domingo, 11 de fevereiro de 2018

Sobre o financiamento de partidos políticos com os nossos impostos: Sabem como é?



Sobre o financiamento de partidos políticos com os nossos impostos: Sabem como é?
Roberto Tibana (10 de Fevereiro de 2018)
De acordo com a alínea c do Artigo 17 (Financiamento) da Lei n.o 7/1991 de 23 de Janeiro (que estabelece o regime jurídico para a formação e actividade dos partidos políticos), o financiamento dos partidos políticos far-se-á, entre outras fontes por (e cito): “c) Verbas inscritas no Orçamento Geral do Estado”. Isto é, pelos nossos impostos.
Adicionalmente, nos termos do artigo 19 da mesma Lei, cito: “1. As receitas e despesas dos partidos políticos deverão ser discriminadas em relatórios anuais que indicarão, entre outros, a proveniência das receitas e a aplicação das despesas”, e ainda: “3. As contas dos partidos referidas no n.o 1 devem ser publicadas no Boletim da República e num dos jornais de maior circulação.”
Por outro lado, e nos termos do artigo 20 ainda da mesma Lei que cito: “ 1. As Verbas do Orçamento Geral do Estado referidas na alíniea c do artigo 17 são atribuídas aos partidos políticos proporcionalmente ao número de deputados eleitos para a Assembleia da República” e “2. As regras de prestação de contas destas serão idênticas às da Administração Pública.”
Finalmente, por força do Artigo 27, e referindo-se as eleições gerais de 2004, a Lei que cito (que é de 1991) determinou que: “Até a realização das próximas eleições gerais, o Governo determinará as verbas do Orçamento Geral do Estado a atribuir aos partidos criados nos termos da presente lei.”
Se estas disposições não foram alteradas (e não consegui encontrar fonte que me indique que tal tenha acontecido até agora, quem a tiver por favor me ajude), várias questões se colocam cujas respostas na minha opinião são de interesse público, de entre elas:
PRIMEIRO: em que medida é que as disposições acima citadas estão a ser implementadas? Em particular:
a) Quanto dos nossos impostos tem sido alocado pelo nosso governo aos partidos políticos que por lei são beneficiários (isto é, os representados na Assembleia da República); para teste, peguei em todos os Mapas Integrantes da Lei do OGE de 2016 e não encontrei em nenhum deles o lugar aonde esteja explicitamente indicada a inscrição dessa verba. Gostaria de ver qual o seu tamanho e como tem evoluído ao longo dos anos. Se alguém sabe onde no OGE estas verbas estejam inscritas agradeceria o favor de me ajudar.
b) Em quê que os partidos políticos que recebem dinheiro dos nossos impostos gastam esse dinheiro? Que me recorde nunca vi em nenhum jornal de maior circulação nenhuma publicação das contas desses partidos políticos que me permita aferir isto, como o exige a lei.
c) Quais são os valores de financiamentos provenientes de outras fontes os partidos políticos abrangidos por esta Lei obtêm como parte das suas receitas e em quê que as aplicam? Procurando respostas para as duas questões acima (a e b), também fui ver nas páginas de internet desses partidos para ver se encontrava os seus relatórios anuais de contas, onde por lei tal informação deve constar, e encontrei NADA. Se alguém (incluindo os membros desses partidos) tem fonte pública dessa informação agradeceria imenso que me indicasse.
SEGUNDO: não será altura de se rever e emendar o n.o 1 do artigo 20 desta Lei para que em lugar de ser por proporção ao número dos Deputados, a alocação de ditas verbas passe a ser feita proporcionalmente ao número de membros desses partidos? Justifico me: suponho que o financiamento dos partidos políticos pelo OGE não se destina a facilitar o trabalho dos deputados, mas sim a assistir no desenvolvimento das atividades dos partidos políticos, incluído a educação dos cidadãos para o reforço da sua consciência nacional e o enriquecimento da sua consciência política (ver o preâmbulo da dita lei). A atividade dos deputados é financiada pelo Orçamento próprio daquele órgão de soberania, também inscrito no OGE. Nestas condições, alocar a verba do OGE aos partidos políticos proporcionalmente ao número de deputados não tem lógica. É uma incongruência!
