Deixei um dos meus telefones ligados durante o fim-de-semana, mas nada. Não tocou. Ou melhor, Nyussi não ligou. Fiquei mais consternado ainda quando vi a lista dos governadores provinciais esta manhã e notei que Gaza vai ter novo governador, e não serei eu. Bom, mais uma pessoa cujo trabalho vou sabotar com prazer… mas prontos, estou livre de falar como me der na gana. E tenho muita vontade de o fazer a propósito do novo elenco governamental. Há muito que se diga a seu respeito. Os comentários que vejo por aí dão mais destaque à questão da competência técnica duma boa parte dos novos membros do governo. Curiosamente, a competência técnica é o que o país menos precisa ao nível do governo. Sei que entre nós se venera muito esta ideia. Há pessoas que até ficam com os olhos vidrados quando dizem “fulano de tal é competente!”.
Vejo duas razões que chumbam este critério. A primeira é que um governo não é uma equipa técnica. A equipa técnica está no aparelho do Estado. É lá onde precisamos de pessoas tecnicamente competentes. Um governo é um conjunto político, cuja principal função é de definir objectivos políticos e lográ-los tendo em conta todos os interesses diferentes que fazem uma sociedade. Não basta ser engenheiro civil para ser bom ministro das obras públicas; não basta ser médico para ser bom ministro da saúde; não basta ser jovem para ser bom ministro da juventude; nem basta ser bom homem de negócios para ser bom ministro das finanças, da economia ou da terra. Este é um dos nossos maiores equívocos analíticos, creio. Um ministro só será bom ministro se for bom político e tiver uma boa dose de senso comum. Competência técnica nunca fará bom ministro, mesmo em sistemas autoritários. A segunda razão que chumba o critério é lógica. A competência técnica sempre se refere a uma área específica. Logo, um excelente cirurgião pode ter graves lacunas ao nível de questões ligadas à medicina preventiva, por exemplo. Ou um engenheiro civil pode saber armar betão, mas não entender patavina de andaimes. Portanto, mesmo que alguém fosse tecnicamente competente em alguma coisa, o ministério que vai dirigir consegue sempre ser muito maior do que as suas competências. Não há curso universitário para a área de juventude e desportos, ou mar, águas interiores e pescas, nem mesmo para educação e desenvolvimento humano. Nem mesmo em universidade privada. Quando muito há talvez num seminário qualquer da sociedade civil.
Portanto, acho engraçado que alguma discussão sobre o novo elenco insista sobre isto. Tenho um palpite, contudo. O meu palpite é que a nossa paixão pela competência técnica venha de dois legados pesados. O primeiro é o do Estado socialista com a sua ênfase no papel “dirigente” do Estado. É uma herança ambígua, pois o que a Frelimo dizia na altura era que o partido é que orientava tudo (portanto, reconhecia que a política é que mandava), mas ao mesmo tempo chamava ao Estado toda a tarefa de resolver todos os problemas do país, reduzindo desse modo tudo a um problema técnico. Samora Machel morreu com este nó na garganta. Aquela famosa Ofensiva Política e Organizacional que ele empreendeu na vã tentativa de reclamar a primazia da política estava desde logo condenada ao fracasso justamente porque toda a sua concepção de Estado tornava a política supérflua, o que criava espaço para que a tecnocracia assumisse cada vez mais o controlo das coisas. O segundo legado, sempre actual, é o da indústria do desenvolvimento com o seu discurso de solução de problemas que idealiza e romantiza as circunstâncias em que a própria Europa “se desenvolveu”. Quando exaltamos a “competência técnica” estamos, no fundo, a repetir este discurso inócuo que serve também para criar as condições de reprodução da indústria que está na base do discurso. Estamos em 2015. Não sei o que vão dizer agora em relação ao não cumprimento dos famosos objectivos do milénio e a redução pela metade de todo o problema que legitima a intervenção desses sabichões nas nossas vidas. Estou bem curioso.
