CRISE DOS REFUGIADOS
Refugiados yazidi.
Depois de o ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, ter anunciado a chegada de 30 refugiados yazidi a Guimarães, a Grécia reagiu acusando Portugal de discriminação. Afinal, que polémica é esta?
O governo grego acusou esta terça-feira o governo português de ser injusto e discriminatório com os refugiados que esperam asilo na União Europeia, depois do o ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, ter anunciado que Portugal irá receber um conjunto de refugiados da minoria yazidi nas próximas semanas. Para o ministro da Imigração grego, Yannis Mouzalas, é inaceitável que Portugal se disponibilize para receber refugiados de uma etnia específica, já que os governos não devem “discriminar com base na raça”, disse o ministro, citado pela Associated Press.
A polémica começou na terça-feira, com as declarações do ministro-adjunto, Eduardo Cabrita, numa audição no Parlamento, na Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias. Lá, Eduardo Cabrita revelou que Portugal irá receber, nas próximas semanas, um conjunto de 30 pessoas da etnia yazidi, que serão acolhidas em Guimarães. O ministro explicou ainda que até março deverão chegar mais cem pessoas, pertencentes à mesma comunidade. “Temos de garantir que não são rejeitados de forma nenhuma”, defendeu Eduardo Cabrita, sublinhando a importância de proteger esta minoria religiosa, uma das mais perseguidas pelo Estado Islâmico.
Ministro grego: “Nenhum governo pode discriminar com base na raça”
Na noite de terça-feira, o governo da Grécia, país onde estão neste momento estes refugiados à espera de asilo na União Europeia, reagiu a estas declarações, acusando o governo português de discriminação e de injustiça para os outros refugiados. Segundo a Associated Press, que ouviu o ministro grego da Imigração, Yannis Mouzalas, o governo grego afirma que há mais de 60 mil refugiados e migrantes à espera de conseguir entrar na União Europeia, depois de os países balcânicos terem fechado as fronteiras. Entre eles, encontram-se cerca de 2.500 da comunidade yazidi.
A Grécia deverá, segundo a mesma reportagem, rejeitar a proposta de Portugal para acolher os refugiados yazidi, por considerar que o convite específico para os membros daquela comunidade é inaceitável. O ministro grego afirma ainda que “quem faz muito barulho à volta deste assunto não está a ajudar os yazidis“. Yannis Mouzalas defende que “nenhum governo pode discriminar com base na raça“, e acrescenta ainda que a Grécia “leva o assunto dos yazidis muito a sério, porque eles sofreram muita violência e perseguição. Estamos a fazer tudo o que é possível para assegurar a proteção deles”, explicou.
Entretanto, a eurodeputada portuguesa Ana Gomes já veio considerar que as preocupações do governo grego não fazem sentido. “Estas pessoas foram vítimas de discriminação negativa no alojamento noutros países europeus, quando devem ter uma discriminação positiva no reconhecimento da barbaridade que sofreram”, explicou Ana Gomes à AP.
Eduardo Cabrita: “Espero que seja um mal-entendido”
Já esta quarta-feira, Eduardo Cabrita voltou a defender a posição de Portugal, negando ter feito um pedido específico para acolher refugiados yazidis. “Há um programa europeu de recolocação decidido em setembro de 2015 que envolve a recolocação a partir de campos refugiados na Grécia e em Itália”, explicou o ministro, em declarações à Agência Lusa. “Nesse quadro houve elementos da comunidade yazidi que estão em campos na Grécia que manifestaram interesse em ser colocados em Portugal e Portugal aceitou“, detalhou.
“Portugal aceitou e manifestou essa disponibilidade, manifestámos ter condições para acolher até cerca de 400 pessoas da comunidade yazidi e estamos a preparar – em função das características culturais e de organização dessa comunidade – as regras de acolhimento que parecem mais adequadas”, acrescentou ainda o ministro. Eduardo Cabrita sublinhou ainda que Portugal já recebeu perto de mil pessoas, entre sírios, eritreus e iraquianos. Relativamente à reação do governo grego, Eduardo Cabrita diz que espera “que seja um mal-entendido”, e afirma que “a posição portuguesa é de inteira cooperação”. E acrescentou: “É exatamente porque não tem nenhum privilégio que [o grupo] só chegará agora“.