A verba do OGE para o financiamento dos partidos políticos deveria ser alocada a estes por referência ao número dos seus membros.
Para entender a lógica desta minha ideia, tomemos o seguinte exemplo (os números são todos hipotéticos). Imaginemos que três partidos políticos iniciam um mandato com 175-50-25 de um total de 250 deputados da AR. A proporção para a repartição da verba de acordo com a lei é de 70%-20%-10% para o primeiro-segundo-terceiro maior partido em termos de representação parlamentar. Imaginemos (por hipótese), que os partidos conseguiram essa representatividade não por via de nenhuma fraude, mas sim pela força de mobilização dos seus membros, e imaginemos que esta pode ser medida pelo número de membros.
Imaginemos agora que na sua propaganda o maior partido vem a público e invoca que tem 5 milhões de membros. Logo, inferimos que existem na sociedade 7,142,857 de cidadãos que são membros de partidos políticos, sendo que os outros partidos têm respetivamente 1,428,571 e 714,286 de membros (o que corresponde a força mobilizadora que lhes deu a representação parlamentar mencionada acima; e lembrando sempre que assumimos que essa capacidade mobilizadora pode ser medida pelo número de membros e que nada nas eleições influenciou a distribuição de deputados no parlamento senão essa força mobilizadora - isto é, não houve fraude!).
Agora, assuma-se que desde logo no início do mandato o governo do partido vencedor abusando da sua maioria parlamentar faz e desfaz, não cumpre as suas promessas eleitorais, desse modo irritando os eleitores incluindo os seus membros. Isso dá munições aos outros partidos, que começam a ganhar mais membros e assim aumentam a sua capacidade mobilizadora por esforço próprio. E como resultado, chegados ao fim do mandato os outros partidos ganharam mais membros de entre os cidadãos. Digamos por exemplo que o segundo maior partido ganhou mais 500,000 membros e o terceiro maior ganhou 50,000 membros. Estes dois últimos partidos, tendo aumentado a sua capacidade mobilizadora também fazem um trabalho de educação dos seus membros para a cidadania, que contribui para a redução de abstenções, o que dá valor ao dinheiro do Estado (nosso!) gasto na preparação de eleições e no financiamento dos partidos.
Entretanto, imaginemos também que os membros do partido maioritário, irritados com a situação e com coragem devolvem o cartão e deixam de ser membros. Embora estes sejam a minoria dos desiludidos do partido maioritário, digamos que depois de cinco anos de mandato somam uns bons 500,000 (10,000 por ano; o partido perde 10% da sua base inicial). Também não consegue mobilizar mais membros. Portanto podemos abater este número do número total de membros do partido da maioria parlamentar no início do mandato. Outros (digamos que 250,000) fica com o cartão no bolso (são funcionários públicos ou empregados em empresas dos “bosses” do partido maioritário, e têm medo de perder oportunidades de promoção uns, e de serem despedidos a qualquer pretexto outros), mas no dia das eleições ficam em casa, contribuindo para o desperdício dos recursos gastos na preparação das eleições.
Para simplificar ainda mais imaginemos que dos membros do partido maioritário que devolvem o cartão nenhum emigra para os outros partidos. Isto é, assumimos que os outros partidos ganham membros somente dos jovens que vão atingindo a idade adulta e se filiam, ou de outros cidadãos que antes não eram membros de partido nenhum.