Se a competência técnica não é o que está em causa, então o que está? Política, de novo. Só política. Por exemplo, eu acho que o governo ora formado suscita mais interrogações do que respostas e, por isso, não percebo os encómios que ele está a receber. Nem mesmo o facto de os G-40, essa “fata morgana” de muito aspirante a analista, não terem sido contemplados – repare-se que quem sempre disse que eles queriam ser nomeados ministros foram os seus críticos, não eles; rir-se deles por não terem sido contemplados é, no fundo, rir-se da própria piada – pode explicar este entusiasmo. Para já ele não deixa antever uma estratégia clara de abordagem de Moçambique. Parece um governo de gestão, mas no sentido normal do termo, o que no fundo até vai de encontro ao manifesto eleitoral do partido Frelimo. Tem ministérios com várias áreas cinzentas que na melhor das hipóteses vão conduzir a interessantes sinergias, mas na pior das hipóteses vão ser apenas razões para atritos que vão desgastar o executivo. Vejo isso em relação à agricultura, mar, águas interiores e pescas, terra, ambiente e desenvolvimento rural e ainda obras públicas, habitação e recursos hídricos. Gerir isso exige competência política, não técnica, e não sei se essa competência política existe. Vejo mais zonas de choque entre outros ministérios, mas vamos esperar para ver.
Notei também que estão incluídas no governo pelo menos duas pessoas que fizeram parte da equipa eleitoral de Nyussi. Refiro-me a Celso Correia e a Osvaldo Petersburgo. Não conheço o seu desempenho pessoal, mas tenho em mim que pessoas que fizeram este tipo de percurso com o eleito deviam fazer parte da sua equipa de assessores para que ele tenha sempre uma retaguarda. Funções executivas desgastam e é possível que ele se veja obrigado a demitir essas pessoas. Sem elas no governo, e fora, corre o risco de não ter o tipo de apoio que ele vai precisar para sobreviver a gestão do governo e do partido que vai ser tudo menos fácil. Isto é tanto mais importante quanto ele vai precisar de alguém bem forte para a tarefa de secretário-geral do partido, uma pessoa inclusivamente com estatura para o substituir no futuro. Aqui também, ainda que seja um pequeno detalhe, vejo mais motivos para franzir o sobrolho do que para estar esperançoso.
Por isso, penso que a discussão do que nos espera nos próximos cinco anos deveria também incidir sobre a nossa obsessão com “competência técnica”. O problema de ver tudo como um problema técnico é, para usar um termo pesado, epistemológico, isto é do pelouro da teoria do conhecimento. Para que essa visão vingue é necessário partir do pressuposto segundo o qual o mundo (natural e social) obedeceria a leis facilmente enunciáveis e que se reduzam a relações de causa e efeito. Um mundo perfeito, portanto. É uma ilusão, a ilusão da perfeição que tem vindo a ser um entrave muito grande à civilização política do nosso país.
48 comentários
Comentários
Euler Gente De Mocuba Meus
caros, estão convidados a lerem. Eu de cada vez que vejo análises
assim, começo a colocar interrogações a vida útil desta equipa que já
apelidei de Galácticos (Os de Madrid só tiveram sucesso em 1 ano, dos 3
ou 4 anos da era Galáctica). Gostaria de ver uma análise do Professor
sobre a primeira gestão do país bicefala.
Filipe Ribas Nós
temos alguma tendência de pegar em expressöes que dispensam
argumentação, porque criam a sensação de que estamos a falar
tecnicamente. E, então, acontecem aquelas conversas prolongadas entre
ignorantes, todos unânimes, porque não dá para deixar que se entenda o que säo.
Nem temos tempo para descobrir o que seja necessário para aferir da tal competência técnica. Politicamente me lembrei que quem montou a máquina de guerra de Hitler, em termos de equipamento foi um médico
Nem temos tempo para descobrir o que seja necessário para aferir da tal competência técnica. Politicamente me lembrei que quem montou a máquina de guerra de Hitler, em termos de equipamento foi um médico
Jorge Djedje O
prof. Amainou as minhas emoções, desconstruiu a nossa crença colectiva,
Shi! Interessante é a argumentação que sustenta esse "partir de
paradigma". Mas, gostaria de lembrar que o antigo Presidente Armando
Guebuza, foi severamente criticado quando colocou
o Engenheiro Jose Pacheco como Ministro de Interior e tantos outros em
áreas que não tinham competência técnica. Hoje, o presidente Nyusi,
talvez influenciado pelos acontecimentos que fiz referência, buscou
quadros com competência técnica e surpreendentemente temos esta crítica
clássica! Caso para dizer, "o mundo ralha de tudo".
