– O Sr. disse que o destino da Ucrânia não preocupa os europeus e que a atual crise serviu de pretexto para o surgimento de ânimos antirrussos. Se isto é verdade, quais seriam as vias de restabelecimento das relações normais entre a Rússia e a União Europeia (UE)?
– Será difícil restabelecer as relações entre a Rússia e a UE, mas é necessário fazê-lo. Temos defendido sempre o direito à autodeterminação dos povos, como também foi no caso da Crimeia. Se a Europa respeitasse os interesses do seu povo, não teria iniciado o conflito com a Rússia. Por isso, acho que a Europa está servindo os interesses alheios. Será possível superar a crise mediante uma atitude ponderada e responsável da Rússia para com essa questão.
– O Ocidente fala de eventual levantamento das sanções no caso de a Rússia conseguir a normalização na Ucrânia, cumprindo os acordos de paz celebrados em Minsk. Qual é a suavisão do problema?
– Tais discursos são mera retórica. Ninguém no mundo, nem mesmo o meu filho de 11 anos, estabelece paralelo entre as sanções e os acontecimentos na Ucrânia. Na realidade, temos enfrentado uma opção econômica, política e estratégica que foi imposta à Europa. Julgo que apenas através da pressão por parte de governos nacionais podemos obrigar Bruxelas a inverter o seu rumo político.
– Considera possível que a Itália venha a assumir um posicionamento mais autônomo em relação à Rússia ou o país se tornou refém da política ocidental antirrussa?
– Hoje em dia, a Itália continua sendo refém das posições defendidas pelo Ocidente. Esperamos que isso não se prolongue por muito tempo. O governo de Matteo Renzi não passa de um veículo da política alheia.
– Como avalia a mensagem anual do presidente russo à Assembleia Federal na parte que toca à política externa em que ele deixou claro que não tenciona se envolver na corrida armamentista e suspender o diálogo com a Europa?
– Ouvi esse discurso programático de Vladimir Putin. A meu ver, foi um discurso de mais alto nível em termos de perspetivas no plano internacional. Esperemos que a administração Obama altere o rumo. O programa de ações da Rússia no palco internacional relativo às questões da colaboração com a China, a Turquia, bem como ao combate ao extremismo islâmico é, no meu entender, muito adequado e exequível.
– Os países europeus, inclusive a Itália, têm acusado a Rússia de violar os acordos de Minsk, fazendo vista grossa às violações da parte ucraniana. Não acha que é assim que se revelam os padrões duplos?
– É isso mesmo. A Europa reconheceu a independência do Kosovo na sequência das operações militares erradas. Mas não reconhece a independência da Crimeia, embora esta tivesse sido alcançada mediante um referendo popular. A Europa não leva em conta a opinião do povo. Não a quer ouvir.
– Como encara perspetivas da cooperação militar entre a Rússia e a Itália?
– Espero que no futuro as relações bilaterais na esfera militar tenham uma dinâmica positiva. Infelizmente há quem queira voltar à fase da Guerra Fria e do Muro de Berlim, financiando os lobistas dos produtores de armas. Espero que o governo italiano inverta o rumo de sua política externa.
– A Rússia se tornou alvo de críticas por causa do projeto South Stream, se bem que a Europa tivesse feito tudo para o inviabilizar. Que posição assume a Itália nessa questão?Seria correto exigir explicações da parte russa ou esperar indenizações?
– O South Stream é um projeto muito importante tanto para a Itália, como para a Europa. O premiê Matteo Renzi disse, contudo, que esse projeto deixou de ser estratégico e que o South Stream não serve os interesses italianos. Não se deve pedir explicações à Rússia. Convém muito mais cancelar as sanções e relançar o South Stream.
As opiniões expressas são de responsabilidade do entrevistado
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