Em resumo, todas as contas feitas, no fim do mandato parlamentar o total de cidadãos que são membros de partidos políticos estão distribuídos da seguinte maneira: 63% para o partido maioritário no parlamento, 27% para o segundo maior, e 11% para o terceiro partido. No entanto, por força da Lei ‘babaca’ que temos vindo a citar, quando o Governo aloca dinheiro do OGE a esses partidos mantém as proporções de 70%-20%-10% que refletem a maioria parlamentar.
Quer dizer, o partido da maioria parlamentar apesar de andar a fazer asneiras que prejudicam e irritam o eleitorado, continua a ser recompensado com bolo dos meus impostos que não tem nada a ver com a sua capacidade mobilizadora e educadora medida pelo número e proporção de seus membros no fim do mandato.
A gravidade deste absurdo é que ela usa o dinheiro proveniente dos impostos que pagamos para dar maior capacidade de competição eleitoral ao Partido que mal usa tal dinheiro e mau serviço nos presta.
Lembrem-se que esta Lei foi aprovada pelo Parlamento monopartidário da FRELIMO em 1991, antes do acordo geral de paz! Desde lá a única tentativa de revisão desta lei foi proposta pelos partidos extraparlamentares, que como se sabe não têm iniciativa de lei (ver jornal Notícias de 14 de júnior de 2016, aqui: http://www.jornalnoticias.co.mz/…/51743-revisao-da-lei-de-p… ). Ao receber a proposta do Sr. Miguel Mabote em representação dos partidos extra-parlamentares, a Senhora Verónica Macamo, Presidente da Assembleia da República disse que iria encaminhá-la às bancadas parlamentares da FRELIMO, RENAMO e MDM. Não conheço o conteúdo da referida proposta dos extra-parlamentares e por isso não sei se comtempla as questões que aquí levanto. O certo é que, que eu saiba a revisão ainda não foi feita.
Não sei em que é que a RENAMO e o MDM consideram que isto lhes favorece a ponto de até agora não terem proposto a revisão de tão absurda lei. Quanto a mim, e pelas contas feitas acima é claro que o grande ganhador com isto é a FRELIMO, e o grande perdedor somos nós os pagadores de impostos!
Esta situação tem que ser alterada pois é parte de todo um conjunto de ‘regras de jogo’ impostas por uma parte e que são muito enviesadas para favorecer essa mesma parte. E exisrem muitas mais regras com esse espirito que merecem um arevisao.
E mais, o meu governo não só alteraria a regra para a alocação passar a ser proporcional ao número de membros de cada partido. Também introduziria uma disposição que exigiria que os membros dos Partidos potencialmente beneficiários passassem a submeter-se a prova de vida conduzida pelo Ministério das Finanças (não pelos seus partidos!). Porquê que teríamos pensionistas e funcionários públicos sujeitos a isso e entretanto membros fantasmas de partidos a darem direito a fundos de Estado (nossos impostos) a seus partidos?
É assim que nós queremos que os nossos impostos sejam usados? Para financiar a manutenção de um status-quo que nos prejudica a todos?
Eu não! Tudo menos morrer burro!
Isto (bem como muitas outras incongruências propositadas do género) mudaria nos primeiros três meses de 2020, no máximo. Eu enviaria para lá anexa ao programa quinquenal do meu governo um projeto de lei revista para eles deliberarem logo na primeira sessão ordinária da Assembleia da República para mudar as regras de jogo logo no princípio. E se eles a rejeitassem eu usaria o artigo 188º da Constituiçao da República de Moçambique conjugado com a alínea f do artigo 159º. A ver se não o fariam! Seus malandros! O que eles precisam é mas é de um Presidente da Republica independente dos partidos deles, para ver se se comportam bem lá na Escolinha do Barrulho!
Agora, quem me dá o guiso aí?
RJT/20180210