Niz Tambira a
figura incopetente estara muita apta para fazer milagre desde que o
Nyuse esteja atento as suas capacidades tambem.Bom, e um presidente
moderno a tentar comandar de forma juvenil um pais de velhotes a espera
do gaza mutine.Eu acho que o governo foi bem
montado para nao deixar escapar incopetencias. O nosso amigo jovem
oswaldo peterburgo parecido com guebuza fisicamente deevia envelhecer um
pouco mais para esperar boas oportunidades de governacao neste pais de
hidrocarbonetos.A minha afirmacao e de que gostei, apesar do epilectico
estado do nosso amigo afonso macacho marceta dlhakama
Elisio Macamo o mundo pode ralhar de tudo, Jorge Djedje.
o que conta é se eu também ralhei quando aconteceu o que relata. se não
o fiz, então tem que julgar esta intervenção nos seus próprios termos. e
repare: a minha sugestão é de que competência política é mais
importante, o que não quer dizer que só ela seja capaz de resolver tudo.
e ausência de competência técnica não implica presença de competência
política, já agora.
Jorge Djedje Prof!
Que tal um engenheiro mecânico ministro de saúde? Entendo que em
algumas áreas competência técnica pode ajudar para definição de melhores
políticas?! Não concordo ilustre Elisio Macamo?
Elisio Macamo acho
que podia dar um bom ministro desde que reunisse os requisitos
políticos que destaquei (sem, contudo, explicitar). até o próprio Jorge Djedje podia ser ministro de tudo mais alguma coisa. o único que não podia ser é engenheiro duma obra se a sua formação
for sociologia como a minha. já fidel castro tinha dito isto: o único
que é necessário para que haja chefe é que haja uma vaga. não é o mesmo
para a vaga de enfermeiro...
Jorge Djedje Perdoe-me
pela generalização, o prof ponderadissimo que é, pode não ter " atirado
nenhuma pedra contra Guebas", mas muitos o fizeram. Em teorias de
administração, uma das fontes de autoridade do chefe é justamente o
domínio da actividade gerenciada. Mas, são parcialmente aceitáveis os
argumentos do prof.
Tomás Queface Interessante
tentativa de desconstruir a ideia generalizada de que temos uma governo
tecnocrata (pessoas competentes tecnicamente). Eu penso que Elisio Macamo conseguiu mostrar com base nos seus argumentos o porque a existencia de tecnicos nos cargos m...Ver mais
Elisio Macamo atirei pedras, mas sobre outros assuntos, não esse, Jorge Djedje.
ok, as teorias de administração referem-se à actividade gerenciada. o
que gerencia um governo? a política, não o técnico. logo, os técnicos do
sector é que precisam desse domínio, tão simples quanto isso.
Jorge Djedje Tenho mais por dizer, porém, permita-me deixar espaço para outros amigos por enquanto. Estou atento ao debate prof.
Elisio Macamo mesmo sob o risco de repetir o que já disse, Tomás Queface:
reconheço que haja um uso impreciso do termo, mas isso é uma razão para
nós tentarmos corrigi-lo aqui no debate. naturalmente que faria bem que
a pessoa indicada para um determinado pelouro tivesse
alguma ideia do assunto lá tratado, mas isso é do senso comum e não me
parece absolutamente fundamental para o sucesso. pode ser necessário
analisarmos muito bem o que falhou na anterior administração, mas duvido
que o problema tenha sido a colocação de pessoas não formadas, não
formadas na área ou mesmo sem conhecimento da área. agora, há um outro
sentido em que podemos usar o termo "competência técnica", nomeadamente
"competência técnica" na gestão do político...
Elisio Macamo sabe, Jorge Djedje,
é isto tipo de confusão que leva algumas pessoas a pensarem que
académicos possam, por natureza, fazer boa figura como políticos.
política é um assunto completamente diferente!
Jorge Djedje Percebo
prof. Para não ser como o tal, de uma das obras de Elisio Macamo, que
perante as evidências preferiu admitir que o cadáver sangra! Lembra-se
kkkkkkkkk lipelile!
