quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

A ilusão da perfeição


Deixei um dos meus telefones ligados durante o fim-de-semana, mas nada. Não tocou. Ou melhor, Nyussi não ligou. Fiquei mais consternado ainda quando vi a lista dos governadores provinciais esta manhã e notei que Gaza vai ter novo governador, e não serei eu. Bom, mais uma pessoa cujo trabalho vou sabotar com prazer… mas prontos, estou livre de falar como me der na gana. E tenho muita vontade de o fazer a propósito do novo elenco governamental. Há muito que se diga a seu respeito. Os comentários que vejo por aí dão mais destaque à questão da competência técnica duma boa parte dos novos membros do governo. Curiosamente, a competência técnica é o que o país menos precisa ao nível do governo. Sei que entre nós se venera muito esta ideia. Há pessoas que até ficam com os olhos vidrados quando dizem “fulano de tal é competente!”.
Vejo duas razões que chumbam este critério. A primeira é que um governo não é uma equipa técnica. A equipa técnica está no aparelho do Estado. É lá onde precisamos de pessoas tecnicamente competentes. Um governo é um conjunto político, cuja principal função é de definir objectivos políticos e lográ-los tendo em conta todos os interesses diferentes que fazem uma sociedade. Não basta ser engenheiro civil para ser bom ministro das obras públicas; não basta ser médico para ser bom ministro da saúde; não basta ser jovem para ser bom ministro da juventude; nem basta ser bom homem de negócios para ser bom ministro das finanças, da economia ou da terra. Este é um dos nossos maiores equívocos analíticos, creio. Um ministro só será bom ministro se for bom político e tiver uma boa dose de senso comum. Competência técnica nunca fará bom ministro, mesmo em sistemas autoritários. A segunda razão que chumba o critério é lógica. A competência técnica sempre se refere a uma área específica. Logo, um excelente cirurgião pode ter graves lacunas ao nível de questões ligadas à medicina preventiva, por exemplo. Ou um engenheiro civil pode saber armar betão, mas não entender patavina de andaimes. Portanto, mesmo que alguém fosse tecnicamente competente em alguma coisa, o ministério que vai dirigir consegue sempre ser muito maior do que as suas competências. Não há curso universitário para a área de juventude e desportos, ou mar, águas interiores e pescas, nem mesmo para educação e desenvolvimento humano. Nem mesmo em universidade privada. Quando muito há talvez num seminário qualquer da sociedade civil.
Portanto, acho engraçado que alguma discussão sobre o novo elenco insista sobre isto. Tenho um palpite, contudo. O meu palpite é que a nossa paixão pela competência técnica venha de dois legados pesados. O primeiro é o do Estado socialista com a sua ênfase no papel “dirigente” do Estado. É uma herança ambígua, pois o que a Frelimo dizia na altura era que o partido é que orientava tudo (portanto, reconhecia que a política é que mandava), mas ao mesmo tempo chamava ao Estado toda a tarefa de resolver todos os problemas do país, reduzindo desse modo tudo a um problema técnico. Samora Machel morreu com este nó na garganta. Aquela famosa Ofensiva Política e Organizacional que ele empreendeu na vã tentativa de reclamar a primazia da política estava desde logo condenada ao fracasso justamente porque toda a sua concepção de Estado tornava a política supérflua, o que criava espaço para que a tecnocracia assumisse cada vez mais o controlo das coisas. O segundo legado, sempre actual, é o da indústria do desenvolvimento com o seu discurso de solução de problemas que idealiza e romantiza as circunstâncias em que a própria Europa “se desenvolveu”. Quando exaltamos a “competência técnica” estamos, no fundo, a repetir este discurso inócuo que serve também para criar as condições de reprodução da indústria que está na base do discurso. Estamos em 2015. Não sei o que vão dizer agora em relação ao não cumprimento dos famosos objectivos do milénio e a redução pela metade de todo o problema que legitima a intervenção desses sabichões nas nossas vidas. Estou bem curioso.