LikeShow more reactions
12 Comments
Comments

LikeShow more reactions
18h
Santos F. Chitsungo Era capaz de apostar neste presidente!
Manage

LikeShow more reactions
18h
Julio Pinto Macitela Mario Alberto Roberto Julio Tibana estás a tentar dizer por exemplo que a logística que tem a Renamo é suportada pelo governo?
Manage

LikeShow more reactions
14h
Roberto Julio Tibana Julio Pinto Macitela Mario, nao, nao quero dizer nada disso! Releia o texto, e se nao o entende discuta-o com os seus amigos se calhar podem ajudar. Nao vou aqui repetir o que ja escrevi la. Ate porque o texto e demasiado longo para meu gosto!
Manage

LikeShow more reactions
12h
Osvaldo Jocitala "Partidos Polípticos". A grafia da segunda palavra será provavelmente intencional? Dois: "(...) mudaria nos primeiros três meses de 2020, no máximo (...)". Àquela pergunta do Prof.Macuane no seu anterior post, continua válida para este meu "Dois", Prof.Tibana - transcrevo-a literalmente: "Entendi bem: candidatura para 2019 em perspectiva?"
Manage

LikeShow more reactions
14h
Roberto Julio Tibana Osvaldo Jocitala, tens muita razao, foi um erro de grafia e havia muitos outros. Tentei limpar..... Sim, preciso de um revisor de texto. Vou lancar um apelo a voluntarios que estejam preparados a acordar as tres da manha pafa fazder isso. Cosrtuma ser a essas horas que termino os meus posts.
Manage

LikeShow more reactions
12h
Osvaldo Jocitala Se a pergunta tem que ter resposta depois, de qualquer modo, sou feliz! Vou lhe lendo, Prof. É dos poucos que dedico tempo o lendo. E confesso que vibro com que aprendo derivado das lições que deixa transbordar nos seus redigidos! Aceite que lhe abrace com tanta admiração que tenho por si!
Manage

LikeShow more reactions
12h
Bras Combo Também o admiro, post despido de sensacionalismo e com enorme dosagem de ensinamentos, Deus lhe abençoe pelas horas despendidas ao exercício da massa cinzenta.
Manage

LikeShow more reactions
11h
Osvaldo Jocitala Revisor dos seus textos, Prof.? Um tremendíssimo e excepcional previlégio. Já aqui o primeiro voluntário à sua disposição!
Manage

LikeShow more reactions
10h
Joao Ferrao proporcionalmente ao número de membros desses partidos" Como se consegue ver o numero? Nao ee pelos votos que recebe? Haveria partidos a declarar mais membros que toda a populacao de Universidade Católica de Moçambique - Faculdade de Engenharia
Manage

LikeShow more reactions
12h
Roberto Julio Tibana Leia bem o meu post. Eu disse que os membros dos partidos beneficiarios teriam que se submeter a uma prova de vida semelhante aquela a que os funcionarios publicos se sujeitam para se elimmkinar e prevenir os "fantasmas", e que essa prova de vida tem ser conduzida pelo ministerio das financas (o meu ministro das financas faria isso por minha instrucao). Se tiver uma proposta melhor, agradeo que ma envie. Obrigado.
Manage

LikeShow more reactions
12h

LikeShow more reactions
12h
Ivo Brito Também acredito que a única solução para Moçambique é de um presidente que não tenha nenhum vínculo com nenhum partido,pois este teria maior capacidade de gestão sem o rabo preso.
Manage

LikeShow more reactions
11h
Tomas Mario Temos aqui certamente muita "food for thought", caro Roberto Julio Tibana! Na verdade nenhum partido político tem prestado contas aos contribuintes , quer relativamente àqueles que a estes fundos acedem por estarem representados no Parlamento, relativ...See More
Manage

LikeShow more reactions
11h

LikeShow more reactions
11h
Eduardo Chichava Dr, afinal não está na colheita do amendoim na Manhiça? Se não, comece a preparar a papelada para criar o seu partido, seguidores não faltarão. Já estamos a precisar de um presidente progressista.
Manage

