Bruce McArthur foi acusado de ter matado 5 homens homossexuais em Toronto, Canadá. As autoridades vão investigar mais 30 propriedades, onde acreditam que o jardineiro possa ter escondido mais corpos.
Ao desmembrar as suas vítimas e enterrar os restos mortais em canteiros, o jardineiro Bruce McArthur estava, sem saber, a preservar os cadáveres. O método deste assassino em série vai acelerar a investigação da polícia, no que diz respeito à identificação dos corpos, de acordo com o National Post. “Ironicamente, quando se enterra alguma coisa, isso vai fazer com que se preserve“, explica Scott Fairgrieve, consultor de antropologia forense, ao mesmo jornal. É que os assassinos em série tendem a esconder os cadáveres da forma que lhes é mais conveniente e não aquela que é mais racional, pelo que Fairgrieve não está surpreendido com o método de McArthur.
No início desta semana, a polícia encontrou restos de cadáveres desmembrados nos canteiros de um jardim de uma casa em Toronto. Os restos mortais pertencerão a, pelo menos, três pessoas cuja identidade ainda não é conhecida, revelou Hank Idsinga, o inspetor responsável pelo caso, numa conferência de imprensa. Os restos mortais foram recolhidos e vão ser agora analisados por especialistas forenses.
“Obviamente, a cidade de Toronto nunca viu nada assim”, disse. Nunca tinha visto pelo que custou a acreditar. Há cerca de um mês, Mark Saunders, o chefe da polícia de Toronto insistiu: mesmo perante os últimos desaparecimentos, não havia quaisquer evidências de que haveria um assassino em série no bairro “The Gay Village”, em Toronto, no Canadá — uma área geograficamente reconhecida e frequentada pela comunidade LGBT. “A comunidade, especialmente na Village estava muito, muito nervosa, e com razão”, disse Helen Kennedy, diretora executiva da Egale, uma organização que luta pelos direitos da comunidade LGBT.
Tinha mesmo razão. Agora, a polícia admite estar perante um assassino em série e até compara este caso ao de Robert Pickton que matou 49 prostitutas e transformou-as em carne picada para vender e dar aos porcos. “É um alegado assassino em série. Deu alguns passos para cobrir o seu rasto e temos que descobrir estas vítimas e identificá-las”, disse o detetive Hank Idsinga.
No passado dia 18 de janeiro, a polícia deteve e acusou Bruce McArthur, de 66 anos, por suspeitas de ter assassinado, pelo menos, dois homens que tinham sido dados como desaparecidos no bairro. “Acreditamos que ele [McArthur] é o responsável pelas mortes de Selim Esen e Andrew Kinsman“, disse Idsinga na altura. Esen, de 44 anos, desapareceu em abril do ano passado. Dois meses depois, Kinsman, de 49 anos — com quem o assassino tinha uma relação de natureza “sexual” de longa duração, de acordo com as autoridades.
A polícia também suspeitava que o jardineiro era o “responsável pela morte de outros homens”. E estava certa: no dia 29 de janeiro, McArthur foi acusado pela morte de outros três homens. Majeed Kayhan, de 58 anos, desapareceu em 2012. Soroush Marmudi, de 50, foi dado como desaparecido pela família, três anos depois, em 2015. Dean Lisowick, de 47 anos, vivia num centro de acolhimento para sem-abrigo, em Toronto e, por isso, nunca foi dado como desaparecido. A polícia suspeita que foi assassinado entre maio de 2016 e julho do ano passado.
“Foi bizarro ver a minha casa na televisão”. A propriedade onde foram encontrados os corpos
Quando Karen Fraser e o marido chegaram à sua casa, foram informados pela polícia que tinham 20 minutos para a abandonar. “Não conseguia pensar. Estava horrorizada”, disse Fraser, ao programa “As It Happens”, citada pela CBC. É que a casa deste casal na rua Mallory Crescent, no bairro de Leaside, em Toronto, tinha acabado de se transformar numa cena de crime. “Foi interessante e bizarro ver a minha casa na televisão e os vizinhos que nunca conheci a serem entrevistados e a falar sobre mim e sobre a minha casa”, disse ainda. McArthur tinha feito um acordo com o casal: podia guardar o seu equipamento de jardinagem na casa do casal e, em troca, cortava a relva e cuidava do jardim — e enterrava restos mortais das vítimas nos canteiros.
O jardineiro visitava a propriedade em causa duas a três vezes por dia, durante anos, de acordo com Parker Liddle, que vive na zona. “Frequentemente, tirava plantas e vasos de flores da carrinha e levava-as para a parte de trás da casa”, onde havia uma tenda estilo militar com um gerador de energia. Ou o inverso: “Trazia o mesmo tipo de coisa da parte de trás da casa e punha-as na carrinha”, conta a vizinha.
Apesar de a polícia não ter evidências suficientes para concluir que havia mais alguém a colaborar nos crimes do jardineiro, Liddle contou ao National Post que via frequentemente uma rapaz mais novo a ajudar McArthur nos trabalhos de jardinagem.
Mais vítimas mas não se sabe quantas. Um mistério de sete anos
O número final de vítimas do jardineiro assassino em série não deverá ficar pelos cinco: “Acreditamos que há mais [vítimas], mas não faço ideia quantas”. As autoridades vão investigar mais 30 propriedades ligadas ao jardineiro. “Acreditamos que existem mais restos mortais em algumas destas propriedades, nas quais estamos a trabalhar”, adiantou Idsinga.
O mistério dos desaparecimentos na “Gay Village” já dura há seis anos. Depois do desaparecimento de Kayhan em outubro de 2012, a polícia lançou o projeto Houston para investigar o desaparecimento de mais outros dois homens do bairro. Eram três por esta altura. Dois anos depois, em 2014, a polícia encerra o projeto, alegando não haver provas para continuar a investigação nem ninguém suspeito. Mas, em agosto de 2015, Soroush Mahmudi, de 50 anos, seria dado como desaparecido, em Toronto, e até 2017, não param de surgir mais casos semelhantes: o sem-abrigo Lisowick — que nunca foi dado como desaparecido –, Selim Esen e Andrew Kinsman. Estes dois últimos casos começaram a ser investigados pela polícia em agosto de 2017, no âmbito do projeto Prism.
Em setembro, McArthur foi indicado como “alguém a ser incluído ou excluído de estar envolvido no desaparecimento de Andrew Kinsman”. No dia 16 desse mesmo mês, o jardineiro tinha vendido a sua carrinha — que usava para transportar plantas, segundo uma vizinha — a uma loja de peças de carros, revelou o dono à CBC, acrescentando que McArthur “não estava chateado, nem em pânico”. No dia 3 do mês seguinte, a polícia foi à loja pedir para ver a carrinha, onde encontrou vestígios de sangue.
Foi então que, em janeiro de 2018 — um mês depois de ter sido desconsiderada a hipótese de assassino em série — que o jardineiro foi detido e acusado de ser o suspeito da morte, numa fase inicial, de três homens e, mais tarde, cinco. O número pode subir, pelo menos, até sete se se vier a provar que McArthur é o assassino de todos estes desaparecimentos registados em Toronto durante estes sete anos.