segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Israel quer deportar 38 mil africanos. As primeiras ordens já seguiram


JACK GUEZ/GETTY

Defensores dos imigrantes, incluindo dezenas de sobreviventes do Holocausto, pedem ao primeiro-miinistro que reconsidere

Israel começou a enviar ordens de deportação a imigrantes africanos que se encontram no país sem um estatuto oficial que lhes permita ficar. A medida tinha sido anunciada há meses, no âmbito de uma nova lei sobre 'infiltrados', e começou agora a ser aplicada. Mas têm-se ouvido muitos protestos, quer dos atingidos quer de partes da sociedade israelita que se mostram solidárias com eles, recordando que Israel foi largamente fundado e construído por refugiados.
São cerca de 38 mil os africanos que o primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, quer deportar nos próximos meses. Segundo o novo esquema, cada um deles receberá uma oferta de 3500 dólares (2800 euros) e um bilhete de avião para um país africano não revelado (mas que tudo indica ser o Ruanda, ao abrigo de um acordo entre governos). Caso o imigrante recuse, será enviado para uma prisão israelita por tempo indefinido.
O governo fala em "deportação voluntária" e diz que nada tem de extraordinário, lembrando que milhares de imigrantes foram já retirados do país nos últimos tempos. Mas a ameaça de prisão desmente a natureza voluntária do processo. Ainda assim, homens que foram anteriormente deportados testemunham que foram alvo de roubos e maus tratos, bem como tráfico humano. Aconselham outros africanos a permanecer em Israel, mesmo que tenha de ser na cadeia. Antes isso que arriscar a morte, dizem.
Petições assinadas por médicos, diplomatas, arquitetos e outros – incluindo 36 sobreviventes do Holocausto – pediram ao governo que reconsidere. Algumas pessoas prometem mesmo escondê-los nas suas casas. Mas Netanyahu considerou a campanha "sem fundamento e absurda".

ANTES DAR EMPREGO A UM PALESTINIANO...

Notando que compete a cada pais controlar a sua população, o primeiro-ministro israelita alegou que o seu país não tem obrigação de aceitar a permanência de imigrantes económicos ilegais. E sugeriu que o bilionário George Soros, defensor de causas liberais, estará a financiar os protestos. Uma acusação que um porta-voz deste negou, embora reiterando que Soros acredita ser errado "enviar demandantes de asilo para países onde podem ser perseguidos ou mortos".
Israel tem tido uma política notoriamente restritiva em relação aos refugiados oriundos de certos países africanos. Entre os quais o Sudão, que tem estado em guerra civil, e a Eritreia, onde é imposto aos homens um serviço militar que pode durar décadas e tem sido considerado uma forma de escravatura. Atendendo a esses fatores, 90% dos eritreus e 56% dos sudaneses que pediram asilo na Europa nos últimos anos conseguiram-no.
Por comparação, em Israel, dos milhares que fizeram esse pedido, apenas 10 eritreus e um sudanês tiveram êxito. Há ainda 200 sudaneses com um estatuto intermédio que lhes permite trabalhar no país. Crê-se que um número muito maior deles o façam, embora ilegalmente, o que os limita a indústrias como a construção e os restaurantes, onde o controlo oficial é menos estrito.
O processo de obtenção de asilo em Israel é criticado por ser extremamente laborioso, e um membro do governo foi ao ponto de admitir que prefere dar emprego a um palestiniano do que a um africano...

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