LikeShow more reactions
10h
Roberto Julio Tibana Eduardo Chichava, Criar Partido eu? Esquece! Para andar a mendigar dinheiros para distribuir e criar mordomias para supostos membros que nem vão pagar quotas nem vão fazer trabalho politico nenhum? E depois vão passar a vida a fazer hossanas para mim e a encher o meu ego e a tornar-me um imperador que vai distribuir benesses a eles e deixar o povo na miséria? Veja só o que eles fizeram com o “filho mais querido do povo” e o suposto “empregado do povo”. Tornaram-lhes os filhos menos queridos e empregados deles! E veja o que os outros estão a fazer com o velho que se bateu contra o regime ditatorial: está lá no mato a ser mordido por mosquitos, e eles o que fazem aqui na cidade? A ESSE VELHO EU DAVA UMA BOA REFORMA! aos outros: "VAI TRABALHAR MALANDRO, SE TEM ALGUMA PROFISSAO!" Com todo o respeito pelos muitos amigos que estão nesses partidos!
Eu não tenho nada contra o princípio da existência dos partidos políticos. Mas não são estes.
O que neste momento Moçambique necessita é de um Presidente independente dos Partidos políticos, que vai trabalhar com eles, eles lá na Assembleia da República, e ele a usar a forca que o voto popular lhe der para disciplinar o ambiente de modo a que os partidos politicos sejam realmente os partidos políticos que queremos. Eles terão que existir e têm um papel MUITO importante. Mas não estes que temos agora. Estes terão que se recriar. A sociedade necessita de verdadeiros partidos políticos. Mas enquanto eles não aprenderem a lição não se vão recriar.
Leia bem o que ando a escrevi! Eles ficariam lá na Assembleia. E até será bom que assim seja para ajudar a fiscalizar o Presidente independente para que ele também não se torne um imperador )e temnho a certeza que nessa altura eles até teriam interesse em faze-lo!

Manage

LikeShow more reactions
9hEdited
Eduardo Chichava É precisamente de alguém com coragem para mudar o estado das coisas que este país precisa.
Manage

LikeShow more reactions
9h
Heitor Macuacua Gosto muito dos postes do Dr. Tibana.... Abre nos a mente... Conta comigo quando tiver um partido Dr.
Manage

LikeShow more reactions
9hEdited
Joel Mabasso
Penso que suposições em nada impactam, de positivo. Se, no OGE não consta nada do que se diz, não se deve exigir explicaçõeszitas do se está para aqui a supor, sob pena d'alguns andarem frustrados.