Lucas Fulgencio Eu
penso que a opiniao do Prof. em relacao ao que designa de "governo
tecnocrata" sem competencia politica, pode ser objecto de criticas.
Primeiro, as politicas para os proximos 5 anos foram definidas ja no ano
passado e as mesmas foram anunciadas ao logo
da campanha. No discurso de tomada de posse, o Presidente
comprometeu-se a cumprir com as politicas ja anunciadas, contando para
isso com o engajamento do governo que ele criou. Segundo, porque toda
politica eh passivel de ajustamento durante a sua implementacao, eh
nessa altura em que a tecnica vai ajudar os Ministros a fazerem um
ajustamento correcto com base nas politicas ja tomadas no ano passado.
Para terminar, penso que um bom julgamento sera feito depois de algum
tempo. Se eu tiver me equivocado na minbha opiniao, peco ajuda para
compreender melhor a necessidade de tanta avaliacao "ex antes".
Junaide Vieira Mocumbi Sera
que o (um) técnico nao pode ser político e vice versa? Eu penso que nao
pode haver um reducionismo do ser político à apenas ser político e o
tecnico à tecenico. Se o homem já é por naturza um ser político, o
tecnico também o é! E porquê não também à nível dum governo.
Cachamba Amaral Muito
cumprida essa publicacao entretanto avaliando apenas um dos lados da
balanca. O outro lado da balanca sff, a competencia politica dos
escolhidos. Diz sempre que tem todos competencias tecnicas,
provavelmente baseado na palavra mais usada dos que opinaram sobre a
competencia do elenco e eventualmente "escondendo" o lado politico dos
nomeados.
Ilidio Da Silva Plenamente de acordo com a abordagem Caro Elisio Macamo.
Este problema para ser sanado tem tambem que ser abordado na
perspectiva da estruturacao das proprias unidades organicas. Suas
competencias e funcoes e consequentemente a definicao do perfil dos ...Ver mais
Shonguily Wanga Machel Ah
sim sr. Elisio Macamo, assim prefiro eu. Primeiro concordar no seu
presentimento, mas devo dizer que em algum momento e' bom termos pessoas
certas nos lugares certos, sem descurar que a tecnica deve sempre se
acasalar com as politicas, claro sem desviar da area de actuacao, porque
ca' deste lado convivemos com muitos politicos sem tactica politica...
Elisio Macamo concordo,
Ilidio Da Silva, também porque o seu comentário responde muito bem ao
comentário do Lucas Fulgencio, a quem (e aos demais) já não vou
responder esta noite porque estou cansado. uns terão que reler o post e
os comentários para não me obrigarem a
ser repetitivo, o Lucas Fulgencio terá de me dizer quando é o momento
exacto para analisar actos e intnções políticas. ao fim de cinco anos?
ao meio? quando algo estiver a correr mal? boa noite!
Faruck Jussubo Daudo Quem controla o aparelho do estado?
Lucas Fulgencio Obrigado
Prof Elisio; aguardo mehor resposta amanha. Porém, gostaria de dizer
que o Ilidio da Silva coloca um elemento novo ao texto principal, que é a
estruturacao das do Governo Central e seu alinhamento com as Direccoes
Nacionais. Esse assunto nao responde
exactamente a questao de competencia politica que se exige a cada mebro
do governo central. Quanto ao tempo que pergunta, nao precisamos de ver
as coisas a andar mal, pois que elas tambem podem andar bem. O dia-a-dia
do funcionamneto governo é o momento exacto para avaliar, através da
forma como cada assunto será tratado. Hoje, foi a tomada de posse, daqui
a pouco ja estarao no terreno; a ver vamos. Boa noite!
Egidio Canuma Jaime Langa, afinal não somos os únicos...
Lopes Silica Jr. Mudar
a face da minha Gaza implica tanta competência que duvido que a Stella
possa fazer algo de palpável, muito menos os que se arvoram em melhores
políticos que outros. Gaza é um cancer, não há médico certo para o
mesmo, nas tantas o Joseph Mengele. Txau
Clovis Macave penso
k eh preciso se refrear um pouco os animos em relacao aos governos
tecnocratas, sob risco de ficarmos profudamente desiludidos...ja vimos
isto em outras realidades. de facto, ser governante eh muito mais k
competencia tecnica...antes um bom lider
politico, pois por aki eh possivel vislumbrar uma luz...todavia, o
ideal seria um tecnico competente com doses fortes de politico
competente...pelo k, nao m parece ser o caso da maioria do elenco deste
governo...a ver vamos.