Se a competência técnica não é o que está em causa, então o que está? Política, de novo. Só política. Por exemplo, eu acho que o governo ora formado suscita mais interrogações do que respostas e, por isso, não percebo os encómios que ele está a receber. Nem mesmo o facto de os G-40, essa “fata morgana” de muito aspirante a analista, não terem sido contemplados – repare-se que quem sempre disse que eles queriam ser nomeados ministros foram os seus críticos, não eles; rir-se deles por não terem sido contemplados é, no fundo, rir-se da própria piada – pode explicar este entusiasmo. Para já ele não deixa antever uma estratégia clara de abordagem de Moçambique. Parece um governo de gestão, mas no sentido normal do termo, o que no fundo até vai de encontro ao manifesto eleitoral do partido Frelimo. Tem ministérios com várias áreas cinzentas que na melhor das hipóteses vão conduzir a interessantes sinergias, mas na pior das hipóteses vão ser apenas razões para atritos que vão desgastar o executivo. Vejo isso em relação à agricultura, mar, águas interiores e pescas, terra, ambiente e desenvolvimento rural e ainda obras públicas, habitação e recursos hídricos. Gerir isso exige competência política, não técnica, e não sei se essa competência política existe. Vejo mais zonas de choque entre outros ministérios, mas vamos esperar para ver.
Notei também que estão incluídas no governo pelo menos duas pessoas que fizeram parte da equipa eleitoral de Nyussi. Refiro-me a Celso Correia e a Osvaldo Petersburgo. Não conheço o seu desempenho pessoal, mas tenho em mim que pessoas que fizeram este tipo de percurso com o eleito deviam fazer parte da sua equipa de assessores para que ele tenha sempre uma retaguarda. Funções executivas desgastam e é possível que ele se veja obrigado a demitir essas pessoas. Sem elas no governo, e fora, corre o risco de não ter o tipo de apoio que ele vai precisar para sobreviver a gestão do governo e do partido que vai ser tudo menos fácil. Isto é tanto mais importante quanto ele vai precisar de alguém bem forte para a tarefa de secretário-geral do partido, uma pessoa inclusivamente com estatura para o substituir no futuro. Aqui também, ainda que seja um pequeno detalhe, vejo mais motivos para franzir o sobrolho do que para estar esperançoso.
Por isso, penso que a discussão do que nos espera nos próximos cinco anos deveria também incidir sobre a nossa obsessão com “competência técnica”. O problema de ver tudo como um problema técnico é, para usar um termo pesado, epistemológico, isto é do pelouro da teoria do conhecimento. Para que essa visão vingue é necessário partir do pressuposto segundo o qual o mundo (natural e social) obedeceria a leis facilmente enunciáveis e que se reduzam a relações de causa e efeito. Um mundo perfeito, portanto. É uma ilusão, a ilusão da perfeição que tem vindo a ser um entrave muito grande à civilização política do nosso país.

Euler Gente De Mocuba Meus caros, estão convidados a lerem. Eu de cada vez que vejo análises assim, começo a colocar interrogações a vida útil desta equipa que já apelidei de Galácticos (Os de Madrid só tiveram sucesso em 1 ano, dos 3 ou 4 anos da era Galáctica). Gostaria de ver uma análise do Professor sobre a primeira gestão do país bicefala.
Filipe Ribas
Filipe Ribas Nós temos alguma tendência de pegar em expressöes que dispensam argumentação, porque criam a sensação de que estamos a falar tecnicamente. E, então, acontecem aquelas conversas prolongadas entre ignorantes, todos unânimes, porque não dá para deixar que se entenda o que säo.
Nem temos tempo para descobrir o que seja necessário para aferir da tal competência técnica. Politicamente me lembrei que quem montou a máquina de guerra de Hitler, em termos de equipamento foi um médico
Jorge Djedje
Jorge Djedje O prof. Amainou as minhas emoções, desconstruiu a nossa crença colectiva, Shi! Interessante é a argumentação que sustenta esse "partir de paradigma". Mas, gostaria de lembrar que o antigo Presidente Armando Guebuza, foi severamente criticado quando colocou o Engenheiro Jose Pacheco como Ministro de Interior e tantos outros em áreas que não tinham competência técnica. Hoje, o presidente Nyusi, talvez influenciado pelos acontecimentos que fiz referência, buscou quadros com competência técnica e surpreendentemente temos esta crítica clássica! Caso para dizer, "o mundo ralha de tudo".