Portanto, sugiro menor expectativa, e que se procure saber mais, ao invés da suposição.
Sobre ‘Opinião no Feminino’ e a “provocação” que a Fátima Mimbire me fez acerca da “Assembleia Constituinte”
(Roberto Tibana, 9 de Fevereiro de 2018)
Isto é ainda acerca dos debates de ontem nas FRELIVÊs, ainda versando as decisões imperiais.
PRIMEIRO:
Tiro o meu “chapéu” aquelas três mulheres da ‘Opinião no Feminino’ (com as minhas reservas em relação a que fez um ”bom” eco dos decanos da FRELIMO sobre “não-oportunidade” do Referendo com que nos acenaram no artigo 136 da Constituição de 2004 e depois durante quase 14 anos (!) se “esqueceram” de legislar. Sendo que “agora não há tempo” para o fazer e usar e usar para ajudar a dirimir os problemas que temos. Isto foi na privada.
Já não diria o mesmo em relação ao que se passou naquela ‘tê’ que vive a custa dos nossos impostos. Lá também havia uma outra mulher de coisas práticas que na minha opinião estava completamente perdida no meio dos Senhores Professores Doutores e um Reverendo (este último famoso não pelas pregações mas por já ter estado a cabeça do órgão usualmente acusado de ser um dos elos fracos que leva a conflitos pós-eleitorais sangrentos em Moçambique). Se ela tivesse a coragem de se “desligar” daqueles que em tempos acusou de tramarem “cabalas” contra ela, eu até consideraria a possibilidade de fazer o grande sacríficio de “engolir sapos”. Não por ela pessoalmente, mas pelo potencial que ela tem de dar as mulheres deste país uma voz audível (embora não tão credível por causa do passado e das ditas associações no grupo das ditas cabalas). Diz-se que cada um escolhe e faz os investimentos que acha que lhe dão mais retorno e o menor (ou mais aceitável ou suportável) risco. E sendo ela uma economista, quem a pode dizer que está a fazer cálculos errados? No passado ela se mostrou bem teimosa a nadar contra correntes e a combater aqueles que poderiam ter ajudado a levar o país a bom porto!
Chegados aqui, deve ter Já ficado evidente que a minha admiração por TODAS aquelas mulheres não tem nada de romântico. Tem a ver com a sua SUBTÂNCIA como atores e personalidades públicas de referência (mesmo para aquelas a quem não tiro o meu chapéu). Portanto, não me venham aquí acusar de machismos. Para além dos ensinamentos da minha mãe, na minha juventude fui tutelado por uma grande mulher neste país. Uma mulher que comandou (e ainda comanda algum) respeito e admiração, mas que também (infelizmente) aposta em continuar a desapontar por andar colada ao grupo das “cabalas”. Uma daquelas Senhoras (com S) que se tivesse aceite ir a frente o anterior Presidente não teria passado. Também nessa altura eu dizia a alguns amigos que se ela fosse para a frente, eu consideraria engolir os meus sapos por ela também. Desiludi-me (como o foram muitos Moçambicanos) quando ouvi e vi que ela se pôs de lado e estendeu o tapete vermelho ao filho mais querido que nos legou o fardo dos 2 biliões. E a minha esperança de servir a comando de uma mulher moçambicana de valor se foi!
Não foi tudo perdido, no entanto, pois tive depois uma grande consolação, que foi quando fui servir o Governo e ter a oportunidade de servir junto da primeira mulher eleita Presidente em África, a Sra Ellen Jonhson Sirleaf. E a partir do “olho do furacão”, ajudá-la a limpar o lixo deixado pelos seus antigos carcereiros. Mas aquí há sigilo profissional, e tenho que controlar a minha “vaidade”.
De facto a única razão pela qual trago isto é para destacar as qualidades dela e o exemplo que ela é para as mulheres Africanas. Ela lutou, resistiu, desafiou e foi encarcerada (literalmente) pelos homens tiranos. E quando saiu de la ainda lhes bateu em eleições, e com o poder de Estado começou a endireitar a sociedade. Não se tornou ditadora, e depois transferiu o poder pacificamente para um homem, num dos países mais devastados pela vagabundice dos homens. Pena que teve o revês do Ebola.
Há em Moçambique mulher com coragem de fazer isso? Talvez um dia a Fátima Mimbire! Eu serviria a ela com muita dedicação.