Emilio Maueie Ao
"falarmos" da competência (técnica) do governo, na minha percepção,
"estamos" a aplaudir antecipadamente o sucesso deste governo, nessa
(almejada) base de ilusão de sociedade perfeita. Ora, mesmo que seja
real que competência técnica conduza ao sucesso,
nao o seria so por si. Há um conjunto de factores. Destes, destaco, no
nosso caso, a coesão partidária. E isso remete-me à sua tese: ser-se bom
político. É aqui onde repousa o maior desafio do actual PR e do seu
elenco, pois, acho eu que este governo vai abanar o paradigma, no
sentido khuniano do termo. E isso pode ofuscar toda competência, mesmo k
esta fosse encarada como caminho para o sucesso do governo.
Faruck Jussubo Daudo Kkkkkkkkkkk, ser bom político é a coisa mas fácil que ser um técnico competente, simples quanto isso!
Noe Nhancale Eu
acho que o móbil da esperança gerada pelo novo governo esta na
saturação criada pela anterior tendencia de nomeação de comissários
políticos de competência duvidosa por serem apenas repetidores de
discursos e não pessoas necessariamente alinhadas e...Ver mais
Macvildo Pedro Bonde A
verdade 'e que precisavamos de uma nova "Umbrela" para dar um passo em
frente. Como trazer uma nova esperanca se nao faalrmos de competencia
tecnica e outros termos para amainar os animos, buscar uniao numa
sociedade com bastantes crispacoes? Teremos tempo para analisar os meses
e anos deste governo "Competente".
Adérito Mariano Lula
da Silva é um exemplo claro do exposto pelo mais-velho Macamo. Acho que
é sempre bom ver uma inovação, nem que seja só de pessoas e esperar
para ver. Moçambique, neste aspecto, está a caminhar bem, se compararmos
com outros países cujos chefes pretendem mudar constituições para se
perpetuarem no poder, não sei se pensando que são os "escolhidos dos
céus"!
Elisio Macamo sabe, Lucas Fulgencio,
tenho duas dificuldades principais com a sua intervenção. uma tem a ver
com o sentido em que usa o termo "política" e outra com a oportunidade
da crítica. tenho a impressão, a julgar pelo seu primeiro comentário,
que define política como um conjunto de
medidas ou acções a serem implementadas. ganho essa impressão a partir
da sua referência ao facto de estas coisas terem sido já decididas
faltando apenas a sua implementação. é por isso que acho que a resposta
de Ilidio Da Silva
serve, pois nesse entendimento de "política" o ministro é mesmo um
implementador e não me parece diferente dum director nacional (que
seria, para mim, um técnico). creio que este seja um equívoco
generalizado no país e que já critiquei várias vezes. o tipo de
habilidades que um ministro precisa de ter não se resumem apenas à
"execução" de ordens superiores ou do partido. são essencialmente de
interpretação dos princípios definidos. isso envolve a capacidade de
conciliar interesses diferentes na sociedade, negociar, arrumar
compromissos, rever, etc. a ponte da catembe pode ser uma excelente
ideia técnica. mas tomar a decisão de a construir não envolve apenas
apreciar os detalhes técnicos envolvidos (a qualidade dos materiais, as
vantagens económicas, etc.). implica sensibilidade para os problemas que
essa ponte vai criar para quem até aqui vivia do transporte por
ferry-boat e acomodar os seus interesses também. governar é isso. não é
só fazer a coisa certa. mas é deste equívoco que vem muita tendência
autoritária na forma de governarmos, acho. a minha segunda dificuldade é
com o apelo que lança para que a gente espere pela implementação para
avaliar. essa exigência faz algum sentido quando é feita aos membros do
partido que tomou certas decisões. não faz absolutamente nenhum sentido
para a discussão de ideias na esfera pública. nós temos o direito de
questionar intenções, decisões, objectivos e tudo o mais. um governo
competente e democrático não pode prescindir disso, o que não é o mesmo
que dizer que ele deve ouvir ou só fazer aquilo que a opinião pública
exige. não há, em minha opinião, um momento ideal para questionar uma
decisão. supondo que os reparos agora feitos não tivessem sido tomados
em consideração no momento de formação do novo governo este seria o
momento oportuno para fazer ajustamentos (não demitindo os nomeados, mas
chamando a sua atenção para as questões políticas no sentido verdadeiro
do termo...).
