28/8/2014 15:28
Por Redação - de Brasília e São Paulo
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A subida vertiginosa que a presidenciável Marina Silva (PSB) experimenta nas pesquisas de intenção de votos corre o risco de se reverter em uma queda acentuada, a partir das novas investigações da Polícia Federal (PF) sobre o possível uso de recursos do caixa dois para o pagamento das despesas com o avião que caiu em Santos, no litoral paulista, há duas semanas. Durante uma operação de busca e apreensão, a Polícia Civil de Pernambuco, que trabalha em conjunto com a PF, encontrou na sede da empresa AF Andrade um documento que aponta o PSB como locatário do jato Cessna Citation, sem uma declaração explícita, o que pode ser caracterizado como um crime.
O grupo diz ter vendido o avião que caiu com a comitiva de Eduardo Campos (PSB), no último dia 13. No entanto, constaria nos papéis apreendidos que os empresários pernambucanos pagaram cerca de R$ 700 mil pela aeronave, antes mesmo de assinar qualquer contrato. O sinal foi garantido em 12 de maio e o compromisso de compra assinado três dias depois, por João Lyra de Melo Filho. A polícia considera manobra incomum numa transação comercial de R$ 18,5 milhões, o preço final da aeronave. O PSB alega que o jatinho foi cedido por três empresários e que ele seria declarado ao final da campanha, mas o grupo Andrade está em recuperação judicial, com dívidas de R$ 341 milhões. O advogado do grupo, Celso Vilardi, diz que a suspeita da polícia é improcedente e que já entregou os comprovantes da legalidade do negócio para a PF, que também investiga o caso.
Quanto mais a polícia investiga, no entanto, mais complicada fica a situação da candidata, que teve divulgada, nesta manhã, as primeiras imagens que a conectam ao jato PR-AFA. Embora Marina Silva tenha declarado publicamente, a um jornal televisivo noturno, que não sabia de nenhum detalhe sobre o transação da aeronave que utilizava em suas viagens, pela campanha eleitoral, a alegação não a isenta de responsabilidade sobre quaisquer irregularidades sobre o equipamento. Uma operação financeira duvidosa foi montada, com o uso de ‘laranjas’, e o principal pagamento partiu do empresário pernambucano Eduardo Ventola, dono de uma factoring, tipo de empresa normalmente usada para ‘esquentar’ dinheiro de caixa dois.
Aos jornalistas, ainda que a contragosto, Marina confessou o conhecimento de um crime eleitoral e a participação nos benefícios desta transgressão. Ela admitiu saber que o avião era produto de um “empréstimo de boca” que seria “ressarcido” ao final da campanha. Trata-se, no caso, de uma aberração jurídica e contábil, que os tribunais tendem a questionar no controle de contas eleitorais. Não há um contrato sobre o citado empréstimo irregular, preço estabelecido e, sobretudo, as empresas que detinham o controle do avião, entre elas uma peixaria de fachada, que não funciona, na prática, não se dedicam à locação de transporte aéreo.
‘Dois pesos’
O deputado federal André Vargas (sem partido-PR), processado por utilizar um avião que teve o aluguel pago por um doleiro, acredita que há dois pesos e duas medidas quando o compara a outras atividades irregulares na política. Desta vez, o parlamentar, que teve sua cassação pedida pelo colega Júlio Delgado (PSB-MG) no Conselho de Ética da Câmara por ter tomado emprestado o avião do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava Jato, vê diferença de tratamento entre o episódio vivenciado por ele e o do jato do PSB. O partido de Delgado, relator de seu processo de cassação na Câmara, usava desde maio um avião adquirido por recursos de caixa dois, pago por empresas fantasmas.
Além da peixaria falsa, outra empresa que assumiu a compra da aeronave, a Bandeirantes Pneus, importava pneus chineses, causava danos ambientais e chegou a ser favorecida por benefícios fiscais pelo ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). A queda do Cessna Citation no litoral paulista trouxe o escândalo à tona.
Diante do que considera “uma hipocrisia”, Vargas protestou:
– Júlio Delgado pediu minha cassação por um voo. Agora podia explicar por que seu partido usava um avião de empresas fantasmas.
Em entrevista ao diário conservador paulistano O Estado de S. Paulo, no início de agosto, ele lembrou de outro caso: a construção de um aeroporto pelo presidenciável Aécio Neves em terras que pertenciam a sua família quando era governador de Minas Gerais. E constatou:
– Se Aécio fosse do PT, já teriam pedido cassação.
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