AUTARQUIAS
Depois das notícias de pagamentos antecipados a câmaras socialistas para financiar obras, o vice-presidente Marco António Costa antevê "batota pré-eleitoral". Carlos Barbosa apontado para Lisboa.
O PSD está preocupado com a “batota pré-eleitoral” que o Governo socialista estará a preparar para o processo eleitoral autárquico que se avizinha. Depois de ter sido tornado público, na semana passada, que o Governo tinha assinado um despacho que permitia a dez câmaras, nove das quais do PS, receber de forma antecipada verbas para o financiamento de obras, o vice-presidente do PSD Marco António Costa antecipa que a “prática engenhosa” do atual Governo poderá trazer tempos de “batota pré-eleitoral”. “Vai ser o vale tudo”, teme Marco António Costa.
“Se o défice marcou o discurso político no primeiro ano de Governo, as eleições autárquicas vão marcar o segundo. Não assumidamente, porque dita a prática engenhosa deste governo que é com argúcia que se leva a água ao moinho (aos vários moinhos), mas presente nos atos e nas intenções. Como se viu na passada semana com o favorecimento vergonhoso de autarquias socialistas. Vai ser o vale tudo!”, escreve o primeiro vice-presidente da direção de Pedro Passos Coelho na recente newsletter diária que o PSD começou esta semana a divulgar.
Em causa está a decisão do Governo, noticiada na semana passada pelo jornal Expresso, de pagar antecipadamente 2,5 milhões de euros ao abrigo do regime de cooperação técnica e financeira com o poder local. As verbas beneficiaram 10 autarquias, sendo que apenas uma, Vouzela, é liderada pelo PSD. As restantes nove são socialistas. Depois desta notícia foi ainda divulgada uma outra que dava conta da devolução de cerca de 79 milhões de euros pelo Fisco às autarquias — em juros de mora e impostos municipais indevidamente retidos pelas Finanças –, sendo que se trata de mais uma transferência de dinheiro dos cofres do Estado para os cofres das câmaras em vésperas de início do período eleitoral.
Para Marco António Costa tudo isto são sinais de “parcialidade” e indícios de que vai mesmo haver “batota pré-eleitoral” da parte do Governo para com as autarquias socialistas. “Preparemo-nos para a famosa parcialidade dos governos de esquerda. Para esta esquerda vale tudo… preparemo-nos para a batota pré-eleitoral”, escreve o também deputado social-democrata.
Segundo o vice-presidente de Passos Coelho, o Governo só vai ter uma preocupação a partir do segundo semestre do ano e essa preocupação é apenas “cumprir um calendário: o das eleições”. Esta “ambição eleitoralista”, de resto, escreve, já começou a ser visível na preparação do Orçamento do Estado para 2017, quando o Governo começou a “atirar areia para os olhos dos portugueses, vendendo-lhes a ilusão de que a aposta é no seu bem-estar e na melhoria da sua qualidade de vida, com manobras eleitoralistas como os aumentos no subsídio de refeição ou de até 10 euros em pensões mínimas”. “Mas só a partir do segundo semestre do ano, porque a vida dos portugueses só está na agenda política para cumprir um calendário: o das eleições”, escreve.
O dossiê das autárquicas, que tem andando meio tremido desde o último trimestre do ano, vai arrancar a todo o gás nestes primeiros meses de 2017. Com o PSD sem candidato definido para Lisboa, começam a multiplicar-se os nomes que são testados ora à mesa das negociações ora nas páginas dos jornais. Esta quinta-feira, o jornal Público avança que o nome do presidente do Automóvel Clube de Portugal, Carlos Barbosa, está a ser apontado como um dos possíveis candidatos do PSD para a capital, assim como o nome do vice-presidente do Benfica e ex-diretor-geral da TVI José Eduardo Moniz. Não é certo que a direção nacional do partido queira um destes nomes, ou até que queira um nome próprio, uma vez que Passos Coelho já terá dado luz verde à coordenação autárquica para encetar negociações com o CDS que podem vir a culminar no apoio dos sociais-democratas à candidatura da líder do CDS, Assunção Cristas.
Também esta quinta-feira o jornal i dá conta de que o PSD poderá apoiar o dissidente António Capucho à presidência da Assembleia Municipal de Sintra, no âmbito da candidatura de Marco Almeida àquela autarquia. Capucho foi expulso do PSD há três anos depois de ter apresentado uma candidatura independente à Assembleia Municipal de Sintra, adversária à candidatura que era apoiada pelo partido. Na mesma altura Marco Almeida, que liderou a lista à presidência da Câmara de Sintra, e muitos outros militantes sociais-democratas que apoiaram a sua candidatura independente, também cessaram a militância no partido.
Agora ambos os dissidentes voltam numa lista independente mas que desta vez conta com o apoio formal do PSD.