Ilidio Da Silva Caro Elisio Macamo,
a meu ver é pertinente que mais acçoões sejam realizadas ( e ai vos
estudiosos de nossa e outras sociedades devem ter um papel determinante)
para que os diferentes actores Politicos e Tecnicos compreendam estas
diferencas , pois muitas das vezes elas
são a razão para conflitos entre os mesmos. PS. uma duvida que gostaria
de ver resolvida. Muitas vezes vejo como noticia .... do governo esteve
presente o Director Naciona de .....! ate que ponto o Director Nacional
ë governo??
Lucas Fulgencio Obrigado Prof. Elisio Macamo
por ter respondido. Porém, eu tomei como ponto de partida as politicas
definidas no ano passado nao no sentido de accoes pre-definidas que os
minitros devem reproduzir e por via disso, serem equivalentes aos
directores nacionais. Foi apenas um
ponto de partida. So que ha alguma tendencia exagerada de se exigir o
dificil antes da realizacao do basico. Neste momento, ha muita gente
que tem falta de comida, de agua potavel, de acesso a medicamentos,
falta de estradas, sistema de transporte ineficiente, so para dar alguns
exemplos. Estes problemas precisam ao mesmo tempo de politicas a curto e
longo prazo para a sua resolucao e gestao permanente. Para mim, é
preciso resolver o basico dentro duma politica estrategica e
sucessivamente tornar essa solucao sustentavel. Concordo que temos o
direito de discutirmos ideias na esfera publica, mas é preciso que
partamos duma base solida para essa critica antecipada. concordo tambem
com exemplo que coloca em relacao a Ponte de Catembe que nao basta
apenas competencia tecnica, é preciso ter visao politica para olhar seus
beneficios e consequencias. Eu vou terminar colocando uma pergunta. 1-
Que politicas o Prof. sugeria para dar solucao aos sequestros; para
garantir energia de qualidade aos clientes; garantir comida em todas as
epocas do ano....; 2- qual seria o perfil do governo que sugeria para
resolver esses problemas?; 3- qual seria o tempo ideal para valicao? por
que?; obrigado
Romao Kumenya Kumenya Acredito
em Hannah Arendt quando diz que a politica constitui o renovar das
coisas, e tambem acredito que a mudança de elenco nem sempre representa o
recomeçar das coisas. No final o que vai pesar é o substrato que as
alicerça... No que se refere a compactacao dos ministerios, a grande
questao que me inquienta é saber se elas vao atender os principios da
eficacia ou do controle.
Egidio Vaz Professor Elisio Macamo
irei responde-lo recorrendo a um texto que partilhei hoje, publicado no
jornal noticia. Na verdade, trata-se de uma série de artigos que
publicou logo depois do IX Congresso da Frelimo, em que discutia "o
poder da Frelimo". O meu melhor
entendimento sobre aquela série foi que a gestão do país estava entregue
a uma burocracia que não tinha certezas sobre o que fazia;; que
sucumbia a um poder arbitrário de um conjunto de interesses de grupos
que, também arbitrariamente usava a Frelimo como seu escudo ou refúgio,
no contexto de uma cultura política que dá primazia à leadldade do que a
legalidade. Ora, se o seu pensamento ainda continua nestes termos,
então poderia facilmente perceber porquê as pessoas "abusam" e clamam
pela "competência técnica" nas posições de liderança. Também seria fácil
o professor perceber que o termo "competência técnica"significa tudo
menos o da forma como o Professor descreve. Por competência técnica, a
percepção pública entende como o conjunto de dois tipos de qualidades:
a) experiência anterior de gestão e com sucesso - aqui por exemplo,
Hermegildo Gamito, o actual presidente do CC não pode se gabar de ser
tecnicamente competente nem como gestor, nem como político. Na história
da falencia das empresas públicas, ele ocupa as páginas douradas. O seu
primeiro acordão conferindo a vitoria a Frelimo, é uma hecatombe, do
ponto de vista tecnico. O segundo conjunto de qualidades é a coragem. b)
Coragem de tomar decisões acertadas, independemente de ferir ou não a
lealdade de que o Professor fala em seu text ou, já agora, do que Nyusi
chamou atenção. Portanto, estamos a falar da "certeza de os dirigentes
tomarem as decisões baseando-se na legalidade. Temos exemplos deste tipo
de pessoas no governo. Irei de passo mencionar tres exemplos do que "as
pessoas" esperam dos "tecnicos" opra nomeados.
