No ano de 2014, que está quase transcorrido, uma série de acontecimentos importantes ocorreu no Brasil. O país sediou a Copa do Mundo de futebol e reelegeu a presidente Dilma Rousseff para mais um mandato de quatro anos. Além disso, imediatamente depois da Copa, aconteceu a cúpula dos presidentes dos BRICS.
O ano tem sido cheio de eventos e acontecimentos para os BRICS. No quadro das relações entre os países do grupo, o evento principal foi a cúpula dos chefes de Estado dos países membros, que ocorreu em Fortaleza e Brasília em meados de julho. Fortaleza, aliás, foi uma das cidades anfitriãs da Copa, de modo que a preparação para os dois eventos foi simultânea aqui.
Na cúpula em Fortaleza, em 15 de julho, foi formalizada a criação do Banco de Desenvolvimento dos BRICS. A presidência do organismo, criado um ano antes com o intuito de se ter uma alternativa ao FMI (Fundo Monetário Internacional) e ao Banco Mundial (BM), foi bastante concorrida por todos os Estados. Optou-se por uma primeira sede em Xangai, grande cidade chinesa e símbolo da economia emergente, por uma primeira presidência do Conselho de Administração brasileira e uma primeira presidência do Conselho de Governadores russa.
Segundo o embaixador José Botafogo Gonçalves, que a Voz da Rússia entrevistou antes da cúpula de julho, a questão da presidência e local do novo banco foi tanto política, como econômica. Principalmente, econômica, claro: deve ter critérios de funcionamento claros e favoráveis à inclusão econômica, social e política da população desses cinco países “gigantes” que representam quase 40% da população mundial:
“Embora politicamente seja muito importante você ser a sede do Banco de Desenvolvimento, eu não diria que seja uma questão importante do ponto de vista da substância econômica. É uma questão importante do ponto de vista da imagem. Mas o importante é o seguinte. Se esse banco selecionar projetos de rentabilidade concreta, retorno do capital investido, eu acho que esse banco terá sucesso, ainda que esteja localizado no país A, no país B ou no país C”.
E o economista, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Thiago Rodrigues considera que o Banco de Desenvolvimento dos BRICS traz boas perspectivas para os países membros:
"A iniciativa da criação do banco dos BRICS tem uma grande importância, porque é a primeira instituição propriamente dita criada por esse grupo de países, primeira iniciativa de criar algo concreto <...> Agora, os BRICS não só têm a possibilidade de atuar no campo econômico, no campo do apoio às economias chamadas de emergentes, mas também a intenção de fortalecer as posições desses países não só do ponto de vista econômico, senão também do ponto de vista do poder político no mundo".
Outro assunto importante sugerido na cúpula foi a eventual ampliação dos BRICS, onde a Argentina seria a nova letra. Porém, isso está ainda longe da discussão, vistas as dificuldades que o país está experimentando agora. Contudo, o país do Cone Sul foi eleito presidente do Mercosul, união econômica latino-americana de grande importância para a região. O Mercosul, como os BRICS, são fatores da construção de um polo de atração de investimentos e atividade econômica e política distinto do representado pelo FMI e BM. Neste aspecto, objetivos dos dois organismos coincidem.
Também, na cúpula foi assinado um acordo de cooperação entre o Brasil e a Rússia na área espacial. Particularmente, trata-se do projeto conjunto de instalação da instalação de uma estação russa de monitoramento espacial e da implementação do projeto russo de navegação por satélite Glonass no Brasil. O Glonass ainda servirá, na primeira etapa, como uma alternativa experimental ao GPS norte-americano, mas se demonstra maior eficiência e competividade, talvez possa ter maior importância para o Brasil. O professor Geovany Borges, coordenador brasileiro do projeto Glonass, explicou assim a situação:
“O princípio de operação é basicamente o mesmo. Para nós, os brasileiros, vai ser mais um sistema alternativo, no caso de algum problema com o sistema dos EUA, redução dos satélites americanos, porque eles têm também questões para lidar, o Glonass pode vir a prover esse intervalo”.
Ambos os projetos têm participação e patrocínio da Agência Espacial Brasileira (AEB), que também mantém parceria com outros países.
Já no quadro da parceria aeroespacial sino-brasileira, é preciso lembrar o bem-sucedido lançamento do satélite de monitoramento da Terra Cbers-4, neste mês de dezembro.
O estado da pesquisa espacial brasileira pode estar longe do ideal, como já afirmou em umaentrevista o colunista científico da Folha de São Paulo Salvador Nogueira, mas, aos poucos, parece estar se reforçando.
Cooperação entre os dois países também existe na área da pesquisa científica e educação. A recente cúpula de universidades dos países dos BRICS, realizada em Moscou e São Petersburgo, aprovou um plano de ações conjuntas neste sentido. Trata-se principalmente da parceria entre as universidades brasileiras que fazem parte do projeto Ciência sem Fronteiras e as universidades e centros de pesquisa científica e tecnologia russos do projeto 5-100.
Os focos mais importantes são, segundo os organizadores, a área de estudos energéticos e de matérias-primas, a aeroespacial e a biomédica. Para se ter mais projetos conjuntos e o que chamaram de internalização de universidades e da educação, é preciso fomentar a mobilidade docente e estudantil, assim como também o estudo das línguas. O inglês continua sendo o principal, mas a importância do português (para a Rússia) e do russo (para o Brasil) é a cada vez mais reconhecida.
Segundo os representantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), a cooperação na área da pesquisa científica é muito importante:
“Em uma linha geral, acho que a estratégia que os nossos países estão adotando é muito acertada. Unidos, conseguem superar as dificuldades que são inerentes ao processo de desenvolvimento. Serve também para se conhecer melhor. A Rússia sai de um cenário político diferente, o Brasil é outra realidade. A cooperação demanda inovação, estratégia, demanda que as coisas sejam pensadas, planejadas e construídas com muita tecnologia, muito cuidado”.
Em 25-29 de abril do ano que vem, a FAUBAI (Fórum de Assessorias das Universidades Brasileiras para Assuntos Internacionais) organiza uma conferência em Cuiabá, onde também estará presente a delegação russa.
Um ano quente que nos espera
Os cientistas e observadores políticos concordam que 2015 vai ser um ano quente para o Brasil. Mas para os BRICS, também. A união fez passos importantes até agora, mas é o começo do caminho. Em 2015, entre outras coisas, o grupo planeja fortalecer a sua presença na arena mundial, graças em parte à atividade do Banco do Desenvolvimento e ao Arranjo Contingente de Reservas, mas também por conta do estreitamento das relações e da cooperação internacional a vários níveis e em várias áreas. Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_12_24/Em-2014-BRICS-come-a-campanha-pelo-mundo-multipolar-5800/
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