SEGUNDO:
Acerca da “provocação” que essa mesma Fátima Mimbire me fez na ‘Opinião no Feminino’ de ontem. Ela mencionou o meu nome em público num lugar onde eu não estava, não tinha modo nenhum de responder ou dar achega ao que ela disse sobre mim, banido que estou das FRELIVÊS. Para o benefício dos meus amigos que podem ter ouvido e se perguntado de que é que ela estava a falar, vou usar o meu “direito de resposta” por via desta plataforma.
A Fátima Mimbire mencionou o meu nome associando-o a uma proposta para uma Assembleia Constituinte de TODOS para tratar de TODOS os problemas de que estamos a falar intensamente nos últimos dias. Foi em 2016. Na realidade, foram ideias que eu fui colhendo e sistematizando num processo semelhante a este em que estamos agora engajados, debatendo os mesmos problemas que estamos agora a debater, fazendo os meus pontos e aceitando as dos outros (algumas vezes relutantemente, niguém é perfeito e algumas vezes também sou teimoso!). E depois de muitas rondas (não chegaram a 100!), promovi uma “votação” da ideia nesta mesma plataforma (lembram-se?).
E depois, quando fui convidado a ser membro do “Painel de Monitoria das Negociações para a Paz” painel esse que que os negociadores nunca deixaram entrar na sala deles), levei essa ideia para lá. Ela foi debatida em vários pontos do pais, publicamente, em conferências interprovinciais e em grandes cidades, com a logística do Parlamento Juvenil, por incumbência da criado pela “Conferência Pensar Moçambique”. No processo fomos colhendo mais subsídios. Os colegas do Painel e os participantes nesses debates públicos gostaram de partes da mesma, não de toda a ideia. Até da desingação “Assembleia Constituinte” alguns não gostaram, e mudamos para “Conferencia Nacional”. Pediram-me então para re-arrumar tudo o consensualizado e a incorporar algumas outras ideias que até tinham sido expressas por outros nos debates que conduzi nesta plataforma. E depois de lhe termos dado esse arranjo, o plano foi adotado como uma proposta do Painel a ser apresentada ao Presidente da República e ao Presidente da RENAMO.
E assim foi feito. E eu fui chamado a ser o assinante número 1 da carta enviada com esse documento aos dois líderes (alguém tem que pôr o guizo ao gato!). Foi nessa altura que apareceram alguns da “outra sociedade civil” (provavelmente aquela que estava a ser consultada com exclusão da “outra”), a dizer que estávamos a sabotar o trabalho da Comissão Mista que então decorria na ‘Joaquim Chissano’ (o predecessor imediato das negociações por telefone e nas matas). Foi desse tempo a marcha de 27 de Agosto que foi a mais escoltada pela polícia e no entanto não conseguiram bater ninguém de tão bem organizada que foi (nós até nos organizamos para vigiar a própria polícia e os provocadores “profissionais”).
O plano vai em anexo a este post, em 10 slides.
Dei esse historial todo para que os meus amigos do Facebook não se admirem se se reconhecerem nele. Ele foi apresentado publicamente no Teatro Gilberto Mendes, e depois enviado aos Presidentes Nyusi e Dlhakama. Os Negociadores da RENAMO estiveram presentes. Os do Governo não foram (ou não se sentiram) autorizados a participar na sessão, mas depois se dispuseram a receber uma apresentação dedicada somente a eles. E os Chefes das Comissões de Negociação aceitarem receber e encaminhar nossa carta e a proposta aos sues chefes.
Escusado dizer que os dois Presidentes nunca se quer se dignara a dizer nem sim nem não. O plano propõe aquilo que se diz hoje: é necessário abrir o debate e permitir a participação de todos os segmentos da sociedade na solução de todos os grandes problemas que o país enfrenta. A resposta dos chefes foi recorrer a negociações secretas por telefone e na mata.
Os que não conhecem o plano devem ir vê-lo agora, e dizer se não teríamos um resultado melhor hoje se os dois líderes tivessem acatado metade do que preconizávamos. É por isso que as pessoas e interesses para quem a Artemisa Franco faz a frente não são credíveis. Foram para uma Conferência sem ideias e saíram de lá a preconizar a produção de ideias e planos que já existem.