Niz Tambira
Niz Tambira a figura incopetente estara muita apta para fazer milagre desde que o Nyuse esteja atento as suas capacidades tambem.Bom, e um presidente moderno a tentar comandar de forma juvenil um pais de velhotes a espera do gaza mutine.Eu acho que o governo foi bem montado para nao deixar escapar incopetencias. O nosso amigo jovem oswaldo peterburgo parecido com guebuza fisicamente deevia envelhecer um pouco mais para esperar boas oportunidades de governacao neste pais de hidrocarbonetos.A minha afirmacao e de que gostei, apesar do epilectico estado do nosso amigo afonso macacho marceta dlhakama
Elisio Macamo
Elisio Macamo o mundo pode ralhar de tudo, Jorge Djedje. o que conta é se eu também ralhei quando aconteceu o que relata. se não o fiz, então tem que julgar esta intervenção nos seus próprios termos. e repare: a minha sugestão é de que competência política é mais importante, o que não quer dizer que só ela seja capaz de resolver tudo. e ausência de competência técnica não implica presença de competência política, já agora.
Eunice Matavele
Jorge Djedje
Jorge Djedje Prof! Que tal um engenheiro mecânico ministro de saúde? Entendo que em algumas áreas competência técnica pode ajudar para definição de melhores políticas?! Não concordo ilustre Elisio Macamo?
Elisio Macamo
Elisio Macamo acho que podia dar um bom ministro desde que reunisse os requisitos políticos que destaquei (sem, contudo, explicitar). até o próprio Jorge Djedje podia ser ministro de tudo mais alguma coisa. o único que não podia ser é engenheiro duma obra se a sua formação for sociologia como a minha. já fidel castro tinha dito isto: o único que é necessário para que haja chefe é que haja uma vaga. não é o mesmo para a vaga de enfermeiro...
Jorge Djedje
Jorge Djedje Perdoe-me pela generalização, o prof ponderadissimo que é, pode não ter " atirado nenhuma pedra contra Guebas", mas muitos o fizeram. Em teorias de administração, uma das fontes de autoridade do chefe é justamente o domínio da actividade gerenciada. Mas, são parcialmente aceitáveis os argumentos do prof.
Tomás Queface
Tomás Queface Interessante tentativa de desconstruir a ideia generalizada de que temos uma governo tecnocrata (pessoas competentes tecnicamente). Eu penso que Elisio Macamo conseguiu mostrar com base nos seus argumentos o porque a existencia de tecnicos nos cargos m...Ver mais
Elisio Macamo
Elisio Macamo atirei pedras, mas sobre outros assuntos, não esse, Jorge Djedje. ok, as teorias de administração referem-se à actividade gerenciada. o que gerencia um governo? a política, não o técnico. logo, os técnicos do sector é que precisam desse domínio, tão simples quanto isso.
Jorge Djedje
Jorge Djedje Tenho mais por dizer, porém, permita-me deixar espaço para outros amigos por enquanto. Estou atento ao debate prof.
Elisio Macamo
Elisio Macamo mesmo sob o risco de repetir o que já disse, Tomás Queface: reconheço que haja um uso impreciso do termo, mas isso é uma razão para nós tentarmos corrigi-lo aqui no debate. naturalmente que faria bem que a pessoa indicada para um determinado pelouro tivesse alguma ideia do assunto lá tratado, mas isso é do senso comum e não me parece absolutamente fundamental para o sucesso. pode ser necessário analisarmos muito bem o que falhou na anterior administração, mas duvido que o problema tenha sido a colocação de pessoas não formadas, não formadas na área ou mesmo sem conhecimento da área. agora, há um outro sentido em que podemos usar o termo "competência técnica", nomeadamente "competência técnica" na gestão do político...
Elisio Macamo
Elisio Macamo sabe, Jorge Djedje, é isto tipo de confusão que leva algumas pessoas a pensarem que académicos possam, por natureza, fazer boa figura como políticos. política é um assunto completamente diferente!
Jorge Djedje
Jorge Djedje Percebo prof. Para não ser como o tal, de uma das obras de Elisio Macamo, que perante as evidências preferiu admitir que o cadáver sangra! Lembra-se kkkkkkkkk lipelile!
Elisio Macamo
Lucas Fulgencio
Lucas Fulgencio Eu penso que a opiniao do Prof. em relacao ao que designa de "governo tecnocrata" sem competencia politica, pode ser objecto de criticas. Primeiro, as politicas para os proximos 5 anos foram definidas ja no ano passado e as mesmas foram anunciadas ao logo da campanha. No discurso de tomada de posse, o Presidente comprometeu-se a cumprir com as politicas ja anunciadas, contando para isso com o engajamento do governo que ele criou. Segundo, porque toda politica eh passivel de ajustamento durante a sua implementacao, eh nessa altura em que a tecnica vai ajudar os Ministros a fazerem um ajustamento correcto com base nas politicas ja tomadas no ano passado. Para terminar, penso que um bom julgamento sera feito depois de algum tempo. Se eu tiver me equivocado na minbha opiniao, peco ajuda para compreender melhor a necessidade de tanta avaliacao "ex antes".
Junaide Vieira Mocumbi
Junaide Vieira Mocumbi Sera que o (um) técnico nao pode ser político e vice versa? Eu penso que nao pode haver um reducionismo do ser político à apenas ser político e o tecnico à tecenico. Se o homem já é por naturza um ser político, o tecnico também o é! E porquê não também à nível dum governo.
Cachamba Amaral
Cachamba Amaral Muito cumprida essa publicacao entretanto avaliando apenas um dos lados da balanca. O outro lado da balanca sff, a competencia politica dos escolhidos. Diz sempre que tem todos competencias tecnicas, provavelmente baseado na palavra mais usada dos que opinaram sobre a competencia do elenco e eventualmente "escondendo" o lado politico dos nomeados.
Ilidio Da Silva
Ilidio Da Silva Plenamente de acordo com a abordagem Caro Elisio Macamo. Este problema para ser sanado tem tambem que ser abordado na perspectiva da estruturacao das proprias unidades organicas. Suas competencias e funcoes e consequentemente a definicao do perfil dos ...Ver mais
Shonguily Wanga Machel
Shonguily Wanga Machel Ah sim sr. Elisio Macamo, assim prefiro eu. Primeiro concordar no seu presentimento, mas devo dizer que em algum momento e' bom termos pessoas certas nos lugares certos, sem descurar que a tecnica deve sempre se acasalar com as politicas, claro sem desviar da area de actuacao, porque ca' deste lado convivemos com muitos politicos sem tactica politica...
Elisio Macamo
Elisio Macamo concordo, Ilidio Da Silva, também porque o seu comentário responde muito bem ao comentário do Lucas Fulgencio, a quem (e aos demais) já não vou responder esta noite porque estou cansado. uns terão que reler o post e os comentários para não me obrigarem a ser repetitivo, o Lucas Fulgencio terá de me dizer quando é o momento exacto para analisar actos e intnções políticas. ao fim de cinco anos? ao meio? quando algo estiver a correr mal? boa noite!
Faruck Jussubo Daudo
Faruck Jussubo Daudo Quem controla o aparelho do estado?
Lucas Fulgencio
Lucas Fulgencio Obrigado Prof Elisio; aguardo mehor resposta amanha. Porém, gostaria de dizer que o Ilidio da Silva coloca um elemento novo ao texto principal, que é a estruturacao das do Governo Central e seu alinhamento com as Direccoes Nacionais. Esse assunto nao responde exactamente a questao de competencia politica que se exige a cada mebro do governo central. Quanto ao tempo que pergunta, nao precisamos de ver as coisas a andar mal, pois que elas tambem podem andar bem. O dia-a-dia do funcionamneto governo é o momento exacto para avaliar, através da forma como cada assunto será tratado. Hoje, foi a tomada de posse, daqui a pouco ja estarao no terreno; a ver vamos. Boa noite!
Egidio Canuma
Egidio Canuma Jaime Langa, afinal não somos os únicos...
