capacidades elevadas, chegando a 400 toneladas cada, contra os camaroneiros dos armadores nacionais que pescam, em média, 100 toneladas por barco. Apontam a situação como uma grande pressão sobre os recursos pesqueiros, contrariando o esforço empreendido nos últimos anos para reduzir o esforço de pesca. Aliás, operadores da pescaria de camarão ouvidos pelo Jornal já começam a se queixar de fracas cap“Amigos” chineses nas Pescas 'DVÁRUHVWDVDRPDU turas, com o camarão a escassear e até mesmo o peixe para compensar as operações, com o agravante de as taxas de licença terem disparado. Ainda assim, as embarcações, com tripulantes e marinheiros maioritariamente chineses, usam portas de ferro e não de madeira, destruindo assim os fundos marinhos e corais. Trata-se de uma violação à legislação moçambicana que estabelece o uso de portas de madeira no Banco de Sofala. As questões ambientais e higié- nico-sanitárias inadequadas para o exercício da actividade também põem em perigo o ecossistema, com embarcações sem casas de banho e com cães a bordo. Há ainda relatos de que parte considerável do pescado é descarregada no Porto de Nacala, sem presença adequada dos serviços de controlo e fiscalização, como fiscais e inspectores do Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (INIP). As descargas em Nacala terão começado mesmo durante o período de veda, com as operações a serem apenas testemunhas pelas Alfândegas e pelo pessoal fitossanitário do sector da Agricultura. A nove de Fevereiro último, por exemplo, a embarcação com a referência Chang66 terá descarregado 229,43 toneladas e a 28 de Abril foi a vez da Winfar descarregar 229,62 toneladas, todas mercadorias com destino à Taiwan. Outras três embarcações terão atracado entre finais de Maio e princípios de Junho no Porto de Nacala. Fontes do sector alertam para o risco de os desmandos levarem Moçambique a perder acesso a mercados dos seus produtos pesqueiros, como a União Europeia. Outro cenário que terá criado estranheza no sector foi a presença, ainda este ano, de 14 embarcações industriais de bandeira chinesa, que estiveram atracadas no Porto de Pescas de Maputo, equipadas com vários tipos de artes de pesca e com tripulação estrangeira. Trata-se de embarcações que causavam congestionamento Por Armando Nhantumbo Embarcações de bandeira chinesa em força nas águas moçambicanas P ara a directora-geral da Administração Nacional de Pescas, não se trata de presença de chineses no país, mas de embarcações chinesas afretadas por empresários moçambicanos, da mesma forma que existem embarcações espanholas, sul-africanas, das Ilhas Seychelles e de tantos outros países. “Nós não temos empresas chinesas como se tem estado a dizer, temos empresas de moçambicanos que afretaram embarcações chinesas”, rebateu Cláudia dos Santos. Explica que, na verdade, o que tem estado a acontecer é que, nos últimos tempos, o Governo tem mobilizado os armadores nacionais a criarem sinergias, incluindo joint-ventures com empresas estrangeiras, como forma de aumentar os níveis de captura do manancial existente para além das 12 milhas. Mesmo sem precisar números, argumenta a dirigente que Moçambique tem um forte manancial de recursos que não estão a ser explorados para o abastecimento do mercado nacional, senão a pesca ilegal que continua a dizimar recursos adstritos ao país, incluindo o atum. É preciso recordar que em 2013, o Governo moçambicano, na altura encabeçado por Armando Guebuza, endividou o país junto ao Credit Suisse com USD 800 milhões, parte das chamadas dívidas ocultas, alegadamente, para o reforço da pesca do atum, através da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), uma das três que empurraram o país para a actual crise económica. Sobre as infracções A dirigente reconheceu a prática de infracções por parte de algumas empresas, mas que têm sido instruídos os devidos processos. Questionada sobre o perfil das embarcações que mais infracções cometem, Cláudia de Sousa admitiu que “algumas dessas são as ditas embarcações chinesas que estão a ser operadas por empresas moçambicanas”. Sobre a propriedade das cinco embarcações que, recentemente, fizeram arrasto de peixe em zona não autorizada, dentro do Banco de Sofala, limitou-se a dizer que “não temos embarcações que não estão identificadas, são embarcações que estão licenciadas por empresas moçambicanas”. Em relação à descarga de pescado sem a devida inspecção no Porto de Nacala, a directora-geral da Administração Nacional de Pescas respondeu que é preciso se ter uma visão de expansão e Nacala aparece como uma dessas zonas de expansão. “Não descarregou nenhuma embarcação sem controlo, isso nem é possível, que uma embarcação de pesca vá descarregar sozinha sem presença de fiscais”, reagiu. Admitiu que o porto de Nacala não é tão desenvolvido como o da Beira ou Maputo, mas disse que é um porto com condições para as descargas. Foi quando questionamo-la sobre as 14 embarcações que estiveram atracadas no Porto de Pescas de Maputo com bandeiras chinesas que a directora respondeu que, na verdade, os armadores actuais na pesca temem a competição. “No processo de nós apelarmos para um desenvolvimento…há algum medo de alguma competição que existe nos armadores que existem, neste momento, na pesca sobre o que, possivelmente, possa acontecer em termos de expansão do desenvolvimento da pesca”, desabafou. Referiu que as embarcações em causa foram autorizadas a fazer pesca para além das 12 milhas, ou seja, entre 14 a 20 milhas. “São embarcações grandes, são embarcações chinesas, mas são embarcações que são afretadas por empresas nacionais. Então, não são embarcações de um chinês que acordou e dirigiu-se a Moçambique para vir se licenciar, mas um empresário moçambicano que teve oportunidade de ter acesso a um joint-venture com uma embarcação”, sublinhou. Questionada sobre a quota de participação chinesa na indústria pesqueira no país, a dirigente rematou: “nós temos acordos de cooperação com a China e até a nível superior são incentivados investimentos chineses em Moçambique. Agora, no sector das pescas, ter uma quota adstrita à China, penso que não é por aí que temos de analisar”. 7rPPHGRGDFRPSHWLomR²GLUHFWRUDGDDGPLQLVWUDomRGHSHVFDV Cláudia dos Santos TEMA DA SEMANA Savana 15-06-2018 3 A s multinacionais italiana ENI e norte-americana Exxon Mobil negaram notí- cias dando conta de que as suas operações na bacia do Rovuma terão a protecção da empresa Pro6, uma joint-venture entre a ProIndícus e a Lancaster 6 Group, do norte-americano Erik Prince. A Pro6 foi criada em Janeiro deste ano e tem a sua sede na rua Valentim Siti, onde estão também as sedes da ProIndicus e MAM, empresas em falência e beneficiárias das chamadas dívidas ocultas. Uma análise da Africa Monitor Intelligence (AMI) veiculou, recentemente, que a Pro6 chegou a acordo com os consórcios que vão produzir gás natural na Bacia do Rovuma, para a protecção das actividades de gás. O texto adiantava que a empresa de segurança vai igualmente ajudar no combate aos grupos armados que têm protagonizados ataques em alguns distritos de Cabo Delgado. Ao portal Zitamar, a ENI e a Exxon Mobil rejeitaram qualquer acordo com a Pro6. A Anadarko declinou qualquer comentário sobre o assunto, assinalando que não discutem em públicos matérias sobre segurança. Uma outra empresa citada como signatária do referido acordo, a Spectrum não se pronunciou sobre o tema. Em 2016, a ENI já havia desmentido o presidente da ProIndicus, António Carlos do Rosário, que afirmou perante a Comissão Parlamentar de Inquérito que a firma moçambicana havia chegado a acordo com o consórcio da companhia italiana para a prestação de serviços de segurança. Na altura, a mineira brasileira Vale também negou qualquer acordo com a ProIndicus para a sua protecção. A AMI noticiou recentemente que a Pro6 deu garantias ao Governo moçambicano de que em 90 dias podia acabar com a insurreição supostamente “jihadista” que flagela alguns distritos de Cabo Delgado. A Zitamar contactou o presidente da ProIndicus, José Manuel Gopo, mas declinou qualquer comentário sobre o assunto, remetendo o assunto ao seu antecessor, António Carlos do Rosário. Ainda não foi possível confirmar que Erik Prince é o director do L6G, mas sabe-se que o CEO da firma, Christaan Durant, trabalhou de perto com Prince na Frontier Service Group (FSG), empresa chinesa de segurança e logística que o primeiro dirigiu. Durrant era responsável pela divisão de aviação da FSG até ser expulso em 2015, na sequência da descoberta de que ele e Erik Prince usaram recursos da companhia para operar uma empresa de aviação civil. Christaan Durant considerou a análise da AMI “fake news” e cheia de falhas. Em Dezembro do ano passado, a FSG assinou com a EMATUM, também envolvida nas dívidas ocultas, um acordo de fusão, criando a Tunamar. A Tunamar vai dedicar-se à pesca de atum e ao combate à pesca ilegal. (1,H([[RQ0RELOQHJDP DFRUGRVREUHVHJXUDQoD no local, dificultando a atracagem das embarcações licenciadas para descarga e aprovisionamento, antes da sua remoção em Maio último. Não é a primeira vez que acusações de desmandos são imputadas a cidadãos de nacionalidade chinesa no país. Um estudo da Agência de Investigação Ambiental, organização não-governamental do Reino Unido, denunciou, em 2013, a exploração ilegal de madeira por empresas chinesas com conivência de altos quadros do governo moçambicano. Intitulado “Conexões de primeira classe: contrabando, corte ilegal de madeira e corrupção em Moçambique”, o estudo apontava o então ministro da Agricultura, José Pacheco, hoje ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, e o na altura seu antecessor, Tomás Mandlate, como estando no “esquema” de contrabando de madeira, através da facilitação na exportação ilegal dos recursos. “Quando o ministro ( José Pacheco) não tem dinheiro vem buscar em mim. Eu e ele somos como irmãos”, disse um empresário chinês proprietário da empresa de importação e exportação de madeira para Ásia, que tratava José Pacheco como “um amigo e irmão”. China: o maior credor bilateral A China é o país que mais volume de crédito concedeu a Moçambique, tendo atingido em 2016, um total de 1.698,6 milhões de dólares, uma variação de 3.9% em comparação com o idêntico período do ano anterior. China é também o maior financiador e construtor de infra-estruturas em Moçambique, de que são exemplo a ponte Maputo-Katembe, a estrada circular de Maputo, a Estrada Nacional número 6 e o porto de pesca da cidade da Beira, disse o embaixador da China no país. Fortes interesses É preciso ainda sublinhar que no sector das pescas, que em 2017 contribuiu com 10.3% no Produto Interno Bruto (PIB), ao produzir 340,210 toneladas de pescado, convergem fortes interesses da elite política nacional. O antigo presidente da República, Armando Guebuza, por exemplo, esteve envolvido no sector através da Mavimbe, uma empresa de que se desvinculou em 2008. O antigo ministro da Ciência e Tecnologia, Louis Augusto Pelembe, é um dos sócios da Louis Internacional Lda, uma empresa cujo objecto é a exploração pesqueira semi-industrial, processamento, conservação e distribuição de produtos pesqueiros. António Carlos do Rosário, o todo-poderoso agente dos serviços secretos e presidente do Conselho de Administração (PCA) da EMATUM, Proindicus e MAM, é um dos sócios da Vitapesca, Lda, uma empresa do sector criada em 2012. Os combatentes da Luta de Libertação Nacional também estão no negócio através da ACLLN, Lda, uma sociedade de quotas fundada em Junho de 2013. TEMA DA SEMANA 4 Savana 15-06-2018 C om pelo menos um ataque a ocorrer a cada dois dias numa aldeia de um distrito de Cabo Delgado, a situação ficou, aparentemente, fora do controlo das Forças de Defesa e Segurança (Polícia, Forças Armadas e Serviço de Informação e Segurança do Estado). A população sente-se insegura e clama por armas de fogo para se defender dos “al-shabaab”, que fazem ataques violentos com muitas mortes brutais, quase todas com assinatura à “Estado Islâmico”. O distrito de Macomia, situado 200 quilómetros a norte da capital provincial Pemba e 220 quilómetros a sul de Palma, foi palco do mais hediondo ataque de jihadistas, de uma única vez. Sete mortos por decapitação, 164 casas e cinco viaturas incendiadas, dezenas de cabritos queimados vivos, zero detidos, é o balanço do ataque ocorrido na noite de 4 para 5 de Junho, na aldeia costeira de Naunde, posto administrativo de Mucujo, 60 quilómetros da vila-sede de Macomia. Dia 7 de Junho outro ataque na aldeia de Namaluco, distrito de Quissanga, mas a apenas 20 quiló- metros da vila-sede de Macomia, deixou cinco mortos. A 8 de Junho, o ministro do Interior, Jaime Basílio Monteiro, visitou a aldeia de Naunde e outras localidades costeiras de Cabo Delgado. Instalou posições das Forças de Defesa e Segurança um pouco por todas as localidades da região. Pediu a população para confiar nos militares e manter-se nas aldeias, mas os atacantes não dão trégua. Na terça-feira, 12 de Junho, cinco dias depois do ministro ter visitado o distrito, outra aldeia da zona costeira de Macomia foi atacada e uma pessoa decapitada. O ataque ocorreu em Nathuko I, posto administrativo de Quiterajo, cerca de 50 quilómetros de Naunde. Mais uma vez, ninguém foi detido no local. Na vila-sede de Macomia, o ambiente que se vive é de guerrilha. Enquanto durante o dia, a população inunda a pequena vila atravessada pela Estrada Nacional 380, para comércio informal, as pessoas desaparecem com o pôr do sol. O governo local decretou recolher obrigatório a partir de 21 horas, através de mensagens difundidas em comícios públicos. É o que acontece em quase toda a província. A partir de 20 horas, militares empunhando armas de guerra de tipo bazuca ocupam posições estratégicas da vila. A subestação eléctrica de Macomia – à entrada da vila no sentido sul-norte, as bombas da Puma, a agência local do BCI, a Pensão MM, são guarnecidos por elementos das FADM. Se a presença massiva das FDS no distrito não ameaça os jihadistas, que continuam a atacar aldeias com cada vez mais frequência, a população local também não se sente segura ainda com a presença dos militares. Prefere andar armada para se defender. Usa catanas, arcos e flechas. “Não sabemos o que fazer. A zona está agitada. Nas noites ninguém apanha sono. Estamos sempre acordados escutando donde aparecerá o inimigo”, conta Hassane Rábuna, primeiro secretário do Comité de círculo do partido Frelimo, no bairro Nanga A, vila-sede de Macomia. O dirigente partidário reuniu a população para orientá-la a ser vigilante e defender-se. “Estamos a alertar a população para ver donde ocorrem estas situações. Assim como estamos indefesos, estamos sem armas, precisamos de armas para nos defender”, disse Hassane Rabuna. O dirigente do partido governamental também apela aos pais dos jovens que se juntaram aos “al-shabaab” para denunciar os seus filhos, pois assegura que muitos atacantes são locais. “Há certas pessoas (atacantes) que são locais, foram filhos deste bairro”, assegura o secretário da Frelimo. “Aqui na margem”, diz gesticulando, apontando o lado onde se localiza uma das casas dos jovens que terão saído do bairro para viver nas matas e atacar a população – “aquando do início, houve esses elementos que diziam que são muçulmanos. Mas nós informamos o (governo) distrito que, pela nossa maneira de ver, esses não são religiosos. Têm objectivo qualquer. Mais tarde quando alertámos isso, surgiu o conflito de Mocímboa da Praia. Os pais destas pessoas ainda estão aqui no bairro”, diz apontando de novo a direcção das casas. De facto, em Macomia, todas as pessoas abordadas pelo SAVANA afirmam que a maioria dos atacantes saíram do distrito para as matas, com promessas de receber dinheiro. Mas não dizem quem é que faz promessas. No mercado local as pessoas apontam algumas barracas que tinham como proprietários jovens que agora estão nas matas. “Um deles vendeu aquela barraca por 25 mil meticais e desapareceu. Onde você acha que foi?”, questiona um jovem vendedor de recargas de telefonias móveis, esperando ouvir de nós a resposta de que “está nas matas”. “É disso que falamos à população. Aquele que sabe que o seu filho está no mato, queremos que se apresente aqui e dizer que ‘o meu filho está no mato’ e definir como fazer com este filho que está no mato quando a gente capturá-lo. Porque quando eles chegam aqui, estão sempre a assassinar pessoas. Nós também, se os encontramos, não temos outra alternativa, temos de fazer o mesmo que eles andam a fazer”, diz Hassane Rabuna. Na estrada de terra batida que parte da vila-sede de Macomia, atravessando a densa floresta do Parque Nacional das Quirimbas, até ao posto administrativo de Mucojo, cerca de 45 quilómetros da vila-sede de Macomia, enconFDS em risco de perder o controlo da situação em Cabo Delgado… Por Borges Nhamire (Texto) e Emidio Jozine (Fotos), em Macomia &DWDQDV DUFRVHÁHFKDVSDUDYLJLOkQFLDSRSXODU O s militares posicionados em diversas localidades de Macomia são amigáveis. Conversam com todos e sobretudo com as mulheres, mas a população de Macomia reporta muitos casos de detenções arbitrárias e de pessoas que desapareceram nas mãos da polícia ou dos militares. A população conta que familiares de jovens que, supostamente, abandonaram suas casas para se juntar aos jihadistas foram quase todos detidos e muitos não se sabe onde estão. São levados pela Polícia para “cortar lenha e nunca mais voltam”, conta um morador de Macomia sobre os desaparecidos. “Acreditámos que muitos inocentes foram mortos. Os militares andam irritados com os ataques e todas as pessoas suspeitas de colaborar com os atacantes, dando-lhes comida e informação, são detidas e muitas vezes desaparecem”, conta um jovem vendedor de uma barraca na vila de Macomia. 'HVDSDUHFLGRVQRFRUWHGHOHQKD A Polícia referiu que, depois do primeiro ataque a 5 de Outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia, mais de 300 pessoas foram detidas. A Procuradora Geral da República disse aos deputados, em Abril passado, que havia apenas 153 arguidos em conexão com o ataque em Mocímboa da Praia. Localmente há explicações sobre o paradeiro das restantes pessoas que tinham sido detidas, mas não foram constituídas arguidas. “Muitos atacantes e acusados de cúmplices foram mortos e seus corpos enterrados em vala-comuns”, conta um agente da Polícia de trânsito que trabalha num check point ao longo da estrada de Pemba para Macomia. “Muitos que são encontrados nas matas são limpados lá mesmo, até porque a Ministério Público manda libertar estes que depois voltam para as matas”, conta um morador da vila de Macomia. A população de Macomia relata que há mulheres entre os atacantes. O papel das mulheres é supostamente de fazer reconhecimento nas comunidades e garantir a logística de alimentos para os militantes que estão nas matas. “Há mulheres que foram detidas e levadas para Pemba, porque ajudavam a fornecer comida aos atacantes. Mas foram restituídas à liberdade pelo Ministério Pú- blico. Voltaram para aqui, mas depois desapareceram. Onde estão?”, questiona um ancião de Macomia e dá o seu palpite: “voltaram para as matas para ajudar os seus maridos”, explica. Antes de Outubro do ano passado, Moçambique não aparecia no mapa de ameaças jihadistas. Porém, um ataque numa mesquita, em Mocímboa da Praia, gerou uma onda de pânico e medo. Agora, os ataques progridem para o sul da província e, na tarde desta quarta-feira, o pânico tomou conta do centro da capital provincial, Pemba, por causa de um suposto assalto a um supermercado recheio. “As pessoas vivem em pânico e qualquer falso alarme é capaz de paralisar uma cidade. Foi o que aconteceu em Pemba”, comentou ao SAVANA um polícia no local. Joaquina Nordine, Administradora de Macomia Na aldeia de Naunde, pessoas cujas casas foram destruídas abrigam-se em baixo de árvores TEMA DA SEMANA Savana 15-06-2018 5 tramos muitos homens a caminhar, sozinhos ou acompanhados, mas empunhando arcos e flexas. “É para me defender dos Al-shabaab”, diz um velho a quem perguntamos porque razão trazia arco e flecha. “Se o atingir com esta flecha, morre no momento. Tem veneno de cobra”, assegura sem soltar sequer um sorriso. De facto, na aldeia de Naunde, a população tentou se defender dos atacantes, na noite em que sete pessoas foram decapitadas. Com catanas e flechas, os homens tentaram defender a aldeia contra a invasão, mas a resistência foi quebrada com o disparo de armas pelos atacantes. “Nós fomos avisados que os atacantes vinham à nossa aldeia. Ficamos a vigiar, mas eles enganaram-nos e entraram do lado do mar. Quando entraram na aldeia, gritaram ‘ladrão, ladrão’, falavam em Kimwani. As pessoas correram para ver quem é o ladrão e começaram a ser atacadas por catanas”, conta Maurício Miranda, secretá- rio da Aldeia (na imagem de camisete verde). Os homens da aldeia saíram em defesa dos que estavam a ser atacados, porém o confronto durou pouco tempo. “Eles dispararam arma de fogo, atingiram o Alimo no pé e logo a população dispersou-se”, conta. Furiosos, os atacantes incendiaram as casas e deceparam cabeças dos mortos. “Cortaram a cabeça dele (Alimo), espetaram num pau, assaram com o fogo do carro que estava a queimar e foram deixar no mercado”, conta Narciso Cassimo ancião da aldeia (na foto com camisete azul) que assistiu aos atacantes a queimar a sua casa com 27 cabritos dentro do curral e todos os bens. Os atacantes de Naunde ficaram na aldeia por três horas. Muitos moradores locais descrevem como eles são e como agiram. “Falavam em Swahili, Kimwani. Diziam que não querem mulheres e crianças. Apenas matam homens”, disse uma moradora local. De facto, apenas homens e jovens do sexo masculino são decapitados pelos atacantes. São raros casos de mulheres mortas nestes ataques. “Eles quando encontram mulheres, passam, dizem que estão em busca de homens”. Finalmente a ajuda Depois do ataque do dia 5, muitas pessoas fugiram da aldeia de Naunde, a maioria para a Ilha de Ibo e para a vila-sede de Macomia. Mas muitos também permanecem na aldeia. Narciso Cassimo é um dos que fi- cou na vila para reconstruir a sua casa e continuar com a vida. “Não vou sair daqui. Vou sair daqui para onde? Vivo aqui desde a guerra do colono, saímos lá do mato para aqui. Vou ficar aqui”, conta o idoso. Visitamos Naunde, uma semana após o ataque. A população ainda não havia recebido ajuda para além de militares que davam apoio na remoção de estacas soterradas pelos escombros das casas queimadas. As habitações de Naunde, como em toda a região, são de pau maticado e cobertura de capim. Com o incêndio, queimou a cobertura, mas as estacas salvaram. Os militares ajudavam a população a remover as estacas que seriam usadas para reerguer as casas. “Precisamos de comida, cobertores e mais estacas para reconstruirmos”, conta o secretário do Bairro, Maurício Miranda. No mesmo dia, a administradora de Macomia, Joaquina Nordine, visitou a aldeia e trouxe um camião cheio de alimentos, vestuá- rios, estacas e alguns utensílios domésticos. “Esta é a solidariedade da população de Macomia, que juntou o que tinha para ajudar os seus irmãos de Naunde. Ao nível do Governo de Cabo Delgado, também compramos alimentos para as pessoas que perderam tudo aqui e para os que se deslocaram para a Ilha do Ibo”, afirmou a administradora. A ajuda é uma gota de água no deserto, mas foi recebida com alegria pela aldeia. É um primeiro passo para recomeçar a vida, na esperança de que ninguém mais volte a semear terror. Maúrício Miranda Narciso Cassimo Uma das 160 casas queimadas em Naunde Ajuda chegou a Macomia Bens destruídos em Macomia Militares ajudam na reconstrução de casas destruídas pelos malfeitores 6 Savana 15-06-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE C om objectivo de partilhar experiências no sector de petróleo e gás, Moçambique e o Brasil realizaram, esta quarta-feira, o primeiro seminário sobre a matéria na qual sobressaiu o debate sobre o conteúdo local (CL). Com alguma surpresa, o governo com marca Frelimo entende que o CL não deve ser feito por decreto, mas sim pela combinação de capital, trabalho e terra, sendo que os moçambicanos devem entrar de forma gradual fornecendo serviços básicos e só mais tarde é que podem entrar na gestão. Esta posição não é partilhada pelo sector privado, que aponta que 43 anos depois de independência “não podemos continuar com este tipo de pensamentos”. Enquanto o distrito de Palma, que detém as maiores reservas de gás no país, cuja exploração é vista como uma grande oportunidade para catapultar o desenvolvimento do país, é assolada por ataques de insurgentes supostamente inspirados no radicalismo islâmico, em Maputo os homens de negócios debatem as oportunidades para distribuição de renda. A japonesa Mitsui confirmou ao SAVANA que por motivos de segurança, no bloco 1, do Rovuma, liderado pela americana Anadarko, ninguém sai e ninguém entra no acampamento. O vice-ministro dos Recursos Naturais e Energia, Augusto Sousa, tranquiliza as empresas que operam em Palma, referindo que as Forças de Defesa e Segurança estão a dar o seu máximo para controlar a situação e prova disso é que até ao momento ainda não recebeu nenhuma informação de paralisação das actividades por motivos de segurança. “Black empowerment” Foi no cair do pano do seminário que o Ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa deixou o empresariado filiado na Confederação das Associações Económicas (CTA) com os nervos à flor da pele. É que está em curso a produção da lei do Conteúdo Local e o Ministério da Economia e Finanças está a dar os últimos toques para que nos próximos dias seja submetida ao Conselho de Ministros para a devida apreciação. A CTA entende que a lei do CL deve se basear em quatro pilares a saber: A formação e capacitação das empresas nacionais; a transferência de conhecimento e tecnologias; Garantias de empregos a todos os níveis de gestão das multinacionais e por fim a participação de moçambicanos, como pessoas singulares ou colectivas, através de joint ventures com empresas estrangeiras contratas ou subcontratadas. Segundo explicou Florival Mucave, que falava ao SAVANA, em representação da CTA, a participação dos moçambicanos deve ser vista no âmbito da promoção da inclusão dos moçambicanos nos projectos existentes no país. Defende que o CL deve ter um carácter desenvolvimentista garantindo a participação das PME capacitadas e certificadas Conteúdo local divide Governo e sector privado Por Argunaldo Nhampossa na cadeia de valor nacional. Para Mucave, o CL deve ser impulsionador da economia, uma visão que, segundo o mesmo, não é partilhado por alguns dirigentes que compactuam com o tráfico de influências. Entende que a entrada em vigor daquela lei vai trazer um novo panorama no mundo de negócios, mas a sua ausência abre espaço para se perpetuar o sistema de “boladas” em que só reina quem tem influências políticas. “A implementação do CL tem a vantagem de que vai aumentar a base de produção do empresariado nacional que, por sua vez, vai contribuir o aumento da base tributaria”, disse. O SAVANA apurou que é neste ponto onde reside problema, uma vez que a CTA exige uma atribuição de 18% de participação nas empresas, o que levará à entrada de moçambicanos e as suas empresas no capital social das empresas estrangeiras. Entre o sector privado, na generalidade, não há unanimismo nesta posição, pois considera-se que ela pode estar muito influenciada pelas “elites rendeiras” da Frelimo que vêem na lei uma oportunidade de “assaltar” as estruturas das empresas de petróleo e gás. A tí- tulo de exemplo, citam o modelo da Vodacom local, onde os grupos moçambicanos representados são de duvidoso mérito empresarial e têm como denominação comum a sua ligação ao Partido Frelimo. Para Roberto Furian, ex-director da Agência Nacional de Petróleo do Brasil, no seu país, o conteúdo local está incorporado no contrato de concessão de cada empresa e é dividido por fases: exploração, desenvolvimento e produção. Referiu que em cada fase há uma percentagem estabelecida em função dos investimentos que tem por fazer, sendo que não havia uma lei generalista. Sublinhou que em caso de incumprimento nos planos do CL, a empresa é sujeita à penalização severa. Para se chegar a esta fase foi preciso muito tempo, visto que não foi logo que arrancou a exploração de petró- leo e gás, tendo havido períodos em que as empresas até preferiam pagar multas do que a avançar com projectos do CL. Nisto tiveram de rever os mecanismos tendo por via disso imposto sanções pesadas, o que faz com que até hoje o CL seja respeitado. Mas a legislação específica sobre CL foi abandonada uma vez que se pensa que este assunto pode ser um forte inibidor do investimento externo no Brasil. Em matéria de CL, a CTA em representação do sector privado não se entende com Executivo. Isto porque, segundo o Ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa, o CL não pode ser feito via decreto, mas sim da combinação de três factores: capital, trabalho e terra. Segundo De Sousa, não se pode ser romântico com este assunto porque trata-se de um processo longo e mais do que um decreto, exige um empresariado local com a vontade de aprender, fazer parcerias onde todos os intervenientes saem a ganhar. “Ainda não chegámos à fase de maturação e há uma grande demanda de todos os serviços, como varredores de casa, empregados domésticos, carpinteiro, serralheiros. Sem começar de baixo nada cresce. Depois temos a demanda de serviços como catering que é fundamental que sejam empresas certificadas”, disse. De seguida justificou a necessidade de certificação recorrendo ao exemplo de intoxicação numa plataforma de gás. O posicionamento do governante não está a ser bem acolhido por parte dos representantes do CTA, que alegam que não se explica que em 43 anos de independência os moçambicanos devem continuar como serralheiros ou carpinteiros. A posição cautelosa do governo, segundo apurou o SAVANA, deriva de duas situações referenciais: por um lado a opinião frontalmente contrária dos grandes grupos económicos externos que não estão abertos a “abrir o capital das suas empresas por decreto” e, por outro lado, o sector parasitário e rendeiro que se desenvolveu com a economia de mercado em Moçambique, a partir do cartão do partido Frelimo, do tráfico de influências, e dos “lobby de corredor”. É conhecido o desdém do ministro Ragendra para com “os empresários sem capital”, que apelida de “empresários de cartão de visita”. Na África do Sul, a política de “black empowerment”, a promoção administrativa do empresariado negro gravitando em torno do ANC (Congresso Nacional Africano), tem sido abalada por sucessivos escândalos e abusos e pela grande ineficiência do sector empresarial público. Doença holandesa Para o Ministro da Indústria e Comércio, com a descoberta de gás, Moçambique passa a figurar no mapa mundial como pais promissor, mas é preciso ter atenção à chamada doença holandesa e a crescente miséria contra a riqueza de alguns. “Podemos ter um saco de dinheiro que depois fica desvalorizado. Temos que tudo fazer para evitar a doença. Já demos sinais muito fortes de crescimento. Basta olhar para a Vale (mineradora de carvão na província de Tete) onde os salários são mais altos que todos pagos nos distritos da província de Tete. O carvão sai, o PIB cresce, os trabalhadores levam o salário, mas à volta tudo se mantém e os produtos sobem de preço”, disse. O s aumentos das tarifas de electricidade deterioram o ambiente de negócios em Moçambique e as empresas viram os seus custos com electricidade a aumentar em mais de 100%, refere o estudo “Impacto do aumento das tarifas de electricidade no ambiente de negócios”, elaborado pela Confederação das Associações Económicas (CTA). Em Novembro de 2015, as tarifas de energia aumentaram 7% em Novembro, um anos depois houve incremento das tarifas, com excepção da tarifa social, em um metical por KW/hora para os consumidores de baixa tensão agrícola, 1,42 meticais por KW/hora para os consumidores de média e alta tensão e em 69 centavos para os consumidores de média tensão agrícola. Em Novembro de 2017, registou-se um aumento das tarifas em 10%. Nas conclusões da análise, o estudo indica que o incremento nas tarifas não se reflectiu na melhoria da qualidade, pois persistem os cortes no fornecimento e oscilações de potência. “A baixa qualidade no fornecimento de energia acarreta custos adicionais às empresas com a aquisição de equipamentos para melhorar a fiabilidade deste meio importante na produção”, diz o documento. Como forma de minimizar a baixa qualidade da energia, muitas empresas são obrigadas a adquirir meios alternativos como geradores e postos de transformação. “Estes meios alternativos acarretam custos adicionais para o sector privado e estes investimentos podiam ser feitos para melhorar os processos produtivos e aumentar a rendibilidade e competitividade das empresas”, lê-se no estudo. De acordo com a avaliação, desde 2015, assiste-se a aumentos galopantes nas tarifas de electricidade, que, de forma generalizada, não são acompanhados pela melhoria da sua fiabilidade. “Estes aumentos de tarifas de electricidade incrementaram significativamente os custos para as empresas”, diz o documento. No geral, as empresas estão insatisfeitas com o fornecimento de electricidade, porque, apesar do aumento nas tarifas, nada mudou em termos de qualidade da energia fornecida. “A principal ilação deste estudo é a necessidade de melhorar a qualidade da energia eléctrica fornecida”, refere o estudo. Liberalização A CTA defende reformas adicionais no sector de energia de modo a facilitar o clima de negócio e a atracção de mais investimento para as indústrias. “Outra solução para a melhoria da qualidade de energia eléctrica passa por liberalizar pequenas fontes de geração de energia para fornecerem directamente à indústria”, destaca o estudo. Neste sentido, é fulcral para a revisão da lei de electricidade e a celeridade na regulamentação da Lei que cria a Autoridade Reguladora de Energia. Esses passos, prossegue a avaliação, vão permitir a transparência entre os operadores do sector energético, maior envolvimento do sector privado na cadeia de distribuição e comercialização da electricidade. A promoção da competitividade no sector poderá contribuir para assegurar a qualidade, fiabilidade e transparência na determinação das tarifas. A CTA considera que a energia eléctrica é essencial e tida como bem de mérito devido aos seus efeitos multiplicadores como um meio de produção importante para as empresas. “O acesso e a qualidade da energia constituem um dos factores fundamentais para atrair indústrias que precisam deste recurso de forma confiável, contribuindo desta forma para o desenvolvimento industrial. Custo de energia prejudicou negócios no país - CTA Seminário Brasil-Moçambique de petróleo e gás reaviva o debate da lei do conteúdo local SOCIEDADE Savana 15-06-2018 7 PUBLICIDADE DIVULGAÇÃO 8 Savana 15-06-2018 O Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma, exige agilidade e monitoria nos diferentes processos que concorrem para abertura e funcionamento de empresas, de modo a inverter a actual tendência da informalidade que abunda na economia naFLRQDO 9XPD TXHIDODYDVHPDQDÀQDGD QREDODQoRGRVHXSULPHLUR ano de mandato na condução dos destinos da CTA, criticou o alto custo para abertura de empresas que ainda está acima do rendimento per capita do país, bem como o não funcionamento das plataformas electrónicas de registos, situações que afectam a formalização de pequenos negócios. O elenco governativo da CTA, liderado por Agostinho Vuma, parou, VHPDQD ÀQGD SDUD FHOHEUDU D SDVVDJHP GR SULPHLUR GRV WUrV DQRV que tem em frente dos destinos da congregação dos empresários do país. Foi um momento ímpar para olhar no que já foi feito, perspectivar o futuro, sem com isso descurar do que acontece no dia após dia do empresário moçambicano. Sob o lema: “Para a Melhoria do Ambiente de Negócios – Que Perspectivas?”, Vuma congratulou-se do trabalho desenvolvido pela sua equipa, ao longo dos últimos 12 meses, pese embora tenha iniciado o mandato numa altura em que o país era assolado pela crise. Nisto, sublinhou que aquilo que a princípio se mostrava como um iceberg, provou ser transponível com dedicação e boa governação. ´e KRMH JUDWLÀFDQWH ROKDU SDUD DWUiV H DVVXPLU TXH HP XP DQR GH governação, trilhamos caminhos de que nos podemos orgulhar e que projectam a nossa Confederação a altos patamares no espectro das Vuma exige flexibilidade na abertura de empresas LQVWLWXLo}HVTXHPDUFDP DGLIHUHQoD SHODSRVLWLYD HLQÁXHQFLDP as mudanças na nossa economia que caminha, sem dúvidas, para o sucesso”, assinalou. Prova disso é que do plano estratégico 2017-2020, segundo Vuma, já foram executados 37,5% das acções inseridas nos cinco pilares e programas para o presente mandato. No entanto, uma das maiores inquietações do dirigente máximo da CTA é a contínua informalidade da economia nacional que não IDFLOLWD R UiSLGR FUHVFLPHQWR GD SURGXomR IRUPDO H TXH GLÀFXOWD a migração do sector informal para o formal. A título elucidativo, referiu que o custo para abertura de uma empresa em Moçambique ainda está acima do rendimento per capita do país, com o agravante das plataformas electrónicas de registos muitas vezes não funcionarem. Sugere Vuma que, para além do governo introduzir medidas sobre OLFHQFLDPHQWRVLPSOLÀFDGR FRPRDLQWURGXomRGR,PSRVWR6LPSOLÀFDGRSDUDR3HTXHQR&RQWULEXLQWHHH[SDQVmRGRVSRVWRVGHFRbrança e nas operações alfandegárias (introdução da janela única), devia monitorar o seu funcionamento. CTA cobre 50% dos distritos do País Para tornar a governação inclusiva, Vuma apostou na descentralização das acções, ao nível das capitais provinciais para os distritos, criando Conselhos Empresariais em 75 distritos, aumentado, desta forma, o atendimento e assistência aos pontos mais recônditos do país, perfazendo uma cobertura de 50% do total dos distritos. DIVULGAÇÃO Savana 15-06-2018 9 No mesmo espaço de tempo foi constituído um novo Conselho Empresarial Nacional que, segundo a CTA, pela primeira vez conheceu um processo democrático, desde a constituição da agremiação. Espera-se assegurar uma maior adesão de empresas para aquele órgão de assessoria do qual se almeja benefícios incomensuráveis para o fortalecimento do associativismo. Nesta época que a economia atravessa uma conjuntura adversa, o presidente da CTA diz que foram implementadas acções visando potenciar os associados a fazerem parte da solução dos problePDV TXH DÁLJHP RV VHXVPHPEURV $SRQWRX R DFHVVR D MDQHODV DOWHUQDWLYDVGHÀQDQFLDPHQWRHDRVPHUFDGRVSDUDFRORFDomRGD produção. Reformas As reformas para melhoria do ambiente de negócios no país consWLWXHPXPGRVSULQFLSDLVGHVDÀRVGD&7$H GXUDQWHRSHUtRGR em análise, Vuma fala de avanços em termos de aceitação de algumas medidas propostas, mas também algumas inquietações. 