Mando isto cá para fora para que o público não continue a ser enganado por aqueles que dizem que consultaram e absorveram as ideias da “sociedade civil”, quando na realidade se recusaram sequer a ouvir e ler o que falávamos e escrevíamos para eles.
Já agora: se eu tivesse 10,000 assinaturas para entrar na contenda e mais uns bons milhões na contenda real em 2019, esse plano seria mais desenvolvido com mais subsídios de moçambicanos e executado em 2020-2021. E de certeza continuaríamos a poder eleger os nossos Presidentes de Municípios e tê-los a responder perante nós. Os Distritos não esperariam até 2024 para ter uma boa reforma de governação (traçado de modo participativo!). E de certeza que a paz, reconciliação, democracia e os seus benefícios políticos, económicos e sociais seriam aprofundados em vez de amputados como está sendo tramado agora pelos entendimentos da FRENAMO.
Bom fim-de-semana (estou fechado; o meu amendoim está a germinar por causa das chuvas excessivas e tenho que colhê-lo).
Roberto Tibana
Like
8 Comments
Comments
Nito Ivo Tem que VOLTAR a ser claro e directo nos textos (primeira parte).
Manage
LikeShow more reactions
2d
Fatima Mimbire Boa colheita meu amigo.
Manage
LikeShow more reactions
2d
Afonso Dete Vamos experimentar este modelo de descentralizaxao proposto, se n funcionar, gastaremos mais tempo e dinheiro (das futuras geraxoes) em tentar melhorar a descentralizaxao.
Manage
LikeShow more reactions
2d
Adelino Buque As ideias Boas continuam a ter "cartao" partidário em Moçambique, pior com a nova forma de descentralização a ser adoptada, algo deve mudar.
Manage
LikeShow more reactions
2d
Afonso Dete Nao queremos so mudanxas, queremos melhorias. A mim, n me interessa disputas partidarias, mas sim o desenvolvimento d Moz.
Manage
LikeShow more reactions
2d
Adelino Buque Como se faz?
Manage
LikeShow more reactions
2d
Afonso Dete Pensando no POVO primeiro. Pensando no Pais, em ultimo pensar no partido. Os EUA sao exemplo disso, ilustre.
Manage
LikeShow more reactions
2d
Yussuf Adam TRata se de um acordo entre as elites... Finalmente a RENAMO parece ter conseguido pelo que lutava e a FRELIMO mantem alguns dos seus principios... estado unitario, Mocambique Uno e Indivisivel, respeito pela constituicao, etc... Temos pouca informacao das negociacoes.. Mas e pena que um acordo que poderia ter sido assinado quando a guerra entre a FRELIMO/RP< e a Renamo mais as varias adjacencias comecou e so assinado quando 40 anos depois. RIP para os mortos, os desaparecidos que aparecam, os feridos e estropiados... Se fizesse uma listagem da minha familia alargada, amigos, conhecidos e colegas dava um rol bem longo... Pena que nao savbemos resolver as coisas imediatamente...
Manage
LikeShow more reactions
2d
LikeShow more reactions
2d
Filipe Lopes Maera professor, seja mais simples com as palavras. Eu sou doméstico
Manage
LikeShow more reactions
2d
José Jaime Macuane Entendi bem: candidatura para 2019 em perspectiva?
Manage
LikeShow more reactions
1d
Roberto Julio Tibana As interrogações nunca ficam sem respostas. As respostas podem ser outras interrogaçőes! E exclamações! E ... reticências...
Manage
LikeShow more reactions
1d
Maia Anussa Cassimo Abasse Seja directo, não de curvas Roberto Julio Tibana... Responda a questão do Jaime.
Manage
LikeShow more reactions
1d
LikeShow more reactions
1d
Roberto Julio Tibana Esta semana trabalhei muito aquí no FACEBOOK e ontem eu disse que este fim de semana estou fechado a colher o meu amendoim que está a germinar por cause do excesso De chuva! ...
Manage
LikeShow more reactions
1d
Heinrik Sam Paindane Colher amendoim que esta a germinar, é possivel? Deixa atingir a fase de maturação e colha. Preludio de uma candidatura futura.
Manage
LikeShow more reactions
1d
Sarmento Abel Sande Recomenda-se uma boa colheita ilustre Dr. Tibana. Quem trabalha merece colher os respectivos frutos. Abraço.
Manage
LikeShow more reactions
7h

Sem comentários: