quinta-feira, 28 de agosto de 2014

EUA e Síria unem-se na luta contra inimigo comum


 

EUA, Síria, EI, luta

Mais tarde ou mais cedo, a realidade dura obrigará a reconhecer a necessidade de junção de esforços para liquidar a ameaça comum. Mesmo que se trate de uma união entre aqueles que não deixam de se considerar adversários. Recentemente, o emprego da aviação pelos EUA e a OTAN em operações do exército sírio contra os guerrilheiros do Estado Islâmico era considerado completamente inadmissível.

Mas, de súbito, o aparecimento do “califado” parece não deixar alternativas a certas formas de interação militar do Ocidente com a Síria.
No dia 25 de janeiro, numa conferência de imprensa em Damasco, Walid Muallem, ministro das Relações Exteriores da Síria, declarou que o seu país estava pronto a cooperar com todos os estados, incluindo a Grã-Bretanha e os EUA, na luta contra o EI e a Frente al-Nusra. A 21 de agosto, a necessidade de certas formas de ação conjunta foi explicada pelo general Martin Dempsey, presidente do comité conjunto dos chefes de estado maior dos EUA:
“Pode-se conseguir a derrota do EI sem mexer na parte dessa organização que se encontra na Síria? Resposta: não”.
Pode-se pressupor que o general tem em vista algumas ações militares separadas da América. Mas nem tudo é assim tão fácil. Na mesma conferência de imprensa em Damasco, Walid Mullen deu a entender que os serviços secretos da Síria na luta contra os grupos radicais já interagem há algum tempo com os seus colegas ocidentais. Segundo ele, “a Síria já coopera e coordena esforços regionais e internacionais na luta contra o terror em conformidade com as resoluções da ONU e com o respeito pela soberania da Síria”.
Pode ser que precisamente a respeito desses esforços a informação do The Independent, segundo o qual os serviços secretos dos EUA já transmitiram à Síria as coordenadas exatas do local onde se encontram os dirigentes dos jihadistas no seu território. Segundo o jornal, através da espionagem alemã BND.
A espionagem síria também tem o que propor aos possíveis aliados da coligação forçada. Por exemplo, a ajuda na salvação de reféns. Depois da execução pelo EI de James Foley, jornalista americano raptado na Síria, o MRE da Síria declarou que se os EUA tivessem coordenado a salvação de Foley e de outros estrangeiros (a operação especial para a sua salvação falhou) com a parte síria, as possibilidades de êxito teriam sido muito maiores.
O problema da libertação de reféns na região não é novo. No período entre 2004 e 2006, não obstante a presença de mais de 120 mil soldados americanos, uma rede de espionagem segura, o domínio no céu e relações relativamente amigáveis, foram salvos apenas 4 dos 400 estrangeiros feitos reféns no Iraque. Dos mais de 40 americanos, apenas foi salvo um.
Hoje, no Iraque não há tropas americanas, a região mergulhou no caos da guerra civil, as autoridades locais e os grupos litigantes olham com inimizade para o Ocidente. No Iraque e na Síria estão reféns dezenas de jornalistas e funcionários de organizações humanitárias ocidentais, nomeadamente, no mínimo, três cidadãos da EUA. Claro que é insubstituível a ajuda dos serviços secretos sírios na solução deste problema doloroso para os países do Ocidente.
Semelhante cooperação já não provoca a repulsa passada na opinião pública ocidental. Chas Freeman, antigo embaixador dos EUA na Arábia Saudita, afirma que não vê nada de mal numa certa interação com certas forças, nomeadamente com inimigas dos EUA, se elas combateram ativamente o EI. Segundo ele, isso já aconteceu várias vezes no Médio Oriente.
Claro que, tendo em conta as relações específicas de Damasco e Washington, semelhantes ligações são hoje mascaradas por duras declarações de ambas as partes. O Ministério da Defesa dos EUA declara estar pronto a enviar para o espaço aéreo da Síria aviões e drones de espionagem para recolher informação com vista ao lançamento de ataques contra as posições dos islamitas. Claro que sublinha que isso irá ser feito sem autorização de Damasco. Walid Muallem, por sua vez, previne que quaisquer ações realizadas sem o acordo direto da direção do país serão consideradas como agressão contra a Síria.
Porém, na situação criada, ambas as partes estudam a possibilidade de troca de informação secreta e de apoio a partir do ar como fator mutuamente vantajoso e importante na destruição final das forças do “califado”.
Será que para tomar consciência da prioridade na escolha do adversário foi preciso esperar que o EI tomasse um terço do território da Síria e um quarto do território do Iraque? Perguntem aos políticos.

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