Lopes Silica Jr.
Lopes Silica Jr. Mudar a face da minha Gaza implica tanta competência que duvido que a Stella possa fazer algo de palpável, muito menos os que se arvoram em melhores políticos que outros. Gaza é um cancer, não há médico certo para o mesmo, nas tantas o Joseph Mengele. Txau
Clovis Macave
Clovis Macave penso k eh preciso se refrear um pouco os animos em relacao aos governos tecnocratas, sob risco de ficarmos profudamente desiludidos...ja vimos isto em outras realidades. de facto, ser governante eh muito mais k competencia tecnica...antes um bom lider politico, pois por aki eh possivel vislumbrar uma luz...todavia, o ideal seria um tecnico competente com doses fortes de politico competente...pelo k, nao m parece ser o caso da maioria do elenco deste governo...a ver vamos.
Josina Malique
Emilio Maueie
Emilio Maueie Ao "falarmos" da competência (técnica) do governo, na minha percepção, "estamos" a aplaudir antecipadamente o sucesso deste governo, nessa (almejada) base de ilusão de sociedade perfeita. Ora, mesmo que seja real que competência técnica conduza ao sucesso, nao o seria so por si. Há um conjunto de factores. Destes, destaco, no nosso caso, a coesão partidária. E isso remete-me à sua tese: ser-se bom político. É aqui onde repousa o maior desafio do actual PR e do seu elenco, pois, acho eu que este governo vai abanar o paradigma, no sentido khuniano do termo. E isso pode ofuscar toda competência, mesmo k esta fosse encarada como caminho para o sucesso do governo.
Faruck Jussubo Daudo
Faruck Jussubo Daudo Kkkkkkkkkkk, ser bom político é a coisa mas fácil que ser um técnico competente, simples quanto isso!
Noe Nhancale
Noe Nhancale Eu acho que o móbil da esperança gerada pelo novo governo esta na saturação criada pela anterior tendencia de nomeação de comissários políticos de competência duvidosa por serem apenas repetidores de discursos e não pessoas necessariamente alinhadas e...Ver mais
Macvildo Pedro Bonde
Macvildo Pedro Bonde A verdade 'e que precisavamos de uma nova "Umbrela" para dar um passo em frente. Como trazer uma nova esperanca se nao faalrmos de competencia tecnica e outros termos para amainar os animos, buscar uniao numa sociedade com bastantes crispacoes? Teremos tempo para analisar os meses e anos deste governo "Competente".
Adérito Mariano
Adérito Mariano Lula da Silva é um exemplo claro do exposto pelo mais-velho Macamo. Acho que é sempre bom ver uma inovação, nem que seja só de pessoas e esperar para ver. Moçambique, neste aspecto, está a caminhar bem, se compararmos com outros países cujos chefes pretendem mudar constituições para se perpetuarem no poder, não sei se pensando que são os "escolhidos dos céus"!
Elisio Macamo
Elisio Macamo sabe, Lucas Fulgencio, tenho duas dificuldades principais com a sua intervenção. uma tem a ver com o sentido em que usa o termo "política" e outra com a oportunidade da crítica. tenho a impressão, a julgar pelo seu primeiro comentário, que define política como um conjunto de medidas ou acções a serem implementadas. ganho essa impressão a partir da sua referência ao facto de estas coisas terem sido já decididas faltando apenas a sua implementação. é por isso que acho que a resposta de Ilidio Da Silva serve, pois nesse entendimento de "política" o ministro é mesmo um implementador e não me parece diferente dum director nacional (que seria, para mim, um técnico). creio que este seja um equívoco generalizado no país e que já critiquei várias vezes. o tipo de habilidades que um ministro precisa de ter não se resumem apenas à "execução" de ordens superiores ou do partido. são essencialmente de interpretação dos princípios definidos. isso envolve a capacidade de conciliar interesses diferentes na sociedade, negociar, arrumar compromissos, rever, etc. a ponte da catembe pode ser uma excelente ideia técnica. mas tomar a decisão de a construir não envolve apenas apreciar os detalhes técnicos envolvidos (a qualidade dos materiais, as vantagens económicas, etc.). implica sensibilidade para os problemas que essa ponte vai criar para quem até aqui vivia do transporte por ferry-boat e acomodar os seus interesses também. governar é isso. não é só fazer a coisa certa. mas é deste equívoco que vem muita tendência autoritária na forma de governarmos, acho. a minha segunda dificuldade é com o apelo que lança para que a gente espere pela implementação para avaliar. essa exigência faz algum sentido quando é feita aos membros do partido que tomou certas decisões. não faz absolutamente nenhum sentido para a discussão de ideias na esfera pública. nós temos o direito de questionar intenções, decisões, objectivos e tudo o mais. um governo competente e democrático não pode prescindir disso, o que não é o mesmo que dizer que ele deve ouvir ou só fazer aquilo que a opinião pública exige. não há, em minha opinião, um momento ideal para questionar uma decisão. supondo que os reparos agora feitos não tivessem sido tomados em consideração no momento de formação do novo governo este seria o momento oportuno para fazer ajustamentos (não demitindo os nomeados, mas chamando a sua atenção para as questões políticas no sentido verdadeiro do termo...).
