TURQUIA
O embaixador russo na Turquia foi baleado esta segunda-feira em Ancara. Atirador terá gritado "nós morremos em Alepo, vocês morrem aqui" antes de disparar. Imprensa turca diz que atirador é polícia.
O embaixador russo na Turquia, Andrei Karlov, morreu depois de ser baleado oito vezes por um atirador que está a ser identificado como um polícia de Ancara. O incidente ocorreu na tarde de segunda-feira, enquanto o embaixador de Moscovo discursava na inauguração de uma exposição de arte na capital da Turquia. O atirador, que estava atrás de Andrei Karlov enquanto este falava, foi filmado a gritar que aquele crime era um gesto de “vingança” pela intervenção russa na cidade síria de Alepo.
O diplomata chegou a ser levado para um hospital, mas não conseguiu sobreviver aos ferimentos. O atirador foi abatido pelas forças especiais turcas, que montaram um cerco ao local do crime pouco depois do incidente. Há três feridos, que estão neste momento no Hospital Güven, em Ancara.
A morte do embaixador russo na Turquia foi confirmada pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Moscovo. A porta-voz daquele ministério já reagiu ao incidente, que descreveu como um “ato terrorista”. “Hoje é um dia negro para a diplomacia russa”, disse. Andrei Karlov era embaixador na Turquia desde 2013. A sua missão mais longa foi na Coreia do Sul, onde foi embaixador entre 1979 e 1997. Entre 2001 e 2007, liderou a embaixada russa na Coreia do Norte.
Segundo o jornal turco Yeni Şafak, o atirador é agente do corpo de intervenção da polícia de Ancara. Está a ser identificado como Mevlüt Mert Altıntaş e terá 22 anos. Ao mesmo tempo, também já circulam teorias entre os partidários do Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, e do seu partido, o AKP, de que o atirador é ligado ao movimento gulenista — ou seja, que agiu sob o nome de Fethullah Gülen, o clérico turco que vive no exílio nos EUA e que foi acusado por Ancara de ter estado por trás da tentativa de golpe de Estado de julho deste ano.
Attacker of Russian ambassador identified: Mert AltıntaşFrom Aydın, Söke. Born 1994. Been active in police service since 2014.
v @heavie pic.twitter.com/1hO5dFGC9U— ilhan tanir (@WashingtonPoint) December 19, 2016
“Nós morremos em Alepo, vocês morrem aqui!”
Os relatos que surgem de testemunhas que estavam no local, o atirador gritou: “Nós morremos em Alepo, vocês morrem aqui!”. Num vídeo onde ficou registado o momento, o homicida grita “Alla u akbar”, sinónimo de“Deus é grande” em árabe e faz menções à “jiade”.
“Só a morte me poderá tirar daqui”, disse o atirador, que pouco depois viria a ser abatido pelas forças turcas. “Enquanto os nossos estados não forem seguros, vocês também não se vão sentir seguros. Quem tiver responsabilidade na brutalidade na Síria irá lidar com as consequências”, acrescentou o radical, logo após o crime.
Alepo, que antes da guerra na Síria era a maior cidade daquele país, caiu na sua maior parte às mãos das tropas de Bashar Al-Assad, que contaram com o auxílio de bombardeamentos aéreos russos. Na semana passada, o ditador sírio congratulou-se dizendo que aquela cidade tinha sido “libertada”.
Já surgiram imagens recolhidas antes, durante e depois do crime. O homicida estava atrás da vítima enquanto esta discursava e vestia uma farda da polícia.
LATEST — Assailant who shot Russian envoy to Ankara Andrey Karlov caught on camera https://t.co/8JwzE0kU24pic.twitter.com/QdEkLPxXov— DAILY SABAH (@DailySabah) December 19, 2016
O embaixador Karlov estava a fazer um discurso dentro da sala da exposição quando foi baleado. As forças especiais turcas têm, neste momento, o edifício cercado.
Uma imagem divulgada nas redes sociais mostra o embaixador russo caído no chão, no meio da exposição.
Russian Ambassador to Turkey shot. Erdogan internal crackdown just got tougher. pic.twitter.com/b3DhLMbbIs— ian bremmer (@ianbremmer) December 19, 2016
O ataque ainda não foi reivindicado por nenhuma organização.
Andrei Karlov foi o primeiro embaixador russo a ser assassinado desde que Pyotr Voykov, representante da União Soviética em Varsóvia, foi morto por um anti-bolchevique em Varsóvia. É também a primeira vez que um embaixador é morto na Turquia.
Confirmed: Social media slowdown for many users detected in #Turkey after #Russia ambassador shooting broadcast banhttps://t.co/Fga9p84TIq pic.twitter.com/V8jyjWW6mS— Turkey Blocks (@TurkeyBlocks) December 19, 2016
O embaixador dos EUA na Turquia já repudiou o incidente, numa mensagem na conta oficial de Twitter da representação diplomática de Washinton em Ancara. “Condeno da maneira mais firme o ataque repugnante contra o embaixador Karlov”, escreveu John Bass. Enquanto isso, o Departamento de Assuntos Consulares dos EUA aconselhou os cidadãos norte-americanos a não se aproximarem daquela zona de Ancara — a galeria de arte fica nas imediações da embaixada norte-americana — até aviso em contrário.
Ambassador Bass: I condemn in the strongest terms the heinous attack on Ambassador Karlov tonight.— US Embassy Turkey (@USEmbassyTurkey) December 19, 2016
Incidente surge depois de “normalização” de laços entre Rússia e Turquia
Depois de um período de tensão entre a Rússia e a Turquia — que atingiu o auge quando as forças turcas abateram e novembro de 2015 um avião russo, em combate na Síria, alegando que este tinha entrado no seu espaço aéreo —, os dois países procederam à “normalização” das relações diplomáticas um com o outro. A exposição que o embaixador russo inaugurava (“A Rússia através dos olhos dos turcos”) momentos antes de ser assassinado era uma prova disso.
Segundo informou à agência turca Anadolu um porta-voz do Governo turco, o Presidente Recep Tayyip Erdoğan ligou ao seu homólogo russo, Vladimir Putin, para informá-lo sobre detalhes do incidente. Em declarações à agência de notícias russa Interfax, o deputado russo e líder do Comité da Duma para os Negócios Estrangeiros, Leonid Slutsky, disse que o incidente “não deve prejudicar as relações entre a Rússia e a Turquia”.
Apesar do incidente, o governo russo já confirmou que não vai desmarcar uma reunião agendada para esta terça-feira em Moscovo entre os ministros dos negócios estrangeiros da Rússia, da Turquia e do Irão. O representante turco, Mevlüt Çavuşoğlu, aterrou em Moscovo na tarde desta segunda-feira, poucas horas depois do incidente em Ancara.
O tema da discussão entre os três países será a guerra na Síria, com destaque para a situação em Alepo.
Ainda assim, apesar da atual “normalização” diplomática, os dois países estão longe de estarem na mesma página. Um dos maiores pontos de discórdia é a guerra na Síria, onde a Rússia dá apoio às tropas de Bashar Al-Assad. Este, por sua vez, tem a oposição do Presidente turco, Recep Tayyip Erdoğan, praticamente desde o início da guerra, em 2011. Em setembro deste ano, a Turquia entrou na guerra da Síria — mais concretamente em Jarablus, junto à fronteira turca, para combater o Estado Islâmico — mas não entrou em confronto direto com forças do regime ou russas.
(Notícia em atualização)
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Embaixador russo morto a tiro na Turquia por atirador que quis vingar Alepo
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VIVA A JIHAD!!!!!!!!!!!!!! =D