'LVVHTXH HPJUDQGHPHGLGD DVUHIRUPDVEHQHÀFLDUDPRVHFWRU do turismo e o da agricultura. Mencionou a provação do visto GH IURQWHLUD D WD[DGH WXULVPR EHP FRPR DHOLPLQDomRGR ,9$ na importação de aeronaves e a redução da taxa liberatória que WHQGHPDDXPHQWDURÁX[RGHWXULVWDV $RPHVPRWHPSR IRUDP alargadas as capacidades de serviços de transportes em quantidade e qualidade, através desse incentivo, incluindo maior abertura e investimento no transporte aéreo. 1RVHFWRUGHDJULFXOWXUD IRUDPDXPHQWDGRVRVEHQHItFLRVÀVFDLV na importação de equipamentos para as empresas que pretendam investir na sua capacidade. Mas pretende continuar a advogar SRUDVSHFWRVOLJDGRVDR,PSRVWRVREUHR5HQGLPHQWRGH3HVVRDV &ROHFWLYDV ,53& TXHLPSDFWDPQHJDWLYDPHQWHQDDJULFXOWXUDH onde os actores solicitam a implementação da taxa dos 10%, contra os 32,5% que pagam actualmente. Não pararam por aqui. Foram feitas ainda reformas como a simSOLÀFDomR GH SURFHGLPHQWRV FRQVXEVWDQFLDGRV QD 5HYLVmR GR &yGLJR&RPHUFLDO R5HJLVWR3UHGLDO 2EWHQomRGH(OHFWULFLGDGH 3DXWD$GXDQHLUD $YLDomR&LYLOH&RPpUFLR,QWHUQDFLRQDO “Das medidas que estão em curso, destacamos a revisão da Lei do Trabalho, importante instrumento no qual queremos ver alterações que tornem o regime laboral mais equilibrado, prático e HÀFD] DMXVWDGRjUHDOLGDGHDFWXDOGRSDtVHjVQHFHVVLGDGHVTXHU do sector privado, quer dos trabalhadores”, observou. 5HIHULXDLQGDTXHSUHWHQGHYHUDOWHUDo}HVTXHWRUQHPRTXDGUR OHJDODMXVWDGRjVSUiWLFDVLQWHUQDFLRQDLV DRGHVHQYROYLPHQWRHFRQyPLFRHjUHDOLGDGHGRSDtVHTXHFRQWULEXDPSDUDPLQRUDUFRQÁLWRVQDFRQWUDWDomRGDPmR GH REUDHVWUDJHLUD O presidente da CTA abordou aquela que é uma das suas principais batalhas para a promoção do empresariado nacional no âmbito da exploração dos recursos naturais, que é a necessidade de uma lei que regule o conteúdo local e o valor-ajustado por ela criado. Deste modo, entende o dirigente dos empresários que a lei em causa deve garantir a participação das Pequenas e Médias Empresas nacionais capacitadas, na cadeia de valores da indústria nacional, através dos “backward linkages development” (Uma medida através da qual a aquisição de bens e serviços nacionais é maximizada). “A CTA vem trabalhando na elaboração da Lei de Conteúdo Local com o Governo Moçambicano, investidores estrangeiros, parceiros de cooperação e a sociedade civil, com o intuito de fazer desta lei um instrumento de inclusão e não exclusão. Por outras palavras, a Lei do Conteúdo Nacional que pretendemos não deve afugentar os investidores estrangeiros, mas sim atraí-los”, disse. Enalteceu o trabalho aprofundado feito com a Vale e com a Sasol, que permitiu que, mesmo sem uma lei sobre o conteúdo local aprovada, têm demonstrado empenho em assegurar a participaomRGHQDFLRQDLVQRVVHXVSURMHFWRV LQFOXLQGRDYHULÀFDomRGHDVpectos sociais e ambientais. Recuos no diálogo Público-Privado Agostinho Vuma manifestou a sua preocupação com os prazos apertados que a organização é atribuída nos processos de consulta pública para a elaboração das leis e regulamentos, que não permitem que faça consulta de forma abrangente as empresas. Saudou o executivo pelos avanços que a proposta de Lei apresentada pela CTA para a participação pública nos processos legislativos que GHX ÀQDOPHQWH DOJXQVSDVVRVDSyVDFROKLPHQWRGRJRYHUQR 0DV QmR deixou de criticar o facto de que o processo que culminou com a recente DSURYDomR SHOD$VVHPEOHLDGD5HS~EOLFD GD5HYLVmRGD/HLVREUHR6HFtor Empresarial do Estado, não tenha passado por uma consulta prévia abrangente para o seu aprimoramento. “A nossa visão não é apenas de uma simples redução dos activos do Estado nas empresas públicas, mas a garantia de uma participação plena do sector privado neste processo para permitir uma reestruturação bem VXFHGLGDSRUTXH DÀQDOGHFRQWDV RVIXWXURVGHWHQWRUHVGRVDFWLYRVHPpresariais do Estado sairão, queremos crer, do sector privado”, apontou. Prosseguindo, disse que a ideia passa por não repetir a experiência não muito bem-sucedida de reestruturação do sector empresarial do Estado, aquando da introdução da economia de mercado, dadas as situações conjunturais do momento e a ausência de um sector privado nacional forte. Enumerou, como sendo outro recuo, o sacrifício a que estão expostas as empresas de transportes, logísticas e outros serviços desde a questão GRYRODQWHjHVTXHUGDHDLQWURGXomRGDFRQWDHVSHFtÀFDQDVWUDQVDFo}HV externas, que coloca sempre em desvantagem as empresas registadas em Moçambique quando se compara com a actuação regional. 5HIHUHTXHKRMHKiXPFUHVFHQWHLQFHQWLYRSDUDTXHDVHPSUHVDVTXHRSHram no transportes e logística, em Moçambique, se registem nos países vizinhos para estarem na mesma linha de competitividade com as empresas da região. $SHUWRÀVFDOSUHRFXSDQWH 1RTXHGL]UHVSHLWRDRVDMXVWDPHQWRVÀVFDLV 9XPDGL]WHPHUTXHDQHFHVVLGDGHGHPRELOL]DomRGHPDLVUHFXUVRVÀQDQFHLURVSDUDRÀQDQFLDmento da despesa pública se torne num incentivo para a introdução de medidas que contrastam com a ideia de criar um quadro de investimentos atractivo. ([SOLFRX TXH DOHL ÀVFDO REULJD D TXH HP FDVR GH FRQWDELOLGDGH RUJDnizada, a empresa deve obrigatoriamente ser assistida por um técnico de contas, devidamente, autorizado para o efeito. Mas, contrariamente a HVWHSRVWXODGR WHPVHDVVLVWLGRXPDYDJDGHÀVFDLVH RXDXGLWRUHVTXH se aproveitam do poder que têm, em representação do Estado, e fazendo uso das fragilidades dos agentes económicos para apresentarem sanções ÀVFDLVHDGXDQHLUDVVHYHUDVHDOWDPHQWHRQHURVDVSDUDDVHPSUHVDV Outra preocupação prende-se com a obrigatoriedade do uso de cheques visados que, para além de encarecer o pagamento do imposto, constitui XPUHYrVDRHVIRUoRGHVLPSOLÀFDomRGHSURFHGLPHQWRVOHJDLVSDUDHIHLtos tributários para além de não estar previsto na lei. “O nosso entendimento é de que, mais do que o Estado investir muitos recursos no controlo, é necessário apostar e investir no incentivo para que o empresário pague o imposto, através de sistemas tecnológicos PDLVUHFHQWHVHGDÀVFDOLGDGHHGXFDWLYDµ RSLQRX Vuma deixou claro que a CTA e os seus associados não estão contra as ÀVFDOL]Do}HVGHkPELWRÀVFDO PDVHVWmRDIDYRUGHDFo}HVTXHHQFRUDMDP o sector privado a sentir-se atraído para o cumprimento das suas obrigao}HVÀVFDLV TXHUDWUDYpVGDUHYLVmRGRVLPSRVWRV EHPFRPRGHRXWUDV medidas aceitáveis e que encorajem o investimento. ´$ÀVFDOL]DomRH[FHVVLYDYRFDFLRQDGD DSHQDV DVDQFLRQDURFRQWULEXLQWH induz a uma situação sempre de fricção entre o Estado e o contribuinte. Por tudo isso, queremos que, tal como a nível laboral, a inspecção a nível ÀVFDOGHYHVHJXLURVWUkPLWHVGHXPPDQXDOHVSHFtÀFRµ GLVVH O agronegócios como prioridade do triénio No âmbito da implementação da maior prioridade da CTA, o desenvolvimento do agronegócio, já foram mapeados muitos pequenos e médios agricultores e associações de produtores, visando o estabelecimento de ligações dentro da cadeia de valor que integra a produção, o processamento e a comercialização, para o sucesso que todos almejamos neste sector. 3DUDDOpPGHFRORFDUjGLVSRVLomRUHFXUVRVÀQDQFHLURV D&7$HVWiDWUDbalhar para que os grandes espaços existentes no mercado possam adquirir a produção nacional. Do levantamento feito, prosseguiu o Presidente, em algumas províncias, constatou-se que o pequeno agricultor enfrenta problemas de acesso aos mercados e de melhoria da sua organização de gestão, processamento, HPEDODJHPHFHUWLÀFDomR Esta constatação coaduna-se com os resultados apurados no âmbito do AGOA, onde, por um lado, Moçambique exportou apenas 2% de todo potencial existente e, por outro, uma parte dos poucos que exportam SDUDRV(8$QmRHVWmRDEHQHÀFLDUGRVLQFHQWLYRVGR$*2$ 3DUDR3UHsidente da CTA, este cenário deve ser invertido. DIVULGAÇÃO 10 Savana 15-06-2018 Durante a cerimónia de um ano de mandato, a CTA lançou uma plataforma integrada de comunicação – CTA Connect, que vai reduzir a distância entre a CTA e seus membros e a comunidade empresarial em geral, através de um aplicativo de telemóvel. A CTA Connect é um verdadeiro Business Center virtual. Neste aplicativo podem ser encontradas, as ordens de serviços, as missões empresariais em curso, as oportunidades de negócios, o acervo de leis relevantes SDUDRVQHJyFLRV DVRSo}HVDOWHUQDWLYDVGHÀQDQFLDmento, notícias, entre outras informações relevantes sobre negócios. A CTA Connect vai reduzir as reclamações dos emSUHViULRVVREUHRIUDFRDFHVVRjVOHLVDSURYDGDVHUHlevantes para os negócios, a fraca informação sobre missões empresariais, e vai permitir uma maior participação no processo de reformas onde podem opinar a favor de um quadro regulatório favorável aos negócios. Com a CTA Connect, os membros, a comunidade empresarial e o público em geral passam a aceder, em tempo útil e onde estiverem através de telemóvel, a todas informações veiculada pela CTA. “Um dos maiores poderes deste aplicativo é poder alertar ao caro empresário, cada vez que uma inIRUPDomR QRYD IRU FRORFDGD H ÀFDU LPHGLDWDPHQWH LQIRUPDGR %DL[HP H ÀTXHP FRQHFWDGRV µ UHIHULX Agostinho Vuma, Presidente da CTA, durante a apresentação do aplicativo. Na cerimónia de um ano de mandato, a CTA rubricou um Acordo de Cooperação com a Vale Moçambique e um MePRUDQGRGH(QWHQGLPHQWRFRPD*$,1 – Aliança Global para Melhor Nutrição. O Acordo com a Vale, visa assegurar maior participação das PME´s na cadeia de fornecimentos da Vale Moçambique. Para o efeito, a CTA e a Vale irão partilhar informações sobre oportunidades de negó- cios no âmbito dos processos de procurement, partilha de base de dados de empresas locais habilitadas para as necessidades da Vale, partilha dos principais constrangimentos detectados na execução de actividades por empresas nacionais para o desenvolvimento empresarial e melhoria contínua no fornecimento de bens e serviços. As Partes deverão igualmente articular nos processos de reforma legal. -iR0HPRUDQGRFRPD*$,1 WHPHPYLVWDRDSRLR e mobilização do sector privado para o aumento da sua participação, contribuição e compromisso, na melhoria da nutrição e do acesso da população moçambicana a alimentos nutritivos e seguros (incluinGRIRUWLÀFDGRV FRPYLVWDjFULDomRGHXPVHFWRUHPpresarial dinâmico e competitivo que contribua para o bem-estar económico e social dos moçambicanos. O objectivo comum visa contribuir para o desenvolvimento económico e social de Moçambique, baseado no crescimento do sector privado, promovendo e protegendo as oportunidades de negócios e iniciativas privadas, cultura e o associativismo empresariais. CTA assina acordos com a Vale e a GAIN CTA CONNECT: CTA lança um Business Center virtual DIVULGAÇÃO Savana 15-06-2018 11 PUBLICIDADE 12 Savana 15-06-2018 Savana 15-06-2018 17 NO CENTRO DO FURACÃO A capital do país acolheu, semana finda, a Conferência Internacional do Turismo baseado na Natureza, um evento co-organizado pelos Ministérios da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) e da Cultura e Turismo (MCT) com o objectivo de maximizar o financiamento para o desenvolvimento deste sector, para além de estabelecer parcerias público-privadas de longo prazo para o benefício das comunidades e da vida selvagem. Luz, som, muito glamour, partilha e troca de conhecimento marcaram os três dias do evento, que juntou, na mesma sala, cerca de 600 individualidades, entre governantes, académicos, gestores de agências de viagens, organizações ambientais e de conservação da biodiversidade, que juntos partilharam as experiências e as estratégias para o desenvolvimento do turismo baseado na natureza. Diferentemente da Reunião Ministerial do TICAD, decorrida no ano passado, também na capital moçambicana, onde a desorganização tomou conta do evento, a Conferência Internacional do Turismo baseado na natureza contou com uma segurança “apertada”, que chamou para si o maior protagonismo, chegando a atrasar algumas sessões de debate. A conferência, que contou com a participação do Presidente da República, Filipe Nyusi, e do ex-chefe do Estado do Botswana, Seretse Khama, apontou as parcerias comunitárias como fundamentais e estratégicas para a protecção do ecossistema e consequente desenvolvimento do ecoturismo. Os diversos especialistas que partilharam as suas experiências falaram da necessidade dos países africanos apostarem na formação da população local de forma a garantir uma gestão sustentável dos recursos, para além de investir nas infra-estruturas, em particular nas vias de acesso, factores-chave para o desenvolvimento do turismo. Sublinharam que África tem um grande potencial ecoturístico, porém, precisa de políticas claras, assim como de parcerias vantajosas entre os diferentes intervenientes, com destaque para o governo, sector privado e comunidades. Outro aspecto que os conferencistas consideram importante é a publicitação do produto, os destinos, pelo que as organizações devem desenhar as suas estratégias de marketing, sem esquecer das tecnologias para abranger a nova geração, cuja vida está baseada nas plataformas actuais de comunicação. “Precisamos da natureza que ela de nós”, Nyusi No seu discurso de abertura, o Presidente da República, Filipe Nyusi, disse que o país acolheu aquele evento porque “entendemos que o turismo pode gerar receitas para a economia, assim como ajudar na conservação do ecossistema”. Nyusi explicou que o seu executivo definiu o turismo como um dos quatro pilares para o desenvolvimento do país por acreditar no potencial daquele sector, pelo que tem desenvolvido cadeias de valor para o seu desenvolvimento, destacando a liberalização do espaço aéreo, a introdução de vistos de fronteira e a reabilitação dos parques e reservas nacionais. O Chefe de Estado sublinhou que dos 800 mil km2 que constituem o território nacional, 25% foram declarados como áreas de conservação, como forma de mostrar a importância dos mangais, fauna e todos os recursos naturais que “garantem a nossa sobrevivência”. “Cada dia fica mais claro que somos nós que precisamos da natureza, mais do que ela precisa de nós”, disse Nyusi, sublinhando que as áreas de conservação continuam a ser um mecanismo crítico de apoio à redução dos desastres relacionados com as mudanças climá- ticas. Por isso, defende Nyusi, as áreas de conservação devem ser geridas como um património nacional e cultural, de modo a gerar receitas para a vida do Estado. Revelou ainda que, nos últimos anos, o país introduziu mais de quatro mil animais como forma de repor a fauna, numa operação que envolveu a África do Sul e o Zimbabwe. Para o representante do Banco Mundial, em Moçambique, Mark Lundell, um dos patrocinadores do evento, através do Programa Mundial da Vida Selvagem, o turismo transfronteiriço desempenha um papel fundamental na união de culturas transfronteiriças, pelo que há uma necessidade de se preservar o ecossistema. Sublinhou a satisfação do Banco Mundial em continuar a apoiar Moçambique na gestão da Reserva do Maputo. “Devemos criar contas do turismo”, Seretse Khama Para abrir a conferência, os organizadores convidaram o ex-Presidente do Botswana, Seretse Khama, apontado como responsável pela restauração das áreas de conservação no seu país. Khama, que liderou o Botswana por 10 anos, disse que o sucesso do turismo, baseado na natureza, depende da intervenção conjunta do governo, comunidade e sector privado na restauração e preservação do ecossistema. O antigo estadista tswana contou que, durante o seu mandato, deu prioridade às comunidades por considerá-las preponderantes na gestão sustentável dos recursos. “As organizações de base comunitária devem ser incentivadas porque tem um papel fundamental neste processo. No Botswana, a terra e os recursos são propriedade do Estado, mas a gestão é feita pela comunidade para garantir sustentabilidade dos mesmos”, sublinhou. Khama explicou que, em 2012, os Chefes de Estado africanos perceberam o real valor da natureza, pelo que sentiram haver necessidade de uma melhor planificação e tomada de decisões de gestão favoráveis ao seu povo, tendo adoptado a Declaração de Sustentabilidade para África. “Em 2015, África teve 70% dos seus ganhos, através da protecção dos recursos, o que corresponde a USD60 milhões, mas através da mesma actividade a Europa, com 8%, obteve USD 600 milhões”, destacou. Por essa razão, Ian Khama, como é conhecido, defendeu a criação de contas do turismo para captação de investimentos, de forma a reduzir a burocracia que marca o registo de empresas, principalmente, no nosso país. Por sua vez, o fundador da Singita, uma empresa sul-africana dedicada à conservação sustentável da fauna, Luke Bailes, disse haver necessidade de se investir nas infra-estruturas, em particular estradas e aeroportos, que são essenciais para a atração turística. Falando sobre a criação de um ambiente favorável para o turismo, baseado na natureza, Bailes notou que 2,8% do turismo mundial vem dos países da África Subsaariana, mas a maior parte dos turistas viajam para os outros cantos do mundo, devido à falta de investimento nos seus países. “O potencial turístico é maior, mas precisamos de comprometimento para desenvolvermos este negócio. Os paí- ses devem entender que estamos num mundo competitivo, pelo que devem investir nas infra-estruturas”, disse, sublinhando que as empresas que exploram as áreas de conservação devem trabalhar com os governos porque implementam as políticas desenhadas por estes. Para o fundador e PCA da Singita, o continente africano precisa de um “pessoal formado mais que tudo”, pois, “maior parte das pessoas não são empregáveis”, facto que contribui para o fraco desenvolvimento do continente. “Apostamos na formação das comunidades, sobretudo crianças, para o benefício local, da empresa e do país. Essas acções evitam, de alguma forma, a caça furtiva porque as populações ficam consciencializadas sobre o impacto deste mal”, considera. No caso concreto de Moçambique, Luke Bailes defende a criação de uma Alta Autoridade de “Janela Única” do Investimento, capaz de agregar todos os investimentos estrangeiros da área turística, de modo a reduzir a burocracia. A história da Singita, fundada em 1993, e cujo nome significa “lugar dos milagres”, começou, em 1925, quando um pedaço de terra na actual Sabi Sand Reserve foi comprado por James Bailes, avô do actual proprietário. Situado num canto remoto do Lowveld Sul-Africano, a propriedade foi originalmente adquirida para fins de caça e era inacessível por estrada. Entretanto, passados alguns anos, essa reserva de 45 mil hectares evoluiu de uma área de caça a uma reserva exclusiva, onde todas as espécies de animais são protegidas. O fundador e PCA da Singita diz que a filosofia da empresa reside em preservar e proteger a terra e a vida selvagem para as gerações futuras e, para tal, tem envolvido as comunidades locais na gestão dos recursos naturais. “A sustentabilidade é muito importante para nós, pois, é o melhor modelo de protecção e rentabilização do nosso negócio. Apostamos na comunidade porque ela é o garante do nosso sucesso. Quando, há três anos, dissemos que os caçadores furtivos deviam sair, encorajamos a população a combater este mal e esta abraçou a causa”, sublinhou. Quem também defende o investimento nas infra-estruturas é o PCA da Wilderness Safaris, Keith Vincent, uma empresa que também se dedica à conservação da biodiversidade, criada, no Botswana, em 1983, e que, actualmente, opera em sete países. Para Vincent, o investimento em infra-estruturas de acesso aos locais turísticos é fundamental para que os governos não percam dinheiro, um recurso fundamental para o desenvolvimento das áreas de conservação. Acrescenta que a sustentabilidade, na gestão de recursos faunísticos, consiste na partilha de responsabilidades entre as empresas, governo e as comunidades locais. À semelhança da Singita, o PCA da Wilderness Safaris refere que a sua empresa também aposta nas comunidades locais como parceiras na conservação da fauna. Sublinha que, com o crescimento populacional, o ecossistema está ameaçado, pelo que, a aposta nas comunidades é fundamental para garantir a gestão sustentável dos recursos. “É preciso que se confie nas pessoas locais para que estas também confiem em nós. Consciencializamos a população sobre o impacto da caça furtiva, falando dos benefícios advindos da conservação da biodiversidade”, disse, garantindo que o Botswana é um exemplo na formação de pessoas locais para a gestão do ecossistema. A degradação das infra-estruturas, em particular estradas, é a maior preocupação dos operadores turísticos nacionais. Cipriano Neto, do Arquipélago de Bazaruto, revelou que o número de turistas que visita aquele Parque Nacional, vindo da Zâmbia e Zimbabwe, reduziu devido ao avançado estado de degradação da EN1, no troço Pambara-Muxúngwè, nos distritos de Vilanculo e Chibabava, respectivamente. “Partilhamos os benefícios com a comunidade”, Richard Diggle Intervindo no painel que abordava as parcerias comunitárias e a partilha de benefícios, o mais jovem orador da conferência, Richard Diggle, director regional da Northern Rangelands Trust, uma organização não governamental, criada em 2004, no norte do Quénia e que é liderada pela comunidade, disse que conseguem manter o sorriso das 35 comunidades abrangidas, através do financiamento às suas acções. Tendo se instalado numa das regiões mais pobres daquele país da África Oriental, constantemente, assolada pela seca e conflitos étnicos, a fonte revela que a organização faz deste facto seu trunfo, pois, consegue satisfazer as necessidades que o governo queniano não consegue: arrancar um sorriso da população. “No nosso projecto de conservação da vida animal, estabelecemos lideranças comunitárias ao nível das comunidades onde trabalhamos”, garantiu, acrescentando que, em 2015, criaram um Fundo de Subsistência às Comunidades, alocando o valor para a educação, saúde, água e infra-estruturas. “Temos um projecto, no qual dividimos as receitas com a comunidade: 60% vai para a comunidade e 40% vai para as operações”, frisou. Por sua vez, Colleen Begg, do Niassa Carnivore Project, gestora da Reserva Nacional do Niassa, garantiu que o seu projecto desenvolveu algumas parcerias com a comunidade local, facto que contribuiu para a redução da caça furtiva. Revela que a organização melhorou os meios de subsistência, incluindo a fonte de carne para os residentes. “Temos concessões comunitárias para a agricultura e protecção animal. Temos também trabalhos sazonais para a juventude local, onde fazemos pagamentos individuais”, observou. Por seu turno, Peter Fearnhead, PCA da African Parks, uma organização de conservação sem fins lucrativos que administra 15 parques nacionais, em nove países, revelou que, em África, as P-P-P significam “paciência, perseverança e honestidade” e não parcerias público-privadas, como é sabido. Abordando os modelos de parceria para gestão sustentável das áreas de conservação, Fearnhead disse que, em África, não há separação de papéis entre os parceiros, facto que não garante a cultura de prestação de contas. Observa que a soberania, na gestão das áreas de conservação, é garantida através de um documento assinado pelo governo, clarificando o papel de cada um dos intervenientes. Porém, apesar destas críticas, Fearnhead defendeu que o sucesso das áreas de conservação depende das P-P-P, pois, acima de tudo, é necessário dinheiro para restaurar os parques, de modo a garantir o ecoturismo. Aliás, sobre a disponibilidade de fundos, a fonte sublinha que os 100 mil hectares que constituem os 300 parques nacionais africanos estão sendo perdidos devido ao fraco investimento na protecção dos recursos. Por sua vez, Gregory Carr, Fundador e Presidente da Fundação Carr, organização gestora do Parque Nacional da Gorongosa, na província de Sofala, destacou a “boa parceria” existente entre a sua Fundação e o governo de Moçambique, tendo elogiado o executivo de Maputo pela forma como se tem portado. Carr revelou que a sua organização tem investido nas comunidades daquela parcela do país, visto que são estratégicas para a protecção dos recursos. Sublinha não haver melhor guarda florestal que a própria comunidade, pois, esta é que se encontra em quase todo o perímetro do Parque. Para o Ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, um dos maiores dinamizadores da conferência, para que as comunidades sintam-se donas dos recursos, é necessário que haja transferência de conhecimento, facto que lhes fará entender a vida animal. Para Correia, as áreas de conservação são locais de vários interesses de difícil conciliação, pois, uns defendem a maximização dos lucros do turismo baseado na natureza e outros a protecção animal, facto que abre espaço para o crime organizado. Acrescenta que o mesmo acontece com os modelos de gestão, onde alguns defendem a caça como o melhor modelo de conservação, enquanto outros não. Parcerias de investimentos O evento não só serviu para a discussão dos diferentes aspectos inerentes ao turismo, assim como a conservação do ecossistema, mas também para a troca de contactos entre os participantes, assim como para a assinatura de memorandos de entendimento entre o governo e os diferentes parceiros. Assim, nos três dias, o MITADER assinou cinco acordos avaliados em cerca de USD 600 milhões para a co-gestão e investimento no turismo, nos diferentes parques e reservas nacionais; um memorando de entendimento; e dois contratos para a construção de duas estâncias turísticas, no Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto. Dos seis acordos, dois foram assinados com a Peace Parks Foundation, uma empresa que gere o Parque Nacional do Zinave, na província de Inhambane. O primeiro acordo, assinado no dia da abertura, destina-se à assistência técnica-financeira na Reserva Especial de Maputo e o segundo, assinado no último dia e avaliado em USD 1.150 mil, visa a co-gestão do Parque Nacional de Banhine, na província de Gaza, nos próximos 13 anos, para o combate à caça furtiva. Os outros acordos foram assinados com o Grupo Farkuhar, que se compromete a investir no turismo, nos próximos 10 anos, USD 500 milhões na Reserva de Pomene e no Parque Nacional do Lipompo; Fundação Carr para a extensão de gestão conjunta do Parque Nacional da Gorongosa; e com o Banco Internacional de Moçambique para o estabelecimento de uma linha de crédito de USD 50 milhões para a intervenção no turismo, em particular nas áreas de conservação. O memorando de entendimento foi assinado com a African Parks, que estabelece os termos nos quais vai trabalhar com o governo, nos próximos 12 meses, para a assinatura de um acordo de co-gestão do Parque Nacional das Quirimbas. A organização gere, em parceria com o governo, o Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto. Para o Director-Geral da Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), Mateus Mutemba, os acordos traduzem alguns dos objectivos da conferência, que era “expor as nossas áreas de conservação para atrair investimentos para o ecoturismo e para a co-gestão”. Aliás, para além de firmar parcerias, os participantes da Conferência Internacional do Turismo, baseado na natureza, tiveram a oportunidade de ver e rever, através de vídeos, as potencialidades turísticas de Moçambique, com a apresentação dos 12 destinos ecoturistícos escolhidos pelo Governo de Moçambique, dos 17 existentes. Trata-se dos Parques Nacionais das Quirimbas, Mágoè, Gorongosa, Zinave, Lipompo, Banhine e do Arquepélago de Bazaruto; das Reservas Nacionais do Niassa, Chimanimane, Marromeu, Especial de Maputo e Marinha de Parcial da Ponta do Ouro; e a Área de Protecção Ambiental das Ilhas Primeiras e Segundas. Mutemba afirmou, na ocasião, que, nos 12 destinos, existem oportunidades de investimento para o turismo e para a conservação, todos em modelos de Parcerias Público-Privadas. Para o turismo, a fonte revelou que existem quatro modelos, o da concessão, que consiste na construção e gestão, por um privado, de uma estância turística durante 25 anos; o da concessão de dois níveis, onde uma entidade legal da comunidade obtém licença especial que lhe permite firmar parceria com entidades privadas por 25 anos; o de arrendamento, em que um privado arrenda uma estância turística para exploração de cinco a 25 anos; e o de contrato de gestão, no qual o operador privado assina um acordo com o governo para gerir uma estância turística existente. Para a conservação, o Director-Geral da ANAC fez saber que o governo recorre a três modelos, o de Gestão Delegada, onde a administração de uma determinada área de conservação firma parceria com um operador privado para desenvolver e gerir essa área entre 20 a 25 anos; a Co-gestão Integrada, onde o administração do parque ou reserva partilha a responsabilidade de gestão com um operador privado entre 20 a 25 anos; e o apoio técnico-financeiro, em que a administração do parque gere o mesmo, enquanto parceiro fornece conhecimento e recursos financeiros. Enquanto o MITADER projectava 12 destinos ecoturísticos, o Ministério da Cultura e Turismo publicitava cinco, nomeadamente, a província e cidade de Maputo; o distrito de Vilanculo e o respectivo Arquipélago de Bazaruto; o Parque Nacional da Gorongosa; o Parque Nacional das Quirimbas, que se estende as Ilhas do Ibo e a Baía de Pemba; e a Reserva do Niassa. O titular da pasta, Silva Dunduro, que só “apareceu” no último dia de uma conferência internacional do turismo, disse que o segundo plano estratégico para o desenvolvimento do sector (2016-2025) define retornos económicos e sociais, a colecta de mais de USD 2.8 biliões de receitas de turismo externo e USD 4 biliões de receitas de turismo doméstico”. Para tal, vai atrair cerca de 1.8 milhões de turistas estrangeiros e vender 5.6 milhões de viagens turísticas domésticas, para além de empregar mais de 83 mil pessoas. Ecos da Conferência Internacional do Turismo baseado na Natureza Por Abílio Maolela (texto) e Ilec Vilanculos (fotos) Comunidades estratégicas na protecção do ecossistema Especialistas defendem o envolvimento das comunidades e do sector privado na gestão dos recursos naturais Cerca de 600 pessoas discutiram as estratégias para o desenvolvimento do ecoturismo Filipe Nyusi Seretse Khama Savana 15-06-2018 EVENTOS 13 0DSXWR GH-XQKRGH $12;;91o 1275 EVENTOS O Millennium bim e o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER), através do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável; (FNDS), firmaram um protocolo de entendimento que cria uma linha de financiamento para investimentos em projectos de Ecoturismo, no valor total de 50 milhões de dólares. Trata-se de uma linha de crédito com “condições vantajosas” criada pelo Banco e destina-se a investimentos de micro, pequenas e mé- dias empresas, em Moçambique, contando com o fundo de garantia do FNDS. O referido acordo foi rubricado pelo PCE do Millennium bim, José Reino da Costa e pelo ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, aquando da realização da Conferência Internacional de Turismo Baseado na Natureza, um evento mundial que decorreu em Maputo, MITADER e Millennium bim promovem ecoturismo promovido pelo Governo de Moçambique em parceria com o Programa Global de Vida Selvagem e o Banco Mundial. Na ocasião, José Reino da Costa afirmou: “o Banco pretende, com a criação desta linha de financiamento, apoiar e inspirar os nossos empresários a investir no Ecoturismo e, assim, contribuir para o Desenvolvimento Sustentável de Moçambique”. O Millennium bim oferece, através desta linha de crédito, condições especiais de financiamento para apoio a projectos de turismo ligados à conservação da biodiversidade e ao desenvolvimento sustentável. Refira-se que esta é uma das maiores conferências mundiais sobre a conservação da vida selvagem e tem como principal objectivo promover e debater os desafios do turismo baseado na conservação da biodiversidade nas áreas de conservação no mundo e partilhar com o Mundo o rico património natural que Moçambique possui nas Áreas de Conservação. O Barclays Bank Moçambique, no âmbito da sua estratégia de acompanhar a evolução e inovação tecnológica, inaugurou , na quinta-feira finda, seu terceiro “Balcão do Futuro”, na cidade de Maputo. Desde 2016 que o Barclays tem vindo a implementar este conceito inovador, o qual materializa a sua visão estratégica de desenvolver um conjunto de serviços focados e direccionados às necessidades dos clientes, assentes em soluções digitais que simplificam as operações bancárias e facilitam Barclays inaugura mais um Balcão do Futuro a interacção entre os Clientes e o Banco. A entidade bancária pretende reforçar a sua aposta num serviço ao Cliente eficiente e inovador, com esta tipologia de balcões, juntando num único espaço o atendimento presencial e a conveniência das novas tecnologias para uma maior eficiência no atendimento. Falando na ocasião, a PCA da Barclays, Luísa Diogo, referiu que a inovação tecnológica, na banca e nos serviços financeiros em geral, é fundamental para melhor servir os nossos clientes, oferecendo-lhes soluções mais eficientes e eficazes no seu relacionamento comercial com o Banco e com terceiros e esse é o caminho diferenciador que o Barclays Bank Moçambique pretende trilhar rumo ao futuro. “Este novo Balcão do Futuro representa um longo caminho desde as nossas mais antigas origens, do extinto BPD-Banco Popular de Desenvolvimento, até ao que é hoje o Barclays Bank Moçambique. Um caminho que acompanhou todos os passos do desenvolvimento de Moçambique e de que hoje muito nos orgulhamos. A uma referência internacional na área da banca e dos serviços financeiros juntámos o que de melhor Moçambique tem para oferecer, as nossas pessoas, o nosso calor humano”, disse. “Reforço que esta é uma aposta numa proximidade ainda maior com os nossos Clientes e na sua comodidade, mas é também uma aposta na evolução e no futuro do Barclays, uma aposta na sua rentabilidade, na racionalização dos seus serviços, na produtividade e na imagem do Banco, abrindo a porta para um mundo de novas possibilidades no acesso aos melhores serviços financeiros. Esta nova realidade, representada pelo Balcão do Futuro, será cada vez mais o nosso cartão-de-visita, a nossa imagem mas, também e principalmente, a imagem de um país na corrida para o desenvolvimento, a imagem de um país que abraça as tecnologias como fonte e motor desse desenvolvimento”, acrescentou Rui Barros, Administrador Delegado do Barclays Bank Moçambique. Refira-se que, com este novo Balcão, o Barclays conta hoje com uma rede comercial de 43 agências ao serviço de seus Clientes, a nível nacional. O Barclays Bank Moçambique pretende, a curto-médio prazo, oferecer a mesma qualidade e modernidade patente nesse novo modelo em todos os seus balcões. A Escola Superior de Altos Estudos e Negócios (ESAEN), uma unidade orgânica da Universidade Politécnica, vai introduzir, a partir do segundo semestre deste ano, o curso de mestrado em Pensamento Contemporâneo e Desenvolvimento. Politécnica introduz mestrado em Pensamento Contemporâneo e Desenvolvimento Espera-se que o curso sirva de subsídio para expandir o campo referencial do indivíduo, criando massa crítica que lhe permita problematizar e questionar assuntos ligados a áreas transversais designadamente sociais, humanas, culturais, económicas, entre outras. Após a conclusão do curso, o graduado deverá ser, por um lado, capaz de demonstrar competências a nível de conhecimento, experiência, descrição e análise das manifestações sociais e humanas do mundo, do continente, da região e do País, em particular. Por outro lado, o graduado deverá ser, também, capaz de problematizar e questionar assuntos de natureza social, humana e econó- mica; promover a valorização de questões ligadas à identidade, ao património histórico e à cultura, bem como desenvolver projectos de pesquisa e estudo nas áreas social e humana. O curso, a ser leccionado nas instalações da ESAEN, na cidade de Maputo, é composto por 14 unidades curriculares de 25 horas cada e é destinado a todos os licenciados interessados por áreas ligadas às ciências sociais e humanas, independentemente da sua área de formação. Savana 15-06-2018 EVENTOS 14 C om vista a facilitar as transacções financeiras entre as pessoas residentes na cidade e nas zonas recônditas do país, o Barclays Bank, em parceria com a telefonia móvel Movitel, lançou, na passada sexta-feira, o serviço de transferência de dinheiro da carteira móvel para as contas bancárias. Para o Presidente da Comissão Executiva do Barclays, Rui Barros, a colaboração entre as duas instituições vai ter impacto considerável na vida dos seus clientes, permitindo-lhes realizar uma série de transacções financeiras entre os canais electrónicos do Barclays e a plataforma e-Mola. Barros avança que é mais uma aposta na inovação e implementação de novas tecnologias acompanhado a tendência global adaptada à nossa realidade, procurando oferecer ao mercado soluções diferenciadoras e eficazes transversais a vários segmentos. Segundo Barros, a adopção deste tipo de serviços representa a inclusão financeira, que vai gerar pequenos negócios e funcionando Barclays e Movitel unem-se para inclusão financeira como um importante catalisador do desenvolvimento da economia nacional. Estas operações estão disponíveis nas plataformas de Internet Banking, Barclays Móvel e o Barclays App. Entretanto, Safura da Conceição, Presidente do Conselho de Administração da Movitel, considera que a interoperabilidade é um dos factores chaves no processo de inclusão financeira e é neste contexto que a parceria marca o início de uma grande relação que espera trazer grandes benefícios para os clientes pela oferta de melhores serviços. Da Conceição acrescenta que a e-Mola traz consigo uma missão que é de levar os serviços financeiros às zonas rurais e às populações com menos acesso ao sistema financeiro convencional. Refira-se que o serviço de carteira móvel e-Mola foi estabelecido no ano de 2016, estando implantado há dois anos e vem crescendo no mercado facilitando a vida de parte dos clientes da Movitel com a oferta de serviços de transferência e levantamento de dinheiro nos Agentes e em ATM. (Cleusia Chirindza) O Standard Bank, um dos maiores bancos comerciais a operar em Moçambique, realiza, no dia 19 de Junho, em Maputo, o Economic Briefing, com o objectivo de fornecer contribuições sobre a economia à comunidade empresarial, para orientá-la na tomada de decisões. Trata-se de um evento anual através do qual esta instituição bancária partilha o seu conhecimento em áreas específicas com os clientes e a Standard Bank debate gestão de vulnerabilidades macroeconómicas sociedade, cujo tema é “Como gerir vulnerabilidades macroeconómicas?”. Na sua dissertação, na qualidade de Economista Chefe do Standard Bank, Fáusio Mussá vai abordar questões a considerar na gestão das vulnerabilidades macroeconómicas, que podem ser imprescindíveis para um crescimento sustentável no cenário actual da economia nacional. Uma equipa de juristas da prestigiada firma de advogados norte-americana, Miller & Chevalier, foi convidada pelo Standard Bank para debruçar-se sobre a governação corporativa, trazendo para o país alguns elementos da experiência internacional nesta área. Implantado em Moçambique há mais de 120 anos, o Standard Bank organiza, anualmente, o Economic Briefing, onde reúne cerca de 200 agentes económicos e clientes desta instituição bancária com o objectivo de apoiá-los no processo de tomada de decisão, através da partilha das expectativas da evolução da economia moçambicana, regional e mundial. C omprometido com a melhoria das condições de vida nas áreas da educação e saúde, o casino Polana procedeu, esta quarta-feira, à entrega de quatro cheques a igual número de organizações que vão investir em sectores em causa. Segundo Danilo Mussá, director de Marketing do Casino, o governo impôs a obrigatoriedade da instituição alocar, anualmente, 2% dos seus lucros, para iniciativas da responsabilidade social. De forma a tornar o processo mais transparente e abrangente, o Casino lançou, no princípio deste ano, um concurso público para seleccionar os melhores projectos. Trata-se da Fundação Bruno Morgado que vai reabilitar a Escola Primária Completa Unidade 18, localizada no bairro do Aeroporto, com 775 mil meticais. Segundo o representante da Fundação, as obras vão contemplar a construção do muro traseiro de vedação, casas de banhos, bloco de ensino e administrativo. Louvou a iniciativa do Casino porque vai melhorar as condições de ensino de cerca de 2000 alunos. A Fundação Rizwan Adatia, com um projecto avaliado em 775 mil meticais, vai realizar operações de cataratas para 600 pacientes, sendo Casino Polana investe na educação e saúde 300 no Hospital Geral de Mavalane e outra metade no Hospital Provincial de Maputo. As campanhas vão decorrer entre os meses de Julho e Dezembro, respectivamente. A Fundação Adatia destacou que um país próspero depende da participação de todos, sendo que este gesto visa responder essa questão. Com um projecto de 720 mil meticais foi financiada a CERCI, uma escola que lida com crianças que carecem de cuidados educativos especiais. Por último foi a Associação Ntumbuluko que vai promover educação ambiental em seis escolas primárias, com um valor de 710 mil meticais. Depois da alocação dos fundos, Danilo Mussá diz que os próximos passos são a monitoria da execução dos projectos vencedores, bem como manter olhar nos que não foram seleccionados para que sejam privilegiados próximo ano. No entanto, Mussá manifestou a sua preocupação com a falta de observância, por parte do governo, das regras de concorrências neste tipo de negócios. É que a 500 metros do casino está um concorrente e, segundo o director de marketing, o normal era de colocá-lo num outro ponto ou cidade, uma vez que Moçambique não tem uma forte cultura de jogo. N um contexto em que se descute o impacto dos mega projectos na biodiversidade e sobretudo o papel do governo como entidade reguladora, a Biofund diz que, de 2016 a esta parte, já desembolsou cerca um milhão de dólares norte americanos destinados à conservação da biodiversidade. Estes dados foram tornados públicos no decurso do fórum sobre a harmonização do desenvolvimento e conservação da biodiversidade, realizado, recentemente, em Maputo. BIOFUND já injectou USD1 milhão Em termos de área de conservação, a organização apontou que o país já alcançou cerca de 26% e está dentro daquilo que foi definido nos objectivos globais. Na parte marinha, ainda estamos muito atrás, porque ainda estamos em cerca de 2% quando o objectivo internacional são 10%. Um dos desafios apontados por àquela organização é o da capacitação do pessoal ligado ao governo e não só, mas também em matéria de avaliação e impacto ambiental de projectos, até porque Moçambique tem compromissos internacionais. Este fórum serviu para partilhar as melhores práticas internacionais e explorar abordagens que ajudem a equilibrar a necessidade de desenvolvimento económico e a urgência da conservação do património natural de Moçambique. O evento contou com a presença de membros do governo, agências bilaterais, organizações da sociedade civil e sector privado. (Redacção) Savana 15-06-2018 EVENTOS 15 PUBLICIDADE 16 Savana 15-06-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE O Presidente da República, Filipe Nyusi, apelou, semana finda, aos empreiteiros nacionais para denunciarem actos de corrupção que abundam no sector da construção e tiram prestígio aos moçambicanos. Segundo Nyusi, que falava num encontro com empreiteiros da cidade e província de Maputo, a denúncia não pode acontecer como forma de chantagem, caso um determinado empreiteiro não ganhe um concurso. Abordou a necessidade de se apostar forte em obras de qualidade, de modo a inverter-se a imagem de que as empresas nacionais de construção elogiou os filiados da FME, assinalando a criação de empregos e a transferência de conhecimento nos diversos projectos que levam a cabo nos diferentes cantos do país. De seguida, colocou o dedo na ferida e referiu que é preciso que as empresas nacionais de construção dignifiquem o país. Para Nyusi, há uma percepção pú- blica de que as empresas moçambicanas deste sector são sinónimos de demora e má qualidade na execução das obras. O chefe de Estado apontou o cená- rio de obras cuja execução viola os prazos e construções abandonadas, como um cancro que afecta o sector. A corrupção é outro mal de que enferma a construção e, para Nyusi, Nyusi zangado com qualidade das obras Por Argunaldo Nhampossa ro para investirem, de modo a não dependerem totalmente da disponibilidade de fundos públicos. A descentralização não ficou fora da conversa e, segundo o PR, é preciso que os empreiteiros acompanhem os cenários políticos nacionais de modo que não fiquem fora do jogo. Argumentou que, com a descentralização, haverá mudanças no modelo de adjudicação das obras públicas pelo que é de extrema importância que os empreiteiros estejam actualizados e se preparem para enfrentar os desafios dos próximos tempos. são sinónimo de demora e de má qualidade nos seus trabalhos. O encontro era muito aguardado pelos filiados à Federação Moçambicana dos Empreiteiros (FME) da cidade e província de Maputo, por considerarem uma oportunidade ímpar para apresentarem ao chefe de Estado as dificuldades que enfrentam desde a eclosão da crise que assola o país. O atraso no arranque do encontro acabou por gorar as espectativas dos empreiteiros. Protecção dos empreiteiros locais O presidente da FME, Manuel Pereira, disse que o país está em construção, pelo que o sector é chamado a colocar-se na linha da frente para assegurar a materialização dos grandes objectivos de desenvolvimento, que passam por prouver o país de infra-estruturas económicas e sociais capazes e condignas. Disse que está em voga o debate em torno da qualidade e resiliências das infra-estruturas, que se tornou mais pertinente em face das calamidades naturais, que ciclicamente fustigam o país. Solicitou a criação de políticas e estratégias que promovam o desenvolvimento das empresas nacionais e da indústria nacional de construção em geral. Manuel Pereira defendeu a necessidade de protecção das empresas nacionais, no desenvolvimento da capacidade dos empreiteiros, distribuição justa de oportunidades e foco na qualidade das obras entre outros. Denúncia da corrupção Na sua intervenção, Filipe Nyusi este mal e a troca de favores devem ser erradicados porque encarecem o custo das obras públicas. Apelou aos presentes para denunciarem práticas do género porque não ajudam no desenvolvimento do país. “Vocês dizem que o governo deve combater a corrupção, mas não denunciam. Por vezes, vocês são agentes activos da corrupção. Mas também não é para denunciar como forma de chantagem por não terem ganho um determinado concurso”, disse. Apontou o sector do licenciamento e a fiscalização como sendo os mais permeáveis à corrupção, indicando os projectistas que entregam “projectos incompletos”, sem janelas ou casas de banho. Garantiu que o Governo vai pagar as dívidas às empresas de construção civil, dado que já há uma margem orçamental para isso. Desafiou os empreiteiros a elevarem os seus níveis de qualidade e a cultivarem um traçado genuinamente moçambicano na construção, porque o desejo do executivo é de internacionalizar as empresas moçambicanas. Comprometeu-se a priorizar as construtoras nacionais nos concursos públicos, mas entende que há necessidade de diversificação das suas actividades, porque no mercado nacional são poucas as empresas que sabem fazer pontes, asfaltagem de estradas, entre outros. Entende Nyusi que é chegado também o momento de as empresas arregaçarem as mangas e terem iniciativas de ir à banca buscar dinheiFelipe Nyusi reunido com empreteiros na cidade e província de Maputo 18 Savana 15-06-2018 INTERNACIONAL A cimeira Trump-Kim foi seguida em todo o mundo e revestiu-se de um elevado peso simbólico. Para lá dos acordos, dos elogios e dos apertos de mão afáveis, também se registaram momentos curiosos. Donald Trump e Kim Jong-un encontraram-se esta terça-feira, em Singapura, para uma cimeira que foi o culminar de meses de preparação (e que resistiu a uma ameaça de cancelamento pelo meio). Mas nem só de diplomacia se fez este dia, marcado também por momentos de descontracção entre os dois líderes: da piada falhada de Trump à escolha da ementa que deixou os norte-coreanos boquiabertos. Foi a primeira vez que um líder norte-americano e norte-coreano em funções se encontraram para assinar um documento que, apesar de ter desapontado alguns analistas, promete a desnuclearização “total” da península coreana – tal como Trump queria. E apesar da importância conferida a este encontro, houve alguns momentos caricatos. As belas praias norte-coreanas Donald Trump herdou uma grande na tradução, a avaliar pela expressão desconfiada de Kim. Em Novembro de 2017, os dois lí- deres trocavam insultos. Trump chamou “baixo e gordo” a Kim Jong-un, depois de este o ter apelidado de “velho”. A ementa que espantou os norte-coreanos A ementa do almoço de trabalho deixou os norte-coreanos boquiabertos. É que um dos pratos, chamado “oiseon”, pepino recheado com carne de vaca, ovos e cenoura, é um prato histórico, mas incomum, que costumava ser servido nas cortes da família real coreana. Para se perceber o espanto da comitiva norte-coreana, a BBC explica que “seria como se o primeiro-ministro britânico se sentasse a comer com um dignitário e lhe oferecesse cisne assado – um dos pratos favoritos de Henrique VIII”. Os coreanos mais jovens chegaram a confundir o prato com “oisobagi”, kimchi de pepino, bem mais comum. Para Trump, o menu foi diferente. A entrada foi um cocktail de camarão com salada de abacate. O prato principal foi costeleta de novilho com batata, brócolos e molho de vinho tinto e para a sobremesa, estava preparado gelado Häagen-Dazs de baunilha com coulis de cereja. Para além disso, houve ainda um terceiro prato, para que os anfitriões pudessem mostrar um pouco da cultura singapurense. O porco agridoce e arroz frito à moda de Yangzhou e o Kerabu de manga verde com molho de lima e polvo fresco, mostraram a herança deixada pelos chineses, malaios e indianos no país. A “besta”, a limousine blindada Depois das reuniões, Trump mostrou a limousine presidencial a Kim – um automóvel preto, blindado, tão grande que foi apodado de “besta”. O momento caricato foi captado em vídeo e altamente fotografado e as imagens mostram o líder norte-coreano a olhar de forma breve para dentro do carro. Antes do início da reunião, foram disponibilizadas duas canetas para a assinatura do documento final. De acordo com as imagens, eram pretas e tinham a assinatura de Donald Trump a dourado. Momentos antes da assinatura, a irmã do líder norte-coreano entregou-lhe uma esferográfica. Não é clara a razão que motivou esta alteração. Público.pt fortuna criada a partir do negócio imobiliário e tem hotéis com o nome dele espalhados um pouco por todo o mundo. E tem queda para o negócio. Pelo menos, foi o que deu a entender o comentário dele, proferido junto de jornalistas antes de se encontrar com Kim. “Eles [na Coreia do Norte] têm óptimas praias. Quando eles explodem os canhões deles para o oceano eu digo “Ena, olhem para aquela vista. Não daria um óptimo condomínio?’”, disse Trump. “Em vez de fazerem isso podiam ter aí um bom hotel.” Actualmente, o Governo norte-americano desaconselha as viagens à Coreia do Norte. Os norte-americanos aconselham ainda os cidadãos a escrever um testamento antes da partida. A piada de Trump que Kim não percebeu No início do almoço, antes de se sentarem, o Presidente norte-americano pediu aos fotógrafos que tirassem uma fotografia em que os dois líderes estivessem “bem e giros e magros e perfeitos”. Apesar do tom aparentemente humorístico, a piada não foi bem-sucedida – ou então perdeu-se A piada falhada de Trump e as “belas praias” norte-coreanas Cimeira EUA-Coreia do Norte D esta vez não foram imagens de mortos afogados no mar Mediterrâneo. Desta vez foram 629 migrantes de África parados no meio do mar à espera que o navio que os salvou da morte pudesse atracar num porto seguro. Malta negou e Itália fechou os portos. Desta vez os migrantes do navio Aquarius foram vítimas de outro (mais um) tipo de abuso: tornaram-se instrumentos de propaganda política. Portos e chaves de fenda O novo ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, fechou os portos italianos e as imagens de desesperados no navio no meio do mar deram a volta ao mundo. O que não conseguiu fazer Viktor Orbán, na Hungria, com o seu muro anti-imigrantes, conseguiu Salvini após apenas duas semanas de governação: usar a imigração como “chave de fenda” para romper as políticas de Bruxelas. O navio Aquarius, da ong “SOS Mediterranée”, acabou por seguir a rota de Espanha - onde o novo PM em nome da solidariedade e humanismo ofereceu o porto de Valência para desembarcar - acompanhado por dois barcos italianos. Faltam apenas duas semanas para o decisivo Conselho Europeu de 28 e 29 de Junho sobre a imigração e a União Europeia nunca apareceu tão desunida e confusa, com insultos e palavrões entre governantes. Além dos compromissos com a União Europeia, Itália violou o direito internacional que impõe como prioridade absoluta a salvação das pessoas que se encontram em perigo no mar. Mas a “partida” dos imigrantes é fulcral sendo que os vários países da UE não respeitam totalmente os acordos de acolhimento e recolocação dos migrantes e Itália se sente sozinha, na sua posição geográfica. O braço de ferro, segundo, Salvini, valeu: “Finalmente, as maneiras fortes serviram!”, foi o seu grito de “vitória”. “Vomitivo”, respondeu o porta-voz de Emmanuel Macron, o presidente francês. A chanceler alemã Angela Merkel lançou o alarme: “sobre a imigração ilegal temos de responder de forma unitária. Este tema tem todo o potencial para destruir a Europa”. 9LVWRVHPiÀDV A matança no Mediterrâneo de pessoas vindas dos países africanos para os Países europeus começou quando Europa decidiu dificultar os vistos. Como escreveu um jornalista italiano, Gabriele Del Grande, numa carta dirigida para o Ministro do Interior italiano, vivemos num mundo globalizado, onde os trabalhadores se mudam de um lugar para outro em busca de um salário melhor. A Europa, que há muitos anos tem vindo importar mão-de-obra a baixo custo, tem assinado vários acordos de livre circulação com muitos países extraeuropeus. Mas continua a proibir aos trabalhadores africanos de emigrar legalmente no seu território. Por outras palavras, as embaixadas europeias em África pararam de emitir vistos ou tornaram quase impossível o processo de o obter. Chegamos a um ponto em que a única via possí- vel para a emigração de África para Europa é aquela das organizações criminosas líbias que operam como traficantes de seres humanos, ao lado dos campos de concentração onde ficam os migrantes antes de serem vendidos ou embarcados nas barcaças podres que vagueiam no Mediterrâ- neo. As máfias líbias detêm o monopólio da mobilidade sul-norte do Mediterrâneo central, conseguindo passar até cem mil passageiros por ano com uma faturação de centenas de milhões de dólares. E milhares de mortos. E a questão líbia é central nesta história. “Porque eu continuo a não perceber a razão pela qual um jovem de Lagos ou de Bamako, tenha de gastar cinco mil euros para passar o deserto e o mar, ser detido na Líbia, torturado, vendido, ver morrer os colegas de viagem e chegar a Itália se calhar depois de um ano, traumatizado, sem um tostão, quando com um visto no passaporte poderia ter comprado uma passagem de quinhentos euros e gastar o resto do dinheiro para alugar um quarto e procurar um emprego”, escreveu Gabriele Grande. “Exactamente como fizeram cinco milhões de italianos, eu inclusive, emigrados no estrangeiro durante as últimas dé- cadas. Exactamente como queriam fazer as cem mil pessoas parqueadas no limbo do acolhimento”. Crise económica, medo, segurança, empobrecimento, e teoria do caos. E assim se alimenta uma guerra entre pobres, no velho continente. Países de origem mudos Na Itália, por exemplo, o processo para ter uma autorização de residência demora anos, e sem a garantia que seja reconhecida. E, ainda mais grave, pedir o asilo político demora até dois anos. E quando os papéis não chegam, os imigrados nem podem ser repatriados porque já são demasiado numerosos os que estão “parqueados no limbo do acolhimento”. Também porque não existe colaboração com os seus países de origem. Significa, portanto, que dentro de um ano, por exemplo, cinquenta mil pessoas estarão sem documentos a alimentar o trabalho clandestino. UE/UA despedaçadas O tema migratório recebeu maior atenção política por parte da UE, ultimamente. Emblemas desta preocupação foram a convocação extraordinária de La Valletta (Malta) em 2015, dedicada exclusivamente ao fenómeno migratório e a análise da utilização dos dinheiros do Trust Fund para África, cujos recursos deveriam ser destinados para a criação de ocupação, sobretudo para os jovens, e o desenvolvimento económico. Todavia, a maior parte dos recursos foram utilizados para com objectivos securitários como o controlo das fronteiras para a gestão do fenómeno migrató- rio, descurando as causas profundas do próprio fenómeno. Também na V cimeira União Europeia/União Africana em Abidjan, na Costa de Marfim, no ano passado, a gestão dos fluxos migratórios foi um dos temas centrais. Essa foi uma cimeira particularmente importante sendo a primeira entre organizações regionais comparáveis: antes a UE encontrava a “África”. A narração da parceria tentou ser “com África” abandonando o velho “para África”. Mas os compromissos, mesmo se válidos, tornam-se a cada dia presa das necessidades de curto prazo. E a história do navio Aquarius no meio do mar é um dos mais recentes exemplos. E para aprofundar a parceria entre os dois continentes, divididos apenas por 14 quilómetros de mar, é fundamental reforçar a União Africana, considerado que a sua integração política (e não só) não é ainda bastante sólida para lhe garantir aquela coesão interna necessária para dirigir a agenda na parceria. Mas será só por isso que nem uma palavra veio de nenhum representante da União Africana sobre a tragédia dos africanos do navio Aquarius? *Especial para o SAVANA Chora, amado Aquarius Por Paola Rolletta, em Roma* Kim Jong-un e Donald Trump no encontro histórico em Singapura Savana 15-06-2018 19 OPINIÃO Registado sob número 007/RRA/DNI/93 NUIT: 400109001 Propriedade da Maputo-República de Moçambique KOk NAM Director Emérito Conselho de Administração: Fernando B. de Lima (presidente) e Naita Ussene Direcção, Redacção e Administração: AV. 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A Frelimo podia instruir os seus homens para me fazerem mal. Estando aqui na Serra, eu fico mais seguro. ( ) A minha decisão não tem outro objectivo senão salvaguardar a minha integridade.”» O marciano procura então no jornal por uma tentativa de dissuasão, um apelo, um desmentido da Frelimo - em vão. Depois passa à página do internacional e lê que foi considerado histórico o aperto de mãos entre o maior vendedor de armas do mundo e o ditador coreano. E vê-os a sorrirem francamente um para o outro, como se uma igual legitimidade os confortasse e uma afinidade subterrânea os ligasse, para além do aparato retórico. Há um clima amistoso entre ambos, as fotos do encontro denotam que estão descontraídos, no seu natural, Trump está em casa, como não conseguiu estar entre os pares no G7, na semana passada, onde a sua crispação era visível. Ora aqui, devido à sua obstinada agenda da “América primeiro” o seu comportamento fora de tal forma arredio aos argumentos – e mais uma vez Trump tinha estudado mal a lição - que foi considerado por todos um “cretino” e um espírito “infantil”. Dois dias depois, o seu conforto é patente, lado a lado com o jovem ditador, e coitado, quer-nos fazer crer que desta vez a sua prioridade é “o mundo primeiro”. A pergunta que se impõe é: que foi ele negociar, sob o álibi da desnuclearizarão? Como o marciano gosta de ler Histó- ria, pôs-se a imaginar se o Churchill seria tão amistoso com o Hitler e rapidamente conclui que muito mudou nos paradigmas sociais para um líder democrático apresentar como respeitoso um jovem ditador e para que a sua linguagem-não- verbal se mostrasse tão díspar entre um encontro e outro. Em ambas as notícias, pensa o marciano, ilustram-nos mais os comportamentos do que aquilo que se diz. O que evidentemente é-lhe mais fácil porque à partida está descontextualizado. Portanto, descontextualizar ajuda-nos a discernir. E que sinais discernimos afinal, nas duas situações? É aqui que a porca torce o rabo. E para dar razão àqueles que dizem que eu só cito, vou citar. E cito Bernard Stiegler, e um livrinho essencial para nos ajudar a compreender os riscos desta era hiperindustrial, Da miséria simbólica (Lisboa, Orfeu Negro, 2018), onde a páginas tantas se lê: «O mal-estar que afecta a época presente caracteriza-se pelo fato de que eu posso cada vez menos, cada vez mais dificilmente senão mesmo já não posso de todo projectar-me num nós (…) o nós está gravemente doente. ( ) O mal-estar dos indivíduos resulta da instalação desse estado de facto e traduz-se por somatizações, neuroses e comportamentos obsessivos, de compensações ou de fuga» (que podem conduzir à violência e à desvinculação). A perda de um “nós” acarreta «uma ferida narcísica que se exaspera para logo se afundar, traduzindo-se numa perda de singularidade onde se perde a respectiva imagem». E aí, diz o autor, o amor-próprio é destruído e as pessoas não se sentindo já capazes de se projectarem num mundo condicionado (ou onde o egoísmo financeiro ou o apego ao poder ficaram demasiado explícitos) tornam-se menos capazes de amar, ao mesmo tempo que prospera o viagra e os filmes pornográficos e todos os valores se tornam venais, etc., etc. Que tem isto a ver connosco, perguntará o leitor. Em Lisboa, como tenho filhas na universidade, estive várias vezes na comunidade dos jovens estudantes moçambicanos, e vi que há neste momento unanimidade num ponto: se puderem não voltam. Não encontrei um único estudante que, em podendo ficar, queira voltar, porque considera que as suas espectativas sairiam invariavelmente frustradas. Porquê? Porque não se revêm no seu país de origem, perderam a esperança de que haja um “nós” e a confiança nas práticas políticas em uso no país. É a debandada de técnicos, como efeito de uma política de duplo sinal e de uma surdez atemorizadora. Não creio de todo que possa ser um sintoma retemperador e que galvanize a identidade de um país a ideia de que só fica quem não possa partir. Terminemos com um poema, amenizador: «No saibro do caminho/ a lama amareleja nas covas// baloiça o mini// setecentas covas/ até o destino// da íris,// miraculosa.» É um poema de amor, do Aurelino Costa, e que nos lembra que o amor, como os países também é uma construção que dá muito trabalhinho e muitas guinadas nos rins. Ah, o nosso marciano achou melhor ir tentar encontrar um mecânico quântico para lhe arranjar a nave numa lua de Saturno, que considera menos perigosa do que o clima que encontrou neste rincão plantado à beira Índico e bazou, não sem antes me ter confiado: vi um filme desse tarado do João de César Monteiro e só gostei duma frase do filme, quando alguém recomenda à personagem: Vai trabalhar! Acho que não é isso que lá está, os marcianos também se enganam. É de William Shakespeare, esse grande escritor da língua inglesa, a expressão que diz que “a discrição é a melhor parte da bravura”. O que para outros se traduziria em qualquer coisa como, não diga tudo o que pensa, mas pense sempre bem no que diz. E será o que nos faz lembrar a intervenção do Presidente Filipe Nyusi na semana passada, quando em visita à cidade de Maputo, se insurgiu contra os manifestantes que dias antes haviam bloqueado a estrada circular da capital, exigindo que fossem tomadas medidas para mitigar a incidência de atropelamentos fatais na zona de Chiango. Aqueles que sentem dificuldades em se inserir no meio urbano que saiam, disse o Presidente, ao mesmo tempo que, parecendo irritado, sugeria a existência de alguém (que parece ser do seu conhecimento) especializado em agitar as populações a rebelarem-se contra as autoridades. Fez lembrar Donald Trump, quando se pronunciou sobre jogadores do NFL, que numa manifestação de indignação perante a brutalidade policial e desigualdades raciais, tomaram a decisão de ajoelhar enquanto se entoava o Hino Nacional, na abertura da época do futebol americano. Depois de acusar os jogadores de anti-patriotas e desrespeitadores dos símbolos da nação americana, Trump sugeriu que eles deveriam sair do país. E alguém retorquiu: “sendo americanos, é para irem viver aonde”? No mesmo dia da manifestação de Chiango, o vereador do município de Maputo para os transportes, João Matlombe, teria dito, em resposta ao pedido da população para que uma das medidas fosse a instalação de uma ponte para a passagem de peões, que mesmo que isso fosse feito, a população não a iria usar, por uma questão de preguiça. E para se justificar deu o exemplo das duas pontes ao longo da Estrada Nacional Número 4 e de uma outra no bairro do Benfica, na EN1, as quais alegou que não estavam a ser usadas pela população. Alguns dias depois das declarações do Presidente Nyusi, circulou nas plataformas sociais uma mensagem violenta, em que os seus mentores diziam que desde que nasceram nunca conheceram um outro lugar que não seja a cidade de Maputo. Acrescentavam que não sabiam como é que as pessoas se preparavam para viver na cidade de Maputo. “Será pela condição social? Será pelo grau de habilitação (sic)? Será pela idade?” Há uma tendência humana em que os rurais de ontem tendem a apagar as suas origens, para serem mais urbanos que os próprios urbanos. Dias depois de toda esta retórica presidencial, do nosso ponto de vista absolutamente desnecessária, o Presidente visitou a estrada circular, precisamente na zona onde tinham ocorrido as manifestações, e foi manifestar solidariedade à família da criança cujo atropelamento tinha provocado o protesto popular. No dia seguinte lá estavam a ser lançados os alicerces para a construção da ponte que a população havia pedido. A questão aqui não é de saber quem, afinal, tinha razão. E não nos compete dar lições a sábios. O que podemos dizer é que líderes devem aprender a ouvir aqueles que os elegeram para os altos cargos que ocupam. Quando pobres se queixam das precárias condições em que vivem, mesmo que isso seja uma trivialidade, é sempre aconselhável parar, nem que seja por um minuto só, e reflectir se não haverá algum grão de justeza nas suas reivindicações. Não custa muito satisfazer as pessoas cuja única coisa que pedem é uma ponte que lhes permita atravessar uma estrada bastante movimentada, em condições de segurança. Porque, de facto, se justiça tivesse de ser feita, o que deveriam pedir é que a construção de uma estrada para facilitar a circulação dos que têm o poder de adquirir viaturas, nunca deveria ser feito ao custo da rotina das suas vidas. Poderiam exigir, por exemplo, que no lugar de terem de ser eles a subir seis metros para atravessar a estrada, deveriam ser as viaturas a passarem por um túnel ou por cima de um viaduto construído para o efeito. E não estariam a exagerar. Mas nestas coisas de modernismo e desenvolvimento, os pobres saem sempre a perder. Fábula do marciano 20 Savana 15-06-2018 OPINIÃO SACO AZUL Por Luís Guevane E ntre a Ponte da Costa do Sol e o Bairro Chiango os embaraços parecem ser um pouco mais severos quando comparados com a secção I. Encontramos duas a três situações concretas. Duas, se considerarmos o troço da “Circular” nesta secção. Mas, três, se incluirmos o desvio para o Bairro dos Pescadores (que, tecnicamente, não faz parte da secção II). Ainda assim, comecemos pelo referido “desvio”. Umas boas dezenas de metros depois da Ponte da Costa do Sol, há um desvio para a direita que traz à tona a discussão sobre se a mobilidade urbana visa beneficiar o cidadão comum ou o tráfego automóvel. Numa situação de normalidade no funcionamento dos transportes públicos, com o cumprimento rígido de horários e de rotas, com elevados ou aceitáveis padrões de profissionalismo por parte das empresas de transportes, manutenção das vias e dos Da “Circular”: secção II autocarros, entre outros aspectos, poderíamos estar a pensar no cidadão. O “desvio”, historicamente importante, não ganhou com a “Circular”, o que é estranhíssimo. Impacto zero se considerarmos a mobilidade e o precário estado da via em terra batida que volta a ligar-se à “Circular”. Não é, pois, necessário um levantamento popular para que esta extensão seja melhorada. Percorrendo pela “Circular”, nesta secção, e fugindo ao “desvio”, encontramos duas situações que merecem a lupa da engenharia. A primeira, é o efeito da rotunda, à saída da “Casa Jovem” e, mais adiante, a segunda, tem a ver com a relação entre a “Circular” e a Escola Primária Completa de Chiango. O que aqui se apresenta como discussão é o chamado “erro humano” defendido por alguns sectores da Sociedade. Se formos no sentido da Ponte da Costa do Sol em direção a Chiango a referida rotunda (da Casa Jovem) não apresenta danos (dignos de reparo) provocados pelos automobilistas. Entretanto, no sentido contrário, os embates com rotunda têm sido frequentes, quase que diários, danificando-a. A tese do “erro humano” deve aqui ser colocada não só na perspectiva de se deitar as culpas aos automobilistas “distraídos” como, também, na perspectiva da “engenharia” em si, olhando para os seus responsáveis. Por que razão os danos são frequentes (exclusivamente) num só sentido? A rotunda tem tido um efeito devastador não só sobre os veículos automóveis como também sobre os seus proprietários. Lembremo-nos que à noite a iluminação é zero. Quem assume os prejuízos? Carece isto de algum tumulto por parte dos automobilistas quando já se sabe que é algo que vem sendo acompanhado por quem de direito? Sobre a relação entre a “Circular” e a EPC de Chiango dois aspectos, entre outros, saltam à vista: o primeiro prende-se com o facto de o traçado esboçado e materializado não ter tomado em conta, ao que parece, a existência de uma escola primária em período activo; com os alunos a atravessar a estrada. Considerou-se a escola como algo passivo, sem alunos, sem necessidade de se prever possíveis impactos sobre a vida dos petizes, sem necessidade de uma ponte pedonal. Foi necessária a presença do Presidente da República para se poder pensar nos alunos, nos residentes e numa ponte pedonal (não prevista inicialmente) que assim surgiu como resultado da mediatização da perda de uma vida. Oxalá seja consistente e segura. O segundo aspecto prende-se com a canalização dos problemas aos secretá- rios dos bairros. Os tumultos ocorridos são um bom indicador da qualidade de relações e do nível de confiança existente entre os residentes (ou comunidades) e as estruturas locais (que deixa muito a desejar). As falhas que se observam na “Circular” devem ser corrigidas sim, mas a questão da responsabilização não deve ser colocada de lado. Valerá a pena o “olho por olho e dente por dente”? N o discurso que proferiu no acto da tomada de posse para o seu segundo e último mandato como Presidente eleito, ele fez jus à aura que o rodeava desde o segundo dos cinco anos do seu mandato anterior: a de um excelente comunicador. Desde a simples inauguração de uma padaria até cimeiras continentais ou mundiais, passando pelas aberturas de simpósios, seminários, palestras ou debates, sempre se tinha revelado homem de discursos directos, simples e profundos, que brilhavam, não tanto pela originalidade dos seus temas ou das suas ideias, muito menos pela ousadia das soluções propostas ou pela pertinência dos assuntos em apreço. Os seus discursos brilhavam pelo excelente domínio que denotavam da língua em que estavam escritos – a língua portuguesa, neste caso. Esta faceta de comunicador nato era tanto mais notável, quanto contrastava fortemente com o que se passava quando ele era por alguma circunstância obrigado a dirigir-se ao público em discurso improvisado. Aí o seu desempenho atingia quase os níveis de desastre: entaramelava a língua, comia metade das palavras e, mais grave do que isso, cometia erros crassos de concordância e até mesmo de construção das frases que se propunha pronunciar. Era um desconcerto. Mas este desconcerto tinha uma explicação simples, para quem conhecesse a profundeza das suas causas. Por trás dos seus discursos estava um homem pacato, que passava quase despercebido, e que, aliás, não fazia nenhum esforço para se fazer notar. Aos 62 anos, Pedro Xavier Massingarela era o produto acabado da educação a que tinha sido sujeito na infância. Filho de um proeminente pastor da Igreja Metodista Unida, tinha sido sujeito a uma educação severa, que, não só tinha atrofiado partes importantes dos seus traços de carácter, como até, em muitos casos, tinha simplesmente castrado ou soterrado a sua formação. O seu carácter de pessoa pouco faladora, com extremas dificuldades em expressar-se ou comunicar oralmente os seus próprios pensamentos, ideias ou opiniões, tinha-lhe valido, durante os tempos do liceu, do 3.º ao 5.º ano, a alcunha de amorfo, e mais tarde, no cumprimento do serviço militar (e porque tivesse, para agravar a situação, a especialidade de amanuense), a de furriel mata-borrão. Pedro Massingarela não dava mostras de se aborrecer muito com isso. Pelo contrário, a sua postura, a rectidão do seu carácter, em vez de lhe merecerem chacota, inspiravam sempre respeito e quase veneração em quem com ele se relacionasse e convivesse, tanto profissional como socialmente. Aos 45 anos, respondendo a um concurso público, ingressou no quadro de pessoal do palácio presidencial. Não passava de um simples escriturário do Gabinete do Presidente, com incumbências muito modestas. Também não pediu nada mais do que isso. No fundo, o que ele queria era sossego, porque, apesar do seu aspecto pacato e discreto, todo o seu ser e a sua mente fervilhavam numa procura contínua de se manifestar. Quando os trabalhadores do palácio entenderam oferecer ao Presidente, ainda no seu primeiro mandato, uma festa surpresa por ocasião do seu 57.º aniversário, o Chefe do Gabinete presidencial mostrou-se atrapalhado com o discurso que teria de fazer na ocasião, uma vez que não se via capaz de ultrapassar o que tinha feito no ano anterior. Então, no fundo do escritório, ouviu-se a voz de Pedro Massingarela – «Chefe, eu posso elaborar esse discurso.» O chefe olhou para Pedro e disse – «Tu?» «Sim, chefe, eu mesmo. Ao menos deixe-me tentar.» A leitura do discurso, perante o Presidente e os trabalhadores do palácio que o felicitavam, gerou um espanto geral: o texto era simples, profundo, humano, cheio de insinuações, com um sublime sentido de humor, muita ironia e, até onde o permitiam as regras, uma certa cumplicidade. No dia seguinte, o presidente chamou a si o Chefe do Gabinete e disse-lhe – «Parabéns pelo discurso! Fizeste-o com primor.» O chefe foi honesto – «Não fui eu, Excelência. Quem o elaborou foi o Pedro Massingarela.» «Quem é esse?» «É um dos meus colaboradores.» – E quando o chefe do Gabinete lhe descreveu as características físicas do Massingarela, o Presidente quase caiu de costas – «Aquele ser 584 Email: diariodeumsociologo@gmail.com Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com apagado que está sempre aí a olhar para o seu umbigo e não diz nada?! Sabe que estou aqui há quase 2 anos e nunca ouvi a voz dele? Nem sequer a rir.» «Foi ele mesmo.» «Chame-o.» Pecar por defeito – Parte I Uma coleção internacional [7] Savana 15-06-2018 21 PUBLICIDADE 22 Savana 15-06-2018 DESPORTO A despeito da boa prestação dos atletas moçambicanos em competições internacionais de vela e canoagem, o presidente da Federação Moçambicana das respectivas modalidades, Hélio da Rosa Alberto, reconhece que o país ainda não está preparado para apoiar as duas modalidades como seria de desejar, tendo em conta os altos custos dos materiais. Prova disso é que os nossos atletas continuam a usar barcos ultrapassados, casos da nelo 4 e pagaias, com o agravante de esses materiais não existirem no mercado interno. Seguem os excertos mais importantes da entrevista. -Consta-nos que a federação que dirige trabalha com meios precá- rios. Quer detalhar? -Bem, o que posso dizer é que à semelhança de outras modalidades, a vela e a canoagem enfrentam dificuldades como a falta de fundos e de material. Temos na canoagem 30 barcos e na vela 35 da classe olímpica e 36 da classe de iniciação, mas foram adquiridos em 2011. Conforme dizia, a nossa dificuldade é essa, mas temos criado parcerias para minimizá-las, particularmente com o Clube Marítimo dos Desportos. Esta é a colectividade que nos tem acolhido de forma aberta, é o clube que possui mais atletas e trabalha para que seus atletas façam parte da selecção. De resto, não estamos num nível competitivo mundial, e só para dar exemplo, para adquirirmos uma pagaia não é fácil, porque não existe aqui em Moçambique mesmo na vizinha África do Sul. Ora, competindo com as pagaias que recebemos dos Jogos Africanos, estamos a regredir, porque já não se usam em muitas partes do mundo. Quantos barcos precisariam para se movimentar as duas modalidades sem sobressaltos? -Os barcos que temos são suficientes, o problema é da evolução do próprio material. Nós estamos a ficar atrás, estamos a trabalhar com barcos ultrapassados. Que barcos são compatíveis com a vossa actividade? - Neste momento estamos a usar a nelo 4 e hoje usa-se a nelo 6. A cada ano que passa o material vai evoluindo, a nelo 4 foi usada nos Jogos Olímpicos de Londres, a nelo 5 foi usada nos Jogos Olímpicos de Rio, e a nelo 6 será usada nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A nível de pagaias hoje usa-se outro tipo de marcas e nós como estamos ainda a começar não temos capacidade para adquirir esse tipo de material, mas com um pouco de investimento um dia chegaremos lá. Não podemos pedir muito, até porque conhecemos as dificuldades que o país atravessa, daí que contamos com outras iniciativas, como trabaPelos resultados que têm conseguido no plano internacional “Canoagem e vela deviam ser modalidades prioritárias” -Defende Hélio Alberto Por Paulo Mubalo lhar com treinadores estrangeiros. Quantos atletas praticam estas duas modalidades no país? -No que tange à canoagem, só a cidade de Maputo movimenta 60 atletas, mas não estão incluídos os atletas da província de Tete. Entretanto, a última vez que nos mandaram, precisamente em 2012, havia 25 atletas, mas certamente que o número cresceu porque já há mais clubes. Ao nível da capital, a vela movimenta 80 atletas, em representação de dois clubes. Diria que a canoagem é praticada em Maputo, Chidenguele e Tete, mas nesta província usa-se canoas canadianas, enquanto que a vela é praticada em Maputo, Gaza e Sofala. Há quem defende a ideia de que a vela e a canoagem deviam ser modalidades prioritárias, em função dos resultados que têm vindo a alcançar. Comunga desta opinião? Resultados -Essa coisa de modalidades prioritárias é complicada e creio que quando isso foi discutido não se levava em conta que essas duas modalidades chegariam ao extremo onde chegaram. O critério principal para que fossem consideradas modalidades prioritárias era que estivessem distribuídas por todo o país, mas há facilidades para algumas, como futebol e basquetebol. Na vela e canoagem devia se ter em conta factores como os resultados, porque não é correcto falar de modalidades prioritárias e não se fazer menção aos resultados. Investe-se muito dinheiro, mas faltam os resultados. Claramente, a canoagem e a vela deveriam fazer parte das modalidades prioritárias. Mas essas modalidades são de elite e, por conseguinte, não podem ser prioritárias? Quer comentar? - Na verdade, a vela é um desporto de elite, só que nós, a federação, juntamente com os clubes, estamos a tentar incutir no povo moçambicano que a vela, como disse, é de facto de elite, mas não se pode ter a ideia de que não se é capaz de praticá-la, porque nós trabalhamos com crianças de todos os extractos sociais, acolhemos jovens, crianças das escolas circunvizinhas, dos bairros periféricos da Polana Caniço, de Maxaquene, de Triunfo. Temos crianças que vêm de Magoanine que não pertencem a famílias com posses, mas os clubes criaram uma espécie de bolsa-atleta onde o próprio clube proporciona condições para o próprio atleta. Estamos a falar de barco e o atleta cresce no clube praticando a modalidade e retira-se a ideia de que é desporto de elite. Repito: é de elite sim, porque o material não é barato, mas aqui em Moçambique nós tentamos retirar nas cabeças das pessoas essa ideia de se tratar de uma modalidade de elite. O país possui juízes em número razoável? -Na vela temos um apenas, mas a curto espaço de tempo teremos mais juízes, ainda que não de nível internacional. Na canoagem têm sido os próprios atletas a ajuizar, repare que ser juiz na canoagem é acompanhar a regata até ao fim, saber se o atleta transpôs ou não a linha, é muito fácil. Na vela é muito mais complexo, por isso temos um juiz internacional. Tanto a canoagem como a vela já conquistaram medalhas. Recorda-se de algumas? - Na vela, sagramo-nos campeões africanos em 2012, em femininos, na Tanzania, na canoagem, e ficamos em terceiro lugar por equipas na vela; em 2013 fomos campeões africanos em c1 mil metros e em c1 200 metros; na Tunísia conseguimos uma medalha de bronze. A Deiz foi campeã africana consecutivamente na mesma classe quatro vezes e fomos campeões africanos absolutos em 2015 e, em 2014, conseguimos medalha de prata. E na canoagem? - Participamos, em 2014 e 2015, em campeonatos mundiais, onde conseguimos fazer subir o país ao nível do ranking, porque ao nível de África estávamos em 12º lugar, o que nos colocou num patamar de países que ainda estavam a começar a praticar a modalidade. Em 2013 passamos para o sétimo, depois para o quarto lugar e, neste momento, estamos em terceiro lugar, graças à conquista do Africano de Marrocos, o que nos deu a possibilidade de participarmos nos mundiais de Hungria e da Sérvia, onde, infelizmente, não conseguimos alcançar aquilo que eram os nossos objectivos: a final “A”, mas com o tempo chegaremos lá. Estabelecemos, igualmente, uma parceria com a federação húngara. Eles cederam-nos um treinador que vai trabalhar connosco. Calma e concentração: dois pressupostos para uma boa regata Savana 15-06-2018 23 DESPORTO DESPORTO E nquanto o sonho do nosso país de participar no campeonato de Mundo em futebol nunca passou disso, o mundo desportivo vai parar até ao próximo dia 15 de Julho, para ver a constelação de estrelas da bola. O certame, que iniciou nesta quinta-feira, é disputado por 32 selecções, em 12 estádios de 11 cidades diferentes. Mas quem faz as selecções são os seus jogadores e há estrelas da bola a ter em conta. Edinson Cavani, Uruguai, Grupo “A” , actual avançado do Paris Saint-German Este é um dos jogadores-maravilha da selecção uruguaia a par de Luís Suarez. A sua consistência dentro de campo e a eficácia com que marca golos contribuem para que a selecção uruguaia seja uma das mais fortes deste Mundial de 2018. Só a título estatístico, Edinson Cavani marcou 10 golos em 18 partidas da fase de qualificação, garantindo facilmente a presença da sua equipa no mais importante evento de futebol do planeta. /XFD 0RGULý &URDFLD *UXSR “D”, actual médio do Real Madrid Luka Modrić é tido como o mais importante jogador ofensivo de meio-campo actualmente em actividade, sendo capaz de distribuir jogo e de procurar linhas de passe fulminantes como poucos. Ele tem uma excelente visão estratégica e táctica e é inclusivamente conhecido como o mestre das “pré-assistências”, dado que muitas das construções de jogo iniciadas por si acabam por resultar em golo. Harry Kane, Inglaterra, Grupo “G”, actual avançado do Tottenham. A campanha promissora do jovem inglês Harry Kane, no Tottenham, faz com que ele seja uma das maiores esperanças de uma Inglaterra em crise de resultados e reconhecimento, nomeadamente depois do seu afastamento do Europeu de 2016 pela Islândia. Harry Kane não tem cerimónias: remata facilmente e com precisão de média e curta distância, sendo também essa característica atacante o que já lhe valeu 12 golos em 23 jogos pela sua selecção. Neymar, Brasil , Grupo “E”, actual avançado do Paris Saint-Germain Sempre que Neymar entra em campo sentimos uma nostalgia dos craques da bola, como Ronaldinho e Pelé, aqueles que praticavam o chamado “jogo bonito”. Neymar parece seguir a tradição destes ícones do futebol mundial, sendo um mestre criativo no controlo de bola com os seus dribles de cortar a respiração, fintas assombrosas, remates surpresa e, acima de tudo, destacando-se a maneira fluida e bela como se move em campo. David Silva, Espanha, Grupo “B”, actual médio do Manchester David Silva é um jogador tão experiente que constrói o jogo e tem um controlo perfeito da bola, sendo Já começou o Mundial de Futebol, Rússia-2018 Constelação de estrelas! capaz de abrir linhas defensivas e gerar situações de golo para colegas de equipa. A sua capacidade técnica aliada a uma visão de jogo perfeita fazem com que este seja um dos mais fortes médios neste Campeonato do Mundo. Eden Hazard, Bélgica, Grupo “G”, actual médio do Chelsea A selecção belga tem em Eden Hazard um valor maior e de grande versatilidade dentro de campo, conhecido pela destreza dos seus dribles e pelos seus remates potentes e certeiros de fora da área. A sua qualidade aliada a de Romelu Lukaku, Thomas Meunir e Kevin de Bruyne, fazem com que o ataque da Bélgica seja um barril de pólvora prestes a rebentar em qualquer defesa adversária. Antoine Griezmann, França, Grupo “C”; actual avançado do Atlé- tico de Madrid Uma das peças-chave da selecção francesa neste Mundial é Antoine Griezmann. Ele é um dos garantes de uma máquina bem oleada a partir do meio campo francês, sendo um jogador capaz de unir a equipa à sua volta e de distribuir jogo, promover uma elevada circulação de bola, mas também de lançar-se sozinho para o golo com bastante eficácia. Lionel Messi, Argentina, Grupo “D”, actual avançado do Barcelona Se Ronaldo é apelidado de “Melhor do Mundo”, Messi também não lhe fica muito atrás. O seu controlo de bola e drible são exímios, é capaz de arranques explosivos que são o pesadelo dos jogadores que o marcam e é capaz de remates potentes de qualquer área de campo. Os seus passos de mágica no controlo de bola serão um dos principais atrativos do Mundial e promete grandes feitos em representação da Argentina. Cristiano Ronaldo, Portugal, Grupo “B”, avançado do Real Madrid O “melhor do Mundo” quer trazer da Rússia um dos poucos títulos que ainda lhe falta conquistar da sua carreira híper-premiada de futebolista: a taça de campeão do mundo. Depois de mais uma campanha brilhante a representar as cores de Portugal no Europeu de 2016, vencendo essa competição, e sendo um recordista dos prémios individuais e colectivos em futebol (já tem por exemplo 5 Bolas de Ouro), o mais bem pago jogador de todos os tempos promete ser um autêntico furacão de golos no próximo Campeonato do Mundo. Toni Kroos, Alemanha, Grupo “F”, actual avançado do Paris Saint-Germain Se há um símbolo de tudo o que a selecção de futebol alemã representa, ele é Toni Kroos. Um jogador pragmático, eficaz quando está perante uma situação de golo, capaz de jogar em equipa como se o seu colectivo fosse uma máquina bem oleada e sem falhas, excelente a trocar a bola e em definir linhas de passe mortíferas. 24 Savana 15-06-2018 CULTURA A os 65 anos de idade, Fernando Manuel, jornalista, lança, na próxima terça-feira, 19, na cidade de Maputo, a sua segunda obra literária. Trata-se de um livro que resume uma coletânea de crónicas publicadas, na sua coluna, no semanário SAVANA, denominada Missa Pagã. Ao SAVANA, Fernando Manuel contou que, para o presente livro, foram seleccionadas 50 crónicas das cerca de 400 que publicou no jornal entre os anos 90 e 2000. São artigos que retratam o quotidiano das pessoas, mas que fazem parte de toda a vida. Nas crónicas fala de amor, ódio, frustração, prazer, sexo, adrenalina, sonhos e dor para depois chegar à conclusão de que um homem não se pode deixar vencer e o sonho e a esperança devem continuar até ao último dia da vida. Para além das crónicas, o livro conta com textos do escritor João Carrilho (arquitecto) e da jornalista Paula Rolleta. Fernando Manuel diz que encara o lançamento da obra como um sentimento de alívio, na medida em que a publicação está pronta há mais de 15 anos, mas que de lá a esta parte nunca encontrava uma entidade que o apoiasse na edição. “Finalmente chegou esse momento. Fiquei feliz de tal modo que queria dar ao meu discurso de apresentação do livro o título de sortilégio. Mas descobri que essa palavra não é apropriada para descrever a sorte que tive”, disse. Sublinhou que foi muito tempo de espera com tantos solavancos, de tal forma que pensou em desistir da ideia, mas na hora de atirar a toalha chegou o espírito de que um homem não se pode deixar vencer. Diz que este é o terceiro ano da cegueira. Em condições normais, se fosse um homem fraco, a partir da data em que perdeu a vista teria pensando que a vida acabou. Pelo contrário, isso deu-lhe coragem de persistência. O tempo que passa na solidão devido à limitação da vista permite-lhe fazer autoanálises e introspecções, o que lhe permitiu concluir que a melhor forma de superar dificuldades é acreditar que é possível resolvê-los. Fernando Manuel afirma que é uma pessoa que tem dificuldades de se comunicar com pessoas através da fala devido ao seu carácter introFernando Manuel fala do lançamento do seu segundo livro “Uso a escrita para comunicar-me” Por Raul Senda vertido. É na escrita que Fernando Manuel comunica-se. “Muitas pessoas dizem que escrevem por prazer, mas para mim é o contrário. A escrita é a forma que encontrei para me comunicar, é uma necessidade, para mim, a escrita é um exercício solitário que me exige muita concentração. Pelo que me sinto bem agora que estas rúbricas vão estar condensadas num livro”, frisou. Fernando Leite Couto O afecto, a arrumação de ideias e a qualidade de português foi o crité- rio usado para a escolha das crónicas para o livro. “Há certos artigos que nos são mais simpáticos ou achamos que foram bem conseguidos. Mas, também há outras que entendemos que por uma e outra razão não fomos bem sucedidos porque acordamos mal dispostos. Como dizia o meu amigo Augusto de Jesus, contrariamente ao que muitos jornalistas ou escritores pensam, de que o instrumento mais importante de trabalho para eles é a máquina de escrever ou computador, na verdade o instrumento mais importante é a língua com a qual nós escrevemos”, disse, para depois acrescentar que é na língua portuguesa “onde faço esforço de ser perfeito, apesar da perfeição ser uma forma que nunca se atinge”. Sobre a editora, Fernando Manuel diz que o interesse da Fundação Fernando Couto também o pegou de surpresa. “O que me disseram é que o patrono da Fundação, Fernando Leite Couto, em vida, dizia frequentemente que dos cronistas moçambicanos só lia dois. Minhas e de Daniel da Costa. Foi em respeito à memória do patrono da Fundação que a editora está a apadrinhar este projecto”. Diz que escreveu o Missa Pagã num estilo de paródia, mas num bom sentido porque as suas crónicas não são temporais, nem factuais. Faz notar que a sua imaginação literária não se prende no quotidiano, sempre que escreve, procura cultivar sentidos mais nobres da condição de um ser humano. Coisas que acontecem com as pessoas no seu dia-a-dia, mas fazem toda a vida. “O Missa pagã é o retrato do meu percurso da vida que nem sempre foi linear. Tenho tido muitos solavancos na vida. Enquanto alguns dizem que a vida é feita por altos e baixos, a minha é feita por baixos. Mas fico feliz quando me lembro que o importante é não estar vencido”. Sublinhou ainda que o livro leva a mensagem de esperança. “Procuro fazer entender que não se pode vergar perante as dificuldades, não podemos culpar o outro pelos nossos fracassos”. Fernando Manuel afirma que a vida ensinou-o a saber amar. Mas, mais do que amor, o importante, acrescenta, é saber perdoar, “há que valorizar nossos sonhos por mais extravagantes que possam ser”. Por isso, continua a sonhar e valorizar muito a sua liberdade de pensamento. “Não me sinto envergonhado quando escrevo uma crónica contando uma história em que ponho um homem a voar numa esteira e a sair de casa para a varanda da janela e a sobrevoar céu até ir aterrar no planalto de Penhalonga onde encontra uma amante à espera dele. Claro que é uma coisa que parece impossível, mas nada me impede de pensar assim, também nada me impede de pensar que isso é possí- vel e oriento-me muito naquilo que é a liberdade com que as crianças pensam. As crianças são muito livres a pensar. Muitas vezes podemos pensar que aquilo que pensam e falam são coisas absurdas. Porém, não é bem assim. Pelo contrário, as crianças são muito mais lúcidas do que pensámos. Nós adultos aprendemos, ao longo da vida, a coartar nosso pensamento, por conveniências sociais ou por medo disto ou daquilo. Até por medo de sofrer consequências daquilo que pode advir se nós pensarmos desta ou daquela maneira”. Fernando Manuel diz que escreve na primeira pessoa do singular porque quer que as pessoas se sintam próximas de quem está a escrever. Assim, a ideia é mais credível. Fernando Manuel iniciou a carreira jornalística em 1981, mas estreou-se como escritor em 1991 com o lançamento da sua primeira obra intitulada “o homem sugerido”. Nos meados da década 90 ensaiou o lançamento da sua primeira coletânea de crónicas denominada Chá das Sextas, uma rúbrica publicada na Revista Tempo. “A colectânea de Chá das Sextas acabou colapsando por culpa da editora. Infelizmente, a distribuidora não tirou o livro da gráfica, não sei quais foram as razões. Mas, eu também não fiz nenhuma pressão. Contudo, acredito que um dia irei lá porque o livro é meu”, contou. Fernando Manuel nasceu a 20 de Janeiro de 1953 na Maxixe, província de Inhambane. Foi na cidade da Maxixe que iniciou estudos primá- rios. Posteriormente mudou-se para cidade de Maputo, então Lourenço Marques onde concluiu o liceu. Antes de ser jornalista, Fernando Manuel foi monitor de educação fí- sica, músico, escriturário e professor de história no ensino secundário. Iniciou a carreira jornalística na então Revista Tempo. Fernando Manuel Missa Pagã Fernando Manuel Nasceu a 20 de Janeiro de 1953 na Maxixe. Iniciou os estudos na Missão da Sagrada Família, completando-os na escola Indígena da Munhuana, na ex-Lourenço Marques. Frequentou o ensino médio, após a passagem pelos liceus António Enes e Salazar. Monitor de educação física, músico, escriturário, professor de História no ensino secundário, ingressou finalmente na carreira do jornalismo em 1981, ano em que passou a integrar o quadro redactorial da revista Tempo. Na Tempo publicou uma colecção de poemas. Estreou-se em livro com O Homem Sugerido. Publicou ainda a colectânea de crónicas Chá das Sextas. Como resultado da sua lavra no semanário Savana surge a colectânea Missa Pagã. «As crónicas que Fernando Manuel escreve todas as semanas são para mim um unicum, o retrato de uma sociedade despedaçada, de um mundo feito adulto à força e da nostalgia da infância doce, das «gotas de chuva que fazem música no telhado de zinco». Pling, pling, pling. É o mundo da periferia, de todas as periferias: o mundo dos desiludidos, daqueles a quem foi roubado o sonho. É o mundo do distúrbio da tranquilidade pública. Dos que não têm voz e ficam roucos às margens da História». Paola Rolletta Fernando Manuel Missa Pagã Publicações Uma Voz Cheia de Vozes, obra sobre Fernando Leite Couto Mulheres de Cinza, romance de Mia Couto Vagas e Lumes, Poemas de Mia Couto Coração Forte – relatos do povo armado, depoimentos de Licínio Azevedo O Gato e o Escuro, conto infanto-juvenil de Mia Couto A Espada e a Azagaia, romance de Mia Couto Roda das Encarnações, poemas de Sónia Sultuane O bebedor de horizontes, romance de Mia Couto Sombras de Outubro, Colectânea de poesia e artes russas, Fundação Fernando Leite Couto Missa Pagã Fernando Manuel Novos Autores Os Ângulos da Casa, poemas de Hirondina Joshua A Pátria do João Lucas, novela de Luís Artur Recados da Alma, romance de Bento Baloi As Idades do Vento, poemas de Jaime Munguambe Ignição dos Sonhos, poemas de Melita Matsinhe Intempéries de Amor Numa Baía Adormecida, contos de Malikezi Wa Tiane A descrição das sombras, poemas de M.P. Bonde Naíta Ussene Naita Ussene Enquanto outras pessoas escrevem por prazer, eu escrevo para me comunicar porque, verbalmente sou timido Dobra por aqui SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1275 DE JUNHO DE 2018 A PARTIR DE 3ª-FEIRA TEREMOS 2 Savana 15-06-2018 SUPLEMENTO Savana 15-06-2018 3 Savana 15-06-2018 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Ilec Vilanculo (Fotos) P ela forma como as coisas vão andando não sabemos onde vamos parar. Primeiro foram os ataques a uma esquadra para roubar armas. Depois vieram as mortes por decapitação de alguns compatriotas. Agora é um ataque dentro de um supermercado em Pemba que, afinal, não passou de um boato. Não nos esquecemos os anteriores ataques em que perdemos mais compatriotas. Tudo isto mostra que o terror está longe do fim. Mesmo com o discurso de que estes ataques não atrapalham os investimentos na zona norte do país. Os responsáveis pela ordem e segurança públicas estão a passar noites sem dormir. Não sabem por onde iniciar para travar esta situação. O que percebemos é que os dirigentes estão a tratar este assunto de ânimo leve. E neste momento todos os conselhos para se encontrar uma solução do problema servem. Dizemos isso porque o Comandante-Geral da Polícia, Bernardino Rafael, escuta de boca aberta os conselhos de Helena Khida, vice-ministra do Interior, que vai falando atenta com quem presumivelmente está ao redor atento à conversa. A questão da segurança está a preocupar alguns dirigentes. Mesmo com o silêncio de alguns, outros vão dando seus comentários face à situação. É o que estão a fazer Carmelita Namashulua, Ministra da Administração Estatal e Raimundo Diomba, Governador da Província de Maputo. Como se estivessem a dizer que se estes ataques chegam a outros cantos do país, será o caos total. Imagina as populações que vivem e sentem na pele a situação dos ataques. Mesmo nós que ainda não sentimos directamente ficamos preocupados. O modus operandi do grupo que faz os ataques parece ser de quem sabe como actuar sem interferência das entidades competentes. Os que não têm palavras para comentar a situação dos ataques na província nortenha de Cabo Delgado preferem usar a língua de sinais. É o que faz Oswaldo Peterburgo, na conversa que troca com Agostinho Mondlane, Ministro do Mar, Águas Interiores e Pescas. Como se estivessem a comungar pela conversa telepática que ainda bem que estes fulanos não estão a dar cabo dos recursos pesqueiros daquele ponto do país. Neste momento em que o silêncio é a melhor arma é preciso ter todo o cuidado naquilo que se comenta. Não sabemos quem nos pode prejudicar só de ouvir o posicionamento desta triste realidade que assola os moçambicanos de Cabo Delgado. Não é por acaso que o autor da obra Nós Matamos o Cão tinhoso, Luís Bernardo Honwana, confidencia o seu parecer com todo o cuidado para Moisés Jorge do BIM. Todo o cuidado é pouco nesta altura. Nisso, existem aqueles que gostam de aparecer custe o que custar. Mesmo sem relevância fazem questão de aparecer. Outros usam os seus meios para difundir a sua imagem. Referimo-nos a Daniel David que, mesmo sem necessidade, procura aparecer na TV, usando o canal que dirige. Agora Agostinho Vuma, presidente da CTA, é outro que procura a todo o custo estar em todos os meios de comunicação social. Como se isso fosse sinónimo de muito trabalho. Esperamos que sim. Ou tem os seus motivos para o tamanho desempenho. É caso para dizer que a situação vai piorando. Em todos os sentidos. Situação vai piorando À HORA DO FECHO www.savana.co.mz EF +VOIP EF t "/0 997 t /o 1275 Diz-se... Diz-se IMAGEM DA SEMANA A companhia GemFields soma e segue em termos de recordes de leilões. Na semana passada, arrematou por 71,8 milhões de dólares rubis que extraiu das suas minas em Mueda, Cabo Delgado. 0 MFJMÍP DPNP TFNQSF GPJ SFBMJ[BEP OB 4JOHBQVSB B QSJODJQBM QSBÎB EB WFOEB EF SVCJT OP NVOEP "T QFESBT GPSBN WFOEJEBT QPS EØMBSFT P RVJMBUF VN OPWP SFDPSEF QBSB PT MFJMÜFT EF SVCJ EF RVBMJEBEF NJTUB EB (FN'JFMET &N DPNVOJDBEP B Pallingurst DPNQBOIJB TVM BGSJDBOB RVF EFUÏN B (FN'JFMET JOEJDPV RVF DPN B BSSFDBEBÎÍP EB TFNBOB QBTTBEB PT SVCJT EF /BNBOIVNCJS KÈ SFOEF SBN NJMIÜFT EF EØMBSFT BP mN EF MFJMÜFT SFBMJ[BEPT EFTEF i5PEBT BT SFDFJUBT EP MFJMÍP TFSÍP SFQBUSJBEPT QBSB .PÎBNCJRVF FN EJWJTBT DPN P JNQPTUP EF QSPEVÎÍP EFWJEP BP (PWFSOP EF .PÎBNCJ RVF TFS QBHP TPCSF P QSFÎP UPUBM EF WFOEB BMDBOÎBEP OP MFJMÍPw TVCMJOIB B FNQSFTB FN DPNVOJDBEP " (FN'JFMET FYQMPSB B DPODFT TÍP EF SVCJT BUSBWÏT EB .POUFQVF[ 3VCZ .JOJOH .3. 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Entretanto, a directora-geral da Administração Nacional das Pescas, Cláudia de Sousa, desdramatiza o caso e diz que a presença chinesa resulta de joint-ventures com armadores nacionais. Fontes conhecedoras do sector alertam mesmo que, se medidas urgentes não forem tomadas para travar os chineses, o que pode acontecer no sector das pescas é o que está a acontecer no sector madeireiro, que está a ser devastado por chineses, nalguns casos em conluio com as autoridades moçambicanas. Uma das formas de entrada dos chineses no sector tem sido a criação de parcerias com moçambicanos, para contornar a força da lei que estabelece que a participação moçambicana tem de ser de 50% para que a empresa opere nas águas moçambicanas como empresa de bandeira nacional. O rol das violações vai desde o uso de práticas nocivas à exploração sustentável dos recursos pesqueiros até ao exercício da pesca em zonas não autorizadas, incluindo na região designada como Banco de Sofala, que é um ecossistema privilegiado, por possuir o melhor camarão do país. Na presente campanha 2018, por exemplo, cinco embarcações de pesca fizeram arrasto de peixe no Banco de Sofala para além das seis milhas, uma grosseira violação da alínea c), do número 1, do Artigo 41, do Regulamento Geral da Pesca Marítima, que fixa que o arrasto de peixe para frota industrial, naquele ecossistema que se estende desde a província de Sofala, até Nampula, passando por Zambézia, só pode ser exercido para além de 12 milhas da costa. Por outro lado, avançam as nossas fontes, as embarcações usadas pelos chineses são de capacidades elevadas, chegando a 400 toneladas cada, contra os camaroneiros dos armadores nacionais que pescam, em média, 100 toneladas por barco. Apontam a situação como uma grande pressão sobre os recursos pesqueiros, contrariando o esforço empreendido nos últimos anos para reduzir o esforço de pesca. Aliás, operadores da pescaria de camarão ouvidos pelo Jornal já começam a se queixar de fracas cap“Amigos” chineses nas Pescas 'DVÁRUHVWDVDRPDU turas, com o camarão a escassear e até mesmo o peixe para compensar as operações, com o agravante de as taxas de licença terem disparado. Ainda assim, as embarcações, com tripulantes e marinheiros maioritariamente chineses, usam portas de ferro e não de madeira, destruindo assim os fundos marinhos e corais. Trata-se de uma violação à legislação moçambicana que estabelece o uso de portas de madeira no Banco de Sofala. As questões ambientais e higié- nico-sanitárias inadequadas para o exercício da actividade também põem em perigo o ecossistema, com embarcações sem casas de banho e com cães a bordo. Há ainda relatos de que parte considerável do pescado é descarregada no Porto de Nacala, sem presença adequada dos serviços de controlo e fiscalização, como fiscais e inspectores do Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (INIP). As descargas em Nacala terão começado mesmo durante o período de veda, com as operações a serem apenas testemunhas pelas Alfândegas e pelo pessoal fitossanitário do sector da Agricultura. A nove de Fevereiro último, por exemplo, a embarcação com a referência Chang66 terá descarregado 229,43 toneladas e a 28 de Abril foi a vez da Winfar descarregar 229,62 toneladas, todas mercadorias com destino à Taiwan. Outras três embarcações terão atracado entre finais de Maio e princípios de Junho no Porto de Nacala. Fontes do sector alertam para o risco de os desmandos levarem Moçambique a perder acesso a mercados dos seus produtos pesqueiros, como a União Europeia. Outro cenário que terá criado estranheza no sector foi a presença, ainda este ano, de 14 embarcações industriais de bandeira chinesa, que estiveram atracadas no Porto de Pescas de Maputo, equipadas com vários tipos de artes de pesca e com tripulação estrangeira. Trata-se de embarcações que causavam congestionamento Por Armando Nhantumbo Embarcações de bandeira chinesa em força nas águas moçambicanas P ara a directora-geral da Administração Nacional de Pescas, não se trata de presença de chineses no país, mas de embarcações chinesas afretadas por empresários moçambicanos, da mesma forma que existem embarcações espanholas, sul-africanas, das Ilhas Seychelles e de tantos outros países. “Nós não temos empresas chinesas como se tem estado a dizer, temos empresas de moçambicanos que afretaram embarcações chinesas”, rebateu Cláudia dos Santos. Explica que, na verdade, o que tem estado a acontecer é que, nos últimos tempos, o Governo tem mobilizado os armadores nacionais a criarem sinergias, incluindo joint-ventures com empresas estrangeiras, como forma de aumentar os níveis de captura do manancial existente para além das 12 milhas. Mesmo sem precisar números, argumenta a dirigente que Moçambique tem um forte manancial de recursos que não estão a ser explorados para o abastecimento do mercado nacional, senão a pesca ilegal que continua a dizimar recursos adstritos ao país, incluindo o atum. É preciso recordar que em 2013, o Governo moçambicano, na altura encabeçado por Armando Guebuza, endividou o país junto ao Credit Suisse com USD 800 milhões, parte das chamadas dívidas ocultas, alegadamente, para o reforço da pesca do atum, através da Empresa Moçambicana de Atum (EMATUM), uma das três que empurraram o país para a actual crise económica. Sobre as infracções A dirigente reconheceu a prática de infracções por parte de algumas empresas, mas que têm sido instruídos os devidos processos. Questionada sobre o perfil das embarcações que mais infracções cometem, Cláudia de Sousa admitiu que “algumas dessas são as ditas embarcações chinesas que estão a ser operadas por empresas moçambicanas”. Sobre a propriedade das cinco embarcações que, recentemente, fizeram arrasto de peixe em zona não autorizada, dentro do Banco de Sofala, limitou-se a dizer que “não temos embarcações que não estão identificadas, são embarcações que estão licenciadas por empresas moçambicanas”. Em relação à descarga de pescado sem a devida inspecção no Porto de Nacala, a directora-geral da Administração Nacional de Pescas respondeu que é preciso se ter uma visão de expansão e Nacala aparece como uma dessas zonas de expansão. “Não descarregou nenhuma embarcação sem controlo, isso nem é possível, que uma embarcação de pesca vá descarregar sozinha sem presença de fiscais”, reagiu. Admitiu que o porto de Nacala não é tão desenvolvido como o da Beira ou Maputo, mas disse que é um porto com condições para as descargas. Foi quando questionamo-la sobre as 14 embarcações que estiveram atracadas no Porto de Pescas de Maputo com bandeiras chinesas que a directora respondeu que, na verdade, os armadores actuais na pesca temem a competição. “No processo de nós apelarmos para um desenvolvimento…há algum medo de alguma competição que existe nos armadores que existem, neste momento, na pesca sobre o que, possivelmente, possa acontecer em termos de expansão do desenvolvimento da pesca”, desabafou. Referiu que as embarcações em causa foram autorizadas a fazer pesca para além das 12 milhas, ou seja, entre 14 a 20 milhas. “São embarcações grandes, são embarcações chinesas, mas são embarcações que são afretadas por empresas nacionais. Então, não são embarcações de um chinês que acordou e dirigiu-se a Moçambique para vir se licenciar, mas um empresário moçambicano que teve oportunidade de ter acesso a um joint-venture com uma embarcação”, sublinhou. Questionada sobre a quota de participação chinesa na indústria pesqueira no país, a dirigente rematou: “nós temos acordos de cooperação com a China e até a nível superior são incentivados investimentos chineses em Moçambique. Agora, no sector das pescas, ter uma quota adstrita à China, penso que não é por aí que temos de analisar”. 7rPPHGRGDFRPSHWLomR²GLUHFWRUDGDDGPLQLVWUDomRGHSHVFDV Cláudia dos Santos TEMA DA SEMANA Savana 15-06-2018 3 A s multinacionais italiana ENI e norte-americana Exxon Mobil negaram notí- cias dando conta de que as suas operações na bacia do Rovuma terão a protecção da empresa Pro6, uma joint-venture entre a ProIndícus e a Lancaster 6 Group, do norte-americano Erik Prince. A Pro6 foi criada em Janeiro deste ano e tem a sua sede na rua Valentim Siti, onde estão também as sedes da ProIndicus e MAM, empresas em falência e beneficiárias das chamadas dívidas ocultas. Uma análise da Africa Monitor Intelligence (AMI) veiculou, recentemente, que a Pro6 chegou a acordo com os consórcios que vão produzir gás natural na Bacia do Rovuma, para a protecção das actividades de gás. O texto adiantava que a empresa de segurança vai igualmente ajudar no combate aos grupos armados que têm protagonizados ataques em alguns distritos de Cabo Delgado. Ao portal Zitamar, a ENI e a Exxon Mobil rejeitaram qualquer acordo com a Pro6. A Anadarko declinou qualquer comentário sobre o assunto, assinalando que não discutem em públicos matérias sobre segurança. Uma outra empresa citada como signatária do referido acordo, a Spectrum não se pronunciou sobre o tema. Em 2016, a ENI já havia desmentido o presidente da ProIndicus, António Carlos do Rosário, que afirmou perante a Comissão Parlamentar de Inquérito que a firma moçambicana havia chegado a acordo com o consórcio da companhia italiana para a prestação de serviços de segurança. Na altura, a mineira brasileira Vale também negou qualquer acordo com a ProIndicus para a sua protecção. A AMI noticiou recentemente que a Pro6 deu garantias ao Governo moçambicano de que em 90 dias podia acabar com a insurreição supostamente “jihadista” que flagela alguns distritos de Cabo Delgado. A Zitamar contactou o presidente da ProIndicus, José Manuel Gopo, mas declinou qualquer comentário sobre o assunto, remetendo o assunto ao seu antecessor, António Carlos do Rosário. Ainda não foi possível confirmar que Erik Prince é o director do L6G, mas sabe-se que o CEO da firma, Christaan Durant, trabalhou de perto com Prince na Frontier Service Group (FSG), empresa chinesa de segurança e logística que o primeiro dirigiu. Durrant era responsável pela divisão de aviação da FSG até ser expulso em 2015, na sequência da descoberta de que ele e Erik Prince usaram recursos da companhia para operar uma empresa de aviação civil. Christaan Durant considerou a análise da AMI “fake news” e cheia de falhas. Em Dezembro do ano passado, a FSG assinou com a EMATUM, também envolvida nas dívidas ocultas, um acordo de fusão, criando a Tunamar. A Tunamar vai dedicar-se à pesca de atum e ao combate à pesca ilegal. (1,H([[RQ0RELOQHJDP DFRUGRVREUHVHJXUDQoD no local, dificultando a atracagem das embarcações licenciadas para descarga e aprovisionamento, antes da sua remoção em Maio último. Não é a primeira vez que acusações de desmandos são imputadas a cidadãos de nacionalidade chinesa no país. Um estudo da Agência de Investigação Ambiental, organização não-governamental do Reino Unido, denunciou, em 2013, a exploração ilegal de madeira por empresas chinesas com conivência de altos quadros do governo moçambicano. Intitulado “Conexões de primeira classe: contrabando, corte ilegal de madeira e corrupção em Moçambique”, o estudo apontava o então ministro da Agricultura, José Pacheco, hoje ministro dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, e o na altura seu antecessor, Tomás Mandlate, como estando no “esquema” de contrabando de madeira, através da facilitação na exportação ilegal dos recursos. “Quando o ministro ( José Pacheco) não tem dinheiro vem buscar em mim. Eu e ele somos como irmãos”, disse um empresário chinês proprietário da empresa de importação e exportação de madeira para Ásia, que tratava José Pacheco como “um amigo e irmão”. China: o maior credor bilateral A China é o país que mais volume de crédito concedeu a Moçambique, tendo atingido em 2016, um total de 1.698,6 milhões de dólares, uma variação de 3.9% em comparação com o idêntico período do ano anterior. China é também o maior financiador e construtor de infra-estruturas em Moçambique, de que são exemplo a ponte Maputo-Katembe, a estrada circular de Maputo, a Estrada Nacional número 6 e o porto de pesca da cidade da Beira, disse o embaixador da China no país. Fortes interesses É preciso ainda sublinhar que no sector das pescas, que em 2017 contribuiu com 10.3% no Produto Interno Bruto (PIB), ao produzir 340,210 toneladas de pescado, convergem fortes interesses da elite política nacional. O antigo presidente da República, Armando Guebuza, por exemplo, esteve envolvido no sector através da Mavimbe, uma empresa de que se desvinculou em 2008. O antigo ministro da Ciência e Tecnologia, Louis Augusto Pelembe, é um dos sócios da Louis Internacional Lda, uma empresa cujo objecto é a exploração pesqueira semi-industrial, processamento, conservação e distribuição de produtos pesqueiros. António Carlos do Rosário, o todo-poderoso agente dos serviços secretos e presidente do Conselho de Administração (PCA) da EMATUM, Proindicus e MAM, é um dos sócios da Vitapesca, Lda, uma empresa do sector criada em 2012. Os combatentes da Luta de Libertação Nacional também estão no negócio através da ACLLN, Lda, uma sociedade de quotas fundada em Junho de 2013. TEMA DA SEMANA 4 Savana 15-06-2018 C om pelo menos um ataque a ocorrer a cada dois dias numa aldeia de um distrito de Cabo Delgado, a situação ficou, aparentemente, fora do controlo das Forças de Defesa e Segurança (Polícia, Forças Armadas e Serviço de Informação e Segurança do Estado). A população sente-se insegura e clama por armas de fogo para se defender dos “al-shabaab”, que fazem ataques violentos com muitas mortes brutais, quase todas com assinatura à “Estado Islâmico”. O distrito de Macomia, situado 200 quilómetros a norte da capital provincial Pemba e 220 quilómetros a sul de Palma, foi palco do mais hediondo ataque de jihadistas, de uma única vez. Sete mortos por decapitação, 164 casas e cinco viaturas incendiadas, dezenas de cabritos queimados vivos, zero detidos, é o balanço do ataque ocorrido na noite de 4 para 5 de Junho, na aldeia costeira de Naunde, posto administrativo de Mucujo, 60 quilómetros da vila-sede de Macomia. Dia 7 de Junho outro ataque na aldeia de Namaluco, distrito de Quissanga, mas a apenas 20 quiló- metros da vila-sede de Macomia, deixou cinco mortos. A 8 de Junho, o ministro do Interior, Jaime Basílio Monteiro, visitou a aldeia de Naunde e outras localidades costeiras de Cabo Delgado. Instalou posições das Forças de Defesa e Segurança um pouco por todas as localidades da região. Pediu a população para confiar nos militares e manter-se nas aldeias, mas os atacantes não dão trégua. Na terça-feira, 12 de Junho, cinco dias depois do ministro ter visitado o distrito, outra aldeia da zona costeira de Macomia foi atacada e uma pessoa decapitada. O ataque ocorreu em Nathuko I, posto administrativo de Quiterajo, cerca de 50 quilómetros de Naunde. Mais uma vez, ninguém foi detido no local. Na vila-sede de Macomia, o ambiente que se vive é de guerrilha. Enquanto durante o dia, a população inunda a pequena vila atravessada pela Estrada Nacional 380, para comércio informal, as pessoas desaparecem com o pôr do sol. O governo local decretou recolher obrigatório a partir de 21 horas, através de mensagens difundidas em comícios públicos. É o que acontece em quase toda a província. A partir de 20 horas, militares empunhando armas de guerra de tipo bazuca ocupam posições estratégicas da vila. A subestação eléctrica de Macomia – à entrada da vila no sentido sul-norte, as bombas da Puma, a agência local do BCI, a Pensão MM, são guarnecidos por elementos das FADM. Se a presença massiva das FDS no distrito não ameaça os jihadistas, que continuam a atacar aldeias com cada vez mais frequência, a população local também não se sente segura ainda com a presença dos militares. Prefere andar armada para se defender. Usa catanas, arcos e flechas. “Não sabemos o que fazer. A zona está agitada. Nas noites ninguém apanha sono. Estamos sempre acordados escutando donde aparecerá o inimigo”, conta Hassane Rábuna, primeiro secretário do Comité de círculo do partido Frelimo, no bairro Nanga A, vila-sede de Macomia. O dirigente partidário reuniu a população para orientá-la a ser vigilante e defender-se. “Estamos a alertar a população para ver donde ocorrem estas situações. Assim como estamos indefesos, estamos sem armas, precisamos de armas para nos defender”, disse Hassane Rabuna. O dirigente do partido governamental também apela aos pais dos jovens que se juntaram aos “al-shabaab” para denunciar os seus filhos, pois assegura que muitos atacantes são locais. “Há certas pessoas (atacantes) que são locais, foram filhos deste bairro”, assegura o secretário da Frelimo. “Aqui na margem”, diz gesticulando, apontando o lado onde se localiza uma das casas dos jovens que terão saído do bairro para viver nas matas e atacar a população – “aquando do início, houve esses elementos que diziam que são muçulmanos. Mas nós informamos o (governo) distrito que, pela nossa maneira de ver, esses não são religiosos. Têm objectivo qualquer. Mais tarde quando alertámos isso, surgiu o conflito de Mocímboa da Praia. Os pais destas pessoas ainda estão aqui no bairro”, diz apontando de novo a direcção das casas. De facto, em Macomia, todas as pessoas abordadas pelo SAVANA afirmam que a maioria dos atacantes saíram do distrito para as matas, com promessas de receber dinheiro. Mas não dizem quem é que faz promessas. No mercado local as pessoas apontam algumas barracas que tinham como proprietários jovens que agora estão nas matas. “Um deles vendeu aquela barraca por 25 mil meticais e desapareceu. Onde você acha que foi?”, questiona um jovem vendedor de recargas de telefonias móveis, esperando ouvir de nós a resposta de que “está nas matas”. “É disso que falamos à população. Aquele que sabe que o seu filho está no mato, queremos que se apresente aqui e dizer que ‘o meu filho está no mato’ e definir como fazer com este filho que está no mato quando a gente capturá-lo. Porque quando eles chegam aqui, estão sempre a assassinar pessoas. Nós também, se os encontramos, não temos outra alternativa, temos de fazer o mesmo que eles andam a fazer”, diz Hassane Rabuna. Na estrada de terra batida que parte da vila-sede de Macomia, atravessando a densa floresta do Parque Nacional das Quirimbas, até ao posto administrativo de Mucojo, cerca de 45 quilómetros da vila-sede de Macomia, enconFDS em risco de perder o controlo da situação em Cabo Delgado… Por Borges Nhamire (Texto) e Emidio Jozine (Fotos), em Macomia &DWDQDV DUFRVHÁHFKDVSDUDYLJLOkQFLDSRSXODU O s militares posicionados em diversas localidades de Macomia são amigáveis. Conversam com todos e sobretudo com as mulheres, mas a população de Macomia reporta muitos casos de detenções arbitrárias e de pessoas que desapareceram nas mãos da polícia ou dos militares. A população conta que familiares de jovens que, supostamente, abandonaram suas casas para se juntar aos jihadistas foram quase todos detidos e muitos não se sabe onde estão. São levados pela Polícia para “cortar lenha e nunca mais voltam”, conta um morador de Macomia sobre os desaparecidos. “Acreditámos que muitos inocentes foram mortos. Os militares andam irritados com os ataques e todas as pessoas suspeitas de colaborar com os atacantes, dando-lhes comida e informação, são detidas e muitas vezes desaparecem”, conta um jovem vendedor de uma barraca na vila de Macomia. 'HVDSDUHFLGRVQRFRUWHGHOHQKD A Polícia referiu que, depois do primeiro ataque a 5 de Outubro de 2017, no distrito de Mocímboa da Praia, mais de 300 pessoas foram detidas. A Procuradora Geral da República disse aos deputados, em Abril passado, que havia apenas 153 arguidos em conexão com o ataque em Mocímboa da Praia. Localmente há explicações sobre o paradeiro das restantes pessoas que tinham sido detidas, mas não foram constituídas arguidas. “Muitos atacantes e acusados de cúmplices foram mortos e seus corpos enterrados em vala-comuns”, conta um agente da Polícia de trânsito que trabalha num check point ao longo da estrada de Pemba para Macomia. “Muitos que são encontrados nas matas são limpados lá mesmo, até porque a Ministério Público manda libertar estes que depois voltam para as matas”, conta um morador da vila de Macomia. A população de Macomia relata que há mulheres entre os atacantes. O papel das mulheres é supostamente de fazer reconhecimento nas comunidades e garantir a logística de alimentos para os militantes que estão nas matas. “Há mulheres que foram detidas e levadas para Pemba, porque ajudavam a fornecer comida aos atacantes. Mas foram restituídas à liberdade pelo Ministério Pú- blico. Voltaram para aqui, mas depois desapareceram. Onde estão?”, questiona um ancião de Macomia e dá o seu palpite: “voltaram para as matas para ajudar os seus maridos”, explica. Antes de Outubro do ano passado, Moçambique não aparecia no mapa de ameaças jihadistas. Porém, um ataque numa mesquita, em Mocímboa da Praia, gerou uma onda de pânico e medo. Agora, os ataques progridem para o sul da província e, na tarde desta quarta-feira, o pânico tomou conta do centro da capital provincial, Pemba, por causa de um suposto assalto a um supermercado recheio. “As pessoas vivem em pânico e qualquer falso alarme é capaz de paralisar uma cidade. Foi o que aconteceu em Pemba”, comentou ao SAVANA um polícia no local. Joaquina Nordine, Administradora de Macomia Na aldeia de Naunde, pessoas cujas casas foram destruídas abrigam-se em baixo de árvores TEMA DA SEMANA Savana 15-06-2018 5 tramos muitos homens a caminhar, sozinhos ou acompanhados, mas empunhando arcos e flexas. “É para me defender dos Al-shabaab”, diz um velho a quem perguntamos porque razão trazia arco e flecha. “Se o atingir com esta flecha, morre no momento. Tem veneno de cobra”, assegura sem soltar sequer um sorriso. De facto, na aldeia de Naunde, a população tentou se defender dos atacantes, na noite em que sete pessoas foram decapitadas. Com catanas e flechas, os homens tentaram defender a aldeia contra a invasão, mas a resistência foi quebrada com o disparo de armas pelos atacantes. “Nós fomos avisados que os atacantes vinham à nossa aldeia. Ficamos a vigiar, mas eles enganaram-nos e entraram do lado do mar. Quando entraram na aldeia, gritaram ‘ladrão, ladrão’, falavam em Kimwani. As pessoas correram para ver quem é o ladrão e começaram a ser atacadas por catanas”, conta Maurício Miranda, secretá- rio da Aldeia (na imagem de camisete verde). Os homens da aldeia saíram em defesa dos que estavam a ser atacados, porém o confronto durou pouco tempo. “Eles dispararam arma de fogo, atingiram o Alimo no pé e logo a população dispersou-se”, conta. Furiosos, os atacantes incendiaram as casas e deceparam cabeças dos mortos. “Cortaram a cabeça dele (Alimo), espetaram num pau, assaram com o fogo do carro que estava a queimar e foram deixar no mercado”, conta Narciso Cassimo ancião da aldeia (na foto com camisete azul) que assistiu aos atacantes a queimar a sua casa com 27 cabritos dentro do curral e todos os bens. Os atacantes de Naunde ficaram na aldeia por três horas. Muitos moradores locais descrevem como eles são e como agiram. “Falavam em Swahili, Kimwani. Diziam que não querem mulheres e crianças. Apenas matam homens”, disse uma moradora local. De facto, apenas homens e jovens do sexo masculino são decapitados pelos atacantes. São raros casos de mulheres mortas nestes ataques. “Eles quando encontram mulheres, passam, dizem que estão em busca de homens”. Finalmente a ajuda Depois do ataque do dia 5, muitas pessoas fugiram da aldeia de Naunde, a maioria para a Ilha de Ibo e para a vila-sede de Macomia. Mas muitos também permanecem na aldeia. Narciso Cassimo é um dos que fi- cou na vila para reconstruir a sua casa e continuar com a vida. “Não vou sair daqui. Vou sair daqui para onde? Vivo aqui desde a guerra do colono, saímos lá do mato para aqui. Vou ficar aqui”, conta o idoso. Visitamos Naunde, uma semana após o ataque. A população ainda não havia recebido ajuda para além de militares que davam apoio na remoção de estacas soterradas pelos escombros das casas queimadas. As habitações de Naunde, como em toda a região, são de pau maticado e cobertura de capim. Com o incêndio, queimou a cobertura, mas as estacas salvaram. Os militares ajudavam a população a remover as estacas que seriam usadas para reerguer as casas. “Precisamos de comida, cobertores e mais estacas para reconstruirmos”, conta o secretário do Bairro, Maurício Miranda. No mesmo dia, a administradora de Macomia, Joaquina Nordine, visitou a aldeia e trouxe um camião cheio de alimentos, vestuá- rios, estacas e alguns utensílios domésticos. “Esta é a solidariedade da população de Macomia, que juntou o que tinha para ajudar os seus irmãos de Naunde. Ao nível do Governo de Cabo Delgado, também compramos alimentos para as pessoas que perderam tudo aqui e para os que se deslocaram para a Ilha do Ibo”, afirmou a administradora. A ajuda é uma gota de água no deserto, mas foi recebida com alegria pela aldeia. É um primeiro passo para recomeçar a vida, na esperança de que ninguém mais volte a semear terror. Maúrício Miranda Narciso Cassimo Uma das 160 casas queimadas em Naunde Ajuda chegou a Macomia Bens destruídos em Macomia Militares ajudam na reconstrução de casas destruídas pelos malfeitores 6 Savana 15-06-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE C om objectivo de partilhar experiências no sector de petróleo e gás, Moçambique e o Brasil realizaram, esta quarta-feira, o primeiro seminário sobre a matéria na qual sobressaiu o debate sobre o conteúdo local (CL). Com alguma surpresa, o governo com marca Frelimo entende que o CL não deve ser feito por decreto, mas sim pela combinação de capital, trabalho e terra, sendo que os moçambicanos devem entrar de forma gradual fornecendo serviços básicos e só mais tarde é que podem entrar na gestão. Esta posição não é partilhada pelo sector privado, que aponta que 43 anos depois de independência “não podemos continuar com este tipo de pensamentos”. Enquanto o distrito de Palma, que detém as maiores reservas de gás no país, cuja exploração é vista como uma grande oportunidade para catapultar o desenvolvimento do país, é assolada por ataques de insurgentes supostamente inspirados no radicalismo islâmico, em Maputo os homens de negócios debatem as oportunidades para distribuição de renda. A japonesa Mitsui confirmou ao SAVANA que por motivos de segurança, no bloco 1, do Rovuma, liderado pela americana Anadarko, ninguém sai e ninguém entra no acampamento. O vice-ministro dos Recursos Naturais e Energia, Augusto Sousa, tranquiliza as empresas que operam em Palma, referindo que as Forças de Defesa e Segurança estão a dar o seu máximo para controlar a situação e prova disso é que até ao momento ainda não recebeu nenhuma informação de paralisação das actividades por motivos de segurança. “Black empowerment” Foi no cair do pano do seminário que o Ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa deixou o empresariado filiado na Confederação das Associações Económicas (CTA) com os nervos à flor da pele. É que está em curso a produção da lei do Conteúdo Local e o Ministério da Economia e Finanças está a dar os últimos toques para que nos próximos dias seja submetida ao Conselho de Ministros para a devida apreciação. A CTA entende que a lei do CL deve se basear em quatro pilares a saber: A formação e capacitação das empresas nacionais; a transferência de conhecimento e tecnologias; Garantias de empregos a todos os níveis de gestão das multinacionais e por fim a participação de moçambicanos, como pessoas singulares ou colectivas, através de joint ventures com empresas estrangeiras contratas ou subcontratadas. Segundo explicou Florival Mucave, que falava ao SAVANA, em representação da CTA, a participação dos moçambicanos deve ser vista no âmbito da promoção da inclusão dos moçambicanos nos projectos existentes no país. Defende que o CL deve ter um carácter desenvolvimentista garantindo a participação das PME capacitadas e certificadas Conteúdo local divide Governo e sector privado Por Argunaldo Nhampossa na cadeia de valor nacional. Para Mucave, o CL deve ser impulsionador da economia, uma visão que, segundo o mesmo, não é partilhado por alguns dirigentes que compactuam com o tráfico de influências. Entende que a entrada em vigor daquela lei vai trazer um novo panorama no mundo de negócios, mas a sua ausência abre espaço para se perpetuar o sistema de “boladas” em que só reina quem tem influências políticas. “A implementação do CL tem a vantagem de que vai aumentar a base de produção do empresariado nacional que, por sua vez, vai contribuir o aumento da base tributaria”, disse. O SAVANA apurou que é neste ponto onde reside problema, uma vez que a CTA exige uma atribuição de 18% de participação nas empresas, o que levará à entrada de moçambicanos e as suas empresas no capital social das empresas estrangeiras. Entre o sector privado, na generalidade, não há unanimismo nesta posição, pois considera-se que ela pode estar muito influenciada pelas “elites rendeiras” da Frelimo que vêem na lei uma oportunidade de “assaltar” as estruturas das empresas de petróleo e gás. A tí- tulo de exemplo, citam o modelo da Vodacom local, onde os grupos moçambicanos representados são de duvidoso mérito empresarial e têm como denominação comum a sua ligação ao Partido Frelimo. Para Roberto Furian, ex-director da Agência Nacional de Petróleo do Brasil, no seu país, o conteúdo local está incorporado no contrato de concessão de cada empresa e é dividido por fases: exploração, desenvolvimento e produção. Referiu que em cada fase há uma percentagem estabelecida em função dos investimentos que tem por fazer, sendo que não havia uma lei generalista. Sublinhou que em caso de incumprimento nos planos do CL, a empresa é sujeita à penalização severa. Para se chegar a esta fase foi preciso muito tempo, visto que não foi logo que arrancou a exploração de petró- leo e gás, tendo havido períodos em que as empresas até preferiam pagar multas do que a avançar com projectos do CL. Nisto tiveram de rever os mecanismos tendo por via disso imposto sanções pesadas, o que faz com que até hoje o CL seja respeitado. Mas a legislação específica sobre CL foi abandonada uma vez que se pensa que este assunto pode ser um forte inibidor do investimento externo no Brasil. Em matéria de CL, a CTA em representação do sector privado não se entende com Executivo. Isto porque, segundo o Ministro da Indústria e Comércio, Ragendra de Sousa, o CL não pode ser feito via decreto, mas sim da combinação de três factores: capital, trabalho e terra. Segundo De Sousa, não se pode ser romântico com este assunto porque trata-se de um processo longo e mais do que um decreto, exige um empresariado local com a vontade de aprender, fazer parcerias onde todos os intervenientes saem a ganhar. “Ainda não chegámos à fase de maturação e há uma grande demanda de todos os serviços, como varredores de casa, empregados domésticos, carpinteiro, serralheiros. Sem começar de baixo nada cresce. Depois temos a demanda de serviços como catering que é fundamental que sejam empresas certificadas”, disse. De seguida justificou a necessidade de certificação recorrendo ao exemplo de intoxicação numa plataforma de gás. O posicionamento do governante não está a ser bem acolhido por parte dos representantes do CTA, que alegam que não se explica que em 43 anos de independência os moçambicanos devem continuar como serralheiros ou carpinteiros. A posição cautelosa do governo, segundo apurou o SAVANA, deriva de duas situações referenciais: por um lado a opinião frontalmente contrária dos grandes grupos económicos externos que não estão abertos a “abrir o capital das suas empresas por decreto” e, por outro lado, o sector parasitário e rendeiro que se desenvolveu com a economia de mercado em Moçambique, a partir do cartão do partido Frelimo, do tráfico de influências, e dos “lobby de corredor”. É conhecido o desdém do ministro Ragendra para com “os empresários sem capital”, que apelida de “empresários de cartão de visita”. Na África do Sul, a política de “black empowerment”, a promoção administrativa do empresariado negro gravitando em torno do ANC (Congresso Nacional Africano), tem sido abalada por sucessivos escândalos e abusos e pela grande ineficiência do sector empresarial público. Doença holandesa Para o Ministro da Indústria e Comércio, com a descoberta de gás, Moçambique passa a figurar no mapa mundial como pais promissor, mas é preciso ter atenção à chamada doença holandesa e a crescente miséria contra a riqueza de alguns. “Podemos ter um saco de dinheiro que depois fica desvalorizado. Temos que tudo fazer para evitar a doença. Já demos sinais muito fortes de crescimento. Basta olhar para a Vale (mineradora de carvão na província de Tete) onde os salários são mais altos que todos pagos nos distritos da província de Tete. O carvão sai, o PIB cresce, os trabalhadores levam o salário, mas à volta tudo se mantém e os produtos sobem de preço”, disse. O s aumentos das tarifas de electricidade deterioram o ambiente de negócios em Moçambique e as empresas viram os seus custos com electricidade a aumentar em mais de 100%, refere o estudo “Impacto do aumento das tarifas de electricidade no ambiente de negócios”, elaborado pela Confederação das Associações Económicas (CTA). Em Novembro de 2015, as tarifas de energia aumentaram 7% em Novembro, um anos depois houve incremento das tarifas, com excepção da tarifa social, em um metical por KW/hora para os consumidores de baixa tensão agrícola, 1,42 meticais por KW/hora para os consumidores de média e alta tensão e em 69 centavos para os consumidores de média tensão agrícola. Em Novembro de 2017, registou-se um aumento das tarifas em 10%. Nas conclusões da análise, o estudo indica que o incremento nas tarifas não se reflectiu na melhoria da qualidade, pois persistem os cortes no fornecimento e oscilações de potência. “A baixa qualidade no fornecimento de energia acarreta custos adicionais às empresas com a aquisição de equipamentos para melhorar a fiabilidade deste meio importante na produção”, diz o documento. Como forma de minimizar a baixa qualidade da energia, muitas empresas são obrigadas a adquirir meios alternativos como geradores e postos de transformação. “Estes meios alternativos acarretam custos adicionais para o sector privado e estes investimentos podiam ser feitos para melhorar os processos produtivos e aumentar a rendibilidade e competitividade das empresas”, lê-se no estudo. De acordo com a avaliação, desde 2015, assiste-se a aumentos galopantes nas tarifas de electricidade, que, de forma generalizada, não são acompanhados pela melhoria da sua fiabilidade. “Estes aumentos de tarifas de electricidade incrementaram significativamente os custos para as empresas”, diz o documento. No geral, as empresas estão insatisfeitas com o fornecimento de electricidade, porque, apesar do aumento nas tarifas, nada mudou em termos de qualidade da energia fornecida. “A principal ilação deste estudo é a necessidade de melhorar a qualidade da energia eléctrica fornecida”, refere o estudo. Liberalização A CTA defende reformas adicionais no sector de energia de modo a facilitar o clima de negócio e a atracção de mais investimento para as indústrias. “Outra solução para a melhoria da qualidade de energia eléctrica passa por liberalizar pequenas fontes de geração de energia para fornecerem directamente à indústria”, destaca o estudo. Neste sentido, é fulcral para a revisão da lei de electricidade e a celeridade na regulamentação da Lei que cria a Autoridade Reguladora de Energia. Esses passos, prossegue a avaliação, vão permitir a transparência entre os operadores do sector energético, maior envolvimento do sector privado na cadeia de distribuição e comercialização da electricidade. A promoção da competitividade no sector poderá contribuir para assegurar a qualidade, fiabilidade e transparência na determinação das tarifas. A CTA considera que a energia eléctrica é essencial e tida como bem de mérito devido aos seus efeitos multiplicadores como um meio de produção importante para as empresas. “O acesso e a qualidade da energia constituem um dos factores fundamentais para atrair indústrias que precisam deste recurso de forma confiável, contribuindo desta forma para o desenvolvimento industrial. Custo de energia prejudicou negócios no país - CTA Seminário Brasil-Moçambique de petróleo e gás reaviva o debate da lei do conteúdo local SOCIEDADE Savana 15-06-2018 7 PUBLICIDADE DIVULGAÇÃO 8 Savana 15-06-2018 O Presidente da Confederação das Associações Económicas de Moçambique (CTA), Agostinho Vuma, exige agilidade e monitoria nos diferentes processos que concorrem para abertura e funcionamento de empresas, de modo a inverter a actual tendência da informalidade que abunda na economia naFLRQDO 9XPD TXHIDODYDVHPDQDÀQDGD QREDODQoRGRVHXSULPHLUR ano de mandato na condução dos destinos da CTA, criticou o alto custo para abertura de empresas que ainda está acima do rendimento per capita do país, bem como o não funcionamento das plataformas electrónicas de registos, situações que afectam a formalização de pequenos negócios. O elenco governativo da CTA, liderado por Agostinho Vuma, parou, VHPDQD ÀQGD SDUD FHOHEUDU D SDVVDJHP GR SULPHLUR GRV WUrV DQRV que tem em frente dos destinos da congregação dos empresários do país. Foi um momento ímpar para olhar no que já foi feito, perspectivar o futuro, sem com isso descurar do que acontece no dia após dia do empresário moçambicano. Sob o lema: “Para a Melhoria do Ambiente de Negócios – Que Perspectivas?”, Vuma congratulou-se do trabalho desenvolvido pela sua equipa, ao longo dos últimos 12 meses, pese embora tenha iniciado o mandato numa altura em que o país era assolado pela crise. Nisto, sublinhou que aquilo que a princípio se mostrava como um iceberg, provou ser transponível com dedicação e boa governação. ´e KRMH JUDWLÀFDQWH ROKDU SDUD DWUiV H DVVXPLU TXH HP XP DQR GH governação, trilhamos caminhos de que nos podemos orgulhar e que projectam a nossa Confederação a altos patamares no espectro das Vuma exige flexibilidade na abertura de empresas LQVWLWXLo}HVTXHPDUFDP DGLIHUHQoD SHODSRVLWLYD HLQÁXHQFLDP as mudanças na nossa economia que caminha, sem dúvidas, para o sucesso”, assinalou. Prova disso é que do plano estratégico 2017-2020, segundo Vuma, já foram executados 37,5% das acções inseridas nos cinco pilares e programas para o presente mandato. No entanto, uma das maiores inquietações do dirigente máximo da CTA é a contínua informalidade da economia nacional que não IDFLOLWD R UiSLGR FUHVFLPHQWR GD SURGXomR IRUPDO H TXH GLÀFXOWD a migração do sector informal para o formal. A título elucidativo, referiu que o custo para abertura de uma empresa em Moçambique ainda está acima do rendimento per capita do país, com o agravante das plataformas electrónicas de registos muitas vezes não funcionarem. Sugere Vuma que, para além do governo introduzir medidas sobre OLFHQFLDPHQWRVLPSOLÀFDGR FRPRDLQWURGXomRGR,PSRVWR6LPSOLÀFDGRSDUDR3HTXHQR&RQWULEXLQWHHH[SDQVmRGRVSRVWRVGHFRbrança e nas operações alfandegárias (introdução da janela única), devia monitorar o seu funcionamento. CTA cobre 50% dos distritos do País Para tornar a governação inclusiva, Vuma apostou na descentralização das acções, ao nível das capitais provinciais para os distritos, criando Conselhos Empresariais em 75 distritos, aumentado, desta forma, o atendimento e assistência aos pontos mais recônditos do país, perfazendo uma cobertura de 50% do total dos distritos. DIVULGAÇÃO Savana 15-06-2018 9 No mesmo espaço de tempo foi constituído um novo Conselho Empresarial Nacional que, segundo a CTA, pela primeira vez conheceu um processo democrático, desde a constituição da agremiação. Espera-se assegurar uma maior adesão de empresas para aquele órgão de assessoria do qual se almeja benefícios incomensuráveis para o fortalecimento do associativismo. Nesta época que a economia atravessa uma conjuntura adversa, o presidente da CTA diz que foram implementadas acções visando potenciar os associados a fazerem parte da solução dos problePDV TXH DÁLJHP RV VHXVPHPEURV $SRQWRX R DFHVVR D MDQHODV DOWHUQDWLYDVGHÀQDQFLDPHQWRHDRVPHUFDGRVSDUDFRORFDomRGD produção. Reformas As reformas para melhoria do ambiente de negócios no país consWLWXHPXPGRVSULQFLSDLVGHVDÀRVGD&7$H GXUDQWHRSHUtRGR em análise, Vuma fala de avanços em termos de aceitação de algumas medidas propostas, mas também algumas inquietações. 'LVVHTXH HPJUDQGHPHGLGD DVUHIRUPDVEHQHÀFLDUDPRVHFWRU do turismo e o da agricultura. Mencionou a provação do visto GH IURQWHLUD D WD[DGH WXULVPR EHP FRPR DHOLPLQDomRGR ,9$ na importação de aeronaves e a redução da taxa liberatória que WHQGHPDDXPHQWDURÁX[RGHWXULVWDV $RPHVPRWHPSR IRUDP alargadas as capacidades de serviços de transportes em quantidade e qualidade, através desse incentivo, incluindo maior abertura e investimento no transporte aéreo. 1RVHFWRUGHDJULFXOWXUD IRUDPDXPHQWDGRVRVEHQHItFLRVÀVFDLV na importação de equipamentos para as empresas que pretendam investir na sua capacidade. Mas pretende continuar a advogar SRUDVSHFWRVOLJDGRVDR,PSRVWRVREUHR5HQGLPHQWRGH3HVVRDV &ROHFWLYDV ,53& TXHLPSDFWDPQHJDWLYDPHQWHQDDJULFXOWXUDH onde os actores solicitam a implementação da taxa dos 10%, contra os 32,5% que pagam actualmente. Não pararam por aqui. Foram feitas ainda reformas como a simSOLÀFDomR GH SURFHGLPHQWRV FRQVXEVWDQFLDGRV QD 5HYLVmR GR &yGLJR&RPHUFLDO R5HJLVWR3UHGLDO 2EWHQomRGH(OHFWULFLGDGH 3DXWD$GXDQHLUD $YLDomR&LYLOH&RPpUFLR,QWHUQDFLRQDO “Das medidas que estão em curso, destacamos a revisão da Lei do Trabalho, importante instrumento no qual queremos ver alterações que tornem o regime laboral mais equilibrado, prático e HÀFD] DMXVWDGRjUHDOLGDGHDFWXDOGRSDtVHjVQHFHVVLGDGHVTXHU do sector privado, quer dos trabalhadores”, observou. 5HIHULXDLQGDTXHSUHWHQGHYHUDOWHUDo}HVTXHWRUQHPRTXDGUR OHJDODMXVWDGRjVSUiWLFDVLQWHUQDFLRQDLV DRGHVHQYROYLPHQWRHFRQyPLFRHjUHDOLGDGHGRSDtVHTXHFRQWULEXDPSDUDPLQRUDUFRQÁLWRVQDFRQWUDWDomRGDPmR GH REUDHVWUDJHLUD O presidente da CTA abordou aquela que é uma das suas principais batalhas para a promoção do empresariado nacional no âmbito da exploração dos recursos naturais, que é a necessidade de uma lei que regule o conteúdo local e o valor-ajustado por ela criado. Deste modo, entende o dirigente dos empresários que a lei em causa deve garantir a participação das Pequenas e Médias Empresas nacionais capacitadas, na cadeia de valores da indústria nacional, através dos “backward linkages development” (Uma medida através da qual a aquisição de bens e serviços nacionais é maximizada). “A CTA vem trabalhando na elaboração da Lei de Conteúdo Local com o Governo Moçambicano, investidores estrangeiros, parceiros de cooperação e a sociedade civil, com o intuito de fazer desta lei um instrumento de inclusão e não exclusão. Por outras palavras, a Lei do Conteúdo Nacional que pretendemos não deve afugentar os investidores estrangeiros, mas sim atraí-los”, disse. Enalteceu o trabalho aprofundado feito com a Vale e com a Sasol, que permitiu que, mesmo sem uma lei sobre o conteúdo local aprovada, têm demonstrado empenho em assegurar a participaomRGHQDFLRQDLVQRVVHXVSURMHFWRV LQFOXLQGRDYHULÀFDomRGHDVpectos sociais e ambientais. Recuos no diálogo Público-Privado Agostinho Vuma manifestou a sua preocupação com os prazos apertados que a organização é atribuída nos processos de consulta pública para a elaboração das leis e regulamentos, que não permitem que faça consulta de forma abrangente as empresas. Saudou o executivo pelos avanços que a proposta de Lei apresentada pela CTA para a participação pública nos processos legislativos que GHX ÀQDOPHQWH DOJXQVSDVVRVDSyVDFROKLPHQWRGRJRYHUQR 0DV QmR deixou de criticar o facto de que o processo que culminou com a recente DSURYDomR SHOD$VVHPEOHLDGD5HS~EOLFD GD5HYLVmRGD/HLVREUHR6HFtor Empresarial do Estado, não tenha passado por uma consulta prévia abrangente para o seu aprimoramento. “A nossa visão não é apenas de uma simples redução dos activos do Estado nas empresas públicas, mas a garantia de uma participação plena do sector privado neste processo para permitir uma reestruturação bem VXFHGLGDSRUTXH DÀQDOGHFRQWDV RVIXWXURVGHWHQWRUHVGRVDFWLYRVHPpresariais do Estado sairão, queremos crer, do sector privado”, apontou. Prosseguindo, disse que a ideia passa por não repetir a experiência não muito bem-sucedida de reestruturação do sector empresarial do Estado, aquando da introdução da economia de mercado, dadas as situações conjunturais do momento e a ausência de um sector privado nacional forte. Enumerou, como sendo outro recuo, o sacrifício a que estão expostas as empresas de transportes, logísticas e outros serviços desde a questão GRYRODQWHjHVTXHUGDHDLQWURGXomRGDFRQWDHVSHFtÀFDQDVWUDQVDFo}HV externas, que coloca sempre em desvantagem as empresas registadas em Moçambique quando se compara com a actuação regional. 5HIHUHTXHKRMHKiXPFUHVFHQWHLQFHQWLYRSDUDTXHDVHPSUHVDVTXHRSHram no transportes e logística, em Moçambique, se registem nos países vizinhos para estarem na mesma linha de competitividade com as empresas da região. $SHUWRÀVFDOSUHRFXSDQWH 1RTXHGL]UHVSHLWRDRVDMXVWDPHQWRVÀVFDLV 9XPDGL]WHPHUTXHDQHFHVVLGDGHGHPRELOL]DomRGHPDLVUHFXUVRVÀQDQFHLURVSDUDRÀQDQFLDmento da despesa pública se torne num incentivo para a introdução de medidas que contrastam com a ideia de criar um quadro de investimentos atractivo. ([SOLFRX TXH DOHL ÀVFDO REULJD D TXH HP FDVR GH FRQWDELOLGDGH RUJDnizada, a empresa deve obrigatoriamente ser assistida por um técnico de contas, devidamente, autorizado para o efeito. Mas, contrariamente a HVWHSRVWXODGR WHPVHDVVLVWLGRXPDYDJDGHÀVFDLVH RXDXGLWRUHVTXH se aproveitam do poder que têm, em representação do Estado, e fazendo uso das fragilidades dos agentes económicos para apresentarem sanções ÀVFDLVHDGXDQHLUDVVHYHUDVHDOWDPHQWHRQHURVDVSDUDDVHPSUHVDV Outra preocupação prende-se com a obrigatoriedade do uso de cheques visados que, para além de encarecer o pagamento do imposto, constitui XPUHYrVDRHVIRUoRGHVLPSOLÀFDomRGHSURFHGLPHQWRVOHJDLVSDUDHIHLtos tributários para além de não estar previsto na lei. “O nosso entendimento é de que, mais do que o Estado investir muitos recursos no controlo, é necessário apostar e investir no incentivo para que o empresário pague o imposto, através de sistemas tecnológicos PDLVUHFHQWHVHGDÀVFDOLGDGHHGXFDWLYDµ RSLQRX Vuma deixou claro que a CTA e os seus associados não estão contra as ÀVFDOL]Do}HVGHkPELWRÀVFDO PDVHVWmRDIDYRUGHDFo}HVTXHHQFRUDMDP o sector privado a sentir-se atraído para o cumprimento das suas obrigao}HVÀVFDLV TXHUDWUDYpVGDUHYLVmRGRVLPSRVWRV EHPFRPRGHRXWUDV medidas aceitáveis e que encorajem o investimento. ´$ÀVFDOL]DomRH[FHVVLYDYRFDFLRQDGD DSHQDV DVDQFLRQDURFRQWULEXLQWH induz a uma situação sempre de fricção entre o Estado e o contribuinte. Por tudo isso, queremos que, tal como a nível laboral, a inspecção a nível ÀVFDOGHYHVHJXLURVWUkPLWHVGHXPPDQXDOHVSHFtÀFRµ GLVVH O agronegócios como prioridade do triénio No âmbito da implementação da maior prioridade da CTA, o desenvolvimento do agronegócio, já foram mapeados muitos pequenos e médios agricultores e associações de produtores, visando o estabelecimento de ligações dentro da cadeia de valor que integra a produção, o processamento e a comercialização, para o sucesso que todos almejamos neste sector. 3DUDDOpPGHFRORFDUjGLVSRVLomRUHFXUVRVÀQDQFHLURV D&7$HVWiDWUDbalhar para que os grandes espaços existentes no mercado possam adquirir a produção nacional. Do levantamento feito, prosseguiu o Presidente, em algumas províncias, constatou-se que o pequeno agricultor enfrenta problemas de acesso aos mercados e de melhoria da sua organização de gestão, processamento, HPEDODJHPHFHUWLÀFDomR Esta constatação coaduna-se com os resultados apurados no âmbito do AGOA, onde, por um lado, Moçambique exportou apenas 2% de todo potencial existente e, por outro, uma parte dos poucos que exportam SDUDRV(8$QmRHVWmRDEHQHÀFLDUGRVLQFHQWLYRVGR$*2$ 3DUDR3UHsidente da CTA, este cenário deve ser invertido. DIVULGAÇÃO 10 Savana 15-06-2018 Durante a cerimónia de um ano de mandato, a CTA lançou uma plataforma integrada de comunicação – CTA Connect, que vai reduzir a distância entre a CTA e seus membros e a comunidade empresarial em geral, através de um aplicativo de telemóvel. A CTA Connect é um verdadeiro Business Center virtual. Neste aplicativo podem ser encontradas, as ordens de serviços, as missões empresariais em curso, as oportunidades de negócios, o acervo de leis relevantes SDUDRVQHJyFLRV DVRSo}HVDOWHUQDWLYDVGHÀQDQFLDmento, notícias, entre outras informações relevantes sobre negócios. A CTA Connect vai reduzir as reclamações dos emSUHViULRVVREUHRIUDFRDFHVVRjVOHLVDSURYDGDVHUHlevantes para os negócios, a fraca informação sobre missões empresariais, e vai permitir uma maior participação no processo de reformas onde podem opinar a favor de um quadro regulatório favorável aos negócios. Com a CTA Connect, os membros, a comunidade empresarial e o público em geral passam a aceder, em tempo útil e onde estiverem através de telemóvel, a todas informações veiculada pela CTA. “Um dos maiores poderes deste aplicativo é poder alertar ao caro empresário, cada vez que uma inIRUPDomR QRYD IRU FRORFDGD H ÀFDU LPHGLDWDPHQWH LQIRUPDGR %DL[HP H ÀTXHP FRQHFWDGRV µ UHIHULX Agostinho Vuma, Presidente da CTA, durante a apresentação do aplicativo. Na cerimónia de um ano de mandato, a CTA rubricou um Acordo de Cooperação com a Vale Moçambique e um MePRUDQGRGH(QWHQGLPHQWRFRPD*$,1 – Aliança Global para Melhor Nutrição. O Acordo com a Vale, visa assegurar maior participação das PME´s na cadeia de fornecimentos da Vale Moçambique. Para o efeito, a CTA e a Vale irão partilhar informações sobre oportunidades de negó- cios no âmbito dos processos de procurement, partilha de base de dados de empresas locais habilitadas para as necessidades da Vale, partilha dos principais constrangimentos detectados na execução de actividades por empresas nacionais para o desenvolvimento empresarial e melhoria contínua no fornecimento de bens e serviços. As Partes deverão igualmente articular nos processos de reforma legal. -iR0HPRUDQGRFRPD*$,1 WHPHPYLVWDRDSRLR e mobilização do sector privado para o aumento da sua participação, contribuição e compromisso, na melhoria da nutrição e do acesso da população moçambicana a alimentos nutritivos e seguros (incluinGRIRUWLÀFDGRV FRPYLVWDjFULDomRGHXPVHFWRUHPpresarial dinâmico e competitivo que contribua para o bem-estar económico e social dos moçambicanos. O objectivo comum visa contribuir para o desenvolvimento económico e social de Moçambique, baseado no crescimento do sector privado, promovendo e protegendo as oportunidades de negócios e iniciativas privadas, cultura e o associativismo empresariais. CTA assina acordos com a Vale e a GAIN CTA CONNECT: CTA lança um Business Center virtual DIVULGAÇÃO Savana 15-06-2018 11 PUBLICIDADE 12 Savana 15-06-2018 Savana 15-06-2018 17 NO CENTRO DO FURACÃO A capital do país acolheu, semana finda, a Conferência Internacional do Turismo baseado na Natureza, um evento co-organizado pelos Ministérios da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER) e da Cultura e Turismo (MCT) com o objectivo de maximizar o financiamento para o desenvolvimento deste sector, para além de estabelecer parcerias público-privadas de longo prazo para o benefício das comunidades e da vida selvagem. Luz, som, muito glamour, partilha e troca de conhecimento marcaram os três dias do evento, que juntou, na mesma sala, cerca de 600 individualidades, entre governantes, académicos, gestores de agências de viagens, organizações ambientais e de conservação da biodiversidade, que juntos partilharam as experiências e as estratégias para o desenvolvimento do turismo baseado na natureza. Diferentemente da Reunião Ministerial do TICAD, decorrida no ano passado, também na capital moçambicana, onde a desorganização tomou conta do evento, a Conferência Internacional do Turismo baseado na natureza contou com uma segurança “apertada”, que chamou para si o maior protagonismo, chegando a atrasar algumas sessões de debate. A conferência, que contou com a participação do Presidente da República, Filipe Nyusi, e do ex-chefe do Estado do Botswana, Seretse Khama, apontou as parcerias comunitárias como fundamentais e estratégicas para a protecção do ecossistema e consequente desenvolvimento do ecoturismo. Os diversos especialistas que partilharam as suas experiências falaram da necessidade dos países africanos apostarem na formação da população local de forma a garantir uma gestão sustentável dos recursos, para além de investir nas infra-estruturas, em particular nas vias de acesso, factores-chave para o desenvolvimento do turismo. Sublinharam que África tem um grande potencial ecoturístico, porém, precisa de políticas claras, assim como de parcerias vantajosas entre os diferentes intervenientes, com destaque para o governo, sector privado e comunidades. Outro aspecto que os conferencistas consideram importante é a publicitação do produto, os destinos, pelo que as organizações devem desenhar as suas estratégias de marketing, sem esquecer das tecnologias para abranger a nova geração, cuja vida está baseada nas plataformas actuais de comunicação. “Precisamos da natureza que ela de nós”, Nyusi No seu discurso de abertura, o Presidente da República, Filipe Nyusi, disse que o país acolheu aquele evento porque “entendemos que o turismo pode gerar receitas para a economia, assim como ajudar na conservação do ecossistema”. Nyusi explicou que o seu executivo definiu o turismo como um dos quatro pilares para o desenvolvimento do país por acreditar no potencial daquele sector, pelo que tem desenvolvido cadeias de valor para o seu desenvolvimento, destacando a liberalização do espaço aéreo, a introdução de vistos de fronteira e a reabilitação dos parques e reservas nacionais. O Chefe de Estado sublinhou que dos 800 mil km2 que constituem o território nacional, 25% foram declarados como áreas de conservação, como forma de mostrar a importância dos mangais, fauna e todos os recursos naturais que “garantem a nossa sobrevivência”. “Cada dia fica mais claro que somos nós que precisamos da natureza, mais do que ela precisa de nós”, disse Nyusi, sublinhando que as áreas de conservação continuam a ser um mecanismo crítico de apoio à redução dos desastres relacionados com as mudanças climá- ticas. Por isso, defende Nyusi, as áreas de conservação devem ser geridas como um património nacional e cultural, de modo a gerar receitas para a vida do Estado. Revelou ainda que, nos últimos anos, o país introduziu mais de quatro mil animais como forma de repor a fauna, numa operação que envolveu a África do Sul e o Zimbabwe. Para o representante do Banco Mundial, em Moçambique, Mark Lundell, um dos patrocinadores do evento, através do Programa Mundial da Vida Selvagem, o turismo transfronteiriço desempenha um papel fundamental na união de culturas transfronteiriças, pelo que há uma necessidade de se preservar o ecossistema. Sublinhou a satisfação do Banco Mundial em continuar a apoiar Moçambique na gestão da Reserva do Maputo. “Devemos criar contas do turismo”, Seretse Khama Para abrir a conferência, os organizadores convidaram o ex-Presidente do Botswana, Seretse Khama, apontado como responsável pela restauração das áreas de conservação no seu país. Khama, que liderou o Botswana por 10 anos, disse que o sucesso do turismo, baseado na natureza, depende da intervenção conjunta do governo, comunidade e sector privado na restauração e preservação do ecossistema. O antigo estadista tswana contou que, durante o seu mandato, deu prioridade às comunidades por considerá-las preponderantes na gestão sustentável dos recursos. “As organizações de base comunitária devem ser incentivadas porque tem um papel fundamental neste processo. No Botswana, a terra e os recursos são propriedade do Estado, mas a gestão é feita pela comunidade para garantir sustentabilidade dos mesmos”, sublinhou. Khama explicou que, em 2012, os Chefes de Estado africanos perceberam o real valor da natureza, pelo que sentiram haver necessidade de uma melhor planificação e tomada de decisões de gestão favoráveis ao seu povo, tendo adoptado a Declaração de Sustentabilidade para África. “Em 2015, África teve 70% dos seus ganhos, através da protecção dos recursos, o que corresponde a USD60 milhões, mas através da mesma actividade a Europa, com 8%, obteve USD 600 milhões”, destacou. Por essa razão, Ian Khama, como é conhecido, defendeu a criação de contas do turismo para captação de investimentos, de forma a reduzir a burocracia que marca o registo de empresas, principalmente, no nosso país. Por sua vez, o fundador da Singita, uma empresa sul-africana dedicada à conservação sustentável da fauna, Luke Bailes, disse haver necessidade de se investir nas infra-estruturas, em particular estradas e aeroportos, que são essenciais para a atração turística. Falando sobre a criação de um ambiente favorável para o turismo, baseado na natureza, Bailes notou que 2,8% do turismo mundial vem dos países da África Subsaariana, mas a maior parte dos turistas viajam para os outros cantos do mundo, devido à falta de investimento nos seus países. “O potencial turístico é maior, mas precisamos de comprometimento para desenvolvermos este negócio. Os paí- ses devem entender que estamos num mundo competitivo, pelo que devem investir nas infra-estruturas”, disse, sublinhando que as empresas que exploram as áreas de conservação devem trabalhar com os governos porque implementam as políticas desenhadas por estes. Para o fundador e PCA da Singita, o continente africano precisa de um “pessoal formado mais que tudo”, pois, “maior parte das pessoas não são empregáveis”, facto que contribui para o fraco desenvolvimento do continente. “Apostamos na formação das comunidades, sobretudo crianças, para o benefício local, da empresa e do país. Essas acções evitam, de alguma forma, a caça furtiva porque as populações ficam consciencializadas sobre o impacto deste mal”, considera. No caso concreto de Moçambique, Luke Bailes defende a criação de uma Alta Autoridade de “Janela Única” do Investimento, capaz de agregar todos os investimentos estrangeiros da área turística, de modo a reduzir a burocracia. A história da Singita, fundada em 1993, e cujo nome significa “lugar dos milagres”, começou, em 1925, quando um pedaço de terra na actual Sabi Sand Reserve foi comprado por James Bailes, avô do actual proprietário. Situado num canto remoto do Lowveld Sul-Africano, a propriedade foi originalmente adquirida para fins de caça e era inacessível por estrada. Entretanto, passados alguns anos, essa reserva de 45 mil hectares evoluiu de uma área de caça a uma reserva exclusiva, onde todas as espécies de animais são protegidas. O fundador e PCA da Singita diz que a filosofia da empresa reside em preservar e proteger a terra e a vida selvagem para as gerações futuras e, para tal, tem envolvido as comunidades locais na gestão dos recursos naturais. “A sustentabilidade é muito importante para nós, pois, é o melhor modelo de protecção e rentabilização do nosso negócio. Apostamos na comunidade porque ela é o garante do nosso sucesso. Quando, há três anos, dissemos que os caçadores furtivos deviam sair, encorajamos a população a combater este mal e esta abraçou a causa”, sublinhou. Quem também defende o investimento nas infra-estruturas é o PCA da Wilderness Safaris, Keith Vincent, uma empresa que também se dedica à conservação da biodiversidade, criada, no Botswana, em 1983, e que, actualmente, opera em sete países. Para Vincent, o investimento em infra-estruturas de acesso aos locais turísticos é fundamental para que os governos não percam dinheiro, um recurso fundamental para o desenvolvimento das áreas de conservação. Acrescenta que a sustentabilidade, na gestão de recursos faunísticos, consiste na partilha de responsabilidades entre as empresas, governo e as comunidades locais. À semelhança da Singita, o PCA da Wilderness Safaris refere que a sua empresa também aposta nas comunidades locais como parceiras na conservação da fauna. Sublinha que, com o crescimento populacional, o ecossistema está ameaçado, pelo que, a aposta nas comunidades é fundamental para garantir a gestão sustentável dos recursos. “É preciso que se confie nas pessoas locais para que estas também confiem em nós. Consciencializamos a população sobre o impacto da caça furtiva, falando dos benefícios advindos da conservação da biodiversidade”, disse, garantindo que o Botswana é um exemplo na formação de pessoas locais para a gestão do ecossistema. A degradação das infra-estruturas, em particular estradas, é a maior preocupação dos operadores turísticos nacionais. Cipriano Neto, do Arquipélago de Bazaruto, revelou que o número de turistas que visita aquele Parque Nacional, vindo da Zâmbia e Zimbabwe, reduziu devido ao avançado estado de degradação da EN1, no troço Pambara-Muxúngwè, nos distritos de Vilanculo e Chibabava, respectivamente. “Partilhamos os benefícios com a comunidade”, Richard Diggle Intervindo no painel que abordava as parcerias comunitárias e a partilha de benefícios, o mais jovem orador da conferência, Richard Diggle, director regional da Northern Rangelands Trust, uma organização não governamental, criada em 2004, no norte do Quénia e que é liderada pela comunidade, disse que conseguem manter o sorriso das 35 comunidades abrangidas, através do financiamento às suas acções. Tendo se instalado numa das regiões mais pobres daquele país da África Oriental, constantemente, assolada pela seca e conflitos étnicos, a fonte revela que a organização faz deste facto seu trunfo, pois, consegue satisfazer as necessidades que o governo queniano não consegue: arrancar um sorriso da população. “No nosso projecto de conservação da vida animal, estabelecemos lideranças comunitárias ao nível das comunidades onde trabalhamos”, garantiu, acrescentando que, em 2015, criaram um Fundo de Subsistência às Comunidades, alocando o valor para a educação, saúde, água e infra-estruturas. “Temos um projecto, no qual dividimos as receitas com a comunidade: 60% vai para a comunidade e 40% vai para as operações”, frisou. Por sua vez, Colleen Begg, do Niassa Carnivore Project, gestora da Reserva Nacional do Niassa, garantiu que o seu projecto desenvolveu algumas parcerias com a comunidade local, facto que contribuiu para a redução da caça furtiva. Revela que a organização melhorou os meios de subsistência, incluindo a fonte de carne para os residentes. “Temos concessões comunitárias para a agricultura e protecção animal. Temos também trabalhos sazonais para a juventude local, onde fazemos pagamentos individuais”, observou. Por seu turno, Peter Fearnhead, PCA da African Parks, uma organização de conservação sem fins lucrativos que administra 15 parques nacionais, em nove países, revelou que, em África, as P-P-P significam “paciência, perseverança e honestidade” e não parcerias público-privadas, como é sabido. Abordando os modelos de parceria para gestão sustentável das áreas de conservação, Fearnhead disse que, em África, não há separação de papéis entre os parceiros, facto que não garante a cultura de prestação de contas. Observa que a soberania, na gestão das áreas de conservação, é garantida através de um documento assinado pelo governo, clarificando o papel de cada um dos intervenientes. Porém, apesar destas críticas, Fearnhead defendeu que o sucesso das áreas de conservação depende das P-P-P, pois, acima de tudo, é necessário dinheiro para restaurar os parques, de modo a garantir o ecoturismo. Aliás, sobre a disponibilidade de fundos, a fonte sublinha que os 100 mil hectares que constituem os 300 parques nacionais africanos estão sendo perdidos devido ao fraco investimento na protecção dos recursos. Por sua vez, Gregory Carr, Fundador e Presidente da Fundação Carr, organização gestora do Parque Nacional da Gorongosa, na província de Sofala, destacou a “boa parceria” existente entre a sua Fundação e o governo de Moçambique, tendo elogiado o executivo de Maputo pela forma como se tem portado. Carr revelou que a sua organização tem investido nas comunidades daquela parcela do país, visto que são estratégicas para a protecção dos recursos. Sublinha não haver melhor guarda florestal que a própria comunidade, pois, esta é que se encontra em quase todo o perímetro do Parque. Para o Ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, um dos maiores dinamizadores da conferência, para que as comunidades sintam-se donas dos recursos, é necessário que haja transferência de conhecimento, facto que lhes fará entender a vida animal. Para Correia, as áreas de conservação são locais de vários interesses de difícil conciliação, pois, uns defendem a maximização dos lucros do turismo baseado na natureza e outros a protecção animal, facto que abre espaço para o crime organizado. Acrescenta que o mesmo acontece com os modelos de gestão, onde alguns defendem a caça como o melhor modelo de conservação, enquanto outros não. Parcerias de investimentos O evento não só serviu para a discussão dos diferentes aspectos inerentes ao turismo, assim como a conservação do ecossistema, mas também para a troca de contactos entre os participantes, assim como para a assinatura de memorandos de entendimento entre o governo e os diferentes parceiros. Assim, nos três dias, o MITADER assinou cinco acordos avaliados em cerca de USD 600 milhões para a co-gestão e investimento no turismo, nos diferentes parques e reservas nacionais; um memorando de entendimento; e dois contratos para a construção de duas estâncias turísticas, no Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto. Dos seis acordos, dois foram assinados com a Peace Parks Foundation, uma empresa que gere o Parque Nacional do Zinave, na província de Inhambane. O primeiro acordo, assinado no dia da abertura, destina-se à assistência técnica-financeira na Reserva Especial de Maputo e o segundo, assinado no último dia e avaliado em USD 1.150 mil, visa a co-gestão do Parque Nacional de Banhine, na província de Gaza, nos próximos 13 anos, para o combate à caça furtiva. Os outros acordos foram assinados com o Grupo Farkuhar, que se compromete a investir no turismo, nos próximos 10 anos, USD 500 milhões na Reserva de Pomene e no Parque Nacional do Lipompo; Fundação Carr para a extensão de gestão conjunta do Parque Nacional da Gorongosa; e com o Banco Internacional de Moçambique para o estabelecimento de uma linha de crédito de USD 50 milhões para a intervenção no turismo, em particular nas áreas de conservação. O memorando de entendimento foi assinado com a African Parks, que estabelece os termos nos quais vai trabalhar com o governo, nos próximos 12 meses, para a assinatura de um acordo de co-gestão do Parque Nacional das Quirimbas. A organização gere, em parceria com o governo, o Parque Nacional do Arquipélago de Bazaruto. Para o Director-Geral da Administração Nacional das Áreas de Conservação (ANAC), Mateus Mutemba, os acordos traduzem alguns dos objectivos da conferência, que era “expor as nossas áreas de conservação para atrair investimentos para o ecoturismo e para a co-gestão”. Aliás, para além de firmar parcerias, os participantes da Conferência Internacional do Turismo, baseado na natureza, tiveram a oportunidade de ver e rever, através de vídeos, as potencialidades turísticas de Moçambique, com a apresentação dos 12 destinos ecoturistícos escolhidos pelo Governo de Moçambique, dos 17 existentes. Trata-se dos Parques Nacionais das Quirimbas, Mágoè, Gorongosa, Zinave, Lipompo, Banhine e do Arquepélago de Bazaruto; das Reservas Nacionais do Niassa, Chimanimane, Marromeu, Especial de Maputo e Marinha de Parcial da Ponta do Ouro; e a Área de Protecção Ambiental das Ilhas Primeiras e Segundas. Mutemba afirmou, na ocasião, que, nos 12 destinos, existem oportunidades de investimento para o turismo e para a conservação, todos em modelos de Parcerias Público-Privadas. Para o turismo, a fonte revelou que existem quatro modelos, o da concessão, que consiste na construção e gestão, por um privado, de uma estância turística durante 25 anos; o da concessão de dois níveis, onde uma entidade legal da comunidade obtém licença especial que lhe permite firmar parceria com entidades privadas por 25 anos; o de arrendamento, em que um privado arrenda uma estância turística para exploração de cinco a 25 anos; e o de contrato de gestão, no qual o operador privado assina um acordo com o governo para gerir uma estância turística existente. Para a conservação, o Director-Geral da ANAC fez saber que o governo recorre a três modelos, o de Gestão Delegada, onde a administração de uma determinada área de conservação firma parceria com um operador privado para desenvolver e gerir essa área entre 20 a 25 anos; a Co-gestão Integrada, onde o administração do parque ou reserva partilha a responsabilidade de gestão com um operador privado entre 20 a 25 anos; e o apoio técnico-financeiro, em que a administração do parque gere o mesmo, enquanto parceiro fornece conhecimento e recursos financeiros. Enquanto o MITADER projectava 12 destinos ecoturísticos, o Ministério da Cultura e Turismo publicitava cinco, nomeadamente, a província e cidade de Maputo; o distrito de Vilanculo e o respectivo Arquipélago de Bazaruto; o Parque Nacional da Gorongosa; o Parque Nacional das Quirimbas, que se estende as Ilhas do Ibo e a Baía de Pemba; e a Reserva do Niassa. O titular da pasta, Silva Dunduro, que só “apareceu” no último dia de uma conferência internacional do turismo, disse que o segundo plano estratégico para o desenvolvimento do sector (2016-2025) define retornos económicos e sociais, a colecta de mais de USD 2.8 biliões de receitas de turismo externo e USD 4 biliões de receitas de turismo doméstico”. Para tal, vai atrair cerca de 1.8 milhões de turistas estrangeiros e vender 5.6 milhões de viagens turísticas domésticas, para além de empregar mais de 83 mil pessoas. Ecos da Conferência Internacional do Turismo baseado na Natureza Por Abílio Maolela (texto) e Ilec Vilanculos (fotos) Comunidades estratégicas na protecção do ecossistema Especialistas defendem o envolvimento das comunidades e do sector privado na gestão dos recursos naturais Cerca de 600 pessoas discutiram as estratégias para o desenvolvimento do ecoturismo Filipe Nyusi Seretse Khama Savana 15-06-2018 EVENTOS 13 0DSXWR GH-XQKRGH $12;;91o 1275 EVENTOS O Millennium bim e o Ministério da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural (MITADER), através do Fundo Nacional de Desenvolvimento Sustentável; (FNDS), firmaram um protocolo de entendimento que cria uma linha de financiamento para investimentos em projectos de Ecoturismo, no valor total de 50 milhões de dólares. Trata-se de uma linha de crédito com “condições vantajosas” criada pelo Banco e destina-se a investimentos de micro, pequenas e mé- dias empresas, em Moçambique, contando com o fundo de garantia do FNDS. O referido acordo foi rubricado pelo PCE do Millennium bim, José Reino da Costa e pelo ministro da Terra, Ambiente e Desenvolvimento Rural, Celso Correia, aquando da realização da Conferência Internacional de Turismo Baseado na Natureza, um evento mundial que decorreu em Maputo, MITADER e Millennium bim promovem ecoturismo promovido pelo Governo de Moçambique em parceria com o Programa Global de Vida Selvagem e o Banco Mundial. Na ocasião, José Reino da Costa afirmou: “o Banco pretende, com a criação desta linha de financiamento, apoiar e inspirar os nossos empresários a investir no Ecoturismo e, assim, contribuir para o Desenvolvimento Sustentável de Moçambique”. O Millennium bim oferece, através desta linha de crédito, condições especiais de financiamento para apoio a projectos de turismo ligados à conservação da biodiversidade e ao desenvolvimento sustentável. Refira-se que esta é uma das maiores conferências mundiais sobre a conservação da vida selvagem e tem como principal objectivo promover e debater os desafios do turismo baseado na conservação da biodiversidade nas áreas de conservação no mundo e partilhar com o Mundo o rico património natural que Moçambique possui nas Áreas de Conservação. O Barclays Bank Moçambique, no âmbito da sua estratégia de acompanhar a evolução e inovação tecnológica, inaugurou , na quinta-feira finda, seu terceiro “Balcão do Futuro”, na cidade de Maputo. Desde 2016 que o Barclays tem vindo a implementar este conceito inovador, o qual materializa a sua visão estratégica de desenvolver um conjunto de serviços focados e direccionados às necessidades dos clientes, assentes em soluções digitais que simplificam as operações bancárias e facilitam Barclays inaugura mais um Balcão do Futuro a interacção entre os Clientes e o Banco. A entidade bancária pretende reforçar a sua aposta num serviço ao Cliente eficiente e inovador, com esta tipologia de balcões, juntando num único espaço o atendimento presencial e a conveniência das novas tecnologias para uma maior eficiência no atendimento. Falando na ocasião, a PCA da Barclays, Luísa Diogo, referiu que a inovação tecnológica, na banca e nos serviços financeiros em geral, é fundamental para melhor servir os nossos clientes, oferecendo-lhes soluções mais eficientes e eficazes no seu relacionamento comercial com o Banco e com terceiros e esse é o caminho diferenciador que o Barclays Bank Moçambique pretende trilhar rumo ao futuro. “Este novo Balcão do Futuro representa um longo caminho desde as nossas mais antigas origens, do extinto BPD-Banco Popular de Desenvolvimento, até ao que é hoje o Barclays Bank Moçambique. Um caminho que acompanhou todos os passos do desenvolvimento de Moçambique e de que hoje muito nos orgulhamos. A uma referência internacional na área da banca e dos serviços financeiros juntámos o que de melhor Moçambique tem para oferecer, as nossas pessoas, o nosso calor humano”, disse. “Reforço que esta é uma aposta numa proximidade ainda maior com os nossos Clientes e na sua comodidade, mas é também uma aposta na evolução e no futuro do Barclays, uma aposta na sua rentabilidade, na racionalização dos seus serviços, na produtividade e na imagem do Banco, abrindo a porta para um mundo de novas possibilidades no acesso aos melhores serviços financeiros. Esta nova realidade, representada pelo Balcão do Futuro, será cada vez mais o nosso cartão-de-visita, a nossa imagem mas, também e principalmente, a imagem de um país na corrida para o desenvolvimento, a imagem de um país que abraça as tecnologias como fonte e motor desse desenvolvimento”, acrescentou Rui Barros, Administrador Delegado do Barclays Bank Moçambique. Refira-se que, com este novo Balcão, o Barclays conta hoje com uma rede comercial de 43 agências ao serviço de seus Clientes, a nível nacional. O Barclays Bank Moçambique pretende, a curto-médio prazo, oferecer a mesma qualidade e modernidade patente nesse novo modelo em todos os seus balcões. A Escola Superior de Altos Estudos e Negócios (ESAEN), uma unidade orgânica da Universidade Politécnica, vai introduzir, a partir do segundo semestre deste ano, o curso de mestrado em Pensamento Contemporâneo e Desenvolvimento. Politécnica introduz mestrado em Pensamento Contemporâneo e Desenvolvimento Espera-se que o curso sirva de subsídio para expandir o campo referencial do indivíduo, criando massa crítica que lhe permita problematizar e questionar assuntos ligados a áreas transversais designadamente sociais, humanas, culturais, económicas, entre outras. Após a conclusão do curso, o graduado deverá ser, por um lado, capaz de demonstrar competências a nível de conhecimento, experiência, descrição e análise das manifestações sociais e humanas do mundo, do continente, da região e do País, em particular. Por outro lado, o graduado deverá ser, também, capaz de problematizar e questionar assuntos de natureza social, humana e econó- mica; promover a valorização de questões ligadas à identidade, ao património histórico e à cultura, bem como desenvolver projectos de pesquisa e estudo nas áreas social e humana. O curso, a ser leccionado nas instalações da ESAEN, na cidade de Maputo, é composto por 14 unidades curriculares de 25 horas cada e é destinado a todos os licenciados interessados por áreas ligadas às ciências sociais e humanas, independentemente da sua área de formação. Savana 15-06-2018 EVENTOS 14 C om vista a facilitar as transacções financeiras entre as pessoas residentes na cidade e nas zonas recônditas do país, o Barclays Bank, em parceria com a telefonia móvel Movitel, lançou, na passada sexta-feira, o serviço de transferência de dinheiro da carteira móvel para as contas bancárias. Para o Presidente da Comissão Executiva do Barclays, Rui Barros, a colaboração entre as duas instituições vai ter impacto considerável na vida dos seus clientes, permitindo-lhes realizar uma série de transacções financeiras entre os canais electrónicos do Barclays e a plataforma e-Mola. Barros avança que é mais uma aposta na inovação e implementação de novas tecnologias acompanhado a tendência global adaptada à nossa realidade, procurando oferecer ao mercado soluções diferenciadoras e eficazes transversais a vários segmentos. Segundo Barros, a adopção deste tipo de serviços representa a inclusão financeira, que vai gerar pequenos negócios e funcionando Barclays e Movitel unem-se para inclusão financeira como um importante catalisador do desenvolvimento da economia nacional. Estas operações estão disponíveis nas plataformas de Internet Banking, Barclays Móvel e o Barclays App. Entretanto, Safura da Conceição, Presidente do Conselho de Administração da Movitel, considera que a interoperabilidade é um dos factores chaves no processo de inclusão financeira e é neste contexto que a parceria marca o início de uma grande relação que espera trazer grandes benefícios para os clientes pela oferta de melhores serviços. Da Conceição acrescenta que a e-Mola traz consigo uma missão que é de levar os serviços financeiros às zonas rurais e às populações com menos acesso ao sistema financeiro convencional. Refira-se que o serviço de carteira móvel e-Mola foi estabelecido no ano de 2016, estando implantado há dois anos e vem crescendo no mercado facilitando a vida de parte dos clientes da Movitel com a oferta de serviços de transferência e levantamento de dinheiro nos Agentes e em ATM. (Cleusia Chirindza) O Standard Bank, um dos maiores bancos comerciais a operar em Moçambique, realiza, no dia 19 de Junho, em Maputo, o Economic Briefing, com o objectivo de fornecer contribuições sobre a economia à comunidade empresarial, para orientá-la na tomada de decisões. Trata-se de um evento anual através do qual esta instituição bancária partilha o seu conhecimento em áreas específicas com os clientes e a Standard Bank debate gestão de vulnerabilidades macroeconómicas sociedade, cujo tema é “Como gerir vulnerabilidades macroeconómicas?”. Na sua dissertação, na qualidade de Economista Chefe do Standard Bank, Fáusio Mussá vai abordar questões a considerar na gestão das vulnerabilidades macroeconómicas, que podem ser imprescindíveis para um crescimento sustentável no cenário actual da economia nacional. Uma equipa de juristas da prestigiada firma de advogados norte-americana, Miller & Chevalier, foi convidada pelo Standard Bank para debruçar-se sobre a governação corporativa, trazendo para o país alguns elementos da experiência internacional nesta área. Implantado em Moçambique há mais de 120 anos, o Standard Bank organiza, anualmente, o Economic Briefing, onde reúne cerca de 200 agentes económicos e clientes desta instituição bancária com o objectivo de apoiá-los no processo de tomada de decisão, através da partilha das expectativas da evolução da economia moçambicana, regional e mundial. C omprometido com a melhoria das condições de vida nas áreas da educação e saúde, o casino Polana procedeu, esta quarta-feira, à entrega de quatro cheques a igual número de organizações que vão investir em sectores em causa. Segundo Danilo Mussá, director de Marketing do Casino, o governo impôs a obrigatoriedade da instituição alocar, anualmente, 2% dos seus lucros, para iniciativas da responsabilidade social. De forma a tornar o processo mais transparente e abrangente, o Casino lançou, no princípio deste ano, um concurso público para seleccionar os melhores projectos. Trata-se da Fundação Bruno Morgado que vai reabilitar a Escola Primária Completa Unidade 18, localizada no bairro do Aeroporto, com 775 mil meticais. Segundo o representante da Fundação, as obras vão contemplar a construção do muro traseiro de vedação, casas de banhos, bloco de ensino e administrativo. Louvou a iniciativa do Casino porque vai melhorar as condições de ensino de cerca de 2000 alunos. A Fundação Rizwan Adatia, com um projecto avaliado em 775 mil meticais, vai realizar operações de cataratas para 600 pacientes, sendo Casino Polana investe na educação e saúde 300 no Hospital Geral de Mavalane e outra metade no Hospital Provincial de Maputo. As campanhas vão decorrer entre os meses de Julho e Dezembro, respectivamente. A Fundação Adatia destacou que um país próspero depende da participação de todos, sendo que este gesto visa responder essa questão. Com um projecto de 720 mil meticais foi financiada a CERCI, uma escola que lida com crianças que carecem de cuidados educativos especiais. Por último foi a Associação Ntumbuluko que vai promover educação ambiental em seis escolas primárias, com um valor de 710 mil meticais. Depois da alocação dos fundos, Danilo Mussá diz que os próximos passos são a monitoria da execução dos projectos vencedores, bem como manter olhar nos que não foram seleccionados para que sejam privilegiados próximo ano. No entanto, Mussá manifestou a sua preocupação com a falta de observância, por parte do governo, das regras de concorrências neste tipo de negócios. É que a 500 metros do casino está um concorrente e, segundo o director de marketing, o normal era de colocá-lo num outro ponto ou cidade, uma vez que Moçambique não tem uma forte cultura de jogo. N um contexto em que se descute o impacto dos mega projectos na biodiversidade e sobretudo o papel do governo como entidade reguladora, a Biofund diz que, de 2016 a esta parte, já desembolsou cerca um milhão de dólares norte americanos destinados à conservação da biodiversidade. Estes dados foram tornados públicos no decurso do fórum sobre a harmonização do desenvolvimento e conservação da biodiversidade, realizado, recentemente, em Maputo. BIOFUND já injectou USD1 milhão Em termos de área de conservação, a organização apontou que o país já alcançou cerca de 26% e está dentro daquilo que foi definido nos objectivos globais. Na parte marinha, ainda estamos muito atrás, porque ainda estamos em cerca de 2% quando o objectivo internacional são 10%. Um dos desafios apontados por àquela organização é o da capacitação do pessoal ligado ao governo e não só, mas também em matéria de avaliação e impacto ambiental de projectos, até porque Moçambique tem compromissos internacionais. Este fórum serviu para partilhar as melhores práticas internacionais e explorar abordagens que ajudem a equilibrar a necessidade de desenvolvimento económico e a urgência da conservação do património natural de Moçambique. O evento contou com a presença de membros do governo, agências bilaterais, organizações da sociedade civil e sector privado. (Redacção) Savana 15-06-2018 EVENTOS 15 PUBLICIDADE 16 Savana 15-06-2018 SOCIEDADE SOCIEDADE O Presidente da República, Filipe Nyusi, apelou, semana finda, aos empreiteiros nacionais para denunciarem actos de corrupção que abundam no sector da construção e tiram prestígio aos moçambicanos. Segundo Nyusi, que falava num encontro com empreiteiros da cidade e província de Maputo, a denúncia não pode acontecer como forma de chantagem, caso um determinado empreiteiro não ganhe um concurso. Abordou a necessidade de se apostar forte em obras de qualidade, de modo a inverter-se a imagem de que as empresas nacionais de construção elogiou os filiados da FME, assinalando a criação de empregos e a transferência de conhecimento nos diversos projectos que levam a cabo nos diferentes cantos do país. De seguida, colocou o dedo na ferida e referiu que é preciso que as empresas nacionais de construção dignifiquem o país. Para Nyusi, há uma percepção pú- blica de que as empresas moçambicanas deste sector são sinónimos de demora e má qualidade na execução das obras. O chefe de Estado apontou o cená- rio de obras cuja execução viola os prazos e construções abandonadas, como um cancro que afecta o sector. A corrupção é outro mal de que enferma a construção e, para Nyusi, Nyusi zangado com qualidade das obras Por Argunaldo Nhampossa ro para investirem, de modo a não dependerem totalmente da disponibilidade de fundos públicos. A descentralização não ficou fora da conversa e, segundo o PR, é preciso que os empreiteiros acompanhem os cenários políticos nacionais de modo que não fiquem fora do jogo. Argumentou que, com a descentralização, haverá mudanças no modelo de adjudicação das obras públicas pelo que é de extrema importância que os empreiteiros estejam actualizados e se preparem para enfrentar os desafios dos próximos tempos. são sinónimo de demora e de má qualidade nos seus trabalhos. O encontro era muito aguardado pelos filiados à Federação Moçambicana dos Empreiteiros (FME) da cidade e província de Maputo, por considerarem uma oportunidade ímpar para apresentarem ao chefe de Estado as dificuldades que enfrentam desde a eclosão da crise que assola o país. O atraso no arranque do encontro acabou por gorar as espectativas dos empreiteiros. Protecção dos empreiteiros locais O presidente da FME, Manuel Pereira, disse que o país está em construção, pelo que o sector é chamado a colocar-se na linha da frente para assegurar a materialização dos grandes objectivos de desenvolvimento, que passam por prouver o país de infra-estruturas económicas e sociais capazes e condignas. Disse que está em voga o debate em torno da qualidade e resiliências das infra-estruturas, que se tornou mais pertinente em face das calamidades naturais, que ciclicamente fustigam o país. Solicitou a criação de políticas e estratégias que promovam o desenvolvimento das empresas nacionais e da indústria nacional de construção em geral. Manuel Pereira defendeu a necessidade de protecção das empresas nacionais, no desenvolvimento da capacidade dos empreiteiros, distribuição justa de oportunidades e foco na qualidade das obras entre outros. Denúncia da corrupção Na sua intervenção, Filipe Nyusi este mal e a troca de favores devem ser erradicados porque encarecem o custo das obras públicas. Apelou aos presentes para denunciarem práticas do género porque não ajudam no desenvolvimento do país. “Vocês dizem que o governo deve combater a corrupção, mas não denunciam. Por vezes, vocês são agentes activos da corrupção. Mas também não é para denunciar como forma de chantagem por não terem ganho um determinado concurso”, disse. Apontou o sector do licenciamento e a fiscalização como sendo os mais permeáveis à corrupção, indicando os projectistas que entregam “projectos incompletos”, sem janelas ou casas de banho. Garantiu que o Governo vai pagar as dívidas às empresas de construção civil, dado que já há uma margem orçamental para isso. Desafiou os empreiteiros a elevarem os seus níveis de qualidade e a cultivarem um traçado genuinamente moçambicano na construção, porque o desejo do executivo é de internacionalizar as empresas moçambicanas. Comprometeu-se a priorizar as construtoras nacionais nos concursos públicos, mas entende que há necessidade de diversificação das suas actividades, porque no mercado nacional são poucas as empresas que sabem fazer pontes, asfaltagem de estradas, entre outros. Entende Nyusi que é chegado também o momento de as empresas arregaçarem as mangas e terem iniciativas de ir à banca buscar dinheiFelipe Nyusi reunido com empreteiros na cidade e província de Maputo 18 Savana 15-06-2018 INTERNACIONAL A cimeira Trump-Kim foi seguida em todo o mundo e revestiu-se de um elevado peso simbólico. Para lá dos acordos, dos elogios e dos apertos de mão afáveis, também se registaram momentos curiosos. Donald Trump e Kim Jong-un encontraram-se esta terça-feira, em Singapura, para uma cimeira que foi o culminar de meses de preparação (e que resistiu a uma ameaça de cancelamento pelo meio). Mas nem só de diplomacia se fez este dia, marcado também por momentos de descontracção entre os dois líderes: da piada falhada de Trump à escolha da ementa que deixou os norte-coreanos boquiabertos. Foi a primeira vez que um líder norte-americano e norte-coreano em funções se encontraram para assinar um documento que, apesar de ter desapontado alguns analistas, promete a desnuclearização “total” da península coreana – tal como Trump queria. E apesar da importância conferida a este encontro, houve alguns momentos caricatos. As belas praias norte-coreanas Donald Trump herdou uma grande na tradução, a avaliar pela expressão desconfiada de Kim. Em Novembro de 2017, os dois lí- deres trocavam insultos. Trump chamou “baixo e gordo” a Kim Jong-un, depois de este o ter apelidado de “velho”. A ementa que espantou os norte-coreanos A ementa do almoço de trabalho deixou os norte-coreanos boquiabertos. É que um dos pratos, chamado “oiseon”, pepino recheado com carne de vaca, ovos e cenoura, é um prato histórico, mas incomum, que costumava ser servido nas cortes da família real coreana. Para se perceber o espanto da comitiva norte-coreana, a BBC explica que “seria como se o primeiro-ministro britânico se sentasse a comer com um dignitário e lhe oferecesse cisne assado – um dos pratos favoritos de Henrique VIII”. Os coreanos mais jovens chegaram a confundir o prato com “oisobagi”, kimchi de pepino, bem mais comum. Para Trump, o menu foi diferente. A entrada foi um cocktail de camarão com salada de abacate. O prato principal foi costeleta de novilho com batata, brócolos e molho de vinho tinto e para a sobremesa, estava preparado gelado Häagen-Dazs de baunilha com coulis de cereja. Para além disso, houve ainda um terceiro prato, para que os anfitriões pudessem mostrar um pouco da cultura singapurense. O porco agridoce e arroz frito à moda de Yangzhou e o Kerabu de manga verde com molho de lima e polvo fresco, mostraram a herança deixada pelos chineses, malaios e indianos no país. A “besta”, a limousine blindada Depois das reuniões, Trump mostrou a limousine presidencial a Kim – um automóvel preto, blindado, tão grande que foi apodado de “besta”. O momento caricato foi captado em vídeo e altamente fotografado e as imagens mostram o líder norte-coreano a olhar de forma breve para dentro do carro. Antes do início da reunião, foram disponibilizadas duas canetas para a assinatura do documento final. De acordo com as imagens, eram pretas e tinham a assinatura de Donald Trump a dourado. Momentos antes da assinatura, a irmã do líder norte-coreano entregou-lhe uma esferográfica. Não é clara a razão que motivou esta alteração. Público.pt fortuna criada a partir do negócio imobiliário e tem hotéis com o nome dele espalhados um pouco por todo o mundo. E tem queda para o negócio. Pelo menos, foi o que deu a entender o comentário dele, proferido junto de jornalistas antes de se encontrar com Kim. “Eles [na Coreia do Norte] têm óptimas praias. Quando eles explodem os canhões deles para o oceano eu digo “Ena, olhem para aquela vista. Não daria um óptimo condomínio?’”, disse Trump. “Em vez de fazerem isso podiam ter aí um bom hotel.” Actualmente, o Governo norte-americano desaconselha as viagens à Coreia do Norte. Os norte-americanos aconselham ainda os cidadãos a escrever um testamento antes da partida. A piada de Trump que Kim não percebeu No início do almoço, antes de se sentarem, o Presidente norte-americano pediu aos fotógrafos que tirassem uma fotografia em que os dois líderes estivessem “bem e giros e magros e perfeitos”. Apesar do tom aparentemente humorístico, a piada não foi bem-sucedida – ou então perdeu-se A piada falhada de Trump e as “belas praias” norte-coreanas Cimeira EUA-Coreia do Norte D esta vez não foram imagens de mortos afogados no mar Mediterrâneo. Desta vez foram 629 migrantes de África parados no meio do mar à espera que o navio que os salvou da morte pudesse atracar num porto seguro. Malta negou e Itália fechou os portos. Desta vez os migrantes do navio Aquarius foram vítimas de outro (mais um) tipo de abuso: tornaram-se instrumentos de propaganda política. Portos e chaves de fenda O novo ministro do Interior italiano, Matteo Salvini, fechou os portos italianos e as imagens de desesperados no navio no meio do mar deram a volta ao mundo. O que não conseguiu fazer Viktor Orbán, na Hungria, com o seu muro anti-imigrantes, conseguiu Salvini após apenas duas semanas de governação: usar a imigração como “chave de fenda” para romper as políticas de Bruxelas. O navio Aquarius, da ong “SOS Mediterranée”, acabou por seguir a rota de Espanha - onde o novo PM em nome da solidariedade e humanismo ofereceu o porto de Valência para desembarcar - acompanhado por dois barcos italianos. Faltam apenas duas semanas para o decisivo Conselho Europeu de 28 e 29 de Junho sobre a imigração e a União Europeia nunca apareceu tão desunida e confusa, com insultos e palavrões entre governantes. Além dos compromissos com a União Europeia, Itália violou o direito internacional que impõe como prioridade absoluta a salvação das pessoas que se encontram em perigo no mar. Mas a “partida” dos imigrantes é fulcral sendo que os vários países da UE não respeitam totalmente os acordos de acolhimento e recolocação dos migrantes e Itália se sente sozinha, na sua posição geográfica. O braço de ferro, segundo, Salvini, valeu: “Finalmente, as maneiras fortes serviram!”, foi o seu grito de “vitória”. “Vomitivo”, respondeu o porta-voz de Emmanuel Macron, o presidente francês. A chanceler alemã Angela Merkel lançou o alarme: “sobre a imigração ilegal temos de responder de forma unitária. Este tema tem todo o potencial para destruir a Europa”. 9LVWRVHPiÀDV A matança no Mediterrâneo de pessoas vindas dos países africanos para os Países europeus começou quando Europa decidiu dificultar os vistos. Como escreveu um jornalista italiano, Gabriele Del Grande, numa carta dirigida para o Ministro do Interior italiano, vivemos num mundo globalizado, onde os trabalhadores se mudam de um lugar para outro em busca de um salário melhor. A Europa, que há muitos anos tem vindo importar mão-de-obra a baixo custo, tem assinado vários acordos de livre circulação com muitos países extraeuropeus. Mas continua a proibir aos trabalhadores africanos de emigrar legalmente no seu território. Por outras palavras, as embaixadas europeias em África pararam de emitir vistos ou tornaram quase impossível o processo de o obter. Chegamos a um ponto em que a única via possí- vel para a emigração de África para Europa é aquela das organizações criminosas líbias que operam como traficantes de seres humanos, ao lado dos campos de concentração onde ficam os migrantes antes de serem vendidos ou embarcados nas barcaças podres que vagueiam no Mediterrâ- neo. As máfias líbias detêm o monopólio da mobilidade sul-norte do Mediterrâneo central, conseguindo passar até cem mil passageiros por ano com uma faturação de centenas de milhões de dólares. E milhares de mortos. E a questão líbia é central nesta história. “Porque eu continuo a não perceber a razão pela qual um jovem de Lagos ou de Bamako, tenha de gastar cinco mil euros para passar o deserto e o mar, ser detido na Líbia, torturado, vendido, ver morrer os colegas de viagem e chegar a Itália se calhar depois de um ano, traumatizado, sem um tostão, quando com um visto no passaporte poderia ter comprado uma passagem de quinhentos euros e gastar o resto do dinheiro para alugar um quarto e procurar um emprego”, escreveu Gabriele Grande. “Exactamente como fizeram cinco milhões de italianos, eu inclusive, emigrados no estrangeiro durante as últimas dé- cadas. Exactamente como queriam fazer as cem mil pessoas parqueadas no limbo do acolhimento”. Crise económica, medo, segurança, empobrecimento, e teoria do caos. E assim se alimenta uma guerra entre pobres, no velho continente. Países de origem mudos Na Itália, por exemplo, o processo para ter uma autorização de residência demora anos, e sem a garantia que seja reconhecida. E, ainda mais grave, pedir o asilo político demora até dois anos. E quando os papéis não chegam, os imigrados nem podem ser repatriados porque já são demasiado numerosos os que estão “parqueados no limbo do acolhimento”. Também porque não existe colaboração com os seus países de origem. Significa, portanto, que dentro de um ano, por exemplo, cinquenta mil pessoas estarão sem documentos a alimentar o trabalho clandestino. UE/UA despedaçadas O tema migratório recebeu maior atenção política por parte da UE, ultimamente. Emblemas desta preocupação foram a convocação extraordinária de La Valletta (Malta) em 2015, dedicada exclusivamente ao fenómeno migratório e a análise da utilização dos dinheiros do Trust Fund para África, cujos recursos deveriam ser destinados para a criação de ocupação, sobretudo para os jovens, e o desenvolvimento económico. Todavia, a maior parte dos recursos foram utilizados para com objectivos securitários como o controlo das fronteiras para a gestão do fenómeno migrató- rio, descurando as causas profundas do próprio fenómeno. Também na V cimeira União Europeia/União Africana em Abidjan, na Costa de Marfim, no ano passado, a gestão dos fluxos migratórios foi um dos temas centrais. Essa foi uma cimeira particularmente importante sendo a primeira entre organizações regionais comparáveis: antes a UE encontrava a “África”. A narração da parceria tentou ser “com África” abandonando o velho “para África”. Mas os compromissos, mesmo se válidos, tornam-se a cada dia presa das necessidades de curto prazo. E a história do navio Aquarius no meio do mar é um dos mais recentes exemplos. E para aprofundar a parceria entre os dois continentes, divididos apenas por 14 quilómetros de mar, é fundamental reforçar a União Africana, considerado que a sua integração política (e não só) não é ainda bastante sólida para lhe garantir aquela coesão interna necessária para dirigir a agenda na parceria. Mas será só por isso que nem uma palavra veio de nenhum representante da União Africana sobre a tragédia dos africanos do navio Aquarius? *Especial para o SAVANA Chora, amado Aquarius Por Paola Rolletta, em Roma* Kim Jong-un e Donald Trump no encontro histórico em Singapura Savana 15-06-2018 19 OPINIÃO Registado sob número 007/RRA/DNI/93 NUIT: 400109001 Propriedade da Maputo-República de Moçambique KOk NAM Director Emérito Conselho de Administração: Fernando B. de Lima (presidente) e Naita Ussene Direcção, Redacção e Administração: AV. Amílcar Cabral nr.1049 cp 73 Telefones: (+258)21301737,823171100, 843171100 Editor: Fernando Gonçalves editorsav@mediacoop.co.mz Editor Executivo: Francisco Carmona (franciscocarmona@mediacoop.co.mz) Redacção: Raúl Senda, Abdul Sulemane, Argunaldo Nhampossa, Armando Nhantumbo e Abílio Maolela )RWRJUDÀD Naita Ussene (editor) e Ilec Vilanculos Colaboradores Permanentes: Fernando Manuel, Fernando Lima, António Cabrita, Carlos Serra, Ivone Soares, Luis Guevane, João Mosca, Paulo Mubalo (Desporto). Colaboradores: André Catueira (Manica) Aunício Silva (Nampula) Eugénio Arão (Inhambane) António Munaíta (Zambézia) Maquetização: Auscêncio Machavane e Hermenegildo Timana. Revisão Gervásio Nhalicale Publicidade Benvinda Tamele (82 3171100) (benvinda.tamele@mediacoop.co.mz) Distribuição: Miguel Bila (824576190 / 840135281) (miguel.bila@mediacoop.co.mz) (incluindo via e-mail e PDF) Fax: +258 21302402 (Redacção) 82 3051790 (Publicidade/Directo) Delegação da Beira Prédio Aruanga, nº 32 – 1º andar, A Telefone: (+258) 82 / 843171100 savana@mediacoop.co.mz Redacção admc@mediacoop.co.mz Administração www.savana.co.mz Cartoon EDITORIAL Na vida urbana: Os pobres saem sempre a perder Um marciano, por avaria da nave, desceu em Moçambique de pára-quedas. Leu o jornal para se enquadrar minimamente no contexto a que veio parar e deparou com esta notícia: «O tenente-general Ossufo Momade, o dirigente interino do Partido Renamo, deixou a cidade de Maputo e passa a residir na Gorongosa, na base militar do partido de Afonso Dhlakama. E justifica o próprio: “Eu, sendo o actual dirigente do partido não me senti seguro aí na cidade. A Frelimo podia instruir os seus homens para me fazerem mal. Estando aqui na Serra, eu fico mais seguro. ( ) A minha decisão não tem outro objectivo senão salvaguardar a minha integridade.”» O marciano procura então no jornal por uma tentativa de dissuasão, um apelo, um desmentido da Frelimo - em vão. Depois passa à página do internacional e lê que foi considerado histórico o aperto de mãos entre o maior vendedor de armas do mundo e o ditador coreano. E vê-os a sorrirem francamente um para o outro, como se uma igual legitimidade os confortasse e uma afinidade subterrânea os ligasse, para além do aparato retórico. Há um clima amistoso entre ambos, as fotos do encontro denotam que estão descontraídos, no seu natural, Trump está em casa, como não conseguiu estar entre os pares no G7, na semana passada, onde a sua crispação era visível. Ora aqui, devido à sua obstinada agenda da “América primeiro” o seu comportamento fora de tal forma arredio aos argumentos – e mais uma vez Trump tinha estudado mal a lição - que foi considerado por todos um “cretino” e um espírito “infantil”. Dois dias depois, o seu conforto é patente, lado a lado com o jovem ditador, e coitado, quer-nos fazer crer que desta vez a sua prioridade é “o mundo primeiro”. A pergunta que se impõe é: que foi ele negociar, sob o álibi da desnuclearizarão? Como o marciano gosta de ler Histó- ria, pôs-se a imaginar se o Churchill seria tão amistoso com o Hitler e rapidamente conclui que muito mudou nos paradigmas sociais para um líder democrático apresentar como respeitoso um jovem ditador e para que a sua linguagem-não- verbal se mostrasse tão díspar entre um encontro e outro. Em ambas as notícias, pensa o marciano, ilustram-nos mais os comportamentos do que aquilo que se diz. O que evidentemente é-lhe mais fácil porque à partida está descontextualizado. Portanto, descontextualizar ajuda-nos a discernir. E que sinais discernimos afinal, nas duas situações? É aqui que a porca torce o rabo. E para dar razão àqueles que dizem que eu só cito, vou citar. E cito Bernard Stiegler, e um livrinho essencial para nos ajudar a compreender os riscos desta era hiperindustrial, Da miséria simbólica (Lisboa, Orfeu Negro, 2018), onde a páginas tantas se lê: «O mal-estar que afecta a época presente caracteriza-se pelo fato de que eu posso cada vez menos, cada vez mais dificilmente senão mesmo já não posso de todo projectar-me num nós (…) o nós está gravemente doente. ( ) O mal-estar dos indivíduos resulta da instalação desse estado de facto e traduz-se por somatizações, neuroses e comportamentos obsessivos, de compensações ou de fuga» (que podem conduzir à violência e à desvinculação). A perda de um “nós” acarreta «uma ferida narcísica que se exaspera para logo se afundar, traduzindo-se numa perda de singularidade onde se perde a respectiva imagem». E aí, diz o autor, o amor-próprio é destruído e as pessoas não se sentindo já capazes de se projectarem num mundo condicionado (ou onde o egoísmo financeiro ou o apego ao poder ficaram demasiado explícitos) tornam-se menos capazes de amar, ao mesmo tempo que prospera o viagra e os filmes pornográficos e todos os valores se tornam venais, etc., etc. Que tem isto a ver connosco, perguntará o leitor. Em Lisboa, como tenho filhas na universidade, estive várias vezes na comunidade dos jovens estudantes moçambicanos, e vi que há neste momento unanimidade num ponto: se puderem não voltam. Não encontrei um único estudante que, em podendo ficar, queira voltar, porque considera que as suas espectativas sairiam invariavelmente frustradas. Porquê? Porque não se revêm no seu país de origem, perderam a esperança de que haja um “nós” e a confiança nas práticas políticas em uso no país. É a debandada de técnicos, como efeito de uma política de duplo sinal e de uma surdez atemorizadora. Não creio de todo que possa ser um sintoma retemperador e que galvanize a identidade de um país a ideia de que só fica quem não possa partir. Terminemos com um poema, amenizador: «No saibro do caminho/ a lama amareleja nas covas// baloiça o mini// setecentas covas/ até o destino// da íris,// miraculosa.» É um poema de amor, do Aurelino Costa, e que nos lembra que o amor, como os países também é uma construção que dá muito trabalhinho e muitas guinadas nos rins. Ah, o nosso marciano achou melhor ir tentar encontrar um mecânico quântico para lhe arranjar a nave numa lua de Saturno, que considera menos perigosa do que o clima que encontrou neste rincão plantado à beira Índico e bazou, não sem antes me ter confiado: vi um filme desse tarado do João de César Monteiro e só gostei duma frase do filme, quando alguém recomenda à personagem: Vai trabalhar! Acho que não é isso que lá está, os marcianos também se enganam. É de William Shakespeare, esse grande escritor da língua inglesa, a expressão que diz que “a discrição é a melhor parte da bravura”. O que para outros se traduziria em qualquer coisa como, não diga tudo o que pensa, mas pense sempre bem no que diz. E será o que nos faz lembrar a intervenção do Presidente Filipe Nyusi na semana passada, quando em visita à cidade de Maputo, se insurgiu contra os manifestantes que dias antes haviam bloqueado a estrada circular da capital, exigindo que fossem tomadas medidas para mitigar a incidência de atropelamentos fatais na zona de Chiango. Aqueles que sentem dificuldades em se inserir no meio urbano que saiam, disse o Presidente, ao mesmo tempo que, parecendo irritado, sugeria a existência de alguém (que parece ser do seu conhecimento) especializado em agitar as populações a rebelarem-se contra as autoridades. Fez lembrar Donald Trump, quando se pronunciou sobre jogadores do NFL, que numa manifestação de indignação perante a brutalidade policial e desigualdades raciais, tomaram a decisão de ajoelhar enquanto se entoava o Hino Nacional, na abertura da época do futebol americano. Depois de acusar os jogadores de anti-patriotas e desrespeitadores dos símbolos da nação americana, Trump sugeriu que eles deveriam sair do país. E alguém retorquiu: “sendo americanos, é para irem viver aonde”? No mesmo dia da manifestação de Chiango, o vereador do município de Maputo para os transportes, João Matlombe, teria dito, em resposta ao pedido da população para que uma das medidas fosse a instalação de uma ponte para a passagem de peões, que mesmo que isso fosse feito, a população não a iria usar, por uma questão de preguiça. E para se justificar deu o exemplo das duas pontes ao longo da Estrada Nacional Número 4 e de uma outra no bairro do Benfica, na EN1, as quais alegou que não estavam a ser usadas pela população. Alguns dias depois das declarações do Presidente Nyusi, circulou nas plataformas sociais uma mensagem violenta, em que os seus mentores diziam que desde que nasceram nunca conheceram um outro lugar que não seja a cidade de Maputo. Acrescentavam que não sabiam como é que as pessoas se preparavam para viver na cidade de Maputo. “Será pela condição social? Será pelo grau de habilitação (sic)? Será pela idade?” Há uma tendência humana em que os rurais de ontem tendem a apagar as suas origens, para serem mais urbanos que os próprios urbanos. Dias depois