Ilidio Da Silva
Ilidio Da Silva Caro Elisio Macamo, a meu ver é pertinente que mais acçoões sejam realizadas ( e ai vos estudiosos de nossa e outras sociedades devem ter um papel determinante) para que os diferentes actores Politicos e Tecnicos compreendam estas diferencas , pois muitas das vezes elas são a razão para conflitos entre os mesmos. PS. uma duvida que gostaria de ver resolvida. Muitas vezes vejo como noticia .... do governo esteve presente o Director Naciona de .....! ate que ponto o Director Nacional ë governo??
Lucas Fulgencio
Lucas Fulgencio Obrigado Prof. Elisio Macamo por ter respondido. Porém, eu tomei como ponto de partida as politicas definidas no ano passado nao no sentido de accoes pre-definidas que os minitros devem reproduzir e por via disso, serem equivalentes aos directores nacionais. Foi apenas um ponto de partida. So que ha alguma tendencia exagerada de se exigir o dificil antes da realizacao do basico. Neste momento, ha muita gente que tem falta de comida, de agua potavel, de acesso a medicamentos, falta de estradas, sistema de transporte ineficiente, so para dar alguns exemplos. Estes problemas precisam ao mesmo tempo de politicas a curto e longo prazo para a sua resolucao e gestao permanente. Para mim, é preciso resolver o basico dentro duma politica estrategica e sucessivamente tornar essa solucao sustentavel. Concordo que temos o direito de discutirmos ideias na esfera publica, mas é preciso que partamos duma base solida para essa critica antecipada. concordo tambem com exemplo que coloca em relacao a Ponte de Catembe que nao basta apenas competencia tecnica, é preciso ter visao politica para olhar seus beneficios e consequencias. Eu vou terminar colocando uma pergunta. 1- Que politicas o Prof. sugeria para dar solucao aos sequestros; para garantir energia de qualidade aos clientes; garantir comida em todas as epocas do ano....; 2- qual seria o perfil do governo que sugeria para resolver esses problemas?; 3- qual seria o tempo ideal para valicao? por que?; obrigado
Romao Kumenya Kumenya
Romao Kumenya Kumenya Acredito em Hannah Arendt quando diz que a politica constitui o renovar das coisas, e tambem acredito que a mudança de elenco nem sempre representa o recomeçar das coisas. No final o que vai pesar é o substrato que as alicerça... No que se refere a compactacao dos ministerios, a grande questao que me inquienta é saber se elas vao atender os principios da eficacia ou do controle.