1-Resistência: a manipulação em relação a desvios de aplicações, negociatas e manipulação orçamental através de lobistas.
2-Coragem de tratar assuntos de Estado de forma transparente, tal como mandam as leis do pais e
3-Perspicácia virada para o pensamento crítico, comunicação e antecipação, transformação e resolução de conflictos, sejam eles de interesse ou quejando.
É disto que as pessoas se referem, quando falam de um governo feito de "técnicos". Na verdade, é da legalidade a que se referem, da supremacia do estado de direito democratico que promova comepticao e inovação.
PS: Também gostaria de concordar que SIM, houve tempos em que os nossos governos não eram nem tecnicos nem politicos, pelo menos nos termos por si propostos. Era um governo clientelista. E não político.
1-Resistência: a manipulação em relação a desvios de aplicações, negociatas e manipulação orçamental através de lobistas.
2-Coragem de tratar assuntos de Estado de forma transparente, tal como mandam as leis do pais e
3-Perspicácia virada para o pensamento crítico, comunicação e antecipação, transformação e resolução de conflictos, sejam eles de interesse ou quejando.
É disto que as pessoas se referem, quando falam de um governo feito de "técnicos". Na verdade, é da legalidade a que se referem, da supremacia do estado de direito democratico que promova comepticao e inovação.
PS: Também gostaria de concordar que SIM, houve tempos em que os nossos governos não eram nem tecnicos nem politicos, pelo menos nos termos por si propostos. Era um governo clientelista. E não político.
Elisio Macamo caro Lucas Fulgencio,
a pergunta que ia colocar pariu várias... mas aí vai uma decepção: eu
não faço a mínima ideia o que seria necessário fazer para resolver esses
problemas todos. foi por acaso por essa razão que nem me candidatei.
prefiro ficar na bancada a comentar as
propostas dos outros. acho que persiste num equívoco em relação à noção
de "política". não creio que estejamos a falar da mesma coisa. mas o
básico para mim, o básico mais essencial, não é nem comida, nem
habitação, nem nada disso. é clareza nos conceitos (ou nos termos de
análise), por exemplo, em relação à competência técnica ou política. só
clarificado isso é que poderemos abordar com (possibilidade de) sucesso
as outras coisas. e uma dica: acho muito imprudente e insensato abordar
qualquer que seja o problema na perspectiva de o eliminar.
Elisio Macamo pois, até que ponto é que director nacional é governo, Ilidio Da Silva? faz parte da tremenda confusão que fazemos...
Lucas Fulgencio Obrigado Prof. Elisio Macamo. Tudo compreendido. Aparecerei sempre que for possivel.
Elisio Macamo bom, Egidio Vaz,
a parte desse meu texto sobre a qual fizeste incidir a tua reflexão
tinha como ponto de partida a discussão dum slógan emitido pela frelimo:
decisão tomada, decisão cumprida. concentrei a minha atenção na
diferença entre "decisão" e "lei" e
procurei mostrar que a segunda (lei) produzu previsibilidade enquanto
que a primeira produz espaços de arbitrariedade. a série ela própria foi
uma tentativa de mostrar o lado nocivo do "poder da frelimo". os termos
dessa análise não mudaram, daí a minha insistência neste "post" para
fazermos uma distinção clara entre competência política e competência
técnica. os três exemplos que mencionas não são incompatíveis com a
competência política, mas também não sou ingenuo ao ponto de partir do
princípio de que um político não se sinta tentado a instrumentalizar as
coisas.
Carmen Fumo Professor Elisio Macamo,
essa era a questão que me fazia desde que o governo foi constituído. A
primazia das competências técnicas quando na verdade precisamos de bons
políticos, afinal é para política é para os políticos. E mudar o nome
duma instituição, não significa necessariamente mais dinamismo nela, a
mudança deve ser real e não fictícia.
Carlos Vilanculo Elisio Macamo,
o que eu, cidadão moçambicano, quero, como governantes do meu país, são
pessoas que: a) sabem definir uma visão e objectivos, b) são capazes de
liderar a sua equipa e usar racionalmente os recursos para o alcance de
tal visão/objectivos, c) são íntegras,
honestas..., d) são dedicadas e comprometidas com o trabalho, d) são
cumpridoras da lei, e) colocam os interesses da nação acima dos seus
interesses individuais, f) estão abertas às críticas da sociedade em
relação à sua governação, g) são humildes, h) tem um conhecimento básico
do sector que vão dirigir, entre outros atributos. Obviamente, isto
tudo é uma espécie de “tipo ideal”, no sentido weberiano. Não tenho a
ilusão de que algum governante conseguirá reunir todos estes atributos,
mas quanto mais próximo estiver disso, melhor. Então, para mim, cada um
chame a tudo isso o que quiser (competência técnica, liderança,
competência política, ou seja lá o que for ), mas é o que eu quero como
cidadão. Outra coisa: não percebi bem se os termos “competência técnico
Vs política” são mutuamente exclusivos (isto é, um exclui o outro
necessariamente), de tal sorte que torne necessária e útil a discussão
sobre se queremos governantes com um ou outro atributo. Não seria mais
interessante discutirmos o conjunto de atributos que um governante deve
possuir para que o consideremos um “bom” (termo forçado, não encontrei
outro) governante, ao invés de discutirmos se tal governante precisa do
atributo “A” ou “B”, como dá a entender quando refere que “Se a
competência técnica não é o que está em causa, então o que está?
Política, de novo. Só política”.
Elisio Macamo não vejo nenhum ponto de discórdia entre a sua primeira parte, Carlos Vilanculo,
e o que eu escrevi. agora se desejar isso apenas é suficiente, e se o
edifica como cidadão activo lá tenho as minhas dúvidas, sobretudo se não
se preocupa em clarificar os termos de
análise. a discussão mostrou que os termos não se excluem, embora um
conjunto de atributos, nomeadamente a competência política, me pareça
fundamental. no fundo, aquilo que pede para discutirmos é o que
efectivamente estamos a discutir.
Carlos Vilanculo Ok Elisio Macamo.
O meu entendimento foi de que ao afirmar, no seu texto, que "Se a
competência técnica não é o que está em causa, então o que está?
Política, de novo. Só política" estivesse clara e liminarmente a negar
uma coisa (competência técnica) e aceitar a outra (Politica). Acho que
terei de voltar à carteira para aprimorar a minha capacidade
hermenêutica (risos...).
Elisio Macamo sim, acho boa ideia, Carlos Vilanculo...
os termos não se excluem, mas há um que pesa mais, a saber a
competência política. o texto tinha como objectivo chamar atenção para a
importância dessa distinção. uma vez feito isso, a discussão o revelou,
já foi possível identificar as zonas de interseção. as suas alíneas de a
a h definem essencialmente a competência política...
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Como
humoristicamente escreveu o canalha, do Canal de Moçambique desta
semana, a esposa do nosso Pai da Nação, a nossa mãe perguntou :
"marido, para onde tu vais todos os dias quando sais de casa? É que as
pessoas vivem reclamando que não têm Presidente e não vê ou sentem a
tua governação".
Moral da história: queremos um Presidente com garras, cujo martelo soa com a mesma intensidade em todo o território nacional. Um presidente de fibra do tipo Samora, cuja ordens eram de cumprimento obrigatorio, e nao um presidente que ordena as colunas deixem de existir, mas soldados indisciplinados continuam a fazer colunas.
Não queremos um presidente que faz apelos como líder religioso. BOM DIA
Moral da história: queremos um Presidente com garras, cujo martelo soa com a mesma intensidade em todo o território nacional. Um presidente de fibra do tipo Samora, cuja ordens eram de cumprimento obrigatorio, e nao um presidente que ordena as colunas deixem de existir, mas soldados indisciplinados continuam a fazer colunas.
Não queremos um presidente que faz apelos como líder religioso. BOM DIA
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