Maputo, 2302018 – Foi realizado ontem num dos hotéis mais mediáticos da Cidade de Maputo, a Gala Vibratoques, onde participaram vários cantores e cantoras com a sua voz emprestada à companhia de telefonia móvel Vodacom.
Porém, o que houve mais não foram os toques irritantes das músicas pimbas actuais dos telefones, mas sim a análise pejorativa da indumentária dos presentes, com destaque para as cantoras. A nossa reportagem esteve no local para colher a sensibilidade das participantes (queríamos dizer beldades, mas desculpa lá, né?).
A nossa primeira interlocutora foi Holanda Mboa, que disse que demorou chegar porque não sabia que vestido iria trazer, pois o seu guarda-fatos está cheio de roupa que mesmo doando pareceria estar a doar a si própria. “Este vestido é como no conto `O Rei vai nu´, só quem é inteligente é que consegue ver o pano que me cobre”, disse ela.
Insistindo o nosso repórter, questionou se ela não se sentia deslocada no meio de gente com panos a mais, e até a arrastar-se pelo chão, ela disse que não fala com estúpidos, pois se o nosso repórter não conseguia ver o pano, é que ele não era inteligente.
Já a Boneca de Barba, afirmou que andou por toda a Cidade com a sua mala de dinheiro, falando com estilistas sobre que tipo de vestido queria para se apresentar decentemente na gala, e nenhum deles foi capaz de a satisfazer. “Por isso levei o meu dinheiro e fiz este vestido. Melhor vestir o meu dinheiro que andar por aí nua como algumas mboas fazem”, rematou.
A Molhada Melancolia, que esteve acompanhada pelo marido, afirmou que agora quer ser uma dona de casa, e que não quer mais saltar muros, por isso que não quis se meter em polémicas: “Afinal descobri que sou uma mulher madura, e que tenho que cuidar do meu lar. Estou a pensar seriamente em dedicar-me ao Gospel, e passar a cantar na igreja. A verdade é que vou sentir saudade das danças que eu fazia. Divertia muitos jovens, eu. Muitos!”
Outra artista que estava na gala é a Matize Conzo, que estava com um traje interessante. Questionada sobre os seus vestes, ela afirmou que está a desafiar os santos e o novo Papa. “Deus não é de pessoas. Ninguém já viu Deus, até que eu já entrei num caixão, e portanto sou um dos vivos que esteve mais perto de Deus que todos aqui! Por isso que desafio-vos a me desafiar para eu vos dizer o que sempre quis dizer!”, gritou ela, depois de tomar três goles rápidos de uma cerveja.
Para ela, o facto de misturar a santidade e depravação não pode chocar ninguém, pois a arte não tem limites. “Eu sou artista, e posso muito bem estar como estou, posso muito bem subir em mesas, e também posso muito bem entrar num caixão! Não sou uma pessoa qualquer, e tenho privilégios especiais que vocês, mortais não têm! Sou artista, e artista vem da arte, e arte vem de fazer coisas que ninguém tem coragem de fazer!”
Procurando a ciência da apresentação das artistas naquela gala, a nossa reportagem falou com um sociólogo comportamentalista, o Dr Tinga Natikulu, que começou por afirmar que a sociedade está a chegar a níveis de estabilidade emocional. “Onde as pessoas perdem seus medos e nos mostram o seu mais íntimo, quer fisicamente, quer espiritualmente, não é uma sociedade em regressão, mas sim em progressão”, disse.
Instado a explicar, o Dr Natikulu afirmou que uma sociedade que mostra a sua depravação: “Essa sociedade está atingindo o nirvana do entendimento epistemologicamente congruente com a sua forma teleológica de escançar em rectilínea as consoantes, eivada de mais pura denegação das consequências patológicas do seu desenvolvimento”, afirmou, mas nem eu, e nem o repórter que gravou a entrevista entendeu, mas passamos aqui pois é científico. E acreditamos na sabedoria que ninguém entende.
“Na teoria da deslocação comportamental do mundo Yoruba e Masai, se alguém esconde o seu íntimo é chamado de “artisthwe”, e é donde vem a palavra artista, que dá o privilégio da necessidade pontual de mudar-se a si próprio para a reabertura da personalidade para que toda a sociedade seja uniforme. O comportamento da Gala Vibratoques está a nos guiar para esse estágio”, referiu.
Para o Dr Tinga, os termos de referência da Gala deveriam ser expandidos para a sociedade como um todo, pois assim não haveria problemas, e ninguém iria ter dúvidas sobre a sanidade ou insanidade mental de qualquer membro da sociedade.
“Porque nas sociedades ocidentais há serial killers? Porque eles não tem este momento sublime de liberdade comportamental, e as pessoas podem sorrir por fora enquanto por dentro estão a chorar! Na gala Vibratoques vimos as pessoas como elas são! Por exemplo, já sabemos que a Matize Conzo quer ser santa, mas os seus olhos estão fechados por cigarros, e sua boca só quer chupar! Já sabemos que a Boneca de Barba anseia ser rica e toda a gente saber que ela é rica, e por aí adiante”, analisou o Dr.
De referir que a Gala Vibratoques é uma gala normal onde participam pessoas que querem ser conhecidas a todo o custo. A todo o custo mesmo!