Egidio Vaz
Egidio Vaz Professor Elisio Macamo irei responde-lo recorrendo a um texto que partilhei hoje, publicado no jornal noticia. Na verdade, trata-se de uma série de artigos que publicou logo depois do IX Congresso da Frelimo, em que discutia "o poder da Frelimo". O meu melhor entendimento sobre aquela série foi que a gestão do país estava entregue a uma burocracia que não tinha certezas sobre o que fazia;; que sucumbia a um poder arbitrário de um conjunto de interesses de grupos que, também arbitrariamente usava a Frelimo como seu escudo ou refúgio, no contexto de uma cultura política que dá primazia à leadldade do que a legalidade. Ora, se o seu pensamento ainda continua nestes termos, então poderia facilmente perceber porquê as pessoas "abusam" e clamam pela "competência técnica" nas posições de liderança. Também seria fácil o professor perceber que o termo "competência técnica"significa tudo menos o da forma como o Professor descreve. Por competência técnica, a percepção pública entende como o conjunto de dois tipos de qualidades: a) experiência anterior de gestão e com sucesso - aqui por exemplo, Hermegildo Gamito, o actual presidente do CC não pode se gabar de ser tecnicamente competente nem como gestor, nem como político. Na história da falencia das empresas públicas, ele ocupa as páginas douradas. O seu primeiro acordão conferindo a vitoria a Frelimo, é uma hecatombe, do ponto de vista tecnico. O segundo conjunto de qualidades é a coragem. b) Coragem de tomar decisões acertadas, independemente de ferir ou não a lealdade de que o Professor fala em seu text ou, já agora, do que Nyusi chamou atenção. Portanto, estamos a falar da "certeza de os dirigentes tomarem as decisões baseando-se na legalidade. Temos exemplos deste tipo de pessoas no governo. Irei de passo mencionar tres exemplos do que "as pessoas" esperam dos "tecnicos" opra nomeados.

1-Resistência: a manipulação em relação a desvios de aplicações, negociatas e manipulação orçamental através de lobistas.
2-Coragem de tratar assuntos de Estado de forma transparente, tal como mandam as leis do pais e
3-Perspicácia virada para o pensamento crítico, comunicação e antecipação, transformação e resolução de conflictos, sejam eles de interesse ou quejando.
É disto que as pessoas se referem, quando falam de um governo feito de "técnicos". Na verdade, é da legalidade a que se referem, da supremacia do estado de direito democratico que promova comepticao e inovação.

PS: Também gostaria de concordar que SIM, houve tempos em que os nossos governos não eram nem tecnicos nem politicos, pelo menos nos termos por si propostos. Era um governo clientelista. E não político.
Elisio Macamo
Elisio Macamo caro Lucas Fulgencio, a pergunta que ia colocar pariu várias... mas aí vai uma decepção: eu não faço a mínima ideia o que seria necessário fazer para resolver esses problemas todos. foi por acaso por essa razão que nem me candidatei. prefiro ficar na bancada a comentar as propostas dos outros. acho que persiste num equívoco em relação à noção de "política". não creio que estejamos a falar da mesma coisa. mas o básico para mim, o básico mais essencial, não é nem comida, nem habitação, nem nada disso. é clareza nos conceitos (ou nos termos de análise), por exemplo, em relação à competência técnica ou política. só clarificado isso é que poderemos abordar com (possibilidade de) sucesso as outras coisas. e uma dica: acho muito imprudente e insensato abordar qualquer que seja o problema na perspectiva de o eliminar.
Elisio Macamo
Elisio Macamo pois, até que ponto é que director nacional é governo, Ilidio Da Silva? faz parte da tremenda confusão que fazemos...
Lucas Fulgencio
Lucas Fulgencio Obrigado Prof. Elisio Macamo. Tudo compreendido. Aparecerei sempre que for possivel.
Elisio Macamo
Elisio Macamo bom, Egidio Vaz, a parte desse meu texto sobre a qual fizeste incidir a tua reflexão tinha como ponto de partida a discussão dum slógan emitido pela frelimo: decisão tomada, decisão cumprida. concentrei a minha atenção na diferença entre "decisão" e "lei" e procurei mostrar que a segunda (lei) produzu previsibilidade enquanto que a primeira produz espaços de arbitrariedade. a série ela própria foi uma tentativa de mostrar o lado nocivo do "poder da frelimo". os termos dessa análise não mudaram, daí a minha insistência neste "post" para fazermos uma distinção clara entre competência política e competência técnica. os três exemplos que mencionas não são incompatíveis com a competência política, mas também não sou ingenuo ao ponto de partir do princípio de que um político não se sinta tentado a instrumentalizar as coisas.
