CRIMES SEXUAIS
O Papa Francisco confirmou o cardeal americano Sean O'Malley à frente da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores. O'Malley criticou recentemente o Papa por desvalorizar acusações contra bispo.
O Papa Francisco confirmou o cardeal norte-americano Sean O’Malley— que recentemente atacou o pontífice por ter desvalorizado as acusações contra um bispo chileno que terá encoberto abusos sexuais — como presidente da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores. Este é o órgão do Vaticano criado em 2013 para acompanhar as vítimas de pedofilia por parte de membros do clero.
Segundo um comunicado da sala de imprensa da Santa Sé, o Papa nomeou este sábado os novos membros desta comissão — o mandato dos anteriores terminou em dezembro do ano passado. Entre os dezasseis nomeados para este órgão consultivo encontram-se nove membros novos e sete que são reconduzidos. Oito são mulheres e oito são homens.
“O Santo Padre escolheu estas oito mulheres e estes oito homens no campo multidisciplinar de peritos internacionais na proteção de menores e adultos vulneráveis contra o delito de abuso sexual. Representantes de diversos novos países oferecerão a sua sabedoria e experiência à Comissão, refletindo o alcance global da Igreja e o desafio de criar estruturas protetoras em diversos contextos culturais”, lê-se no comunicado emitido pelo Vaticano.
Entre os nomeados, cujos nomes foram divulgados, encontram-se também vítimas de abusos sexuais por parte de membros do clero, como tem sempre acontecido na comissão. Porém, o Vaticano não revela, por opção dos próprios, quais os membros da comissão nessas condições.
Esta nomeação está a ser entendida como uma forma de reativar esta comissão e dar uma resposta mais firme aos abusos sexuais na Igreja. A comissão chegou a ver alguns dos seus membros demitirem-se, como Marie Collins, irlandesa vítima de abusos sexuais, por considerarem que a estrutura da Igreja não lhes estava a dar liberdade de ação para implementar medidas mais firmes.
A nomeação dos novos membros desta comissão acontece poucas semanas depois de o Papa Francisco ter estado sob fogo precisamente por causa de denúncias de abusos sexuais no Chile.
A visita do Papa Francisco àquele país, em janeiro, reacendeu uma polémica nacional sobre o bispo Juan Barros, que é acusado de, durante décadas, ter protegido Fernando Karadima, um padre que terá cometido abusos sexuais durante vários anos. O Vaticano chegou mesmo a considerar Karadima culpado e suspendeu-o para a vida.
Durante a viagem, o Papa foi confrontado com as acusações e respondeu: “No dia em que vir uma prova contra o bispo Barros, então falarei. Não há uma única prova contra ele. É tudo calúnia. Está claro?” As declarações do Papa foram recebidas com críticas dentro e fora da Igreja, uma vez que foram consideradas uma forma de descredibilizar ou desvalorizar os testemunhos daqueles que foram vítimas de abusos.
O cardeal Sean O’Malley, que agora Francisco reconduziu na liderança desta comissão, foi um dos mais críticos, tendo afirmado que os comentários do Papa foram “uma fonte de grande dor para os que foram vítimas de abuso sexual por parte de membros da Igreja ou de qualquer outro abusador”. O Papa Francisco acabaria por pedir desculpa pela expressão, que “não foi feliz”.
Citado agora pelo Vaticano, O’Malley diz que o Papa “garantiu a continuidade no trabalho” da comissão, “que é apoiar as igrejas locais em todo o mundo nos seus esforços para proteger todas as crianças, jovens adultos e adultos vulneráveis”. O cardeal norte-americano sublinhou ainda que o Papa demonstrou “muita consideração e oração ao nomear estes membros”.
Durante os últimos quatro anos, explica ainda o Vaticano, aquela comissão trabalhou com quase 200 dioceses e comunidades religiosas em todo o mundo para “consciencializar e educar” os católicos no sentido de proteger as crianças e jovens no meio católico.
Esta semana, o Vaticano revelou que o Papa Francisco se encontra “várias vezes por mês” com vítimas de abusos sexuais por parte de membros do clero, para as escutar e a as ajudar a “curar as graves feridas causadas pelos abusos”.