Não pretendo levantar polémica com cunho político, mas a cada dia me surpreendo com este líder camaleónico, aliás, o único dirigente de um partido político oficialmente designado de líder.
Não sou e nunca fui admirador de Dlhakama e seu movimento (hoje partido político), até porque as feridas da guerra ainda não sararam em mim; mas a lógica e a racionalidade não me permitem ignorar a influência (positiva ou negativa) deste concidadão no cenário político, social e até económico de Moçambique.
Já foi o "Bin Laden" de Moçambique na década de 80; fracassada a tentativa da sua captura e aniquilamento na Casa Banana, decidiu-se sentar com ele à mesa, conceder-se-lhe amnistia e reconhecer-se-lhe o estatuto de dirigente de um movimento legítimo e não bandido armado. Com isso veio a paz, um facto histórico do qual ele é co-autor.
Dos pleitos eleitorais e das suas reclamações em relação aos resultados não me interessa abordar. O facto é que a história repetiu-se num passado muito recente. Achando-se esquecido e desvalorizado, eis que Dlhakama usa o mesmo velho truque de usar a força das armas (que, estranhamente, ainda as possui, num país livre, independente e democrático) para reivindicar o seu estatuto.
À semelhança dos anos 80, foi caçado, mas sobreviveu e concluiu-se que o melhor seria negociar com ele. Desta vez ele saiu mesmo a ganhar: viu satisfeitas todas as suas exigências e foi premiado com um estatuto próprio, digno de um vice presidente. Ou seja, Dlhakama passou a ser, ele próprio, uma entidade, uma "instituição" com direito a orçamento próprio. Parece um reconhecimento tácito da sua relevância na história deste país.
O povo moçambicano, curiosamente, acredita na justeza das suas reivindicações. Pergunta-se: serão mesmo legítimas? Ou o simples desgaste de imagem da FRELIMO e seus dirigentes impele as pessoas a ansiarem por algo diferente? Mas se quisessem algo novo talvez optassem pelo dirigente do galo!
Quem é o académico que se dispõe a estudar esta figura? Quase todos os académicos escrevem livros sobre os presidentes eleitos deste país, seria importante também escrever-se livros sobre os outros presidenciáveis, até porque Dlhakama é o único totalitarista em eleições presidenciais. Outro facto, embora talvez não seja histórico.
Tenho, a bem da verdade, dificuldade em classificar e qualificar esta figura, o auto-denominado "pai da democracia" (embora ele não aplique os princípios democráticos na gestão do "seu" partido). Um bandido armado que obriga à revisão das leis para acomodar os seus interesses (nem o PR consegue semelhante façanha) e ganha estatuto próprio é "sui generis".
Quando as gerações 25 de Setembro e 8 de Março obedecerem ao desígnio sagrado e incontornável de recolherem à matéria (de onde todos viemos), o que dirão a geração da viragem e a futura geração dos nossos filhos e netos a respeito desta figura? Será como Ngungunhane, ido como prisioneiro e regressado centenas de luas depois, como herói de luta de um povo que ele próprio subjugou? Ou será apenas mais um "aventureiro mal sucedido" (não me lembro do autor desta qualificação) que o país viu nascer?
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