Carmen Fumo
Carmen Fumo Professor Elisio Macamo, essa era a questão que me fazia desde que o governo foi constituído. A primazia das competências técnicas quando na verdade precisamos de bons políticos, afinal é para política é para os políticos. E mudar o nome duma instituição, não significa necessariamente mais dinamismo nela, a mudança deve ser real e não fictícia.
Carlos Vilanculo
Carlos Vilanculo Elisio Macamo, o que eu, cidadão moçambicano, quero, como governantes do meu país, são pessoas que: a) sabem definir uma visão e objectivos, b) são capazes de liderar a sua equipa e usar racionalmente os recursos para o alcance de tal visão/objectivos, c) são íntegras, honestas..., d) são dedicadas e comprometidas com o trabalho, d) são cumpridoras da lei, e) colocam os interesses da nação acima dos seus interesses individuais, f) estão abertas às críticas da sociedade em relação à sua governação, g) são humildes, h) tem um conhecimento básico do sector que vão dirigir, entre outros atributos. Obviamente, isto tudo é uma espécie de “tipo ideal”, no sentido weberiano. Não tenho a ilusão de que algum governante conseguirá reunir todos estes atributos, mas quanto mais próximo estiver disso, melhor. Então, para mim, cada um chame a tudo isso o que quiser (competência técnica, liderança, competência política, ou seja lá o que for ), mas é o que eu quero como cidadão. Outra coisa: não percebi bem se os termos “competência técnico Vs política” são mutuamente exclusivos (isto é, um exclui o outro necessariamente), de tal sorte que torne necessária e útil a discussão sobre se queremos governantes com um ou outro atributo. Não seria mais interessante discutirmos o conjunto de atributos que um governante deve possuir para que o consideremos um “bom” (termo forçado, não encontrei outro) governante, ao invés de discutirmos se tal governante precisa do atributo “A” ou “B”, como dá a entender quando refere que “Se a competência técnica não é o que está em causa, então o que está? Política, de novo. Só política”.
Elisio Macamo
Elisio Macamo não vejo nenhum ponto de discórdia entre a sua primeira parte, Carlos Vilanculo, e o que eu escrevi. agora se desejar isso apenas é suficiente, e se o edifica como cidadão activo lá tenho as minhas dúvidas, sobretudo se não se preocupa em clarificar os termos de análise. a discussão mostrou que os termos não se excluem, embora um conjunto de atributos, nomeadamente a competência política, me pareça fundamental. no fundo, aquilo que pede para discutirmos é o que efectivamente estamos a discutir.
Carlos Vilanculo
Carlos Vilanculo Ok Elisio Macamo. O meu entendimento foi de que ao afirmar, no seu texto, que "Se a competência técnica não é o que está em causa, então o que está? Política, de novo. Só política" estivesse clara e liminarmente a negar uma coisa (competência técnica) e aceitar a outra (Politica). Acho que terei de voltar à carteira para aprimorar a minha capacidade hermenêutica (risos...).
Elisio Macamo

Elisio Macamo sim, acho boa ideia, Carlos Vilanculo... os termos não se excluem, mas há um que pesa mais, a saber a competência política. o texto tinha como objectivo chamar atenção para a importância dessa distinção. uma vez feito isso, a discussão o revelou, já foi possível identificar as zonas de interseção. as suas alíneas de a a h definem essencialmente a competência política...
Como humoristicamente escreveu o canalha, do Canal de Moçambique desta semana, a esposa do nosso Pai da Nação, a nossa mãe perguntou : "marido, para onde tu vais todos os dias quando sais de casa? É que as pessoas vivem reclamando que não têm Presidente e não vê ou sentem a tua governação".
Moral da história: queremos um Presidente com garras, cujo martelo soa com a mesma intensidade em todo o território nacional. Um presidente de fibra do tipo Samora, cuja ordens eram de cumprimento obrigatorio, e nao um presidente que ordena as colunas deixem de existir, mas soldados indisciplinados continuam a fazer colunas.
Não queremos um presidente que faz apelos como líder religioso. BOM DIA
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