de toda esta retórica presidencial, do nosso ponto de vista absolutamente desnecessária, o Presidente visitou a estrada circular, precisamente na zona onde tinham ocorrido as manifestações, e foi manifestar solidariedade à família da criança cujo atropelamento tinha provocado o protesto popular. No dia seguinte lá estavam a ser lançados os alicerces para a construção da ponte que a população havia pedido. A questão aqui não é de saber quem, afinal, tinha razão. E não nos compete dar lições a sábios. O que podemos dizer é que líderes devem aprender a ouvir aqueles que os elegeram para os altos cargos que ocupam. Quando pobres se queixam das precárias condições em que vivem, mesmo que isso seja uma trivialidade, é sempre aconselhável parar, nem que seja por um minuto só, e reflectir se não haverá algum grão de justeza nas suas reivindicações. Não custa muito satisfazer as pessoas cuja única coisa que pedem é uma ponte que lhes permita atravessar uma estrada bastante movimentada, em condições de segurança. Porque, de facto, se justiça tivesse de ser feita, o que deveriam pedir é que a construção de uma estrada para facilitar a circulação dos que têm o poder de adquirir viaturas, nunca deveria ser feito ao custo da rotina das suas vidas. Poderiam exigir, por exemplo, que no lugar de terem de ser eles a subir seis metros para atravessar a estrada, deveriam ser as viaturas a passarem por um túnel ou por cima de um viaduto construído para o efeito. E não estariam a exagerar. Mas nestas coisas de modernismo e desenvolvimento, os pobres saem sempre a perder. Fábula do marciano 20 Savana 15-06-2018 OPINIÃO SACO AZUL Por Luís Guevane E ntre a Ponte da Costa do Sol e o Bairro Chiango os embaraços parecem ser um pouco mais severos quando comparados com a secção I. Encontramos duas a três situações concretas. Duas, se considerarmos o troço da “Circular” nesta secção. Mas, três, se incluirmos o desvio para o Bairro dos Pescadores (que, tecnicamente, não faz parte da secção II). Ainda assim, comecemos pelo referido “desvio”. Umas boas dezenas de metros depois da Ponte da Costa do Sol, há um desvio para a direita que traz à tona a discussão sobre se a mobilidade urbana visa beneficiar o cidadão comum ou o tráfego automóvel. Numa situação de normalidade no funcionamento dos transportes públicos, com o cumprimento rígido de horários e de rotas, com elevados ou aceitáveis padrões de profissionalismo por parte das empresas de transportes, manutenção das vias e dos Da “Circular”: secção II autocarros, entre outros aspectos, poderíamos estar a pensar no cidadão. O “desvio”, historicamente importante, não ganhou com a “Circular”, o que é estranhíssimo. Impacto zero se considerarmos a mobilidade e o precário estado da via em terra batida que volta a ligar-se à “Circular”. Não é, pois, necessário um levantamento popular para que esta extensão seja melhorada. Percorrendo pela “Circular”, nesta secção, e fugindo ao “desvio”, encontramos duas situações que merecem a lupa da engenharia. A primeira, é o efeito da rotunda, à saída da “Casa Jovem” e, mais adiante, a segunda, tem a ver com a relação entre a “Circular” e a Escola Primária Completa de Chiango. O que aqui se apresenta como discussão é o chamado “erro humano” defendido por alguns sectores da Sociedade. Se formos no sentido da Ponte da Costa do Sol em direção a Chiango a referida rotunda (da Casa Jovem) não apresenta danos (dignos de reparo) provocados pelos automobilistas. Entretanto, no sentido contrário, os embates com rotunda têm sido frequentes, quase que diários, danificando-a. A tese do “erro humano” deve aqui ser colocada não só na perspectiva de se deitar as culpas aos automobilistas “distraídos” como, também, na perspectiva da “engenharia” em si, olhando para os seus responsáveis. Por que razão os danos são frequentes (exclusivamente) num só sentido? A rotunda tem tido um efeito devastador não só sobre os veículos automóveis como também sobre os seus proprietários. Lembremo-nos que à noite a iluminação é zero. Quem assume os prejuízos? Carece isto de algum tumulto por parte dos automobilistas quando já se sabe que é algo que vem sendo acompanhado por quem de direito? Sobre a relação entre a “Circular” e a EPC de Chiango dois aspectos, entre outros, saltam à vista: o primeiro prende-se com o facto de o traçado esboçado e materializado não ter tomado em conta, ao que parece, a existência de uma escola primária em período activo; com os alunos a atravessar a estrada. Considerou-se a escola como algo passivo, sem alunos, sem necessidade de se prever possíveis impactos sobre a vida dos petizes, sem necessidade de uma ponte pedonal. Foi necessária a presença do Presidente da República para se poder pensar nos alunos, nos residentes e numa ponte pedonal (não prevista inicialmente) que assim surgiu como resultado da mediatização da perda de uma vida. Oxalá seja consistente e segura. O segundo aspecto prende-se com a canalização dos problemas aos secretá- rios dos bairros. Os tumultos ocorridos são um bom indicador da qualidade de relações e do nível de confiança existente entre os residentes (ou comunidades) e as estruturas locais (que deixa muito a desejar). As falhas que se observam na “Circular” devem ser corrigidas sim, mas a questão da responsabilização não deve ser colocada de lado. Valerá a pena o “olho por olho e dente por dente”? N o discurso que proferiu no acto da tomada de posse para o seu segundo e último mandato como Presidente eleito, ele fez jus à aura que o rodeava desde o segundo dos cinco anos do seu mandato anterior: a de um excelente comunicador. Desde a simples inauguração de uma padaria até cimeiras continentais ou mundiais, passando pelas aberturas de simpósios, seminários, palestras ou debates, sempre se tinha revelado homem de discursos directos, simples e profundos, que brilhavam, não tanto pela originalidade dos seus temas ou das suas ideias, muito menos pela ousadia das soluções propostas ou pela pertinência dos assuntos em apreço. Os seus discursos brilhavam pelo excelente domínio que denotavam da língua em que estavam escritos – a língua portuguesa, neste caso. Esta faceta de comunicador nato era tanto mais notável, quanto contrastava fortemente com o que se passava quando ele era por alguma circunstância obrigado a dirigir-se ao público em discurso improvisado. Aí o seu desempenho atingia quase os níveis de desastre: entaramelava a língua, comia metade das palavras e, mais grave do que isso, cometia erros crassos de concordância e até mesmo de construção das frases que se propunha pronunciar. Era um desconcerto. Mas este desconcerto tinha uma explicação simples, para quem conhecesse a profundeza das suas causas. Por trás dos seus discursos estava um homem pacato, que passava quase despercebido, e que, aliás, não fazia nenhum esforço para se fazer notar. Aos 62 anos, Pedro Xavier Massingarela era o produto acabado da educação a que tinha sido sujeito na infância. Filho de um proeminente pastor da Igreja Metodista Unida, tinha sido sujeito a uma educação severa, que, não só tinha atrofiado partes importantes dos seus traços de carácter, como até, em muitos casos, tinha simplesmente castrado ou soterrado a sua formação. O seu carácter de pessoa pouco faladora, com extremas dificuldades em expressar-se ou comunicar oralmente os seus próprios pensamentos, ideias ou opiniões, tinha-lhe valido, durante os tempos do liceu, do 3.º ao 5.º ano, a alcunha de amorfo, e mais tarde, no cumprimento do serviço militar (e porque tivesse, para agravar a situação, a especialidade de amanuense), a de furriel mata-borrão. Pedro Massingarela não dava mostras de se aborrecer muito com isso. Pelo contrário, a sua postura, a rectidão do seu carácter, em vez de lhe merecerem chacota, inspiravam sempre respeito e quase veneração em quem com ele se relacionasse e convivesse, tanto profissional como socialmente. Aos 45 anos, respondendo a um concurso público, ingressou no quadro de pessoal do palácio presidencial. Não passava de um simples escriturário do Gabinete do Presidente, com incumbências muito modestas. Também não pediu nada mais do que isso. No fundo, o que ele queria era sossego, porque, apesar do seu aspecto pacato e discreto, todo o seu ser e a sua mente fervilhavam numa procura contínua de se manifestar. Quando os trabalhadores do palácio entenderam oferecer ao Presidente, ainda no seu primeiro mandato, uma festa surpresa por ocasião do seu 57.º aniversário, o Chefe do Gabinete presidencial mostrou-se atrapalhado com o discurso que teria de fazer na ocasião, uma vez que não se via capaz de ultrapassar o que tinha feito no ano anterior. Então, no fundo do escritório, ouviu-se a voz de Pedro Massingarela – «Chefe, eu posso elaborar esse discurso.» O chefe olhou para Pedro e disse – «Tu?» «Sim, chefe, eu mesmo. Ao menos deixe-me tentar.» A leitura do discurso, perante o Presidente e os trabalhadores do palácio que o felicitavam, gerou um espanto geral: o texto era simples, profundo, humano, cheio de insinuações, com um sublime sentido de humor, muita ironia e, até onde o permitiam as regras, uma certa cumplicidade. No dia seguinte, o presidente chamou a si o Chefe do Gabinete e disse-lhe – «Parabéns pelo discurso! Fizeste-o com primor.» O chefe foi honesto – «Não fui eu, Excelência. Quem o elaborou foi o Pedro Massingarela.» «Quem é esse?» «É um dos meus colaboradores.» – E quando o chefe do Gabinete lhe descreveu as características físicas do Massingarela, o Presidente quase caiu de costas – «Aquele ser 584 Email: diariodeumsociologo@gmail.com Portal: http://oficinadesociologia.blogspot.com apagado que está sempre aí a olhar para o seu umbigo e não diz nada?! Sabe que estou aqui há quase 2 anos e nunca ouvi a voz dele? Nem sequer a rir.» «Foi ele mesmo.» «Chame-o.» Pecar por defeito – Parte I Uma coleção internacional [7] Savana 15-06-2018 21 PUBLICIDADE 22 Savana 15-06-2018 DESPORTO A despeito da boa prestação dos atletas moçambicanos em competições internacionais de vela e canoagem, o presidente da Federação Moçambicana das respectivas modalidades, Hélio da Rosa Alberto, reconhece que o país ainda não está preparado para apoiar as duas modalidades como seria de desejar, tendo em conta os altos custos dos materiais. Prova disso é que os nossos atletas continuam a usar barcos ultrapassados, casos da nelo 4 e pagaias, com o agravante de esses materiais não existirem no mercado interno. Seguem os excertos mais importantes da entrevista. -Consta-nos que a federação que dirige trabalha com meios precá- rios. Quer detalhar? -Bem, o que posso dizer é que à semelhança de outras modalidades, a vela e a canoagem enfrentam dificuldades como a falta de fundos e de material. Temos na canoagem 30 barcos e na vela 35 da classe olímpica e 36 da classe de iniciação, mas foram adquiridos em 2011. Conforme dizia, a nossa dificuldade é essa, mas temos criado parcerias para minimizá-las, particularmente com o Clube Marítimo dos Desportos. Esta é a colectividade que nos tem acolhido de forma aberta, é o clube que possui mais atletas e trabalha para que seus atletas façam parte da selecção. De resto, não estamos num nível competitivo mundial, e só para dar exemplo, para adquirirmos uma pagaia não é fácil, porque não existe aqui em Moçambique mesmo na vizinha África do Sul. Ora, competindo com as pagaias que recebemos dos Jogos Africanos, estamos a regredir, porque já não se usam em muitas partes do mundo. Quantos barcos precisariam para se movimentar as duas modalidades sem sobressaltos? -Os barcos que temos são suficientes, o problema é da evolução do próprio material. Nós estamos a ficar atrás, estamos a trabalhar com barcos ultrapassados. Que barcos são compatíveis com a vossa actividade? - Neste momento estamos a usar a nelo 4 e hoje usa-se a nelo 6. A cada ano que passa o material vai evoluindo, a nelo 4 foi usada nos Jogos Olímpicos de Londres, a nelo 5 foi usada nos Jogos Olímpicos de Rio, e a nelo 6 será usada nos Jogos Olímpicos de Tóquio. A nível de pagaias hoje usa-se outro tipo de marcas e nós como estamos ainda a começar não temos capacidade para adquirir esse tipo de material, mas com um pouco de investimento um dia chegaremos lá. Não podemos pedir muito, até porque conhecemos as dificuldades que o país atravessa, daí que contamos com outras iniciativas, como trabaPelos resultados que têm conseguido no plano internacional “Canoagem e vela deviam ser modalidades prioritárias” -Defende Hélio Alberto Por Paulo Mubalo lhar com treinadores estrangeiros. Quantos atletas praticam estas duas modalidades no país? -No que tange à canoagem, só a cidade de Maputo movimenta 60 atletas, mas não estão incluídos os atletas da província de Tete. Entretanto, a última vez que nos mandaram, precisamente em 2012, havia 25 atletas, mas certamente que o número cresceu porque já há mais clubes. Ao nível da capital, a vela movimenta 80 atletas, em representação de dois clubes. Diria que a canoagem é praticada em Maputo, Chidenguele e Tete, mas nesta província usa-se canoas canadianas, enquanto que a vela é praticada em Maputo, Gaza e Sofala. Há quem defende a ideia de que a vela e a canoagem deviam ser modalidades prioritárias, em função dos resultados que têm vindo a alcançar. Comunga desta opinião? Resultados -Essa coisa de modalidades prioritárias é complicada e creio que quando isso foi discutido não se levava em conta que essas duas modalidades chegariam ao extremo onde chegaram. O critério principal para que fossem consideradas modalidades prioritárias era que estivessem distribuídas por todo o país, mas há facilidades para algumas, como futebol e basquetebol. Na vela e canoagem devia se ter em conta factores como os resultados, porque não é correcto falar de modalidades prioritárias e não se fazer menção aos resultados. Investe-se muito dinheiro, mas faltam os resultados. Claramente, a canoagem e a vela deveriam fazer parte das modalidades prioritárias. Mas essas modalidades são de elite e, por conseguinte, não podem ser prioritárias? Quer comentar? - Na verdade, a vela é um desporto de elite, só que nós, a federação, juntamente com os clubes, estamos a tentar incutir no povo moçambicano que a vela, como disse, é de facto de elite, mas não se pode ter a ideia de que não se é capaz de praticá-la, porque nós trabalhamos com crianças de todos os extractos sociais, acolhemos jovens, crianças das escolas circunvizinhas, dos bairros periféricos da Polana Caniço, de Maxaquene, de Triunfo. Temos crianças que vêm de Magoanine que não pertencem a famílias com posses, mas os clubes criaram uma espécie de bolsa-atleta onde o próprio clube proporciona condições para o próprio atleta. Estamos a falar de barco e o atleta cresce no clube praticando a modalidade e retira-se a ideia de que é desporto de elite. Repito: é de elite sim, porque o material não é barato, mas aqui em Moçambique nós tentamos retirar nas cabeças das pessoas essa ideia de se tratar de uma modalidade de elite. O país possui juízes em número razoável? -Na vela temos um apenas, mas a curto espaço de tempo teremos mais juízes, ainda que não de nível internacional. Na canoagem têm sido os próprios atletas a ajuizar, repare que ser juiz na canoagem é acompanhar a regata até ao fim, saber se o atleta transpôs ou não a linha, é muito fácil. Na vela é muito mais complexo, por isso temos um juiz internacional. Tanto a canoagem como a vela já conquistaram medalhas. Recorda-se de algumas? - Na vela, sagramo-nos campeões africanos em 2012, em femininos, na Tanzania, na canoagem, e ficamos em terceiro lugar por equipas na vela; em 2013 fomos campeões africanos em c1 mil metros e em c1 200 metros; na Tunísia conseguimos uma medalha de bronze. A Deiz foi campeã africana consecutivamente na mesma classe quatro vezes e fomos campeões africanos absolutos em 2015 e, em 2014, conseguimos medalha de prata. E na canoagem? - Participamos, em 2014 e 2015, em campeonatos mundiais, onde conseguimos fazer subir o país ao nível do ranking, porque ao nível de África estávamos em 12º lugar, o que nos colocou num patamar de países que ainda estavam a começar a praticar a modalidade. Em 2013 passamos para o sétimo, depois para o quarto lugar e, neste momento, estamos em terceiro lugar, graças à conquista do Africano de Marrocos, o que nos deu a possibilidade de participarmos nos mundiais de Hungria e da Sérvia, onde, infelizmente, não conseguimos alcançar aquilo que eram os nossos objectivos: a final “A”, mas com o tempo chegaremos lá. Estabelecemos, igualmente, uma parceria com a federação húngara. Eles cederam-nos um treinador que vai trabalhar connosco. Calma e concentração: dois pressupostos para uma boa regata Savana 15-06-2018 23 DESPORTO DESPORTO E nquanto o sonho do nosso país de participar no campeonato de Mundo em futebol nunca passou disso, o mundo desportivo vai parar até ao próximo dia 15 de Julho, para ver a constelação de estrelas da bola. O certame, que iniciou nesta quinta-feira, é disputado por 32 selecções, em 12 estádios de 11 cidades diferentes. Mas quem faz as selecções são os seus jogadores e há estrelas da bola a ter em conta. Edinson Cavani, Uruguai, Grupo “A” , actual avançado do Paris Saint-German Este é um dos jogadores-maravilha da selecção uruguaia a par de Luís Suarez. A sua consistência dentro de campo e a eficácia com que marca golos contribuem para que a selecção uruguaia seja uma das mais fortes deste Mundial de 2018. Só a título estatístico, Edinson Cavani marcou 10 golos em 18 partidas da fase de qualificação, garantindo facilmente a presença da sua equipa no mais importante evento de futebol do planeta. /XFD 0RGULý &URDFLD *UXSR “D”, actual médio do Real Madrid Luka Modrić é tido como o mais importante jogador ofensivo de meio-campo actualmente em actividade, sendo capaz de distribuir jogo e de procurar linhas de passe fulminantes como poucos. Ele tem uma excelente visão estratégica e táctica e é inclusivamente conhecido como o mestre das “pré-assistências”, dado que muitas das construções de jogo iniciadas por si acabam por resultar em golo. Harry Kane, Inglaterra, Grupo “G”, actual avançado do Tottenham. A campanha promissora do jovem inglês Harry Kane, no Tottenham, faz com que ele seja uma das maiores esperanças de uma Inglaterra em crise de resultados e reconhecimento, nomeadamente depois do seu afastamento do Europeu de 2016 pela Islândia. Harry Kane não tem cerimónias: remata facilmente e com precisão de média e curta distância, sendo também essa característica atacante o que já lhe valeu 12 golos em 23 jogos pela sua selecção. Neymar, Brasil , Grupo “E”, actual avançado do Paris Saint-Germain Sempre que Neymar entra em campo sentimos uma nostalgia dos craques da bola, como Ronaldinho e Pelé, aqueles que praticavam o chamado “jogo bonito”. Neymar parece seguir a tradição destes ícones do futebol mundial, sendo um mestre criativo no controlo de bola com os seus dribles de cortar a respiração, fintas assombrosas, remates surpresa e, acima de tudo, destacando-se a maneira fluida e bela como se move em campo. David Silva, Espanha, Grupo “B”, actual médio do Manchester David Silva é um jogador tão experiente que constrói o jogo e tem um controlo perfeito da bola, sendo Já começou o Mundial de Futebol, Rússia-2018 Constelação de estrelas! capaz de abrir linhas defensivas e gerar situações de golo para colegas de equipa. A sua capacidade técnica aliada a uma visão de jogo perfeita fazem com que este seja um dos mais fortes médios neste Campeonato do Mundo. Eden Hazard, Bélgica, Grupo “G”, actual médio do Chelsea A selecção belga tem em Eden Hazard um valor maior e de grande versatilidade dentro de campo, conhecido pela destreza dos seus dribles e pelos seus remates potentes e certeiros de fora da área. A sua qualidade aliada a de Romelu Lukaku, Thomas Meunir e Kevin de Bruyne, fazem com que o ataque da Bélgica seja um barril de pólvora prestes a rebentar em qualquer defesa adversária. Antoine Griezmann, França, Grupo “C”; actual avançado do Atlé- tico de Madrid Uma das peças-chave da selecção francesa neste Mundial é Antoine Griezmann. Ele é um dos garantes de uma máquina bem oleada a partir do meio campo francês, sendo um jogador capaz de unir a equipa à sua volta e de distribuir jogo, promover uma elevada circulação de bola, mas também de lançar-se sozinho para o golo com bastante eficácia. Lionel Messi, Argentina, Grupo “D”, actual avançado do Barcelona Se Ronaldo é apelidado de “Melhor do Mundo”, Messi também não lhe fica muito atrás. O seu controlo de bola e drible são exímios, é capaz de arranques explosivos que são o pesadelo dos jogadores que o marcam e é capaz de remates potentes de qualquer área de campo. Os seus passos de mágica no controlo de bola serão um dos principais atrativos do Mundial e promete grandes feitos em representação da Argentina. Cristiano Ronaldo, Portugal, Grupo “B”, avançado do Real Madrid O “melhor do Mundo” quer trazer da Rússia um dos poucos títulos que ainda lhe falta conquistar da sua carreira híper-premiada de futebolista: a taça de campeão do mundo. Depois de mais uma campanha brilhante a representar as cores de Portugal no Europeu de 2016, vencendo essa competição, e sendo um recordista dos prémios individuais e colectivos em futebol (já tem por exemplo 5 Bolas de Ouro), o mais bem pago jogador de todos os tempos promete ser um autêntico furacão de golos no próximo Campeonato do Mundo. Toni Kroos, Alemanha, Grupo “F”, actual avançado do Paris Saint-Germain Se há um símbolo de tudo o que a selecção de futebol alemã representa, ele é Toni Kroos. Um jogador pragmático, eficaz quando está perante uma situação de golo, capaz de jogar em equipa como se o seu colectivo fosse uma máquina bem oleada e sem falhas, excelente a trocar a bola e em definir linhas de passe mortíferas. 24 Savana 15-06-2018 CULTURA A os 65 anos de idade, Fernando Manuel, jornalista, lança, na próxima terça-feira, 19, na cidade de Maputo, a sua segunda obra literária. Trata-se de um livro que resume uma coletânea de crónicas publicadas, na sua coluna, no semanário SAVANA, denominada Missa Pagã. Ao SAVANA, Fernando Manuel contou que, para o presente livro, foram seleccionadas 50 crónicas das cerca de 400 que publicou no jornal entre os anos 90 e 2000. São artigos que retratam o quotidiano das pessoas, mas que fazem parte de toda a vida. Nas crónicas fala de amor, ódio, frustração, prazer, sexo, adrenalina, sonhos e dor para depois chegar à conclusão de que um homem não se pode deixar vencer e o sonho e a esperança devem continuar até ao último dia da vida. Para além das crónicas, o livro conta com textos do escritor João Carrilho (arquitecto) e da jornalista Paula Rolleta. Fernando Manuel diz que encara o lançamento da obra como um sentimento de alívio, na medida em que a publicação está pronta há mais de 15 anos, mas que de lá a esta parte nunca encontrava uma entidade que o apoiasse na edição. “Finalmente chegou esse momento. Fiquei feliz de tal modo que queria dar ao meu discurso de apresentação do livro o título de sortilégio. Mas descobri que essa palavra não é apropriada para descrever a sorte que tive”, disse. Sublinhou que foi muito tempo de espera com tantos solavancos, de tal forma que pensou em desistir da ideia, mas na hora de atirar a toalha chegou o espírito de que um homem não se pode deixar vencer. Diz que este é o terceiro ano da cegueira. Em condições normais, se fosse um homem fraco, a partir da data em que perdeu a vista teria pensando que a vida acabou. Pelo contrário, isso deu-lhe coragem de persistência. O tempo que passa na solidão devido à limitação da vista permite-lhe fazer autoanálises e introspecções, o que lhe permitiu concluir que a melhor forma de superar dificuldades é acreditar que é possível resolvê-los. Fernando Manuel afirma que é uma pessoa que tem dificuldades de se comunicar com pessoas através da fala devido ao seu carácter introFernando Manuel fala do lançamento do seu segundo livro “Uso a escrita para comunicar-me” Por Raul Senda vertido. É na escrita que Fernando Manuel comunica-se. “Muitas pessoas dizem que escrevem por prazer, mas para mim é o contrário. A escrita é a forma que encontrei para me comunicar, é uma necessidade, para mim, a escrita é um exercício solitário que me exige muita concentração. Pelo que me sinto bem agora que estas rúbricas vão estar condensadas num livro”, frisou. Fernando Leite Couto O afecto, a arrumação de ideias e a qualidade de português foi o crité- rio usado para a escolha das crónicas para o livro. “Há certos artigos que nos são mais simpáticos ou achamos que foram bem conseguidos. Mas, também há outras que entendemos que por uma e outra razão não fomos bem sucedidos porque acordamos mal dispostos. Como dizia o meu amigo Augusto de Jesus, contrariamente ao que muitos jornalistas ou escritores pensam, de que o instrumento mais importante de trabalho para eles é a máquina de escrever ou computador, na verdade o instrumento mais importante é a língua com a qual nós escrevemos”, disse, para depois acrescentar que é na língua portuguesa “onde faço esforço de ser perfeito, apesar da perfeição ser uma forma que nunca se atinge”. Sobre a editora, Fernando Manuel diz que o interesse da Fundação Fernando Couto também o pegou de surpresa. “O que me disseram é que o patrono da Fundação, Fernando Leite Couto, em vida, dizia frequentemente que dos cronistas moçambicanos só lia dois. Minhas e de Daniel da Costa. Foi em respeito à memória do patrono da Fundação que a editora está a apadrinhar este projecto”. Diz que escreveu o Missa Pagã num estilo de paródia, mas num bom sentido porque as suas crónicas não são temporais, nem factuais. Faz notar que a sua imaginação literária não se prende no quotidiano, sempre que escreve, procura cultivar sentidos mais nobres da condição de um ser humano. Coisas que acontecem com as pessoas no seu dia-a-dia, mas fazem toda a vida. “O Missa pagã é o retrato do meu percurso da vida que nem sempre foi linear. Tenho tido muitos solavancos na vida. Enquanto alguns dizem que a vida é feita por altos e baixos, a minha é feita por baixos. Mas fico feliz quando me lembro que o importante é não estar vencido”. Sublinhou ainda que o livro leva a mensagem de esperança. “Procuro fazer entender que não se pode vergar perante as dificuldades, não podemos culpar o outro pelos nossos fracassos”. Fernando Manuel afirma que a vida ensinou-o a saber amar. Mas, mais do que amor, o importante, acrescenta, é saber perdoar, “há que valorizar nossos sonhos por mais extravagantes que possam ser”. Por isso, continua a sonhar e valorizar muito a sua liberdade de pensamento. “Não me sinto envergonhado quando escrevo uma crónica contando uma história em que ponho um homem a voar numa esteira e a sair de casa para a varanda da janela e a sobrevoar céu até ir aterrar no planalto de Penhalonga onde encontra uma amante à espera dele. Claro que é uma coisa que parece impossível, mas nada me impede de pensar assim, também nada me impede de pensar que isso é possí- vel e oriento-me muito naquilo que é a liberdade com que as crianças pensam. As crianças são muito livres a pensar. Muitas vezes podemos pensar que aquilo que pensam e falam são coisas absurdas. Porém, não é bem assim. Pelo contrário, as crianças são muito mais lúcidas do que pensámos. Nós adultos aprendemos, ao longo da vida, a coartar nosso pensamento, por conveniências sociais ou por medo disto ou daquilo. Até por medo de sofrer consequências daquilo que pode advir se nós pensarmos desta ou daquela maneira”. Fernando Manuel diz que escreve na primeira pessoa do singular porque quer que as pessoas se sintam próximas de quem está a escrever. Assim, a ideia é mais credível. Fernando Manuel iniciou a carreira jornalística em 1981, mas estreou-se como escritor em 1991 com o lançamento da sua primeira obra intitulada “o homem sugerido”. Nos meados da década 90 ensaiou o lançamento da sua primeira coletânea de crónicas denominada Chá das Sextas, uma rúbrica publicada na Revista Tempo. “A colectânea de Chá das Sextas acabou colapsando por culpa da editora. Infelizmente, a distribuidora não tirou o livro da gráfica, não sei quais foram as razões. Mas, eu também não fiz nenhuma pressão. Contudo, acredito que um dia irei lá porque o livro é meu”, contou. Fernando Manuel nasceu a 20 de Janeiro de 1953 na Maxixe, província de Inhambane. Foi na cidade da Maxixe que iniciou estudos primá- rios. Posteriormente mudou-se para cidade de Maputo, então Lourenço Marques onde concluiu o liceu. Antes de ser jornalista, Fernando Manuel foi monitor de educação fí- sica, músico, escriturário e professor de história no ensino secundário. Iniciou a carreira jornalística na então Revista Tempo. Fernando Manuel Missa Pagã Fernando Manuel Nasceu a 20 de Janeiro de 1953 na Maxixe. Iniciou os estudos na Missão da Sagrada Família, completando-os na escola Indígena da Munhuana, na ex-Lourenço Marques. Frequentou o ensino médio, após a passagem pelos liceus António Enes e Salazar. Monitor de educação física, músico, escriturário, professor de História no ensino secundário, ingressou finalmente na carreira do jornalismo em 1981, ano em que passou a integrar o quadro redactorial da revista Tempo. Na Tempo publicou uma colecção de poemas. Estreou-se em livro com O Homem Sugerido. Publicou ainda a colectânea de crónicas Chá das Sextas. Como resultado da sua lavra no semanário Savana surge a colectânea Missa Pagã. «As crónicas que Fernando Manuel escreve todas as semanas são para mim um unicum, o retrato de uma sociedade despedaçada, de um mundo feito adulto à força e da nostalgia da infância doce, das «gotas de chuva que fazem música no telhado de zinco». Pling, pling, pling. É o mundo da periferia, de todas as periferias: o mundo dos desiludidos, daqueles a quem foi roubado o sonho. É o mundo do distúrbio da tranquilidade pública. Dos que não têm voz e ficam roucos às margens da História». Paola Rolletta Fernando Manuel Missa Pagã Publicações Uma Voz Cheia de Vozes, obra sobre Fernando Leite Couto Mulheres de Cinza, romance de Mia Couto Vagas e Lumes, Poemas de Mia Couto Coração Forte – relatos do povo armado, depoimentos de Licínio Azevedo O Gato e o Escuro, conto infanto-juvenil de Mia Couto A Espada e a Azagaia, romance de Mia Couto Roda das Encarnações, poemas de Sónia Sultuane O bebedor de horizontes, romance de Mia Couto Sombras de Outubro, Colectânea de poesia e artes russas, Fundação Fernando Leite Couto Missa Pagã Fernando Manuel Novos Autores Os Ângulos da Casa, poemas de Hirondina Joshua A Pátria do João Lucas, novela de Luís Artur Recados da Alma, romance de Bento Baloi As Idades do Vento, poemas de Jaime Munguambe Ignição dos Sonhos, poemas de Melita Matsinhe Intempéries de Amor Numa Baía Adormecida, contos de Malikezi Wa Tiane A descrição das sombras, poemas de M.P. Bonde Naíta Ussene Naita Ussene Enquanto outras pessoas escrevem por prazer, eu escrevo para me comunicar porque, verbalmente sou timido Dobra por aqui SUPLEMENTO HUMORÍSTICO DO SAVANA Nº 1275 DE JUNHO DE 2018 A PARTIR DE 3ª-FEIRA TEREMOS 2 Savana 15-06-2018 SUPLEMENTO Savana 15-06-2018 3 Savana 15-06-2018 27 OPINIÃO Abdul Sulemane (Texto) Ilec Vilanculo (Fotos) P ela forma como as coisas vão andando não sabemos onde vamos parar. Primeiro foram os ataques a uma esquadra para roubar armas. Depois vieram as mortes por decapitação de alguns compatriotas. Agora é um ataque dentro de um supermercado em Pemba que, afinal, não passou de um boato. Não nos esquecemos os anteriores ataques em que perdemos mais compatriotas. Tudo isto mostra que o terror está longe do fim. Mesmo com o discurso de que estes ataques não atrapalham os investimentos na zona norte do país. Os responsáveis pela ordem e segurança públicas estão a passar noites sem dormir. Não sabem por onde iniciar para travar esta situação. O que percebemos é que os dirigentes estão a tratar este assunto de ânimo leve. E neste momento todos os conselhos para se encontrar uma solução do problema servem. Dizemos isso porque o Comandante-Geral da Polícia, Bernardino Rafael, escuta de boca aberta os conselhos de Helena Khida, vice-ministra do Interior, que vai falando atenta com quem presumivelmente está ao redor atento à conversa. A questão da segurança está a preocupar alguns dirigentes. Mesmo com o silêncio de alguns, outros vão dando seus comentários face à situação. É o que estão a fazer Carmelita Namashulua, Ministra da Administração Estatal e Raimundo Diomba, Governador da Província de Maputo. Como se estivessem a dizer que se estes ataques chegam a outros cantos do país, será o caos total. Imagina as populações que vivem e sentem na pele a situação dos ataques. Mesmo nós que ainda não sentimos directamente ficamos preocupados. O modus operandi do grupo que faz os ataques parece ser de quem sabe como actuar sem interferência das entidades competentes. Os que não têm palavras para comentar a situação dos ataques na província nortenha de Cabo Delgado preferem usar a língua de sinais. É o que faz Oswaldo Peterburgo, na conversa que troca com Agostinho Mondlane, Ministro do Mar, Águas Interiores e Pescas. Como se estivessem a comungar pela conversa telepática que ainda bem que estes fulanos não estão a dar cabo dos recursos pesqueiros daquele ponto do país. Neste momento em que o silêncio é a melhor arma é preciso ter todo o cuidado naquilo que se comenta. Não sabemos quem nos pode prejudicar só de ouvir o posicionamento desta triste realidade que assola os moçambicanos de Cabo Delgado. Não é por acaso que o autor da obra Nós Matamos o Cão tinhoso, Luís Bernardo Honwana, confidencia o seu parecer com todo o cuidado para Moisés Jorge do BIM. Todo o cuidado é pouco nesta altura. Nisso, existem aqueles que gostam de aparecer custe o que custar. Mesmo sem relevância fazem questão de aparecer. Outros usam os seus meios para difundir a sua imagem. Referimo-nos a Daniel David que, mesmo sem necessidade, procura aparecer na TV, usando o canal que dirige. Agora Agostinho Vuma, presidente da CTA, é outro que procura a todo o custo estar em todos os meios de comunicação social. Como se isso fosse sinónimo de muito trabalho. Esperamos que sim. Ou tem os seus motivos para o tamanho desempenho. É caso para dizer que a situação vai piorando. Em todos os sentidos. Situação vai piorando À HORA DO FECHO www.savana.co.mz EF +VOIP EF t "/0 997 t /o 1275 Diz-se... Diz-se IMAGEM DA SEMANA A companhia GemFields soma e segue em termos de recordes de leilões. Na semana passada, arrematou por 71,8 milhões de dólares rubis que extraiu das suas minas em Mueda, Cabo Delgado. 0 MFJMÍP DPNP TFNQSF GPJ SFBMJ[BEP OB 4JOHBQVSB B QSJODJQBM QSBÎB EB WFOEB EF SVCJT OP NVOEP "T QFESBT GPSBN WFOEJEBT QPS EØMBSFT P RVJMBUF VN OPWP SFDPSEF QBSB PT MFJMÜFT EF SVCJ EF RVBMJEBEF NJTUB EB (FN'JFMET &N DPNVOJDBEP B Pallingurst DPNQBOIJB TVM BGSJDBOB RVF EFUÏN B (FN'JFMET JOEJDPV RVF DPN B BSSFDBEBÎÍP EB TFNBOB QBTTBEB PT SVCJT EF /BNBOIVNCJS KÈ SFOEF SBN NJMIÜFT EF EØMBSFT BP mN EF MFJMÜFT SFBMJ[BEPT EFTEF i5PEBT BT SFDFJUBT EP MFJMÍP TFSÍP SFQBUSJBEPT QBSB .PÎBNCJRVF FN EJWJTBT DPN P JNQPTUP EF QSPEVÎÍP EFWJEP BP (PWFSOP EF .PÎBNCJ RVF TFS QBHP TPCSF P QSFÎP UPUBM EF WFOEB BMDBOÎBEP OP MFJMÍPw TVCMJOIB B FNQSFTB FN DPNVOJDBEP " (FN'JFMET FYQMPSB B DPODFT TÍP EF SVCJT BUSBWÏT EB .POUFQVF[ 3VCZ .JOJOH .3. 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