O conselho de ministros aprovou ontem a mudança do nome do ISTEG para Universidade WUTIVI, que em língua do dono significa CONHECIMENTO. Sem ser nominalista, julgo que o conselho de ministros criou um precedente muito sério, que explico mais a frente.
Para já, vamos a pergunta básica: O que é NOME e porque é útil?
De a cordo com Wikipedia, citando vários autores, no sentido restrito e no uso comum, o nome é um vocábulo ou locução que tem a função de designar uma pessoa, um animal, uma coisa ou um grupo de pessoas, animais e coisas.
De acordo com a semiótica, um nome é um signo em que o significante é a imagem acústica da palavra falada ou a representação gráfica da palavra escrita, e o significado é conceito do objeto ao qual esta palavra remete. Este signo pode atuar como símbolo (quando se refere a uma universalidade; ex.: "rei"-todo e qualquer rei), como índice (quando se refere a um elemento ou indivíduo; ex.: "Luís XV" - e não qualquer rei) e também como ícone (quando se refere a uma ideia geral; ex.: "coroa" - ícone que indica o símbolo "rei").
Ora, a palavra Universidade etimologicamente significa “o que pretende saber”- de acordo com o Dicionário etimológico editado pelos Livros Horizonte de José Pedro Machado. A palavra Universidade cai na categoria de símbolo (quando se refere a uma universalidade; portanto, UNIVERSIDADE, que pode ser qualquer). Por sua vez, a palavra WUTIVI significa conhecimento em português. Ela é igualmente um termo universal. O conhecimento pode ser científico, diabólico, ou senso-comum, etc.
Portanto, se uniformizarmos os significantes para o português, o nome completo desta instituição; portanto da UNIVERSIDADE UTIWI, teríamos Universidade CONHECIMENTO ou UNIEVRSIDADE SABER. Concluindo, teríamos uma universidade chamada Universidade Universidade ou SABER SABER. NADA MAIS BIZARRO na história do nominalismo. Dar nome a uma Universidade é um acto muito sério, diferente de dar nome a um talho ou clube nocturno. O que é comum no mundo é associar a universidade a eventos e efemérides, personalidades célebres com as quais a universidade se identifica ou emola, nomes de fundadores ou mesmo donos destas instituições ou seus impulsionadores ou, simplesmente, do local ou zona em que ela se encontra. Alternativamente as universidade se chamam pela especialidade ou ramo a que mais se dedica: A politécnica, Economia e Gestão, Ciências Políticas; Universidade Eduardo Mondlane, Universidade de Ohio (alma mater), Havard; Universidade Pedagógica, Beira Interior, Universidade de Lisboa, Minho ou Universidade Católica, etc.
Queriam os donos da Universidade, pensando como eles, valorizar a língua nacional, a cultura e por extensão, o conhecimento local. Mas isso não dispensa o rigor do método científico que caracteriza a universidade, a tradução e a interpretação nos termos propostos por Boaventura de Sousa Santos, no seu “A Universidade no Séc. XXI: Para uma Reforma Democrática e Emancipatória da Universidade. São Paulo: Cortez Editora, 2004 (3ª edição)”. Ademais, sendo a Universidade o centro de saber o centro de produção de conhecimento é estranho que os donos tenham escolhido justamente a palavra “conhecimento”, mas desta vez em língua local, para dar à sua instituição de ensino. Bem, talvez estejamos na presença de uma Universidade ao quadrado, uma Universidade turbinada.
Qual é o precedente?
Hoje surgiu a Universidade Wutivi (que significa conhecimento). Amanhã, um Sena vai criar uma sua universidade e vai chama-la Kudya Nku Pisaka (precisas desenrascar para sobreviveres, palavras-chave: trabalho, empreendedorismo). Outro dia, um Bitonga criar a sua Universidade e dá como nome: Muthu moyo kha yi khali ndranga.(Um só braço não mata piolho. Palavras-chave: Unidade nacional). Ou seja, porque cada um vai pensando o que bem entender, podemos assistir a emergência de instituições de ensino superior com nomes locais, à luz do tal estandarte da valorização do que é nosso. Só que as universidades como centro do conhecimento não dispensam o debate sobre o seu próprio destino. No caso vertente, julgo que o nome é irrelevante e redundante. Não basta dar nome. Para o caso da Universidade, julgo recomendável que na hora de mudar se convoque um debate público sobre o assunto em que os académicos compulsam sobre cada proposta. Vimos isto nas vésperas que a Universidade Eduardo Mondlane quis mudar o lema, por exemplo.
Irrelevante porque sendo a universidade espaço de produção de conhecimento, dispensa qualquer adorno linguístico, independentemente da língua que for. Redundante, justamente por baptizar o mesmo significado com dois significantes sinónimos.
É possível sim darmos nomes africanos as universidades moçambicanas. Mas por favor, com o mínimo de WUTIVI
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